Arsénio

Arsénio

Nome completo
Arsénio Trindade Duarte
Posição
avançado
Número
8
Data de nascimento
11 Outubro 1925
Data de morte
11 Fevereiro 1986 (60 anos)
País
Portugal
Periodo na equipa principal

1943-1955

Deu-se Arsénio a descobrir com a inocência comparável aos pés desnudados gozando com a bola de trapos. Era o brinquedo dos pobres. Também no Barreiro. Sobretudo no Barreiro, terra de operários, de gente laboriosa, mas com vida inclemente. A dos pais dos “homens que nunca foram meninos”, no retrato de Soeiro Pereira Gomes.

Menino não foi Arsénio, o Pinga para os amigos das traquinices e das pelejas nos areais. Na década de 30, Pinga (que era o seu ídolo) era o mais cobiçado dos elogios, já que o jogador do FC Porto, nascido no Funchal resplandecia nos primitivos recintos da bola lusitana.

No inicio da adolescência deu-se o sortilégio. Ofereceram-lhe o palco. No Barreirense se estreou. Foi perante o Sporting, na festa do adeus a Francisco Câmara. “Ainda não tinha 16 anos e quem me marcou foi o Aníbal Paciência. Ao principio estava um pouco enervado, mas, depois, serenei e perdi o respeito ao valoroso jogador do Sporting”. Arsénio viria a sagrar-se esse ano, campeão nacional da II Divisão, consumado o triunfo (6-1) sobre a Sanjoanense, nas Amoreiras, com gente ilustre do Benfica atenta ao desenrolar do encontro.

Na companhia de Moreira, o conhecido Pai Natal, Arsénio ainda tentou a sorte no mais reputado Vitória de Setúbal, mas do reputadíssimo Benfica chegou a proposta. Recebeu seis contos pela assinatura e 750 escudos mensais daí para a frente. Mas continuou a trabalhar como aprendiz de serralheiro, mais tarde oficial, na CUF. De cacilheiro viajava, com toque madrugador, às 5.45 horas. Era assim três vezes por semana. Treinava-se pela manhã, trabalhava à tarde. Foi assim durante anos. In illo tempore.

Com apenas 18 anos, a 19 de Dezembro de 1943, Arsénio envergou pela primeira vez a camisola do Benfica. Logo aos cinco minutos, disse ao que ia, apontando o primeiro golo. Foi no Campo Grande, nesse triunfo (5-1), ante o Vitória de Guimarães. Titularidade garantida, a ouro fechou a temporada, através da conquista da Taça de Portugal, na maior goleada (8-0) de sempre, com o Estoril Praia.

Actualmente, Arsénio seria número 10. Nesses tempos, actuava como interior-direito. De baixa estatura, era rápido, driblava bem e tinha apurado instinto de golo. Em 446 jogos pelo Benfica marcou 350 golos. Trezentos e cinquenta que a imponência merece escrita por extenso. Até aos nossos dias, só Eusébio, José Águas e Nené mais golos fizeram. Sempre a dissertar na sua linguagem favorita, ganhou a idolatria das massas, o carinho dos companheiros, o respeito dos antagonistas. Um dia, frente ao Estoril Praia, na vitória (7-0), fez seis golos. Melhor ainda, em plena festa de inauguração do Estádio das Antas, marcou cinco, fazendo os nortenhos……perder o Norte!



Numa dúzia de temporadas, venceu três Campeonatos e seis Taças de Portugal, quatro delas consecutivas. Mentalmente forte, adepto dos grandes ambientes e decisões, nunca perdeu uma Taça. Que o digam o Sporting (duas vezes), o Estoril, o Atlético, a Académica e o FC Porto. E quase sempre com golos probatórios dos seus amplos recursos de finalizador. Como aquele, memorável e decisivo, que marcou ao Bordéus, na final da Taça Latina. Os franceses estavam em vantagem, por 1-0, desesperavam as hostes encarnadas, quando, a 15 segundo do fim, Arsénio restabeleceu a igualdade. Jogaram-se dois prolongamentos, até que Julinho haveria de selar o primeiro grande triunfo europeu do Benfica.

