Morreu Bento antiga Glória do Benfica, que Descanse em Paz

expada

O sentimentos a famalia foi um dos melhores de sempre


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ERA ELE QUE TRANSPORTAVA OS COMPANHEIROS
Foi o pai do famoso «grupo do Barreiro»
Ainda hoje, de lés a lés, neste imenso Portugal, os benfiquistas falam do «grupo do Barreiro». E falam com saudade. É que o «grupo do Barreiro» foi, durante muito anos, a força da alma benfiquista, a força de uma equipa que ganhava títulos e fazia do futebol uma demonstração de arte de bem jogar. Manuel Galrinho Bento assumia-se, naturalmente, como o pai carismático do grupo. E era mesmo como um pai que Diamantino, Chalana, José Luís, Jorge Silva e Cª o viam. Por isso Bento agarrava no volante da sua Ford Transit e ia buscar um a um, calcorreando o Barreiro e arredores, para depois chegarem ao Estádio da Luz a horas do treino. No regresso era a mesma coisa. E foi assim, anos a fio, com o «grupo do Barreiro» a conhecer mudanças e a crescer. Que o digam, já na década de 80, Oliveira, Carlos Manuel, Araújo, Frederico, Nunes, Jorge Martins... Esse grupo fez história e resistiu, inclusive, a muita má-língua. Bento, até nisso, era o espelho de uma mística ímpar. Basta, apenas, recordar como defendia as balizas do Benfica e como sempre mostrou ser um dos melhores guarda-redes portugueses de todos os tempos.

Diamantino, ainda menino e moço, foi um dos que alinhou nas viagens Barreiro-Lisboa, com Bento ao volante. «Ainda ontem à noite (4.ª-feira) brinquei com ele, o Toni e o Rui Águas. E falava de um guarda-redes que passou pelo Benfica. Meio a sério, meio a brincar, mas mais a sério do que a brincar dizia-lhes que valia mais uma mão do Bento que o corpo todo do Preud'homme. Estava a falar do Bento como desportista, porque do Bento, homem, quero guardar as recordações daqueles anos em que viajávamos na carrinha, com as caixas de peixe lá atrás, da aventura constante que era ir para o Estádio da Luz. Tinha o Bento à volta de 28 anos de idade e eu, o Chalana, o José Luís e o Jorge Silva, para aí 17/18 anos. Foi assim até por volta de 1990. São imensas as recordações de um grande grupo. O Bento era o responsável por tudo, até pelo mau feitio. E quando ele parava a carrinha sobre a Ponte 25 de Abril e ameaçava que punha todos na rua! Era um brincalhão. Ontem foi uma noite de recordações e no dia seguinte esta notícia! Como quer que me sinta?!» Palavras de Diamantino, quase em lágrimas. Outro menino do grupo, o genial Chalana, não escondia o que lhe ia na alma: «Ainda estou em estado de choque. Nem sei o que dizer. Foi o meu primeiro grande amigo no mundo do futebol. Ele fez muita força para eu ir para o Benfica. O Sporting também estava interessado, mas ele foi um dia a minha casa, acompanhado do senhor Aguiar, um homem que investiu muito dinheiro no Benfica, mais o chefe do departamento de futebol juvenil da altura, o senhor Ilídio Fulgêncio, e convenceram os meus pais a deixar-me ir para o Benfica. Nessa altura era ele que me dava boleia todos os dias desde o Lavradio até ao Estádio da Luz. É uma perda tremenda para o futebol português, foi um grande campeão... fizemos muitos jogos juntos, comemorámos muitos títulos... Ainda na quarta-feira tivemos um dia tão alegre, no aniversário do Benfica, e ontem a tristeza tomou conta de nós com a notícia da morte dele...»

O «grupo do Barreiro» só existe, cada vez mais, no pensamento. Agora, com a morte de Bento, perdeu o seu pai, o seu grande mentor, aquele que respeitosamente sempre foi comandante de uma mão cheia de grandes jogadores da bola. Que hoje choram por um grande amigo. CARLOS RIAS

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BENTO MORREU ONTEM, AO PRINCÍPIO DA TARDE, QUANDO NA VÉSPERA, À NOITE, MUITO TINHA SORRIDO NA FESTA DO SEU BENFICA
Foste lá despedir-te dos amigos, Manel?
Por JOÃO BONZINHO

Ninguém quer acreditar. Como é possível que a morte o tenha levado, assim de repente, umas horas depois de uma noite de encontros e reencontros, abraços e piadas, histórias recordadas e contadas? Como é possível que às duas da manhã o tenhamos visto tão bem disposto, tão animado, tão entusiasmado com a vida e com os amigos e poucas horas depois tenhamos levado com tão violento soco no estômago. Morreu o Bento. Morreu quem? O Manel? O Galrinho? Não é possível. Ainda há bocado o vimos a rir...

Manuel Galrinho Bento, 58 anos, já não está entre nós. É uma notícia dura como todas as notícias tristes e duras, mas esta é ainda mais dura de dar ou receber para todos os que ainda na noite de quarta-feira lhe deram um abraço. Mais gordo mas com o seu sorriso de sempre, muito se divertiu o Manuel Bento na festa de aniversário do Benfica, desfiando memórias e recordando alegres instantes da vida. Encontrou gente que não via há anos e reencontrou amigos de muitos anos, deu umas valentes palmadas nas costas de uns e uns sentidos abraços a outros. Sorriu e riu e até confessou que nunca antes tinha estado com tantos amigos do Benfica ao mesmo tempo. Apareceu e pareceu feliz e tão depressa afinal desapareceu. Como se tivesse ido lá despedir-se dos amigos.

