Domingos Soares Oliveira - entrevista - novos patrocínios, vendas, Benfica TV

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Administrador financeiro rejeita aumentar endividamento.

"O Benfica está a negociar o patrocínio das camisolas por valores acima do contrato com a PT", admitiu Domingos Soares de Oliveira, administrador financeiro da SAD da Luz, sobre o vínculo que acaba no final da época, num encontro com jornalistas sobre as contas anuais já aprovadas em assembleia. Embora o dirigente não se pronunciasse sobre montantes, o valor anual em causa deve estar perto dos cinco milhões de euros. Ao mesmo tempo rejeitou a intenção de aumentar o endividamento que, nas contas anuais de 2013/14, "cresceu sob diversas formas: empréstimos bancários, obrigacionistas, papel comercial e descobertos com aumento dos encargos financeiros que representam 19,6 milhões".

Sobre a relação com o BES/Novo Banco indicou: "É estável e tem novos interlocutores, mas não temos pedido acesso ao crédito, pois as receitas que temos são adequadas àquilo que a nossa operação exige." Sobre as duas linhas de obrigações emitidas pela SAD em colocação privada, relativas ao mega-fundo Espírito Santo Liquidez, esclareceu: "A de 17,5 milhões foi reembolsada na data prevista, a 15 de Outubro. Quanto à de 50 milhões com vencimento a 15 de Dezembro estamos em processo negocial com as várias entidades financeiras para cumprir as obrigações."

Além disso, rejeitou a necessidade da saída de jogadores em Janeiro num quadro de "situação estável de tesouraria", mesmo sem poder excluí-la, acrescentando: "Não temos intenção de aumentar o endividamento. Queremos cumprir de forma escrupulosa as obrigações com parceiros financeiros, pois assim temos feito nestes 10 anos. O serviço da dívida corresponde a cerca de 30 milhões/ano, entre reembolsos de capital e encargos financeiros. Temos dois tipos de dívida: um, de longo prazo relativo ao 'project finance' inicial do estádio e que termina em Fevereiro de 2015, bem como outro 'project', constituído logo a seguir, e ambos estão bem como estão; existem outras linhas cujas taxas podem e devem ser ajustadas em função das condições de mercado, melhores do que eram há um ou dois anos. A tendência natural é para que, caso não seja contraída mais dívida, os encargos baixem." Em relação aos capitais próprios negativos comentou: "Após dois anos de degradação houve melhoria em 2013/14 e, caso se mantenha a tendência durante mais um ano, é possível voltar a dados positivos como no exercício de 2010/11."

Voltando à situação das camisolas, o dirigente sustentou: "Antecipámos, lendo os sinais de mercado, que a PT não tivesse disponibilidade para renovar patrocínios e temos conversas avançadas com alternativas de patrocinadores nacionais e internacionais", referiu. E explicou que a lógica do contrato de patrocínio nas camisolas cruza duas vertentes: "Somos a maior e melhor marca da lusofonia! Não publicitamos uma certa marca num mercado de 10 milhões de habitantes, mas damos visibilidade a marca que pretenda apostar no mundo da lusofonia que é extremamente vasto. Fizemos estudos que revelam centenas de milhões a ver os jogos do Benfica. Segundo aspecto determinante: o posicionamento da marca também tem visibilidade através da quantidade de jogos que temos feito na Europa e ninguém fez tantos como nós nos últimos cinco/seis anos. No cruzamento entre a procura do Benfica no mercado lusófono e a visibilidade que o clube dá a qualquer marca associada do ponto de vista europeu e mundial - é aí que temos de encontrar o parceiro certo."

O 'naming' do estádio já mereceu várias propostas. "Não pretendemos comercializar abaixo do que entendemos valer. A visibilidade é inferior à da camisola e não será feito um acordo com uma só marca para os dois casos, pois nenhum dos parceiros com quem falámos tem capacidade para isso."

Da BTV, cujo contrato para transmitir a Premier League termina em 2016, deixou diversas referências, incluindo a de que "no pico máximo superou, de forma significativa, os 300 mil assinantes". "Tem emissão integral em quatro países europeus, três africanos e dois na América do Norte, faltando fechar as situações específicas com Brasil, Venezuela e mais um ou dois países europeus. Quanto aos jogos chegam a 135 países e a tendência é para aumentar, pois as regiões que não estão cobertas estão sob negociação. Foram transmitidos 1.034, algo que representa 1.617 horas de emissão. A expectativa aponta para subida de receitas."

No entanto, não é ignorado o impacto no crescimento dos gastos em 2013/14. "Parte resultou da entrada da BTV no perímetro de consolidação da SAD com aumento em rubricas como amortizações e custos com pessoal, tal como no Museu, mas também da componente desportiva face aos prémios para o plantel e equipa técnica: dos 12 milhões em causa, cinco são de prémios, perto de dois milhões são da BTV e pessoal do Museu e perto de quatro milhões corresponde a aumento da massa salarial do plantel."

Numa síntese sobre o que representou 2013/14, o administrador disse: "Foi o melhor exercício sob múltiplas vertentes da Benfica SAD e das suas participadas com resultados no relvado e na componente não desportiva. É também o 10º exercício depois da eleição de Luís Filipe Vieira para presidente em Outubro de 2003 e a evolução da SAD e do clube em geral é impressionante face ao que não existia." E Soares de Oliveira lembrou ainda: "Passámos de receitas consolidadas de 40 para 200 milhões em 10 anos e a dívida, englobando a construção do estádio, subiu de 375 para 449 milhões, incluindo o exigível e o não exigível."

Questionado acerca da possibilidade de distribuição de dividendos num prazo próximo, o responsável do elenco benfiquista argumentou: "A SAD terá de recuperar a situação dos capitais próprios e só depois os accionistas devem pronunciar-se sobre a eventual distribuição de dividendos."

Quanto a prioridades próximas, o dirigente sumariou: aposta no futebol de formação; integração de jogadores na equipa principal; expansão internacional da BTV e cumprimento dos critérios de fair-play financeiro da UEFA."