Na Selecção Nacional, por ironia, não fez mais que dois golos, ambos com a Espanha. O talentoso Manuel Vasques, grande amigo de infância no Barreiro, barrou-lhe também o lugar, numa altura em que a maleabilidade táctica vinha ainda distante. Quando o brasileiro Otto Glória ingressou no Benfica, outros ventos sopraram, os ventos do profissionalismo. Já na casa dos trinta, Arsénio optou por abandonar o clube e aderir ao projecto da CUF, empresa onde mantinha o seu posto de trabalho. Com 33 anos, para mal dos pecados dos benfiquistas, seria ainda o melhor goleador do Nacional.

Exibiu o requinte dos predestinados, naquela relação apaixonada pelo golo. Arsénio marcou mais, muito mais, que uma geração do Benfica. Arsénio marcou o Benfica.


 

Épocas no Benfica: 12 (43/55)

Jogos: 298
Golos: 220

Títulos: 3CN, 6 TP, 1 Taça Latina

 

 

Texto: Memorial Benfica, 100 Glórias
Copiado de Ednilson

 

 


Equipa Principal Jogos Minutos Cartões (A./V.) Golos
  1943/1944 14 1260 0 / 0 5  
Campeonato Nacional 6 540 0 / 0 2
Taça de Portugal 7 630 0 / 0 3
Taça Império 1 90 0 / 0 0
Amigáveis 0 0
  1944/1945 30 2700 0 / 0 16  
Campeonato Nacional 17 1530 0 / 0 10
Campeonato de Lisboa 6 540 0 / 0 1
Taça de Portugal 7 630 0 / 0 5
Amigáveis 2 0
  1945/1946 30 2700 0 / 0 18  
Campeonato Nacional 20 1800 0 / 0 16
Campeonato de Lisboa 8 720 0 / 0 1
Taça de Portugal 2 180 0 / 0 1
Amigáveis 2 2
  1946/1947 26 2340 0 / 0 29  
Campeonato Nacional 18 1620 0 / 0 20
Campeonato de Lisboa 8 720 0 / 0 9
Amigáveis 2 1
  1947/1948 27 2430 0 / 0 17  
Campeonato Nacional 24 2160 0 / 0 15
Taça de Portugal 3 270 0 / 0 2
Amigáveis 2 0
  1948/1949 25 2250 0 / 0 21  
Campeonato Nacional 20 1800 0 / 0 14
Taça de Portugal 5 450 0 / 0 7
Amigáveis 2 1
  1949/1950 27 2430 0 / 0 12  
Campeonato Nacional 24 2160 0 / 0 10
Taça Latina 3 270 0 / 0 2
Amigáveis 3 1
  1950/1951 30 2700 0 / 0 35  
Campeonato Nacional 23 2070 0 / 0 25
Taça de Portugal 7 630 0 / 0 10
Amigáveis 1 1
  1951/1952 32 2880 0 / 0 24  
Campeonato Nacional 25 2250 0 / 0 20
Taça de Portugal 7 630 0 / 0 4
Amigáveis 6 4
  1952/1953 22 1980 0 / 0 17  
Campeonato Nacional 19 1710 0 / 0 12
Taça de Portugal 3 270 0 / 0 5
Amigáveis 6 1
  1953/1954 21 1890 0 / 0 10  
Campeonato Nacional 18 1620 0 / 0 6
Taça de Portugal 3 270 0 / 0 4
Amigáveis 4 0
  1954/1955 16 1440 0 / 0 16  
Campeonato Nacional 10 900 0 / 0 4
Taça de Portugal 6 540 0 / 0 12
Amigáveis 2 0
  1955/1956  
Amigáveis 11 1
Total Jogos Amigáveis 43 12
Total Jogos Oficiais 300 27000 0 / 0 220
Na equipa principal

Primeiro jogo

Último jogo


Por administrador a Sexta, 5 Janeiro 2024

Dixi


Nome Completo: ARSÉNIO Trindade Duarte
Posição: Avançado Centro
Nacionalidade: Português (Internacional A)
Data de Nascimento: 11-10-1925
Data de Falecimento: 11-02-1986
Número da Camisola: ?
Pé Preferido: Direito



