Patrocínio nas camisolas: Benfica voou primeiro que os rivais

Submetida por PlusUltra em
Fonte

A temporada oficial está prestes a arrancar, em Portugal, e dos três grandes clubes apenas o Benfica tem um acordo de patrocínio das camisolas. O zerozero.pt procurou perceber as razões para a ausência de uma marca associada nas camisolas de dragões e leões, nesta fase, e como é que o Benfica conseguiu um acordo de patrocínio com uma marca mundial, como é o caso da Fly Emirates. Paulo Reis Mourão (doutorado em Economia, professor na Universidade do Minho e renomado especialista em economia desportiva) deu-nos a explicação para este cenário.

 

Desde logo, foi destacada a «excelência negocial» do Benfica na forma como antecipou a perda de parceiros económicos de marcas portuguesas, por um lado, e, por outro, «um problema de gestão de timing» em Alvalade e no Dragão.

 

«O Benfica foi o clube que melhor antecipou esta situação e até foi aquele que foi mais afetado com esta redefinição do grupo Espírito Santo. Há um ano, o Benfica viu que tinha a necessidade de procurar um parceiro estrangeiro face ao estrangulamento de alguns financiamentos do BES. Por isso, entraram em campo um conjunto de personalidades que associaram o próprio Benfica a uma marca como a Fly Emirates. Nesse aspeto, o Benfica antecipou os desafios da ecomomia real», disse-nos Paulo Reis Mourão, destacando que o acordo com a companhia aérea dos Emirados Árabes Unidos se poderá «estender ao próprio nome do estádio da Luz», no futuro.

 

«O nome do estádio da Luz tem, obviamente, uma capitalização possível na ordem dos milhões e não seria por acaso que poderíamos ter mais um estádio Emirates», avisou este especialista em economia desportiva, que apontou três razões para que se chegue a esta altura e apenas as águias tenham patrocinador nas camisolas.

 

«A primeira razão é de ordem negocial. Obviamente, quando se chega ao início de campeonato e se observa isto, que depois resulta em quebra de receitas, nota-se alguma falta de organização que FC Porto e Sporting estão a evidenciar - talvez um pouco mais gravoso no FC Porto dado o histórico de excelência de organização que sempre teve. O que temos aqui é um problema de gestão de timing e gestão da capacidade negocial. Por isso, chegam a este momento sem contratos definidos. A segunda ordem de razão tem que ver com um posicionamento estratégico que ambas as equipas estão a tentar ter no curto prazo. Pelo que venho estudando, o curto prazo vai até à 4.ª jornada do campeonato. Estão a tentar conseguir uma definição interessante para com os seus objetivos, quer em termos de receitas publicitárias, quer também em termos de conotação com uma marca que também traga prestígio e traga um conjunto de valorização futura», explicou o professor académico da Universidade do Minho, salientando que «hoje em dia não basta só aceitar a publicidade do comerciante local».

 

«Sporting e FC Porto dificilmente conseguirão bons contratos nesta fase»

 

«Um clube com uma magnitude internacional também quer ficar conotado com uma marca que potencialize a própria imagem do clube. Para mim, existe ainda um terceiro ponto que tem que ver com o problema da economia real. Os três grandes estavam associados à esfera financeira e das comunicações e estes setores entraram numa profunda redefinição, como temos vindo a assistir». E assim se chega a este cenário.

 

No entanto, nos últimos tempos, o presidente do Sporting afirmou que o seu clube está a encarnar esta situação com «calma e serenidade». Paulo Reis Mourão olha para as palavras do líder verde e branco e revela que «em economia desportiva as mensagens de calma e serenidade normalmente escondem uma grande instabilidade latente».

 

«Temos essa leitura e depois temos outra: a calma e serenidade dessa mensagem está associada às três dimensões que falei atrás. É para apaziguar a oposição interna pela ausência de um contrato que FC Porto e Sporting mereciam.»

 

Se os líderes «têm a necessidade de passar uma mensagem de que as coisas estão controladas», a verdade é que agora é preciso olhar para o futuro e este especialista em economia desportiva entende que «Sporting e FC Porto dificilmente conseguirão bons contratos nesta fase».

 

«Podem aceitar um contrato que pode, numa primeira fase, passar por uma marca nacional e depois por uma marca internacional. Parece-me que seja uma marca nacional, dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa ou do mercado europeu, os valores não serão os ideais para FC Porto e Sporting, ainda que as próprias direções venham com discursos de algum endeusamento.»