Em Domingo de Páscoa, falamos da ressurreição de um clube histórico

Hoje é Domingo, normalmente seria dia de jogo, mas como é Páscoa, não há bola para ninguém. Falemos então de ressurreição. Não, não vamos falar de religião, vamos falar de algo mais importante. Vamos falar de futebol.

Mora em Alcântara um histórico do futebol português. O Atlético Clube de Portugal. Aos dias de hoje (e após ter passado 42 anos sem estar na I Divisão), é o 15º clube com mais presenças no escalão principal do futebol Português. Agora pensem na grandeza desta equipa...

Outrora habitualmente figurava na primeira metade da tabela classificava da I Divisão, hoje acaba de subir à Divisão Pró-Nacional, o 4º escalão do futebol nacional, fruto de duas subidas em outros tantos anos. Dias difíceis pensam vocês? Não o período mais difícil já passou, agora o Atlético está a renascer, a ressuscitar.

Depois da passagem desastrosa de um investidor chinês pelo clube (Eric Mao, que recentemente se viu envolvido em manobras de viciação de resultados ligados a apostas desportivas), culminando na insolvência da SAD e muitos milhões em dívidas, o clube esteve em vias de desaparecer. Valeu o empenho da actual direcção para reestruturar financeira e desportivamente o clube que hoje já pensa em voos mais altos.

As SAD's foram (no final dos anos 90), uma forma (a única em muitos casos), de salvar os clubes. Porém este modelo resulta em clubes que tenham uma massa associativa que lhes permitam quedar-se com mais de 50% do capital da SAD. O que não acontece com os clubes pequenos, dando origem a casos como os de Estrela da Amadora, Salgueiros, Beira-Mar, União de Leiria ou Atlético.

No passado domingo fui com o meu filho de 4 anos à mítica Tapadinha. Fui ver Futebol. Assim mesmo, com letra maiúscula. Futebol à antiga, onde há porco no espeto, couratos e febras na grelha, onde há festa sem exageros, onde a alegria das crianças toma de assalto o campo ao intervalo para jogar, onde adeptos convivem nas bancadas e mostram que o futebol pode (e deve), ser uma festa. Comigo foram mais de 1400 pessoas... num jogo da distrital de Lisboa. Não esperava encontrar uma assistência maior do que em muitos jogos da I Liga. Mas a verdade é que o Atlético é isto.

Esta assistência poderá ser um indicador de vários aspectos:

1- O Atlético está a renascer. Liderado por Ricardo Delgado, um jovem presidente, começam a sentir-se os ventos da mudança. As pessoas acorrem ao Estádio da Tapadinha porque acreditam no projecto, porque se identificam (agora), com o clube ou porque se deixaram sensibilizar pelas iniciativas levadas a cabo pela direcção no sentido de dar mais visibilidade ao Atlético.

2- As pessoas estão sedentas pelo futebol verdadeiro (tal como eu estou), aquele futebol que leva ao estádio famílias inteiras sem medo "do que possa acontecer" e onde não há "maroscas" para X ou Y ganhar, sem jogos da mala ou e-toupeiras.

3- Quem vai uma vez, volta. O meu filho, depois do jogo, já a caminho de casa perguntou-me: "Pai, quando é que vamos outra vez ver o Atlético?" Porque na realidade é um clube que nos fala ao coração. Não me peçam para explicar, o sentimento não se explica. Mas o facto é que o Atlético é um clube que se entranha, não importa se somos do Benfica, ou de outro clube, a partir daquele momento o Atlético passa a merecer a nossa simpatia. (Perguntem aos mais velhos o que acham do Atlético).

Fui fazer um trabalho de pesquisa no sentido de perceber que nomes grandes de Portugal teriam passado pelo Atlético, apenas recuei até à época 80/81. Fiquei abismado com a quantidade de internacionais/históricos passaram pela Tapadinha!

Rui Águas, José Couceiro, Jorge Jesus (sim, esse mesmo), Raul José, António Carraça, Paulo Torres, Bilro, Nuno Abreu, Chiquinho Carlos, Pacheco, Abel Silva, Valido, José Carlos, Amaral, Filipe Ramos, Luís Carlos, Pedro Estrela, Rui Gregório, Hernâni (agora jogador do Porto), Silas, Jesualdo Ferreira, Nórton de Matos, Veloso, Alberto Bastos Lopes, Carlos Manuel, João de Deus, Jorge Simão,  José Rachão ou Jorge Andrade... Sem falar do melhor central da história do Benfica, Germano de Figueiredo.

Este clube mora em Alcântara, ao lado da Ponte 25 de Abril, e ali, sejam de Benfica, Sporting, Porto ou de outro clube qualquer, serão sempre bem-vindos.

Hoje, porque é domingo de Páscoa não há bola, mas o milagre da ressurreição aconteceu em Alcântara.

HBarreiros

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