Toda a gente o viu bem-disposto

Manuel Galrinho Bento estava com 58 anos. Conservava o bigode que o acompanhou nos maiores momentos da sua vida, conservava o olhar meio desconfiado e o sorriso sempre semiaberto. Estava naturalmente mais gordo, mas na noite de festa do Benfica também estava elegante no seu fato escuro de riscas, camisa branca e gravata de um rosa suave, discreto e fino. No Casino Estoril, brincou com os jogadores do seu tempo e motivou os jogadores deste tempo. Crítico mas brincalhão. Sempre brincalhão.

Tinha sofrido um AVC aqui há uns largos meses mas parecia tê-lo vencido definitivamente. «Estou melhor que nunca», foi respondendo. Parecia ter vencido também o vício do tabaco. Pelo menos na noite de quarta-feira ninguém o viu fumar ou beber na festa do Benfica. Mas toda a gente o viu bem-disposto. E a rir. Muito.

Maldito coração

Manuel Galrinho Bento morreu ontem. Contam familiares que começou a sentir-se mal a meio da manhã e que não quis ir ao médico. Quando às duas e meia da tarde deu, por fim, entrada no Hospital Nossa Senhora do Rosário, no Barreiro, já ia sem vida. Paragem cardíaca, explicou o director-geral do serviço de urgência, dr. Janeiro Neves. O coração de Bento foi ao Casino Estoril despedir-se dos amigos e resolveu parar de bater, ontem. Maldito coração que lhe tirou o sorriso e o entusiasmo e nos chocou, a todos, com tão dura realidade. Morreu o Bento. Morreu quem? O Manel Bento? Não é possível...

Uma vida no Benfica

Manuel Galrinho Bento nasceu na Golegã a 25 de Junho de 1948. Foi jogador de futebol uma vida, sénior mais de vinte anos, e ao fim de mais de vinte anos considerado um dos maiores jogadores do futebol português, um dos maiores guarda-redes de todos os tempos, uma figura do futebol mundial. Viveu um momento de particular significado quando foi homenageado na Golegã, sua terra natal, em Novembro de 1989, seis meses antes de se despedir definitivamente, no Benfica, de uma longa e gloriosa carreira. Esteve 18 temporadas na Luz mas nas últimas quatro quase não jogou, marcado pela perna partida em 86, em pleno Mundial do México. Fez 464 jogos oficiais pelos encarnados (329 no campeonato, 64 na Taça de Portugal, 12 na Supertaça e 59 nas competições europeias), foi campeão nacional oito vezes, ganhou cinco Taças, duas Supertaças, foi finalista da Taça UEFA (82/83), 63 vezes internacional, 23 das quais capitão de equipa e fez ainda pela Selecção Nacional 28 jogos consecutivos. Ainda hoje é o segundo guarda-redes mais internacional, atrás de Vítor Baía (80) e à frente de Ricardo (62), o actual titular.

No Benfica, Bento tornou-se ainda no guarda-redes mais utilizado de sempre em provas europeias: 59 jogos contra 44 de José Henrique.

Marcou também o futebol português com o sensacional recorde de 1299 minutos sem sofrer golos em todas as provas. O fim do recorde chegou no jogo com o Malmoe (derrota por 0-1) na 1.ª mão da 2.ª eliminatória da Taça das Taças, a 22 de Outubro de 1980. «Bento é humano, como todos os jogadores», disse na altura Magnus Andersson, o autor do golo que quebrou a inviolabilidade de Bento. Mas ainda hoje mantém o segundo melhor registo de imbatibilidade no campeonato português: 1080 minutos em 1980, atrás dos 1192 minutos de Vítor Baía, conseguidos em 2004.

Muito antes do tempo...

Manuel Galrinho Bento manteve-se nos últimos anos ligado ao Benfica e era actualmente o responsável pela formação de guarda-redes das escolinhas da Luz. A baliza sempre foi, afinal, a sua paixão. Bento morreu, subitamente ontem, traído pelo coração. Custa sempre aceitar a morte, mas custa ainda mais quando ela nos leva alguém sem pré-aviso, sem nada combinado e muito antes do tempo.

Casado com Gertrudes Maria, deixa dois filhos, Rogério, de 34 anos, e Miguel, de 26, a quem A BOLA endereça (como à restante família) as mais sentidas condolências.

O corpo de Manuel Galrinho Bento estará a partir da manhã de hoje, em câmara ardente, na Igreja Nossa Senhora do Rosário, perto de sua casa, no Barreiro, seguindo amanhã, pelas 19 horas, para o Cemitério dos Olivais, onde será cremado, cumprindo-se assim a sua última vontade.

Morreu o Bento e é dura essa realidade para todos nós, para o Benfica e para o futebol português. Morreu o Bento e ninguém quer acreditar.

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UM GUARDA-REDES FEITO DE DEZ POR CENTO DE INSPIRAÇÃO E NOVENTA DE TRANSPIRAÇÃO
A lenda de Manuel Bentochin
Por José Manuel Delgado

Ontem, Manuel Galrinho Bento, 58 anos, juntou-se na eternidade a João Azevedo, Carlos Gomes, Costa Pereira, Vítor Damas. A baliza do Céu recebeu um reforço de peso e nós cá na Terra ficámos mais pobres... Nesta hora de pesar, vamos mergulhar na carreira de Bento, recordando alguns traços da sua personalidade e, claro está, vários momentos inolvidáveis...

