João Alves, o Luvas Pretas

João Alves

Nome completo
João António Ferreira Resende Alves
Posição
médio
Data de nascimento
5 Dezembro 1952 (71 anos)
País
Portugal
Naturalidade
Albergaria-a-velha (Portugal)
Periodo na equipa principal

1978-1979

1980-1983

As luvas pretas eram a imagem de marca de João Alves. Por código genético, futebolista se fez. O avô, Carlos Alves, havia sido um dos melhores jogadores portugueses, depois da I Guerra Mundial, na defesa das cores do Carcavelinhos, após passagem também pelo FC Porto e pelo Académico da capital nortenha. Um dia, nas véspera de medir forças com o Benfica, os jogadores do Carcavelinhos decidiram concentrar-se, arcando as despesas, numa modesta pensão, de frequência no máximo pequeno-burguesa. Foi quando uma miúda, no atrevimento dos seus 12 anos, se abeirou de Carlos Alves e lhe pediu para, no dia seguinte, jogar com luvas, que amuleto seriam. Perante o insólito, o já reputado defesa disse-lhe que o jogo era a doer, não dava para calçar as luvas negras, mas sempre as levou consigo, de tão insistente a rapariga. Ao intervalo, o Benfica tinha já vantagem materializada. Na segunda parte, num alarde de superstição, enfiou as luvas e o Carcavelinhos… ganhou. Assim foi pela vida fora. Assim foi, também, o neto João. Sempre com luvas pretas.

Na Sanjoanense, despontou. Cedo o FC Porto avançaria com a cantada. Só que o Benfica, já alertado, mandou avançar Fernando Cabrita para  São João da Madeira, com o fito de proceder à assinatura do contrato. Nada mais fácil. Benfiquista obstinado, João Alves feérico virou. Partiu com o avô para Lisboa, onde os pais já se encontravam.



No escalão júnior, deu mostras de todo o seu repica-ponto. O jogo girava à sua volta. Pressentia, executava e até concluía. Era daqueles que acabavam de pensar quando os outros começavam a fazê-lo. Na passagem para sénior, João Alves foi cedido ao Varzim, tão gordo era o plantel da Luz. Na Póvoa, exibiu reportório. Jimmy Hagan integrou-o no elenco a abertura da temporada seguinte. Só que no preito a Santana, velha glória da saga europeia, em Freamunde, trica houve o prestigiado António Simões, deitando tudo a perder, ao que parece por causa das luvas pretas. Vingou a posição do Magriço e figura lídima da casa benfiquista. João Alves saiu para o Montijo, pela módica quantia de 600 contos, cifra que o Benfica tinha pago a fim de o jogador não ser mobilizado para a Guiné, ao serviço da Nação, como na altura mandavam dizer os cânones do regime.

Um ano mais tarde, o Boavista abriu os cordões à bolsa e garantiu o concurso de João Alves, provavelmente o mais genial jogador que alguma vez de xadrez vestiu. No final de 75, em Alvalade, conquistava a Taça de Portugal, perante o Benfica (2-1), apontando o golo vitorioso. “Provei aos dirigentes que não me quiseram que, afinal, sabia jogar futebol”.

Igual troféu ganharia no ano seguinte, qual papa-Taças, com Pedroto ao leme. O Salamanca, de Espanha, recepcionou-o. No país vizinho, foi mesmo considerado o melhor estrangeiro, batendo aos pontos jogadores da estirpe de Cruijff, Neeskens, Kempes, Ayala ou Luís Pereira. Regressou ao Benfica, passando a embolsar, dizia-se, o melhor ordenado de um jogador no futebol nacional. Perdeu o Campeonato por um ponto para o FC Porto, mas suscitou o interesse de vários clubes, acabando por ser transferido para o Paris Saint-Germain, no qual, pouco tempo antes, havia militado Humberto Coelho.



Uma lesão complexa vitimou-lhe a época e retornou à Luz. Fez três anos de águia. Ganhou dois Campeonatos, duas Taças e uma Supertaça. Falhou, porém, a final da Taça UEFA, em 1983. “Só Eriksson poderia dizer porque não me pôs na equipa, depois de uma época inteira a jogar e a fazer grandes exibições. Mas se foi só por ter chegado atrasado a um treino, pareceu-me injusto de mais…”.