Épocas ao serviço do Benfica: 12
Total de Jogos pelo Benfica: 298
Total de Golos pelo Benfica: 218
Títulos pelo Benfica:
1 Taça Latina (1949/1950)
3 Campeonatos Nacionais (1944/1945; 1949/1950; 1954/1955)
6 Taças de Portugal (1943/1944; 1948/1949; 1950/1951; 1951/1952; 1952/1953; 1954/1955)


1943/1944
Jogos: 13
Golos: 3 (2 na Liga)

1944/1945
Jogos: 29
Golos: 16 (10 na Liga)

1945/1946
Jogos: 30
Golos: 18 (16 na Liga)

1946/1947
Jogos: 26
Golos: 29 (20 na Liga)

1947/1948
Jogos: 27
Golos: 17 (15 na Liga)

1948/1949
Jogos: 25

Golos: 21 (14 na Liga)

1949/1950
Jogos: 27
Golos: 12 (10 na Liga)

1950/1951
Jogos: 30
Golos: 35 (25 na Liga)

1951/1952
Jogos: 32
Golos: 23 (20 na Liga)

1952/1953
Jogos: 22
Golos: 18 (12 na Liga)

1953/1954
Jogos: 21
Golos: 10 (6 na Liga)

1954/1955
Jogos: 16
Golos: 16 (4 na Liga)

Eagle Fly Free

#1
Arsénio Trindade Duarte. Barreiro. 16 de Outubro de 1925-1986. Avançado.
Épocas no Benfica: 12 (43/55). Jogos: 298. Golos: 220. Títulos: 3 (Campeonato Nacional), 6 (Taças de Portugal) e 1 (Taça Latina).
Outros Clubes: Barreirense, CUF, Montijo e Cova da Piedade. Internacionalizações: 2.




Equipa vencedora da Taça Latina 18.08.1950

Deu-se Arsénio a descobrir com a inocência comparável aos pés desnudados gozando com a bola de trapos. Era o brinquedo dos pobres. Também no Barreiro. Sobretudo no Barreiro, terra de operários, de gente laboriosa, mas com vida inclemente. A dos pais dos "homens que nunca foram meninos", no retrato de Soeiro Pereira Gomes.

Menino não foi Arsénio, o Pinga para os amigos das traquinices e das pelejas nos areais. Na década de 30, Pinga (que era o seu ídolo) era o mais cobiçado dos elogios, já que o jogador do FC Porto, nascido no Funchal resplandecia nos primitivos recintos da bola lusitana.

No inicio da adolescência deu-se o sortilégio. Ofereceram-lhe o palco. No Barreirense se estreou. Foi perante o Sporting, na festa do adeus a Francisco Câmara. "Ainda não tinha 16 anos e quem me marcou foi o Aníbal Paciência. Ao principio estava um pouco enervado, mas, depois, serenei e perdi o respeito ao valoroso jogador do Sporting". Arsénio viria a sagrar-se esse ano, campeão nacional da II Divisão, consumado o triunfo (6-1) sobre a Sanjoanense, nas Amoreiras, com gente ilustre do Benfica atenta ao desenrolar do encontro.

Na companhia de Moreira, o conhecido Pai Natal, Arsénio ainda tentou a sorte no mais reputado Vitória de Setúbal, mas do reputadíssimo Benfica chegou a proposta. Recebeu seis contos pela assinatura e 750 escudos mensais daí para a frente. Mas continuou a trabalhar como aprendiz de serralheiro, mais tarde oficial, na CUF. De cacilheiro viajava, com toque madrugador, às 5.45 horas. Era assim três vezes por semana. Treinava-se pela manhã, trabalhava à tarde. Foi assim durante anos. In illo tempore.

Com apenas 18 anos, a 19 de Dezembro de 1943, Arsénio envergou pela primeira vez a camisola do Benfica. Logo aos cinco minutos, disse ao que ia, apontando o primeiro golo. Foi no Campo Grande, nesse triunfo (5-1), ante o Vitória de Guimarães. Titularidade garantida, a ouro fechou a temporada, através da conquista da Taça de Portugal, na maior goleada (8-0) de sempre, com o Estoril Praia.

