O mundo novo dos eSports

Há uns meses, li este fantástico texto na página ColunaVermelha . Desde então que tenho planeado escrever sobre este assunto. De facto, os eSports estão a crescer tanto e tão depressa que não faz sentido que a maior instituição desportiva do país não se tenha movimentado para entrar também neste mundo. Aliás, uma entrada neste mundo faria a marca Benfica crescer de uma forma enorme, principalmente no mercado asiático e talvez no americano.

No entanto, acho que não conseguiria escrever um texto melhor que o texto da página Coluna Vermelha. Por isso, partilho o texto deles, e ao mesmo tempo deixo bem claro que esta é uma área na qual o Benfica pode e deve investir em breve.

Vamos falar de eSports.

Vamos antes de começar isto deixar de parte a conversa se os esports são desporto ou não, isso pode ser uma conversa para outro dia, não era a que eu gostaria de ter hoje. Vamos encarar simplesmente os eSports como uma indústria em rápido crescimento e já avaliada em largos milhões, onde há competição entre duas ou mais pessoas e que envolve skills para ganhar. Todos podemos jogar futebol ao fim de semana mas nunca teremos o nível dos profissionais, tal como todos podemos jogar pc ou playstation mas se formos jogar com um profissional somos aniquilados rapidamente, o princípio básico aqui é o mesmo e já há profissionais em ambas as áreas por alguma razão.

O que são os eSports? Os eSports são uma forma de competição que envolve videojogos de todos os tipos. Desde jogos de desporto como fifa, Mobas como League of Legends(LOL) ou Dota 2 e jogos de tiro, fps como o Counter Strike(CS:GO).
Os eSports são talvez a indústria competitiva que mais tem crescido nos últimos anos em termos percentuais, os últimos números apontam para os 7% ao ano, e já com uma dimensão bastante competitiva. Vão em breve atingir o 1 bilião de dólares como indústria e estima se que com 250 milhões de fãs em todo o mundo. Em 2018 a soma de horas vistas dos 4 maiores torneios do mundo somou 190 milhões de horas ou 21,700 anos. Estima se que em 2021 nos Estados Unidos haja mais pessoas a ver a final do maior torneio de eSports do que a ver as finais da MLB, NBA, NHL e MLS, só seriam ultrapassados pela SuperBowl, o 2o evento de desporto mais visto do mundo só superado pela final da champions e do mundial ou europeu de futebol se os houver nesse ano.

Em termos de prize moneys já houve jogadores a ganharem mais de 4 M$ num só torneio. Para terem uma ideia, o nosso João Sousa no circuito ATP na sua carreira toda soma 5,7M em prize moneys.
Recentemente em Portugal tivemos dois torneios importantes de eSports, ambos no altice arena, o Moche XL com 20.000 espectadores físicos em 2 dias e o Blast ProSeries Lisboa que esgotou com 6 mil pessoas num dia(só plateia e 1º balcão). O público, pelo menos em Portugal está provado que existe e quem esteve lá sabe a loucura aos bilhetes que isto foi. A paixão de alguns pelas equipas de CS que por lá passaram pode se equiparar à paixão que muitos têm pelo futebol. Seguem estes jogadores sempre que há torneios e sofrem com cada vitória ou derrota destes mesmo. Já há superstars do meio com milhões de fãs.

Em Portugal existe também uma competição neste âmbito e relacionada com futebol distribuída por vários torneios de Fifa, a FPF eSports em que participam alguns clubes de Futebol e não só. Entre os clubes de futebol já em competição contam se o Sporting, o Braga, Rio Ave, Marítimo, Paços, Feirense, Estoril e mais uma carrada deles. Até o Canelas 2010 e o Aparecida Fc têm uma equipa de eSports. Por isso como podem deduzir, as barreiras e custos à entrada nisto são mínimos.
A nível europeu temos equipas de clubes como o City, Wolfsburgo, Roma, PSG, Valência, Besiktas, Santos, West Ham, Sampdoria, Copenhaga e muitos outros. Recentemente houve uma notícia que também a Uefa vai começar a ter torneios da modalidade.
É portanto como já percebemos uma coisa já estabelecida, em grande crescimento e que está aqui não só para ficar e durar como para competir em termos de atenção dos espectadores com outros desportos tradicionais.

O Benfica deveria portanto, pelo menos, considerar em entrar neste campo o quanto antes, senão depois arrisca-se a apanhar o comboio tarde e ter que correr e desembolsar mais para conseguir ter o mesmo nível competitivo que outros clubes que já andam nisto há mais tempo, tal como aconteceu com o futebol feminino que está a correr bastante bem mas o esforço para ter esta equipa foi maior do que seria se tivéssemos entrado ao mesmo tempo que Braga e Sporting.

O custo à entrada é mínimo se quisermos optar só pela presença no meio, ou se optassemos por uma estratégia de dominar já completamente este campo em Portugal poderia se falar em “comprar” equipas já estabelecidas dando lhes o nome Benfica ou de remunerar bons jogadores já presentes noutras equipas. Tudo opções válidas que dependeriam do objectivo a atingir neste campo.