Sejamos claros e assumamos, desde já, que esta não vai ser uma peça jornalística normal, feita com distância e desprendimento. Privei com Manuel Bento durante seis anos no Benfica, vi-o jogar centenas de vezes e testemunhei, nos treinos, alguns bons milhares de defesas à Bento; além disso, fomos inúmeras vezes companheiros de quarto. Mesmo assim, na hora de tristeza pela partida precoce de alguém que era, simultaneamente, amigo e ídolo, creio ter condições para partilhar com os leitores de A BOLA algumas impressões sobre a carreira de Manuel Galrinho Bento, recordando os momentos mais marcantes de um percurso feito sobretudo de muito trabalho. E traçar o perfil psicológico/profissional de Bento é um bom ponto de partida.

A natureza não foi pródiga quando apetrechou Manuel Bento para a defesa das balizas. Hoje, certamente, se um pequenote como Bento se candidatasse ao posto de guarda-redes seria imediatamente corrido pelos experts do treino. Mas quando o homem da Golegã surgiu a dar os primeiros passos numa carreira que seria brilhante, ainda estavam vivas as memórias de João Azevedo, um gigante de palmo e meio, e Bento teve possibilidade de mostrar o que valia. Costumávamos brincar com a questão da altura, dizendo que o mais importante não era ser alto mas sim chegar lá acima. E Bento quando via um guarda-redes calmeirão e desajeitado tinha uma expressão assassina sempre pronta na ponta da língua: «É grande mas não é grande coisa...»

Um caso de amor

Manuel Bento e o Benfica foram um caso de amor. Primeiro, os adeptos encarnados apaixonaram-se pelo pequeno guarda-redes do Barreirense que vergou o Sporting em Alvalade, fazendo o título pender para os lados da Luz, em 1970/71. Mais tarde, um acaso acabou por tornar inevitável o ingresso de Bento na casa encarnada. Vivia-se, no início da década de 70, a era das grandes festas de homenagem, e Mário Coluna, o Monstro Sagrado, trouxe a Lisboa, na hora da despedida, as maiores figuras do futebol mundial: Bobby Moore, Cruyff, Luisito Suarez, Geoff Hurst e Uwe Seeler prestaram vassalagem, na Luz, ao capitão dos Magriços. Porém, uma estrela foi impedida de viajar, Lev Yaschin, a Aranha Negra soviética, melhor guarda-redes do Mundo. E quem foi, nesse dia feriado de 8 de Dezembro de 1970, o substituto de Yaschin? Manuel Bento, 22 anos, guarda-redes do Barreirense, que agarrou a oportunidade com as duas mãos e saiu da Luz alcunhado de Bentochin...

Em 1972/73, Manuel Bento ingressa no Benfica e não consegue imediatamente a titularidade. José Henriques, dono da baliza nacional manda nas redes encarnadas e recolhe a confiança de Jimmy Hagan e Bento tem de esperar. Trabalhando, trabalhando, trabalhando... A pouco e pouco a distância entre os dois guarda-redes foi diminuindo e em 1976/77 Manuel Bento ganha a titularidade. Que não mais perderia, até à lesão no México, em 1986, que praticamente colocou ponto final na sua carreira.

A explicação dos números

Manuel Galrinho Bento fez 464 jogos oficiais pelo Benfica, ajudando o clube da Luz a vencer 16 títulos — oito Campeonatos, cinco Taças de Portugal, duas Supertaças — assumindo-se como dono e senhor das redes durante dez anos a fio. Milagre? Não. Trabalho, muito trabalho. Todos os dias, com chuva ou com sol, mais ou menos rabugento, consoante as manhãs (os jogadores mais novos gostavam de brincar com ele e às vezes esticavam-se um pouco, mas Bento acabava por mostrar uma humildade cativante na forma como entrava no jogo...) o guarda-redes número um do Benfica fazia ponto de honra em que ninguém se aplicasse mais do que ele nos treinos. Todos os dias, com sol ou com chuva, Bento dava o litro e lutava pela titularidade como um principiante. E mesmo lesionado tinha por hábito não deixar de se treinar, mostrando um espírito de sacrifício e uma vontade em não perder o lugar absolutamente fora do vulgar. É esta e apenas esta a explicação para tão longo reinado nas redes do Benfica. Bento, que não era, como acontecia por exemplo com Damas, um predestinado para o lugar, ganhou o estatuto de intocável seguindo a fórmula dez por cento de inspiração e noventa de transpiração. Grande profissional. Insuperável profissional. E que saudades das lutas de Bento com Eusébio nos pontapés de fora da área, ou das birras monumentais que fazia quando os outros guarda-redes (eu, o Silvino ou o Neno) decidiam arreliá-lo optando por fazer apenas remates venenosos (os chamados cortes) de fora da área.