Actualmente, Arsénio seria número 10. Nesses tempos, actuava como interior-direito. De baixa estatura, era rápido, driblava bem e tinha apurado instinto de golo. Em 446 jogos pelo Benfica marcou 350 golos. Trezentos e cinquenta que a imponência merece escrita por extenso. Até aos nossos dias, só Eusébio, José Águas e Nené mais golos fizeram. Sempre a dissertar na sua linguagem favorita, ganhou a idolatria das massas, o carinho dos companheiros, o respeito dos antagonistas. Um dia, frente ao Estoril Praia, na vitória (7-0), fez seis golos. Melhor ainda, em plena festa de inauguração do Estádio das Antas, marcou cinco, fazendo os nortenhos......perder o Norte!



Numa dúzia de temporadas, venceu três Campeonatos e seis Taças de Portugal, quatro delas consecutivas. Mentalmente forte, adepto dos grandes ambientes e decisões, nunca perdeu uma Taça. Que o digam o Sporting (duas vezes), o Estoril, o Atlético, a Académica e o FC Porto. E quase sempre com golos probatórios dos seus amplos recursos de finalizador. Como aquele, memorável e decisivo, que marcou ao Bordéus, na final da Taça Latina. Os franceses estavam em vantagem, por 1-0, desesperavam as hostes encarnadas, quando, a 15 segundo do fim, Arsénio restabeleceu a igualdade. Jogaram-se dois prolongamentos, até que Julinho haveria de selar o primeiro grande triunfo europeu do Benfica.

Na Selecção Nacional, por ironia, não fez mais que dois golos, ambos com a Espanha. O talentoso Manuel Vasques, grande amigo de infância no Barreiro, barrou-lhe também o lugar, numa altura em que a maleabilidade táctica vinha ainda distante. Quando o brasileiro Otto Glória ingressou no Benfica, outros ventos sopraram, os ventos do profissionalismo. Já na casa dos trinta, Arsénio optou por abandonar o clube e aderir ao projecto da CUF, empresa onde mantinha o seu posto de trabalho. Com 33 anos, para mal dos pecados dos benfiquistas, seria ainda o melhor goleador do Nacional.

Exibiu o requinte dos predestinados, naquela relação apaixonada pelo golo. Arsénio marcou mais, muito mais, que uma geração do Benfica. Arsénio marcou o Benfica.



Tópico: Memorial Benfica, Glórias
Autor: Ednilson
Link: http://www.serbenfiquista.com/forum/index.php?topic=22362.15

Corrosivo

Saiu do Benfica quando o Otto Glória chegou e impôs que todos os jogadores do Benfica fossem profissionais.

Algumas glórias, tais como o Pipi ou o Arsénio, optaram por sair, dado que estavam em fim de carreira e não queriam deixar os seus empregos.

Mas mesmo assim o Arsénio ainda foi melhor marcador do campeonato na CUF

Shoky


Golden

Uma das glorias deste clube.

Mais um que foi-me sussurrado aos ouvidos pelo meu pai desde pequeno todos os dias..

era o ze gato, o eusebio, o coluna, costa pereira, simoes, jose aguas, torres, vitor baptista, germano e por aí alem..

só podia ser benfiquista, o meu pai fez bem o trabalho dele ;D

quinas1139

#5
Fonte - ABOLA: "Os goleadores do século"

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Arsénio – Com o golo nas veias / 211 golos

Tinha apenas 29 anos quando Otto Glória lhe abriu as portas de
saída da Luz. Estávamos em 1955. Arsénio Trindade Duarte
chegara ao Benfica em 1943, marcara 152 golos em 224 jogos
com a camisola encarnada. O segundo fôlego de uma carreira
sempre com o golo nas veias prosseguiu no Barreiro, a sua terra.

Foi para a Cuf. Ao serviço de um clube mais modesto — em
quatro épocas o melhor que conseguiu foi um 9.º lugar —
marcou 59 golos. Com 33 anos ganhou a Bola de Prata.