Ferido no seu alicerce anímico, ao Boavista voltaria. No Bessa, substituiu Mário Wilson, inaugurando o ciclo de treinador. Já nessa condição, ao serviço do Estrela da Amadora, venceu a Taça de Portugal, a sua prova-fetiche.

Pelo combinado luso, fez 36 jogos, metade dos quais na condição de jogador do Benfica. Despediu-se frente à União Soviética, em Moscovo, num impiedoso 5-0. E já não foi a tempo de ser convocado para o Euro 84.

João Alves, com as suas luvas pretas, terá sido um dos mais sublimes futebolistas do Benfica. O que lhe sobrou em ambição faltou-lhe talvez no politicamente correcto. Quixotesco não foi. Só no campo. Palco das suas virtudes. Com alma e chama imensa.

 

Épocas no Benfica: 4 (78/79 e 80/83)

Jogos: 141
Golos: 32

Títulos: 2CN, 2 TP, 1 ST

 

Texto: Memorial Benfica, 100 Glórias
Copiado de Ednilson

 

 


Equipa Principal Jogos Minutos Cartões (A./V.) Golos
  1977/1978  
Amigáveis 3 0
  1978/1979 32 2862 0 / 0 12  
Campeonato Nacional 26 2322 0 / 0 11
Taça de Portugal 2 180 0 / 0 1
Taça UEFA 4 360 0 / 0 0
Amigáveis 10 2
  1980/1981 46 3959 0 / 0 14  
Campeonato Nacional 30 2598 0 / 0 14
Taça de Portugal 5 389 0 / 0 0
Taça das Taças 9 810 0 / 0 0
Supertaça 2 162 0 / 0 0
Amigáveis 6 0
  1981/1982 23 1730 0 / 0 4  
Campeonato Nacional 14 1095 0 / 0 3
Amigáveis 1 90 0 / 0 0
Taça de Portugal 5 287 0 / 0 1
Taça dos Campeões Europeus 1 90 0 / 0 0
Supertaça 2 168 0 / 0 0
Amigáveis 5 2
  1982/1983 41 3143 0 / 0 2  
Campeonato Nacional 27 2058 0 / 0 0
Taça de Portugal 5 373 0 / 0 2
Taça UEFA 9 712 0 / 0 0
Amigáveis 10 2
Total Jogos Amigáveis 34 6
Total Jogos Oficiais 142 11694 0 / 0 32
Na equipa principal

Primeiro jogo

Último jogo


Por administrador a Segunda, 6 Novembro 2023

Shoky


Nome Completo: JOÃO António Ferreira Resende ALVES
Posição: Médio Ofensivo
Nacionalidade: Português (Internacional A)
Data de Nascimento: 05-12-1952
Número da Camisola: ?
Pé Preferido: Direito



Épocas ao serviço do Benfica: 4
Total de Jogos pelo Benfica: 141
Total de Golos pelo Benfica: 32
Títulos pelo Benfica:
2 Campeonatos Nacionais (1980/81, 1982/83)
2 Taças de Portugal (1980/81, 1982/83)
1 Supertaça (1980/81)


1978/1979
Jogos: 32
Golos: 12 (11 na Liga)

1980/1981
Jogos: 46
Golos: 14 (14 na Liga)

1981/1982
Jogos: 22
Golos: 4 (3 na Liga)

1982/1983
Jogos: 41
Golos: 2 (0 na Liga)

LuigiSLB83

#1
Benfica 5-0 Sporting | Campeonato 1978/79



AG

#2
João António F. Resende Alves. Albergaria-a-Velha. 5 de Dezembro de 1952. Médio.
Épocas no Benfica: 4 (78/79 e 80/83). Jogos: 141. Golos: 33. Títulos: 2 (Campeonato Nacional), 2 (Taça de Portugal) e 1 (Supertaça).
Outros clubes: Varzim, Montijo, Boavista, Salamanca e Paris Saint-Germain. Internacionalizações: 36.



