terça-feira, 1 de setembro de 2020

Realista

Há uma citação de Melville, celebérrimo autor de Moby Dick, a quem agradeço sobretudo Bartleby, o escrivão, que assenta bem à ideia da necessária plausibilidade dos objectivos: “Alimenta todas as coisas com a comida que lhes é conveniente, isto é, se o alimento for alcançável.”

O Benfica está hoje numa encruzilhada, concluída a extraordinária e enormemente desafiante recuperação do clube a diversos níveis, desde a credibilidade perdida à urgente modernização e edificação de infra-estruturas, passando pela maximização de receitas, além do lado desportivo, afinal o desígnio supremo, bem patente nos muitos títulos conquistados na última década. Como se costuma dizer hoje, o Sport Lisboa e Benfica voltou a ser um clube apetecível. E ainda bem!

O clube regressou ao seu estado natural, aquele da dramatização extremada de um desaire, em Portugal, resultante do desencontro com as elevadas expectativas depositadas nas nossas equipas. E a Europa voltou a ser encarada como estando à mão de semear, sendo aqui que se solicitam cuidados redobrados.

Se aspirar a ganhar sempre a nível doméstico é legítimo, estaremos conscientes da real medida do que poderá ser o nosso “sucesso europeu”? Chegar sempre aos oitavos e lutar pelos quartos da Champions é, em rigor, um desejo consentâneo com o contexto competitivo em que nos inserimos. A gritante menor capacidade de investimento face à dos “tubarões” europeus assim o determina. Por exemplo, desde 2004/05, só três clubes, uma vez cada, de países que não Alemanha, Espanha, Inglaterra e Itália chegaram às meias-finais da prova, veremos o que fará agora o poderoso financeiramente PSG... Sabemos a comida que nos convém, mas devemos perceber qual o alimento que está ao nosso alcance...

Jornal O Benfica - 17/07/2020

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