Estreia no campeonato
19 de Dezembro de 1943
Treinador: Janos Biri
Adversário: V. Guimarães
Resultado: 5-1
Incidências: marcou um golo

Currículo
Nome completo: Arsénio Trindade Duarte
Data de nascimento: 16 de Outubro de 1925 (Barreiro)
Data de falecimento: 11 de Fevereiro de 1986
Campeonato Nacional: 3 títulos (44/45, 49/50 e 54/55)
Taça de Portugal: 6 vitórias (43/44, 48/49, 50/51, 51/52, 52/53 e 54/55)
Taça Latina: 1 vitória (49/50)
Selecção Nacional: 2 jogos/0 golos
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Equipa vencedora da Taça Latina 18/08/950

quinas1139

Fonte - ABOLA: "100 figuras do futebol português"

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Arsénio Duarte
Natural do Barreiro — 16 de Outubro de 1925 a 11 de Fevereiro de 1986


Junto à muralha, no Barreiro, estendia-se longo areal. Rapazio,
em euforia, dava pábulo aos seus sonhos. Atrás de uma bola.
Quase sempre de trapos. Que o cauchu era luxo proibido para
aqueles filhos de operários a quem tantas vezes faltava até a
côdea de pão. E uma sardinha se comia retalhada, a dois, a três,
a quatro. Um deles distinguia-se dos demais. Não por jogar
sempre com a melena no ar, ondulando ao sabor breve da brisa
que soprava do rio, mas pelo jeito com que mexia na trapeira.

Chamava-se Arsénio, mas todos o conheciam por... Pinga. Que
era o seu ídolo. Gostava mais de cinema que de bola, mas, sem
dinheiro, divertia-se jogando. Faziam-se torneios entre equipas sempre certas e os
prémios eram cromos dos ídolos de então: Espírito Santo, Peyroteo, Pinga...
O seu talento não podia continuar a desperdiçar-se naqueles campos improvisados de
areia suja, com pedrinhas servindo de balizas. Foi testar qualidades ao Barreirense.
Deslumbrou. Pouco tempo depois, na festa de despedida de Francisco Câmara, lançaramno
na equipa de honra, em desafio contra o Sporting. «Ainda não tinha 16 anos e quem
me marcou foi o Aníbal Paciência. Ao princípio estava um pouco enervado, mas, depois,
serenei e perdi o respeito ao valoroso jogador do Sporting.» Desse time não saiu mais.

Teve ainda tempo para sagrar-se campeão nacional da II Divisão. O Barreirense bateu a
Sanjoanense, por 6-1, nas Amoreiras. Os técnicos do Benfica ficaram de olho nele. Por
essa altura, Arsénio e Moreira, esse mesmo, o... Pai Natal, decidiram mostrar as suas
capacidades no Vitória de Setúbal. Por sua conta e risco. Só lá foram uma vez, porque
emissários benfiquistas foram ao Barreiro oferecer-lhes o sonho que tantas vezes lhes
aqueceu as ilusões.

Bastou um treino para que Janos Biri ficasse entusiasmado com Arsénio. De tal modo que
lhe pediram logo que assinasse a ficha, recebendo por isso seis contos, ficando,
igualmente, a ganhar 750 escudos por mês. Que era o ordenado dos craques...

Por essa altura era já aprendiz de serralheiro, na CUF. A oficial chegaria pouco depois. A
paixão do futebol, mais que o dinheiro que, então, ganhava, suavizava-lhe os sacrifícios.
Para poder apanhar o barco das 5.45 horas, Arsénio levantava-se três vezes por semana
madrugada alta. No cacilheiro encontrava-se com os demais futebolistas da terra que
vinham para Lisboa. Para se treinarem, com ele, no Benfica, Moreira, Corona, Félix,
Rogério Contreiras, Rogério Fontes e José Luís; a caminho do Campo Grande, Azevedo,
Armando Ferreira e Soeiro; para as Salésias, Quaresma e Salvador. Arsénio treinava-se e
regressava, rápido, ao Barreiro para trabalhar na serralharia da CUF. Foi assim anos a fio.
Mas nem isso lhe entenebreceu o ânimo ou ofuscou o brilho.