As luvas pretas eram a imagem de marca de João Alves. Por código genético, futebolista se fez. O avô, Carlos Alves, havia sido um dos melhores jogadores portugueses, depois da I Guerra Mundial, na defesa das cores do Carcavelinhos, após passagem também pelo FC Porto e pelo Académico da capital nortenha. Um dia, nas véspera de medir forças com o Benfica, os jogadores do Carcavelinhos decidiram concentrar-se, arcando as despesas, numa modesta pensão, de frequência no máximo pequeno-burguesa. Foi quando uma miúda, no atrevimento dos seus 12 anos, se abeirou de Carlos Alves e lhe pediu para, no dia seguinte, jogar com luvas, que amuleto seriam. Perante o insólito, o já reputado defesa disse-lhe que o jogo era a doer, não dava para calçar as luvas negras, mas sempre as levou consigo, de tão insistente a rapariga. Ao intervalo, o Benfica tinha já vantagem materializada. Na segunda parte, num alarde de superstição, enfiou as luvas e o Carcavelinhos... ganhou. Assim foi pela vida fora. Assim foi, também, o neto João. Sempre com luvas pretas.

Na Sanjoanense, despontou. Cedo o FC Porto avançaria com a cantada. Só que o Benfica, já alertado, mandou avançar Fernando Cabrita para  São João da Madeira, com o fito de proceder à assinatura do contrato. Nada mais fácil. Benfiquista obstinado, João Alves feérico virou. Partiu com o avô para Lisboa, onde os pais já se encontravam.



No escalão júnior, deu mostras de todo o seu repica-ponto. O jogo girava à sua volta. Pressentia, executava e até concluía. Era daqueles que acabavam de pensar quando os outros começavam a fazê-lo. Na passagem para sénior, João Alves foi cedido ao Varzim, tão gordo era o plantel da Luz. Na Póvoa, exibiu reportório. Jimmy Hagan integrou-o no elenco a abertura da temporada seguinte. Só que no preito a Santana, velha glória da saga europeia, em Freamunde, trica houve o prestigiado António Simões, deitando tudo a perder, ao que parece por causa das luvas pretas. Vingou a posição do Magriço e figura lídima da casa benfiquista. João Alves saiu para o Montijo, pela módica quantia de 600 contos, cifra que o Benfica tinha pago a fim de o jogador não ser mobilizado para a Guiné, ao serviço da Nação, como na altura mandavam dizer os cânones do regime.

Um ano mais tarde, o Boavista abriu os cordões à bolsa e garantiu o concurso de João Alves, provavelmente o mais genial jogador que alguma vez de xadrez vestiu. No final de 75, em Alvalade, conquistava a Taça de Portugal, perante o Benfica (2-1), apontando o golo vitorioso. "Provei aos dirigentes que não me quiseram que, afinal, sabia jogar futebol".

Igual troféu ganharia no ano seguinte, qual papa-Taças, com Pedroto ao leme. O Salamanca, de Espanha, recepcionou-o. No país vizinho, foi mesmo considerado o melhor estrangeiro, batendo aos pontos jogadores da estirpe de Cruijff, Neeskens, Kempes, Ayala ou Luís Pereira. Regressou ao Benfica, passando a embolsar, dizia-se, o melhor ordenado de um jogador no futebol nacional. Perdeu o Campeonato por um ponto para o FC Porto, mas suscitou o interesse de vários clubes, acabando por ser transferido para o Paris Saint-Germain, no qual, pouco tempo antes, havia militado Humberto Coelho.



Uma lesão complexa vitimou-lhe a época e retornou à Luz. Fez três anos de águia. Ganhou dois Campeonatos, duas Taças e uma Supertaça. Falhou, porém, a final da Taça UEFA, em 1983. "Só Eriksson poderia dizer porque não me pôs na equipa, depois de uma época inteira a jogar e a fazer grandes exibições. Mas se foi só por ter chegado atrasado a um treino, pareceu-me injusto de mais...".

Ferido no seu alicerce anímico, ao Boavista voltaria. No Bessa, substituiu Mário Wilson, inaugurando o ciclo de treinador. Já nessa condição, ao serviço do Estrela da Amadora, venceu a Taça de Portugal, a sua prova-fetiche.

Pelo combinado luso, fez 36 jogos, metade dos quais na condição de jogador do Benfica. Despediu-se frente à União Soviética, em Moscovo, num impiedoso 5-0. E já não foi a tempo de ser convocado para o Euro 84.

João Alves, com as suas luvas pretas, terá sido um dos mais sublimes futebolistas do Benfica. O que lhe sobrou em ambição faltou-lhe talvez no politicamente correcto. Quixotesco não foi. Só no campo. Palco das suas virtudes. Com alma e chama imensa.