Os grandes dias e os outros

A maior exibição de Manuel Galrinho Bento aconteceu em Hampden Park, em Glasgow, a 15 de Outubro de 1980. Escócia e Portugal empataram a zero e o que Bento defendeu naquela noite fria não tem descrição, encontrando apenas paralelo na exibição de Vítor Damas em Wembley num Inglaterra, 0-Portugal, 0 a 20 de Novembro de 1974. Ainda na Selecção Nacional, outros três jogos de Bento merecem destaque: na meia-final do Europeu de 1984 (França, 3-Portugal, 2, após prolongamento) o keeper da Golegã foi um gigante. No ano seguinte, a 16 de Outubro, Bento teve mãos de ferro para garantir a vitória de Portugal em Estugarda que carimbou o passaporte da turma das quinas para o Mundial do México. Finalmente, no 63.º e último jogo pela equipa de todos nós, Bento foi figura de proa na vitória de Portugal sobre a Inglaterra (3 de Junho de 1986, Monterrey) no jogo de abertura do Mundial do México.

No Benfica, as grandes exibições de Bento foram mais que muitas. Lembrar o herói de Moscovo, a 29 de Setembro de 1977, quando defendeu uma grande penalidade e marcou outra no desempate com o Torpedo na Taça dos Campeões Europeus; o gigante da cidade eterna, na vitória sobre a Roma por 2-1 no Estádio Olímpico, a 3 de Março de 1983; ou o defende-penalties das Antas em 82/83, ao parar uma grande penalidade do bibota Fernando Gomes que pode ter valido o título aos encarnados; tudo isto é falar de Manuel Galrinho Bento, para muitos o melhor guarda-redes português de sempre.

Também polémico

Mas Bento também foi polémico. Quando foi expulso em Alvalade, em 1981/82, depois de se ter pegado com Manuel Fernandes, quando se queixava dos holofotes de Anfield Road, ou do óleo nas luvas em Craiova; ou quando teve aquela noite negra, a 21 de Março de 84, na derrota por 4-1 na Luz às mãos do Liverpool de Dalglish e Souness. Porém, quatro dias depois, quando entrou em campo para aquecer, na recepção ao Penafiel (8-0), o Terceiro Anel recebeu-o com uma ovação estrondosa. Porque Bento não era apenas um jogador. Era muito mais do que isso. Era um ícone e um ídolo. Um mito. E todos os mitos são, como se sabe, eternos.

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Hoje
jogo
EU
Por

José Manuel Delgado
Oque teve o dia 10 de Abril de 1983 de especial na carreira de Manuel Bento? Muita coisa, como seguidamente se verá. O Benfica, líder do Campeonato, recebia nessa tarde de sol o Rio Ave, que jogava para a Europa, em partida da 25.ª jornada, num contexto em que o FC Porto distava apenas dois pontos dos encarnados. Na prelecção no Hotel Altis, Sven-Goran Eriksson deu o onze inicial, onde estava, como de costume, Bento como titular e eu como suplente. Fomos para a Luz, equipámo-nos, subimos ao relvado e iniciámos o aquecimento. Com Eriksson, naquele tempo, era o guarda-redes suplente que ajudava o titular a aquecer e os restantes reservas entravam na fase final da preparação, com alguns cruzamentos.

Ora foi precisamente nessa fase, a cerca de 15 minutos do início da partida, que o Zé Luís cruzou da direita para a zona do penalty e eu cabeceei com força para a baliza. Quis o destino que precisamente nesse instante Bento revolvesse arranjar a pala da bota, o que o levou a não ver o meu remate de cabeça. E quando levantou a cara levou com a bola em cheio. Fui ter com ele, perguntei-lhe como estava e eis que, mal tirou a luva da cara, mostrou um cenário terrível: o nariz estava torto e sangue jorrava abundantemente. Fomos imediatamente para a cabina e o veredicto da equipa médica surgiu, inevitável: «Troquem de camisolas», disse Eriksson, aparentemente imperturbável. Assim foi e antes de entrar em campo ainda recebi um abraço de incentivo de Bento. É escusado dizer que entrei com o coração nas mãos, porque tinha sido o causador, involuntário é certo, da lesão de Bento. Eriksson, nas escadas de acesso ao relvado, agarrou-me o braço e disse-me, em inglês, «keep the zero». E assim foi porque o jogo complicou-se e acabámos por empatar sem golos. Na semana seguinte voltei a ser titular na deslocação à Amora (onde vencemos por 3-1). Bento regressou a baliza em Craiova (1-1 e passaporte para a final da Taça UEFA) e arrancámos imparavelmente para o título nacional que acabámos por conquistar com quatro pontos de vantagem sobre o FC Porto, 2.º classificado. E Manuel Bento, como reagiu neste período em que ficou no estaleiro por minha intervenção? Nem uma palavra de recriminação, nem um azedume, nem uma queixa. Apenas apoio e conselhos. Amizade e solidariedade. Afinal é assim que se portam os grandes homens. E é assim que se fazem grandes equipas.

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UMA DAS REFERÊNCIAS DA CIDADE
Adeus a um filho da terra
Profunda tristeza no adeus a um filho da terra. Bento marcou uma geração e continua a servir de referência para muitos miúdos e graúdos no Barreiro, onde nasceu para o futebol profissional. As más notícias correram depressa, muito depressa. Ainda mais quando a cidade vê desaparecer, além de uma glória do futebol português, uma figura e, sobretudo, um amigo. Ficaram as memórias que deu a um povo que, apesar de não poder contar agora com a sua presença, irá lembrá-lo sempre com um sorriso nos lábios e muitos aplausos.