Bola-de-prata para se vingar de Otto...

Miúdo de corpo, era um temível homem de área. No campo era o que era na vida: um ser
solidário, sempre mais preocupado com os outros que consigo mesmo. Por isso, no
Benfica todos o consideravam o mais apaixonante jogador de equipa que por lá havia.

Pode mesmo dizer-se que, marcando muitos golos — de uma vez, em vitória do Benfica
sobre o Estoril, por 7-0, apontou... seis e mais cinco marcou contra o F. C. Porto, na
estrondosa vitória por 8-2, no jogo de inauguração do Estádio da Antas —, muitos mais
lhe ficou a dever José Águas, de tal forma que nas suas Bolas de Prata havia muito de
Arsénio, que, sendo jogador fantástico, sempre cheio de vivacidade, ágil, com fôlego de
sete gatos, só não foi grande homem de Selecção por ter o lugar tapado por esse
geniozinho, que fazia nos campos quadros com o mesmo encanto que os de Malhoa na
tela, chamado Manuel Vasques. Mas foi ainda mais fantástico homem de... Taças.

Disputou seis finais da Taça de Portugal, todas ganhando: duas ao Sporting (dois golos),
uma ao Estoril (um golo), uma ao Atlético, uma à Académica (um golo) e uma ao F. C.
Porto (um golo). E foi graças a um golo seu que o Benfica abriu o caminho para a
conquista da Taça Latina.

Quando, em 1954, Otto Glória chegou ao Benfica, pediu-lhe para se dedicar em exclusivo
ao futebol. Disse-lhe que não. Na época seguinte foi despedido. Por querer continuar a ser
jogador-trabalhador ingressou na Cuf, com tempo ainda para ganhar uma Bola de Prata.
Travaços e Vasques, que, nessa temporada de 1957/58, se sagraram, pela última vez,
campeões nacionais de futebol, logo após a festa leonina correram à estação de correios
dos Restauradores para enviarem para o Barreiro um telegrama carregado de
sentimentalismo, que dizia mais ou menos assim: «Parabéns dos velhinhos como tu, que
ainda são capazes de fazer coisas tão bonitas...»

A magia de um golo...

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Para os benfiquistas, a Taça Latina disputada em 1950, no Estádio
Nacional, era sonho quente. O ataque de anginas que varreu a
equipa da Lázio facilitou a chegada à final. Contra o Bordéus. No
primeiro jogo, empate a três. Na finalíssima os franceses depressa
chegaram à vantagem. Estavam já quase vazias as bancadas
quando Arsénio, com um golo espectacular, a 15 segundos do
final, empatou.Renasceu a magia da esperança. Os gritos
«Benfica! Benfica! Benfica!» ecoaram fundo, num espectáculo
impressionante. Mais meia hora e golos nada. Outro
prolongamento logo de seguida. Havia jogadores que já se
arrastavam, desfigurados pelo esforço, aos torcilhões, alimentados apenas por uma réstia
de esperança. Francisco Moreira, o Pai Natal, que nesse jogo assumira estatuto de capitão
por Francisco Ferreira, doente, não querer jogar para não prejudicar a equipa, reiterava
palavras de encorajamento sempre que sentia algum colega a desfalecer: «Regressei à
força dos 25 anos para ganhar a Taça Latina. Lutemos até cairmos para o lado, mortos
pelo cansaço»...

De súbito, quase ao cair do pano, Moreira rematou, confusão na baliza dos franceses, não
se sabe ainda hoje se Julinho terá ou não tocado na bola, o que se sabe é que aquele golo
valeu a Taça Latina. Estalou a euforia. Quando o árbitro apitou, Corona desmaiou no
campo. Foi levado para os balneários de charola. Os colegas despiram-no, descalçaramno,
puseram-no no duche e nada: a insensibilidade manteve-se, oferecendo uma imagem
bizarra, debaixo do chuveiro, com a água tépida a salpicar-lhe o corpo ainda desfalecido.