Tópico: Memorial Benfica, Glórias
Autor: Ednilson
Link: http://serbenfiquista.com/forum/index.php?topic=22362.90

Golden

#3
Foi um grande jogador.

Pena é que como treinador esteja uns furos abaixo..


Lordlothar

Citação de: GoldenBoy em 16 de Dezembro de 2008, 03:58
Foi um grande jogador.

Pena é que como treinador esteja uns furos abaixo..


O0 ;D

JPG

Diz-se que rejeitou o Real para jogar no clube do coração, o Benfica.

Alguém sabe se foi mesmo verdade?

Dixi

Não há muitos vídeos do João Alves a jogar. Não conheço a maneira de ele praticar futebol e gostava de ter uma opinião.

Forçabenfica

Este senhor se soubesse de treinador 50% daquilo que foi como jogador, eramos campeoes de juniores sem derrotas e a jogar com 10 todos os jogos... ;D ;D ;D ;D ;D

quinas1139

Fonte - SLBENFICA.pt

Image

João Alves (05/12/1952) - Virtuosismo e visão de jogo

Jogou 4 (1+3) épocas, em 78/79 e entre 80/81 e 82/83, obtendo 37 golos, em 177 jogos - 101 dos quais a médio centro esquerdo.

Iniciou-se no Clube na categoria de juniores, na época de 69/70, acabando por sair do Benfica quando passou ao escalão sénior.

Regressou à Luz por vontade de John Mortimore, numa digressão de final de época ao Canadá, em 77/78, jogando em Edmonton, a 23/06/78, com o Black Gold.

Era um jogador extraordinário, possuidor de uma técnica apurada, que lhe permitia colocar a bola onde queria, fazendo passes e tirando cruzamentos a "régua e esquadro".

Jogou com frequência a médio centro esquerdo, mas também à direita (59 jogos), em particular com Lajos Baroti como treinador, na época de 81/82.

Jogava, tal como o seu avô, de luvas pretas, o que o distinguia dentro de campo. Detentor de uma grande classe, Alves evidenciava-se pelo modo fino como tratava a bola. Era um jogador criativo, dotado de uma extraordinária visão de jogo, imaginando e realizando de modo eficaz as suas iniciativas.
Fez 36 jogos com a camisola da Selecção "A", que capitaneou uma vez e ao serviço da qual apontou um golo. Pelo Benfica, venceu 2 Campeonatos Nacionais e 2 Taças de Portugal, não jogando, porém, a final de 82/83.

É que quando a Taça foi conquistada, na época seguinte, no campo do adversário, o estádio das Antas (a pedido do sr. Presidente do FC Porto...), Alves já não jogava no Benfica.

quinas1139

Fonte - ABOLA: "100 figuras do futebol português"

Image

João Alves
Natural de Albergaria-a-Velha – 5 de Dezembro de 1952

O avô, Carlos Alves, foi um dos melhores futebolistas nacionais,
nos loucos anos 20, notabilizando-se, sobretudo, ao serviço do
Carcavelinhos, apesar de ter passado pelo F. C. Porto e pelo
Académico do Porto. A sua fama explodira quando passou a jogar
com luvas pretas. Na véspera de um desafio entre o Benfica e o
Carcavelinhos, em 1926, os jogadores de Alcântara decidiram, por
sua conta e risco, estagiar numa modesta pensão do bairro
operário. Gaiata de 12 anos que lá trabalhava, abeirando-se de
Carlos Alves, pediu-lhe que jogasse com as suas luvas pretas de
pelica. Retorquiu-lhe o defesa que não poderia, que o futebol era
coisa séria, a rapariga, em pranto convulso, disse-lhe que talvez se arrependesse. Ao
intervalo, o Benfica estava em vantagem. Carlos Alves, para espanto seu, pôs as mãos ao
bolso dos calções e descobriu as luvas. Superticioso, pô-las na ponta dos dedos, que mal
lhe cabiam, e o Carcavelinhos deu a volta ao resultado. No dia seguinte, levou a rapariga
da pensão à Baixa de Lisboa para que lhe escolhesse luvas que lhe servissem, e nunca
mais deixou de jogar com elas.