São quatro da tarde. Parece um dia normal no Barreiro. Mas não é. Os segundos passam e as pessoas, que caminham pelas principais ruas da cidade, sentem que algo está diferente. Muitos ainda não ligaram a televisão ou o rádio. A sede do Barreirense, mesmo no coração da cidade, muito perto da casa onde Manuel Bento cresceu, costuma ser o local onde muitos procuram passar o tempo. Ontem, ao contrário do habitual, a animação das cartas ou das principais jogadas de dominó foram trocadas pela tristeza e profunda consternação. Desapareceu um amigo. Para muitos o melhor guarda-redes português. Ficam as memórias. Manuel Nunes ou Manuel Alfaiate, como é conhecido pelos amigos, sócio do Barreirense há mais de 70 anos, dá a notícia a quem chega. «O nosso Bento já cá não está», diz. O silêncio quase perturbador traduz o espírito de uma cidade que perde assim uma das suas referências. «Uma vez marcou um golo à Académica de baliza a baliza e o Barreirense venceu. O guarda-redes da Académica era o Viegas. Nunca irei esquecer esse dia», lembra-se Manuel Alfaiate. São momentos como este que todos recordarão no futuro. São momentos como este que levaram Manuel Bento para o topo do futebol nacional.

Seis da tarde. Passaram pouco mais de duas horas e as ruas do Barreiro ficam agora mais vazias. O destino de muitos é Alburica, zona de pescadores, junto ao rio, onde Bento vivia. O final da tarde surge em paz, com o sol a desaparecer entre as margens do Tejo. Quem passa procura deixar uma palavra de conforto e, ao mesmo tempo, de resignação. Todos falam de um homem que jamais será esquecido no Barreiro.

MIGUEL MENDES

Sempre Fiél SLB



Que continues a fazer muitas e boas defesas, até sempre!!!!!







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Bento (I)
Bento, 59/-53
Estreia: 23/10/1974 (Carl Zeis Iena-Benfica, 1-1)
Último jogo: 19/3/1986 (Benfica-Dukla Praga, 2-1)
Jogos a zero: 28
Melhor campanha: finalista da Taça UEFA, 1982/83
Um balanço à carreira de onze anos:
«Foi uma passagem gira, onde nem sempre as coisas correram como pretendíamos, mas algumas vezes conseguimos chegar, pelo menos, às meias-finais. Outras vezes ficámos pelo caminho diante de equipas que seriam mais fortes do que nós. A verdade é que quase todas as equipas que afastaram o Benfica acabaram por ser campeões da Europa, o que já não nos deixa assim tão tristes. Não sabia que era o guarda-redes com mais presenças, nunca me preocupei com esses números.»»

Os primeiros tempos e a sucessão de José Henrique:
«Vim para o Benfica em 1972, em 1973 só fiz um jogo oficial, depois nos torneios fui alternando com o Zé Henrique, e fui jogando na Taça de Portugal. Entretanto, em 1974, começamos mesmo a alternar. O Benfica raramente se enganava nas aquisições que fazia. Quando ia buscar um jogador era para jogar não para fazer número. Foi o que aconteceu comigo. Estava no Barreirense, o Benfica já andava atrás de mim há quase dois anos, desde a festa do Mário Coluna, em que eu fui convocado para Selecção do Resto do Mundo. A partir daí o Benfica não me largou mais.»

A estreia europeia frente ao Carl Zeiss Jena:
«Sabia a responsabilidade que ia ter na altura, por substituir o Zé Henrique, que era titular na selecção nacional, um guarda-redes com um palmarés muito bom. Através da vontade férrea que tinha em vencer no futebol e de muito trabalho e empenho as coisas conseguem-se. A minha arma foi essa, a vontade que tinha em trabalhar e, acima de tudo, singrar no futebol.»

Sobre o PSV-Benfica, em 1975, jogo em que substituiu José Henrique:
«Nessa época fiz a primeira eliminatória, mas o Zé Henrique depois voltou outra vez à baliza. Só que na segunda parte em Eindhoven teve que sair porque tinha um dedo fracturado. Lembro-me muito bem desse jogo porque o PSV tinha um ponta-de-lança chamado Edström que tinha quase dois metros de altura e quer eu quer o Zé tivemos que travar uma luta diabólica com ele. Felizmente as coisas saíram bem porque conseguimos empatar lá 0-0. Depois acabámos por ser eliminados cá.»

Comentando a época de 1975/76, na qual dividiu a baliza com José Henrique ao longo das eliminatórias da Taça dos Campeões:
«Havia uma alternância porque o Zé também não estava com idade de abandonar o futebol, se estivesse a queimar os 30 anos era muito. Ainda tinha condições para jogar e quando há uma relação de trabalho honesta entre colegas do mesmo lugar e o treinador as coisas correm sempre bem. Estávamos sempre ao serviço do clube, que era o colectivo, e nunca ao serviço individual. Se havia uma altura em que o treinador achava que um lhe dava mais confiança do que o outro estava a jogar, havia sempre uma troca e não havia problemas quanto a isso, continuávamos a trabalhar para recuperar o lugar o mais cedo possível.»

Em 1976/77 o Benfica foi eliminado na primeira ronda, pelo Dínamo Dresden:
«Foi uma época atribulada, no primeiro ano de Mortimore. Ele teve de fazer uma equipa completamente nova, com muita juventude, é quando se lança o Chalana, o Pereirinha, Jorge Silva, o Zé Luís, o Alberto, aquela gente toda, o que explica algumas oscilações no início da temporada.»