O Benfica tem equipas de paintball, bilhar, pesca desportiva, campismo e tantas outras coisas que passam ao lado dos menos atentos, áreas que não geram nem de perto nem de longe a visibilidade nem movimentam o dinheiro que os eSports já movem no nosso país, custa me a acreditar que não haja interesse em entrar neste campo. Não é para desvalorizar as outras modalidades, mas por certo não esgotariam um altice arena para ver um torneio das mesmas.
Isto pode não estar a fazer muito sentido para as gerações mais velhas que lêem, mas perguntem a qualquer jovem hoje e muito provavelmente já viram eSports ou seguem até regularmente streamers que até em Portugal que já dá para viver disto de jogar jogos. O maior streamer da twitch tem regularmente mais de 70.000 pessoas a ver ao mesmo tempo numa stream num dia. Portugueses já chegaram a mais de 7 viewers ao mesmo tempo e vivem disto a receber, imagino eu, pelo menos mais que o salário mínimo entre doações e patrocínios. Até a RTP já tem um programa só dedicado a isto, o RTP arena.
As novas gerações também se vão conquistar e aproximar dos clubes por aqui e temo que o factor idade seja o maior entrave neste momento a isto ser uma realidade no Benfica.

Olhem para a direcção do Benfica. Quantas pessoas abaixo dos 50 anos lá trabalham? Quantas dessas já ouviram falar de eSports? Quantas delas sabem sequer que isto já não é só jogar jogos mas que move milhões em termos de pessoas e dinheiro, que as marcas patrocinam qualquer coisa que diga “gaming”.
Se não forem pelo interesse, que se guiem pelo dinheiro e pelo potencial da indústria, mas isto está a crescer e veio para ficar, não vai desaparecer e nós eventualmente vamos ter interesse em entrar nisto como tantos outros já olharam para a frente e o fizeram.

Agora a questão é, vamos apanhar este comboio mais cedo, ou mais tarde? Porque isto não vai parar.

9 thoughts on “O mundo novo dos eSports

  1. Se calhar, vai ser preciso os rivais diretos em Portugal, ou apenas um deles, apostarem nisso primeiro que nós. O Benfica não deve nem pode andar a reboque, tem de ter iniciativa. No entanto, não considero (o) “gaming” um desporto, pois, tal como o xadrez, é mais psicológico do que físico.

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            1. Obviamente, pelo conteúdo do jogo, FIFA é o exemplo mais óbvio. No entanto, não é a minha praia. Durante alguns anos, joguei League of Legends, mas neste momento estou completamente fora do assunto, nem sei sequer como funcionam os grandes torneios, pelo que não sei responder à sua pergunta.

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  2. O campismo no Benfica é uma modalidade recreativa. Não pode ser comparada às outras modalidades.

    O prisma de “esgotar pavilhões”, movimentar dinheiro e ter visibilidade NÃO É critério para o Benfica ter uma ou outra modalidade.

    O Benfica já teve aliás uma secção de Xadrez, e durante mais de 55 anos. E devia recuperá-la.

    O Benfica é também um clube de matriz cultural. Não se pense que ter um museu é só com o objectivo de gerar receita ou mostrar troféus.

    Quanto aos esports, não me repugna, mas parece ser mais uma decisão para dar nas vistas do que outra coisa. Não vejo grande interesse. Mal comparado, faz lembrar quando o fcp se meteu nas fórmulas de automóveis… não deu em nada, claro.

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    1. Esgotar pavilhões e movimentar dinheiro não é critério, mas ter visibilidade, para mim, é critério. A analogia que vou dar não é perfeita, mas serve o propósito: porque é que o Benfica vai aos EUA nesta pré-época jogar na ICC? Em termos práticos, não é muito bom para a nossa preparação, para não dizer que é contraproducente até. eSports é igual. Tem uma ligação à vertente competitiva do clube (numa perspetiva simplista, FIFA é futebol numa consola), como a ICC tem (é futebol), mas a sua grande virtude é dar visibilidade à marca Benfica.

      E é o futuro, pois os videojogos estão cada vez mais enraizados na sociedade moderna. Desconhecendo a sua idade, se calhar, para si, parece estranho. Eu não sou muito velho e também parece estranho para mim, dado que só “perco” tempo a jogar Football Manager e muito raramente. Mas para muitos jovens que crescem a vibrar com uma Playstation, isto entusiasma-os mais que o desporto “convencional”.

      Claro que uma entrada nos eSports era algo para dar nas vistas. Aliás, por tudo aquilo que disse acima, é esse mesmo o objetivo. No entanto, mesmo tendo esse objetivo em comum, acho incorrecta a analogia que faz à entrada do FC Porto na Superleague Formula, porque, ao contrário dos eSports, esse foi um conceito que parecia condenado à partida, e com imensas diferenças para os eSports (a começar pelo facto destes serem um mercado emergente e original, contrariamente à Superleague Formula, que era uma entrada num mercado já estabelecido que é o desporto motorizado, com inúmeras competições mais interessantes, e com um interesse mediático sobre-explorado logo à partida).

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