Porque fora o avô Carlos que mais influência tivera na sua vida de futebolista, levando-o,
embevecido, pela mão, ao primeiro treino, na Sanjoanense, João manteve a tradição das
luvas pretas, que, assim, eram mais que um adereço, mais até que um símbolo, uma
homenagem.

O neto do «homem das luvas pretas» depressa deu nas vistas, pela sua habilidade. O F. C.
Porto lançou-lhe o isco, mas, em jogada de antecipação, o Benfica enviou, a São João da
Madeira, Fernando Cabrita, para que trouxesse contrato assinado com João Alves,
custasse o que custasse. Custou pouco porque, sendo benfiquista ferrenho, o rapazote
disse ao avô que não queria ouvir mais falar do F. C. Porto e como os seus pais até viviam
em Lisboa... Com o neto como seu sempiterno anjo da guarda, veio Carlos para Lisboa. Na
Luz, nos juniores, João depressa se mostrou jogador de grande futuro, pela sua técnica,
pelo seu espírito aguerrido, pela sua extraordinária visão de jogo.

Ao passar a sénior, João Alves foi emprestado ao Varzim. Brilhou. Jimmy Hagan pediu-lhe
que regressasse a Lisboa sem grandes demoras. Regressou, mas depressa o sonho se
esfumou. Depois de um partida em Freamunde, na festa de homenagem ao Santana, um
dos heróis da saga de Berna, João Alves e António Simões envolveram-se numa
escaramuça, a cizânia devera-se às... luvas pretas. Como, por esse tempo, o extremo
esquerdo tinha o poder que irradia de todos os ídolos, Alves foi transferido, em definitivo,
para o Montijo, a troco de 600 contos, que fora aquilo que os benfiquistas tinham pago
para que João Alves não fosse mobilizado para a Guiné!

A vingança da desfeita do Benfica
No ano seguinte, por 1500 contos, o Boavista compraria
aquele que haveria de tornar-se o mais carismático
jogador da sua história. Sabem melhor as vinganças
que se servem frias. A Taça de Portugal de 1975
disputou-se, à noitinha, em... Alvalade, tendo o Benfica
como adversário o Boavista de Pedroto. Repetiu-se a
lenda de David e de Golias no primeiro ano de glória de
João Alves. Marcou o golo da vitória, o golo que valeu a
Taça e um prémio de 10 contos. Uma vitória que, para si, tinha um outro valor: «Provei
aos dirigentes do Benfica que não me quiseram no clube, que, afinal, sabia jogar futebol.»

Pedroto quis trocá-lo por António Oliveira
Na época seguinte, mais uma Taça para Alves, mais uma Taça para Pedroto, mais uma
Taça para o Boavista. Depois da festa, a garantia de bolsos cheios. Por 12 mil contos foi
transferido para o Salamanca. No final dessa temporada, o F. C. Porto, já treinado por
Pedroto, propôs ao Salamanca a troca directa de Alves por António Oliveira. Os
salamantinos, quase sem pestanejarem, pura e simplesmente, disseram não. Nada
surpreendia a resposta, porque, acabara de ser considerado o melhor estrangeiro a actuar
em Espanha, batendo Cruyff, Neeskens e Kempes.

Benfica acusado de tráfego ilegal de divisas
Um ano volvido, a bomba estoirou. Era inevitável. O Salamanca, ensarilhado em crise
financeira, não conseguira resistir mais aos acenos milionários de várias latitudes e ao
Benfica cedera a sua jóia de coroa. Apesar do mutismo em que se tentaram envolver as
verbas da transferência, rumores apontaram para que os salamantinos tivessem recebido
25 milhões de pesetas e para que João Alves passasse a ganhar 200 contos por mês, o
mais alto salário do futebol português. E tão polémica seria a transferência que um
deputado a levou à Assembleia da República, acusando o Benfica do crime de... saída de
divisas. A terreiro, para defesa da honra beliscada, saltou Ferreira Queimado, presidente
do Benfica, que, irónico, questionou: «Terá sido com títulos do tesouro que se fizeram os
pagamentos das transferências de Cubillas e de Jordão?»