Em 1977/78, Bento tem um dos momentos mais altos da carreira, decidindo a eliminatória com o Torpedo Moscovo:
«Quer cá, quer lá, ou seja durante 210 minutos de jogo, as coisas já me correram muitíssimo bem. Depois veio o desempate por penalties. Eu já era marcador nos torneios que fazíamos e John Mortimore apostou em mim para marcar um dos cinco. Foi só uma série, eu defendi os dois primeiros, já estávamos praticamente à vontade e o Mortimore decidiu que eu ia marcar a seguir. Antes disso houve uma confusão entre o guarda-redes do Torpedo com o árbitro porque ele entendia que o guarda-redes não tinha direito a marcar penalties. Mas depois acabei por marcar e passámos a eliminatória. O ambiente em Moscovo na altura não tem nada a ver com o que é agora, era mais militares e polícias nas bancadas do que espectadores civis. Era um bocado confuso porque o ambiente era infernal. Quase não nos podíamos movimentar, as pessoas atropelavam-nos nos corredores junto aos balneários. Felizmente tudo isso passou.»

Nessa viagem Vítor Baptista protagonizou alguns casos:
«Foi um caso específico, porque o Vítor infelizmente já não andava bem. Sabíamos algumas coisas, mas não tínhamos conhecimento total daquilo que ele já andava a fazer. Tínhamos uma relação boa, porque o Vítor era uma jóia de homem, era um moço espectacular, além de que era inegável o seu grande valor. Sempre disse que, no lugar de ponta-de-lança, a seguir ao Eusébio era o Vítor Baptista. Só que ele começou a entrar por caminhos esquisitos e a dizer coisas que dizia tinham pouco nexo. Acabámos depois por descobrir a vida que ele andava a fazer e foi pena. Pelo menos em alguns jogos em que necessitávamos dele e ele pensava que não devia jogar e não jogava. Depois decidia que ia para o aeroporto descalço ou com as calças rotas e ia assim. Começou a criar uma série de problemas. Foi mau para ele na altura e foi mau para nós que precisávamos dele.»

A eliminação com o Liverpool, em 1978, com derrota por 2-1 na Luz:
«Foi um daqueles Invernos muito rigorosos, com muita chuva. O nosso estádio também não estava nas melhores condições. Junto à baliza havia um lamaçal e eu, levezinho como era, saltei a uma bola e fiquei preso na lama. Acabei por sofrer um golo. Foi um daqueles jogos em que nós podíamos ter eliminado o Liverpool que era uma equipa muito forte, tinha 15/16 jogadores fortíssimos. Eles podiam fazer substituições, saía um e entrava outro e não se dava por nada. Depois era aquele futebol muito agressivo, típico inglês, de massacre. Nós sabíamos que nos dávamos muito mal com isso porque quem jogava um futebol directo contra as equipas portuguesas complicava-nos sempre a vida.»

O Benfica eliminado quase sempre por grandes equipas, Ajax, Bayern, Liverpool:
«O Aris de Salónica, em 1979, foi uma excepção. No primeiro jogo, na Grécia, começámos praticamente a perder com um penalty que não existiu. O árbitro lembrou-se de marcar. A seguir sofremos outro golo em que a bola está mais de vinte centímetros fora da baliza. O fiscal de linha ficou estático porque o Alhinho tirou a bola, mas o árbitro validou o golo. A partir dali entrámos em discussão com o árbitro e podia ter sido um descalabro muito maior do que aquilo que foi. Depois ainda havia o ambiente, os estádios na Grécia têm um ambiente terrível. O segundo jogo, na Luz, foi completamente atípico. Nem nós percebemos como é que perdemos. Levámos noventa minutos a controlar o jogo e praticamente no final, num canto contra nós, um baixinho que, como a gente dizia, parecia um raulzinho, lembrou-se de mandar um estoiro fora da área e conseguiu meter a bola na baliza. O Toni, que estava descalço, ainda atirou a bota na direcção da bola, a ver se a desviava, mas não conseguiu».


Em 1980/81, com Baroti, Bento soma mil minutos sem sofrer golos e o Benfica chega à meia-final da Taça das Taças:
«Foi uma série de jogos que englobou o campeonato nacional, Taça de Portugal, Taça das Taças e, salvo erro, um ou dois jogos de selecção. Com isso, passaram-se mais de mil minutos. Foi um ano muitíssimo bom, fui considerado jogador do ano pelo CNID. Os jogadores que estavam à minha frente também estiveram muito bem e acabámos por atingir quase todos os objectivos a que nos propúnhamos. Foi um ano espectacular, acabou por ser o melhor da minha carreira».

Nessa campanha, um dos melhores jogos do Benfica foi em Dusseldorf, com um empate, 2-2:
«É outro jogo emblemático porque vira uma página. Até aí nunca estávamos preparados para estas equipas de compleição física forte porque as nossas eram relativamente baixas. Quando defrontávamos alemães, ingleses ou russos, que já primavam pela selecção de jogadores em termos de peso e de altura e esqueciam mais a técnica, era certo e sabido que isso ia dar frutos dentro de campo. Se estivermos a constantemente a bater na parede, a parede não cai, nós é que caímos. Hoje, em termos de tecnologia isto está muito avançado, há a possibilidade de qualquer elemento da equipa técnica viajar seja para onde for para ir avaliar jogos e saber com o que se conta no jogo seguinte. Nós nos anos setenta e no princípio dos oitenta não tínhamos conhecimentos sobre as equipas com que íamos jogar.»

