quarta-feira, 6 de abril de 2016

Guardiola 0-1 Rui Vitória


Perdemos no Allianz Arena. Não levámos 6, nem 7, nem 5 em 20 minutos, mas perdemos. Portanto, o resultado não é bom. Mas, pela primeira vez posso dizer que Rui Vitória tem todo o mérito na nossa boa exibição.



Ontem foi o jogo 150 de Guardiola no Bayern, tem 114 vitórias! É para mim o melhor treinador do Mundo, mas ontem, apesar da vitória da sua equipa, perdeu no confronto com Rui Vitória. Não há memória de um Bayern com tão poucas chances de golo, tão poucos remates à baliza e uma vitória tão magra. E aí o mérito é todo do Benfica de Vitória.


O jogo começou da pior maneira possível, com 1'50'' de jogo os bávaros chegavam ao golo (quase que se ouviu o esfregar das mãos dos adeptos das últimas equipas portuguesas a jogar naquele magnífico estádio) e tinham tudo (ainda mais) a seu favor.

O Bayern conseguia sistematicamente e de forma fácil libertar um dos alas (Ribery ou Douglas Costa) e ameaçava marcar mais golos assim. Isto porque os 4 de trás (a linha defensiva que Pep apelidou de "uma das melhores da Europa") jogavam muito juntos no meio e deixavam (propositadamente ?) bastante espaço nos corredores laterais.

Vitória percebeu bem isso e tratou de fazer com que Pizzi e Gaitán começassem a tapar esses espaços ao invés de deslocar Almeida ou Eliseu para mais perto da linha lateral e do(s) adversário(s) directo(s). Aí sim vi dedo do treinador, vi um técnico que não se precipitou e corrigiu calma e ponderadamente a nuance estratégica que se lhe deparou.

Os jogadores do Benfica foram de menos a mais. Aumentaram os índices de confiança, mantiveram a posse de bola e foram-se soltando. O Bayern de Pep parecia não ter solução para encostar o Benfica ou criar graves problemas aos nossos.




Cerca dos 30' surge um lance que poderia ter virado a eliminatória. Gaitán surge na esquerda, "deita" Lahm e este, ao lançar-se de carrinho, corta a bola com o braço (dentro da área) e impede que esta chegue a um colega de Gaitán.

Penalty.


Penalty claro que ficou por marcar. O lance não desanimou os nossos e ainda antes do intervalo dispusemos de ocasião flagrante (por Gaitán, de pé esquerdo...) para empatar. A primeira parte terminava bem diferente de como havia começado, o Bayern não nos atemorizou e nós chegámos ao intervalo transmitindo alguns arrepios aos milhares de alemães (que foram sendo abafados pelos cerca de 5000 adeptos benfiquistas) presentes no Allianz Arena.



Na segunda parte o Benfica entrou ainda mais concentrado e começou a acumular jogo perigoso e duas flagrantes oportunidades de golo.



Ambas desperdiçadas por Jonas. A primeira num fabuloso trabalho individual que o deixou frente a frente com Manuel Neuer e a segunda numa recarga a remate de Mitroglou (que também aí poderia ter feito golo).

Foram uns bons 30 minutos em que só se ouviam benfiquistas no Allianz Arena e Guardiola parecia não ter forma de dar a volta à boa performance encarnada. Costa, Ribery, Coman e Muller pareciam banais, as estrelas chamavam-se Fejsa, Lindelof, Jardel ou Sanches.

Quando nos oitavos de final o Bayern perdia com a Juventus, Guardiola disse: «só pensava "que faria Johan nesta situação ?" e foi o que tentei fazer com as minhas alterações». Ontem, provavelmente pensou o mesmo, mas talvez não tenha sido tão ambicioso (afinal, ao contrário do jogo com os italianos, estava em vantagem), isto apesar de nos últimos minutos o Bayern se ter voltado a aproximar com perigo da baliza de Ederson (enorme! Júlio César vai ter que trabalhar bastante para recuperar a titularidade).