Não foram de felicidade as horas que Alves viveu na sua primeira estada na Luz. Depois
de confidenciar que recusara 21 mil contos para se naturalizar espanhol, considerou que o
grande erro da sua vida fora... «regressar a Portugal». Os portistas de Pedroto tinham-se
já transformado em dragões com línguas de fogo. Apesar de tudo, de olho em Alves
estava o Bordéus. Estugaram o passo os dirigentes do Paris Saint-Germain e acabaram por
contratá-lo, aquietando a Direcção do Benfica, que avisara já que não baixaria um centavo
aos 32 mil contos exigidos pela carta internacional: «Essas coisas, entre nós, resolvem-se
em 48 horas, a menos que o Banco de França embirre com a saída de tanto dinheiro ou
com a entrada de um futebolista.»

Eriksson, o atraso e a mágoa
Os sonhos que levava consigo para Paris depressa se volveriam em farelo. À terceira
jornada do campeonato francês, a 13 de Agosto de 1979, em Sochaux. «Não acredito que
Gengini entrasse propositadamente a matar, só que tive azar. O árbitro, um tal senhor
Meeus, que acabou por ser irradiado como corolário de tudo isso, já tinha perdoado um
penalty ao Sochaux, por falta cometida sobre mim e na jogada da lesão, uma entrada por
trás que me partiu logo a perna, chegou ao desplante de marcar livre contra o PSG e nem
sequer ter mostrado cartão amarelo ao Gengini.»

Foi o destino! João Alves acredita que, nesse ano, poderia ter seduzido a Europa do
futebol, semeando, assim, esperanças no contrato multimilionário que nunca chegaria a
ter. «Acabei por estar cinco meses parado, depois foi uma penosa recuperação, só na
época seguinte, já no Benfica, consegui, de facto, voltar a ser eu próprio.»
Mas, talvez nada o tenha magoado tanto, como o facto de não ter jogado o jogo decisivo
entre o Benfica e o Anderlecht, no Estádio da Luz, na final da Taça UEFA, em 1983. Diz-se
que foi castigo imposto por Eriksson, por ter chegado atrasado a um treino. «Só Eriksson
pode dizer porque não me pôs a jogar, depois de uma época inteira de titularidade e
grandes jogos. Mas se foi só por ter chegado atrasado a um treino, parece-me injusto de
mais...»

Do Benfica ainda saltou, no final dessa época, para o Boavista, onde fecharia a carreira de
jogador, começando a desbravar caminho de treinador ao render Mário Wilson, em 1986.
No Estrela da Amadora, o ponto mais alto, ao conquistar a Taça de Portugal, em 1990.
Voltaria ao Boavista, passaria por Guimarães, retornaria à Amadora, para resgatar o clube
da II Divisão, tal como fizera, em 1987, no Leixões, assentaria, depois, em 1994, em
Belém. Quando Manuel Damásio decidiu fazer de Toni director desportivo do Benfica
chegou a ser hipótese para treinador de campo. Gorou-se. Como se gorara antes a
possibilidade de render Carlos Queirós como seleccionador nacional. Depois, aqui e ali,
manteve a aura de treinador com faro.

lcferreira

Um rebelde com uma habilidade para a bola como poucos.

Ainda a bola ia a meio do caminho já ele sabia o que o que ia fazer a seguir, era mesmo um predestinado, pena não ser trabalhador.

Mas foi dos jogadores que vi um dos mais habilidosos se não o mais habilidoso.

nightcrowler

por acaso já tinha lido aquela história de ser o melhor estrangeiro do campeonato espanhol, à frente de muitos "pesos pesados" como kempes ou cruyff.

:pray: :pray: :pray: :pray:

Vitor84

Que tenha sorte por terras helvéticas

Bola7

Citação de: quinas1139 em 26 de Janeiro de 2009, 21:11
Fonte - ABOLA: "100 figuras do futebol português"