A influência de Eriksson:
«Ele chegou ao Benfica e deu-nos uma outra força, outra mentalidade e, acima de tudo, muita responsabilidade. Os outros treinadores vinham para o Benfica tendo como primeira preocupação fazer estágios para prender os jogadores, porque ouviam dizer que éramos todos uma cambada de vadios e queríamos era copos e não sei que mais. O Eriksson fez precisamente o contrário. Juntou o grupo de trabalho e disse que a nível de jogos em casa, fosse contra quem fosse, mesmo os internacionais, os estágios iam acabar e quem com ele corresse dentro do campo e jogasse aquilo que sabia tinha lugar na equipa. Quem não o fizesse já sabia que saia automaticamente e até podia sair do grupo de trabalho. E depois para voltar podia ser um caso sério. Liberdade é responsabilidade, e foi precisamente isso que o Eriksson aplicou, com grandes resultados. Depois, ao nível da metodologia de treino e no contacto com os atletas foi tudo diferente para melhor. O Benfica e o futebol português beneficiaram muito com ele.»

O arranque da campanha, em Sevilha, com Bétis:
«O jogo de cá já tinha sido complicado, conseguimos ganhar por 2-1, mas as coisas não tinham sido fáceis. Sabíamos que o Bétis tinha bons jogadores sul-americanos, paruguaios e daqueles lados. Eram extremamente fortes e perigosos. Mas nesse ano tivemos a sorte dos audazes, que começou ao termos ido buscar um treinador chamado Eriksson. Esse jogo em Sevilha foi praticamente um assédio à nossa baliza, conseguimos fazer dois golos, mas na primeira parte quase nem conseguimos sair da nossa área. Foi daquelas noites em que eu também faço um jogo muito bom, para não dizer espectacular, e em que ao nível do sector defensivo tudo saia bem. Tudo o que aparecia ali era para despachar. Durante o jogo levei com tudo em cima. Quando agora se fala em certos jogos que há mimos do público não tem comparação com coisas de há vinte anos, quando se era autorizado a levar paus e tudo o mais para dentro do campo e a proximidade do público era muito maior. Caia-nos de tudo em cima. Em Espanha então era infernal. Até garrafas de vidro, de um litro, que batiam na trave e se estilhaçavam para cima de mim. Estivemos, nós e o árbitro, a apanhar os cacos. Foi dos poucos jogos em que tive mesmo muito medo de estar na baliza. Foi depois disso que o Eriksson disse: depois desta eliminatória, vamos até onde nos deixarem. E fomos até à final.»

O regresso a Lisboa com a Madre Teresa:
«Estivemos no avião com essa senhora e, aliás, o Eriksson teve uma frase gira sobre isso, quando disse que afinal tínhamos conseguido passar a eliminatória não por acaso, mas porque a senhora tinha estado no estádio a proteger-nos»

A inesquecível vitória de Roma:
«É daqueles anos em que começamos a acreditar que tudo se torna possível. Apesar de não sermos muitos fortes fisicamente, éramos acima de tudo uma equipa ambiciosa e tínhamos um elemento que nos ajudava a resolver todos os problemas no ataque. O Filipovic marcou esses dois golos em Roma, marcou outro em Craiova, marcou mais dois em Lokeren. Era o goleador da equipa e foi o melhor marcador dessa edição da Taça UEFA, ajudou-nos muito a chegar onde chegámos. Nesse jogo de Roma apenas sofri um golo de penalty, daqueles duvidosos. Mas o certo é que nesse dia tivemos um conjunto muito forte. A Roma tinha grandes jogadores, com o Falcão numa forma espectacular, era realmente o maestro daquela equipa. Depois tinham ainda o Conti, o Ancelotti, o Prohaska e aquela gente toda. Foi daqueles jogos que, quando acabam, dizemos missão cumprida, mas em que também ficámos com a consciência de que num dia mau poderíamos ter sido goleados. Mas foi o nosso dia. Houve aquela pontinha de sorte que também é precisa para ganhar jogos.

A passagem à final, em Craiova:
«Foi mais complicado pela falta de respeito que as pessoas têm pelas equipas. Logo no primeiro dia queríamos treinar e andava toda a gente dentro do campo, pessoas que nada tinham a ver com aquilo e não nos deixavam trabalhar. Na noite anterior ao jogo eram milhares de pessoas em redor do hotel a fazerem um barulho infernal para que nós não pudéssemos descansar. E depois no dia do jogo foi uma coisa diabólica. O Ceausescu teve infelicidade de dizer que se o Craiova chegasse à final nesse dia seria feriado para a cidade. Então aquilo foi uma coisa diabólica, passámos um mau bocado. Tentaram virar-nos o autocarro, partiram-nos os vidros. O Chefe da polícia disse que tínhamos de sair dali rápido para o aeroporto ou ele não assumiu a responsabilidade pelo que pudesse acontecer. Sentimos a vida em perigo e eu mais ainda porque quando vou a entrar no balneário, que tinha uma porta de vidro, senti um estrondo fortíssimo, e senti uma pedra enorme, um paralelepípedo, a estilhaçar a porta e a cair ao meu lado. Se me tivesse acertado, se calhar hoje não estava aqui.»