Quando deu cobro de si só foi capaz de dizer que soubera, finalmente, o que era o
Paraíso. Os outros benfiquistas também. Tudo por causa daquele golo de Arsénio a 15
segundos do fim.

Dixi

Citação de: quinas1139 em 26 de Janeiro de 2009, 02:37
Fonte - ABOLA: "Os goleadores do século"

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Arsénio – Com o golo nas veias / 211 golos

Tinha apenas 29 anos quando Otto Glória lhe abriu as portas de
saída da Luz. Estávamos em 1955. Arsénio Trindade Duarte
chegara ao Benfica em 1943, marcara 152 golos em 224 jogos
com a camisola encarnada. O segundo fôlego de uma carreira
sempre com o golo nas veias prosseguiu no Barreiro, a sua terra.

Foi para a Cuf. Ao serviço de um clube mais modesto — em
quatro épocas o melhor que conseguiu foi um 9.º lugar —
marcou 59 golos. Com 33 anos ganhou a Bola de Prata.

Estreia no campeonato
19 de Dezembro de 1943
Treinador: Janos Biri
Adversário: V. Guimarães
Resultado: 5-1
Incidências: marcou um golo

Currículo
Nome completo: Arsénio Trindade Duarte
Data de nascimento: 16 de Outubro de 1925 (Barreiro)
Data de falecimento: 11 de Fevereiro de 1986
Campeonato Nacional: 3 títulos (44/45, 49/50 e 54/55)
Taça de Portugal: 6 vitórias (43/44, 48/49, 50/51, 51/52, 52/53 e 54/55)
Taça Latina: 1 vitória (49/50)
Selecção Nacional: 2 jogos/0 golos
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Equipa vencedora da Taça Latina 18/08/950

Isto ficava bem incluído em:

http://www.serbenfiquista.com/forum/index.php?topic=32460.0

quinas1139

Desculpa, nao tinha visto que ja tinhamos um topico sobre Arsenio.

Vitor84

Uma grande glória que é desconhecida por muitos de nós benfiquistas actualmente (eu pelo menos só à pouco tempo ouvi falar dele).

Vitor84

Imagens que encontrei dele no Blog "Vedeta ou Marreta?"


















Eagle Fly Free

Citação de: Vitor84 em 14 de Julho de 2009, 13:39
Uma grande glória que é desconhecida por muitos de nós benfiquistas actualmente (eu pelo menos só à pouco tempo ouvi falar dele).

Felizmente que há alguns que tiveram avós...

Partizan

Juntamente com o Francisco Ferreira e com o Julinho, é o meu "ídolo" do Benfica. As nossas equipas dos anos 40/50 foram, felizmente, esquecidas em prol da glória Europeia da década de 60, mas fizeram um trabalho soberbo. Foram as responsáveis pela construção de um Benfica de verdadeira dimensão nacional, que preparou o gigante que dominaria a Europa e o Mundo.

pcssousa

Citação de: Partizan em 05 de Novembro de 2010, 17:08
Juntamente com o Francisco Ferreira e com o Julinho, é o meu "ídolo" do Benfica. As nossas equipas dos anos 40/50 foram, felizmente, esquecidas em prol da glória Europeia da década de 60, mas fizeram um trabalho soberbo. Foram as responsáveis pela construção de um Benfica de verdadeira dimensão nacional, que preparou o gigante que dominaria a Europa e o Mundo.
O maior de todos os responsáveis acabou mesmo por ser o Otto Glória, que preparou tudo pasra o profissionalização do futebol do clube. A construcção do lar do jogador e a profissionalização a 100% foram determinantes. Curiosamante Arsénio acabou por sair do Benfica e regressar à CUF precisamente porque não pretendia ser profissional de futebol conforme se pretendi no Benfica... posteriormente ainda ganhou a bola de prata com a camisola da CUF.
Ser o primeiro clube profissional em Portugal foi absolutamente determinante para a glória que viria nas décadas seguintes.

Red skin

Tenho pena q n tenha ganho a bola de prata pelo Benfica!