segunda-feira, 6 de março de 2023

Da pequenez

Assim como não presto atenção ao que falam os loucos sozinhos na rua, também ignoro o que dizem o presidente do FC Porto e os propagandistas que o servem. Mas reconheço que, de quando em quando, uns e outros proferem algo acertado.

Por exemplo, o responsável portista insurgiu-se, esta semana, contra o VAR que actua para uns e não actua para outros. E eu acompanho-o na indignação: só para mencionar o caso mais recente, é inacreditável como o VAR não interveio para que Pepe fosse admoestado com um cartão vermelho devido à patada de sola dada na canela de um jogador do Gil Vicente.

Muito deu que falar esse lance. Foram variadíssimas as menções ao aniversário do defesa azul e branco como justificação para o perdão do vermelho. Estou ciente da carga irónica, mas, ainda assim, não faz qualquer sentido. A menos que Pepe faça anos oito ou nove vezes por época, talvez seja isso.

Por falar em declarações patéticas, ocorre-me a existência de outros especialistas. Os paladinos da ética (assim o atestam o depósito de dois mil euros efectuado por um vice-presidente na conta bancária de um árbitro assistente ou o que se alega no chamado caso “cashball”) e dos bons costumes (vide as VMOC e “reestruturações financeiras” ou as trocas milionárias de passes de jogadores sem valor de mercado) emitiram um comunicado miserável e demagógico que, numa primeira instância, até poderá enraivecer o mais sereno dos benfiquistas, mas que somente provoca pena ou vontade de escarniar, porventura gera algum contentamento.

Tendo a optar pelo escárnio – é mais forte do que eu – embora seja sensível aos que padecem da necessidade de dar um sinal de vida e não deixe de me satisfazer a ideia de que existem tontos que vislumbram uma praia paradisíaca nos montes de areia que lhes são atirados aos olhos.

Todos têm uma atenuante. Os loucos, o problema de saúde; os restantes, o Benfica. A culpa é, de facto, do Benfica. Especialmente de um Benfica que lidera o Campeonato com oito pontos de avanço com doze jornadas em disputa, está bem encaminhado para chegar aos quartos-de-final da Liga dos Campeões e, sobretudo, tem jogado à bola a um nível que se percebe que o bom desempenho não é fruto do acaso.

E eles vociferam, esperneiam, rasgam as vestes e puxam os cabelos, nada que espante. Se nem momentaneamente por cima têm nível, não se espere que o tenham remetidos à sua condição.

Jornal O Benfica - 3/3/2023

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