A final perdida com o Anderlecht:
«Chegar a uma final é muito bonito, mas quando não se consegue ganhar é uma grande frustração. O percurso que fizemos até aí foi bonito, mas tínhamos todas as condições para ganhar ao Anderlecht. Aliás o único jogo que perdemos em toda a competição foi em Bruxelas, 0-1. Foi esse jogo que deitou tudo a perder. Tivemos a tal infelicidade de o Diamantino, debaixo da linha de golo, mandar a bola por cima da barra quase a acabar o jogo. Podíamos ter conseguido o 1-1 em outras ocasiões, também. As coisas seriam totalmente diferentes para o segundo jogo, mas não conseguimos marcar. O Anderlecht acabou por ser mais feliz no conjunto dos dois jogos e temos de reconhecer que também tinha uma grande equipa. O futebol é assim¿»

A eliminação com o Liverpool, em 1984:
«É daqueles jogos em que nós dizemos que nada sai bem. A começar logo pelo tempo. Costumávamos dizer que de cada vez que o Liverpool vinha a Lisboa jogar com o Benfica era abençoado pela chuva, porque eles estavam habituados a jogar o ano inteiro dentro daquele lamaçal, sabiam levantar a bola e sabiam metê-la na frente. O que nós queríamos era jogar junto à relva porque não sabíamos jogar de outra maneira. Ficávamos sempre prejudicados com futebol à chuva. Esse jogo foi uma desgraça total porque quem tinha uma casa como o Benfica tinha nesse jogo, merecia outro rendimento da nossa parte. Mas foi daqueles dias que era impossível fazer mais e melhor.»

A difícil sucessão de Eriksson:
«Primeiro saiu o Chalana. E com isso começaram a olhar de outra forma para nós. Pelo meio, a vinda do Ivic foi uma história complicada. Chegou aí, acertou o contrato com o Benfica, começámos a época, e uma semana depois ficámos a saber que o senhor Ivic ia embora porque as condições que tinha acertado com o Benfica não eram as que estavam no papel. Aquilo que nós sabíamos era que o Ivic era um treinador procuradíssimo e com valores muito elevados. Assinou um contrato em que os valores deviam estar em dólares e não em escudos. Quando cá chegou exigiu que o Fernando Martins fizesse um contrato como o que tinha acordado ou então ia embora. E foi»

A aposta em Csernai, em 1984/85:
«Foi uma época extremamente atribulada. Pensávamos que íamos ter um treinador disciplinador, com grandes conhecimentos, uma vez que tinha vindo do Bayern, mas para nós foi uma grande desilusão, pela maneira como trabalhava, como era mal-educado, como se comportava com jogadores, directores e sócios. O Benfica não fazia chicotadas psicológicas e também não fez isso ao Csernai. Foi pena isso não ter logo acontecido: ganhámos a Taça de Portugal, mas podíamos também ter lutado pelo campeonato e assim não tivemos hipótese. Chegámos ao cúmulo de haver jogadores que estavam habituados a trabalhar de forma séria e queriam correr mais um bocado no treino e ele não deixava. Marcava os treinos para as dez horas, estávamos equipados no estádio à espera dele e não aparecia, telefonava a dizer que o treino era às 15h. Criou-se ali uma enorme antipatia, de tal forma que ainda hoje estou espantado como é que o Csernai acabou a época no Benfica. É um treinador para esquecer.»

O regresso de Mortimore:
«Ainda bem que voltou porque nós conhecíamos bem os seus métodos de trabalho. O Benfica foi feliz com os treinadores ingleses porque eles tinham disciplina e organização. Quando isso acontece num grupo de trabalho está quase tudo dito. O Mortimore era muito rígido. Se calhar não era um grande treinador tacticamente, mas em termos de organização e disciplina sabia bem o que queria. Os jogadores, logo depois da primeira passagem, perceberam que tinham era de cumprir o que ele queria. Voltou e voltou a ser feliz. Acabou por fazer a dobradinha, ganhou o campeonato e a taça e foi despedido. É daquelas coisas incompreensíveis no futebol. Ao despedir-se um treinador campeão para se ir buscar um treinador desconhecido os resultados ficaram à vista. Para mim é aí que começa o descalabro do Benfica»


pnbbv

Tem sido um movimento bonito o que se encontra em todos os blogs dedicados ao nosso clube... è raro o Blogger que não dedicou um post sentido ao nosso eterno campeão Bento.

Seria simpático por parte dos users deste site que todos "dessem uma volta" por esse mundo blogger e deixassem uma mensagem de despedida.


www.benficaatemorrer.blogspot.com

SirRik

Os meus sentimentos a toda a familia, a todos os benfiquistas e ao futebol em geral.

Descansa em paz, e obrigado por tudo.

Hsien

Epluribus Unum
Poucas vezes te vi,
mas por ti me cruzei.
De ti ouvi falar,
tuas vitórias herdei.

Relembram coisas passadas,
momentos de emoção.
Laços nunca cortados,
entre um grande campeão.

O destino assim o quis,
mas não antes sem uma despedida,
dos teus amigos fiéis,
que te darão eterna vida.

.:VMPT:.


VALEBEM

 Grande Manuel Bento!
Mesmo para mim, que nunca o vi jogar «ao vivo», está a ser doloroso este momento...
Porque era um dos grandes ídolos do meu pai, e porque com ele, morreu uma parte do nosso clube...