O Bayern mereceu ganhar ? Talvez. Mas o Benfica merecia ter marcado na Alemanha. E se tivesse empatado o jogo, se calhar o aspecto psicológico teria sido mais prejudicial para o nosso adversário (como aconteceu em S.Petersburgo, por exemplo) e o desfecho da eliminatória seria bem diferente.

Mas se tentar ser o mais imparcial possível, acho que o resultado mais ajustado seria um 2-1, e nesse caso, o Benfica tinha bastantes possibilidades de eliminar o colosso alemão. Mas, ainda assim, estamos vivos e o sonho continua.

Houve muita gente em muito bom nível, mas acho que o mais importante foi a boa imagem que o Benfica deixou a toda a Europa do futebol. Também por isso o meu destaque vai para Rui Vitória. Sempre fui crítico com ele, aumentei esses ataques face àquilo que demonstrou já no Benfica e rezei a todos os santinhos para que ele saísse do Benfica.

Hoje é de toda a elementar justiça que lhe faça uma vénia porque defrontou o melhor e saiu por cima. E isso, meus amigos, não pode ser sorte. Não está em causa o resultado final, perdemos e não há volta a dar, mas no confronto dos "bancos", para mim, Rui Vitória foi melhor na casa do treinador catalão.

Oxalá na quarta-feira, 13 de Abril, a Luz possa ser aquela que um dia intimidou Papin & Cia. e o Benfica possa dar um salto em frente na maior competição de clubes do Mundo.


2 comentários:

António Viegas disse...

Parabéns por reconheceres o erro e dares o devido valor a Rui Vitória.

Há por aí uns meninos, que, como tu, criticaram ferozmente RV no início. Mas como não querem assumir que erraram, lançam 2 teorias, qual delas a mais descabelada:

1. O RV era fraco mas aprendeu muito depressa (com quem, pergunto eu).

2. O Benfica está a jogar bem por causa dos jogadores não do treinador... (esta então é um disparate tremendo, ainda por cima defendida num blogue - lateral esquerdo - de supostos especialistas da bola...)

Tyler Durden disse...

Caro António Viegas,

desde a vitória em Madrid (no Calderón) que dizia precisamente isso: "o Benfica tem demasiados jogadores bons para jogar tão pouco; com jogadores destes...eles têm que jogar".

E dizia-o porque não via estratégia, ideias e sobretudo "dedo do treinador". Aquilo que se passou ontem não pode ser obra do acaso ou de trabalho e dedicação exclusiva dos atletas, não posso mais ignorar Rui Vitória.

Como também não ignorei as patéticas exibições dos primeiros longos meses. A saída de bola era inexistente, Lisandro e/ou Luisão eram muitas vezes quem tentava lançar o jogo e fazer o passe "organizador" porque simplesmente andava tudo desnorteado em campo. E escrevi-o aqui na altura. Era mau demais.

Se achava que Rui Vitória tinha capacidade para dar a volta ? Não.
Tinha esperança que melhorasse ? Pouca.

Não acho que tenha aprendido depressa, acho mesmo é que os jogadores não o deixaram cair e que a relação deles com o técnico tem que ser muito próxima, e talvez resida nessa proximidade o segredo para o aumento brutal de fio de jogo e competitividade.

E a isso juntamos a confiança de boas séries de resultados, porque jogadores bicampeões não se esquecem de um dia para o outro o quanto custa vencer e como se faz para se ser campeão. Mas aquela balbúrdia da pré-época e dos primeiros jogos fizeram tremer muita gente. Felizmente não caímos e estamos aí...à beira de uma brilhante época (oxalá!!).

Não me custa absolutamente nada dar a mão à palmatória, ainda para mais quando isso significa o sucesso do nosso Benfica.

Obrigado pela opinião e um abraço.