terça-feira, 31 de março de 2020

Quarentena

Levado à letra, Almada Negreiros estava enganado. Aos portugueses, tendo todos os defeitos, não é necessária a coragem por só lhes faltarem as qualidades para serem um “povo completo”. A forma ordeira, empenhada e quase massificada com que a recomendação de distanciamento social foi acolhida e respeitada contradiz esse pessimismo acerca de Portugal, não obstante o previsível botabaixismo que se seguirá, afinal uma das actividades predilectas dos nossos tempos livres.

Teremos, porventura, limitações de toda a espécie, mas compensamo-las com resiliência, voluntarismo e serenidade, entre outras, além da propensão para um certo fatalismo que, embora geralmente indutor de entropias várias, é agora, em tempos de crise extrema como a que vivemos, uma virtude. Aceitar a inevitabilidade de consequências nefastas será o primeiro passo para combatê-las e, pelo menos, mitigá-las. Haveremos de enveredar por um chorrilho de acusações, mas no final do dia interessar-nos-á, sobretudo, que possamos juntarmo-nos à mesa para convivermos, comermos, bebermos e desdenharmos seja lá do que for.

E há o Sport Lisboa e Benfica, exemplo bastante para refutar a tal citação do Almada, pois foram portugueses que o criaram e desenvolveram, inspirados numa visão utópica, logo incumprida, mas continuamente perseguida e almejada. Cada benfiquista tem uma visão para o Benfica, sabendo que o nosso querido clube estará sempre aquém do que projectamos para ele. Nesta catástrofe, a acção da Fundação Benfica e das Casas do Benfica, os planos de contingência e sua imediata implementação no clube e a avultada doação ao Sistema Nacional de Saúde aproximam o Benfica, indubitavelmente, da minha visão do Benfica.

Jornal O Benfica - 27/03/2020

1 comentário:

  1. Bo tarde,
    Li agora esta crónica, depois de ver o " contas feitas dúvidas desfeitas".
    Estou de acordo com o João nestas boas crónicas cheias de benfiquismo e realidade.
    Sempre me preocupei com a parte financeira, apesar de nada perceber do assunto, mas percebo o suficiente para estar satisfeito com os resultados obtidos.
    Duas notas: 1 — as doações a pessoas coletivas estão isentas.
    2- uma opinião; se o Benfica renegociar contratos com os profissionais de futebol, numa base ex.20%, devia garantir que não despede trabalhadores e que por ex.5% dessa redução eram afetadas à Fundação Benfica.
    Abraço

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