Image

João Alves
Natural de Albergaria-a-Velha – 5 de Dezembro de 1952

O avô, Carlos Alves, foi um dos melhores futebolistas nacionais,
nos loucos anos 20, notabilizando-se, sobretudo, ao serviço do
Carcavelinhos, apesar de ter passado pelo F. C. Porto e pelo
Académico do Porto. A sua fama explodira quando passou a jogar
com luvas pretas. Na véspera de um desafio entre o Benfica e o
Carcavelinhos, em 1926, os jogadores de Alcântara decidiram, por
sua conta e risco, estagiar numa modesta pensão do bairro
operário. Gaiata de 12 anos que lá trabalhava, abeirando-se de
Carlos Alves, pediu-lhe que jogasse com as suas luvas pretas de
pelica. Retorquiu-lhe o defesa que não poderia, que o futebol era
coisa séria, a rapariga, em pranto convulso, disse-lhe que talvez se arrependesse. Ao
intervalo, o Benfica estava em vantagem. Carlos Alves, para espanto seu, pôs as mãos ao
bolso dos calções e descobriu as luvas. Superticioso, pô-las na ponta dos dedos, que mal
lhe cabiam, e o Carcavelinhos deu a volta ao resultado. No dia seguinte, levou a rapariga
da pensão à Baixa de Lisboa para que lhe escolhesse luvas que lhe servissem, e nunca
mais deixou de jogar com elas.

Porque fora o avô Carlos que mais influência tivera na sua vida de futebolista, levando-o,
embevecido, pela mão, ao primeiro treino, na Sanjoanense, João manteve a tradição das
luvas pretas, que, assim, eram mais que um adereço, mais até que um símbolo, uma
homenagem.

O neto do «homem das luvas pretas» depressa deu nas vistas, pela sua habilidade. O F. C.
Porto lançou-lhe o isco, mas, em jogada de antecipação, o Benfica enviou, a São João da
Madeira, Fernando Cabrita, para que trouxesse contrato assinado com João Alves,
custasse o que custasse. Custou pouco porque, sendo benfiquista ferrenho, o rapazote
disse ao avô que não queria ouvir mais falar do F. C. Porto e como os seus pais até viviam
em Lisboa... Com o neto como seu sempiterno anjo da guarda, veio Carlos para Lisboa. Na
Luz, nos juniores, João depressa se mostrou jogador de grande futuro, pela sua técnica,
pelo seu espírito aguerrido, pela sua extraordinária visão de jogo.

Ao passar a sénior, João Alves foi emprestado ao Varzim. Brilhou. Jimmy Hagan pediu-lhe
que regressasse a Lisboa sem grandes demoras. Regressou, mas depressa o sonho se
esfumou. Depois de um partida em Freamunde, na festa de homenagem ao Santana, um
dos heróis da saga de Berna, João Alves e António Simões envolveram-se numa
escaramuça, a cizânia devera-se às... luvas pretas. Como, por esse tempo, o extremo
esquerdo tinha o poder que irradia de todos os ídolos, Alves foi transferido, em definitivo,
para o Montijo, a troco de 600 contos, que fora aquilo que os benfiquistas tinham pago
para que João Alves não fosse mobilizado para a Guiné!

A vingança da desfeita do Benfica
No ano seguinte, por 1500 contos, o Boavista compraria
aquele que haveria de tornar-se o mais carismático
jogador da sua história. Sabem melhor as vinganças
que se servem frias. A Taça de Portugal de 1975
disputou-se, à noitinha, em... Alvalade, tendo o Benfica
como adversário o Boavista de Pedroto. Repetiu-se a
lenda de David e de Golias no primeiro ano de glória de
João Alves. Marcou o golo da vitória, o golo que valeu a
Taça e um prémio de 10 contos. Uma vitória que, para si, tinha um outro valor: «Provei
aos dirigentes do Benfica que não me quiseram no clube, que, afinal, sabia jogar futebol.»

Pedroto quis trocá-lo por António Oliveira
Na época seguinte, mais uma Taça para Alves, mais uma Taça para Pedroto, mais uma
Taça para o Boavista. Depois da festa, a garantia de bolsos cheios. Por 12 mil contos foi
transferido para o Salamanca. No final dessa temporada, o F. C. Porto, já treinado por
Pedroto, propôs ao Salamanca a troca directa de Alves por António Oliveira. Os
salamantinos, quase sem pestanejarem, pura e simplesmente, disseram não. Nada
surpreendia a resposta, porque, acabara de ser considerado o melhor estrangeiro a actuar
em Espanha, batendo Cruyff, Neeskens e Kempes.

Benfica acusado de tráfego ilegal de divisas
Um ano volvido, a bomba estoirou. Era inevitável. O Salamanca, ensarilhado em crise
financeira, não conseguira resistir mais aos acenos milionários de várias latitudes e ao
Benfica cedera a sua jóia de coroa. Apesar do mutismo em que se tentaram envolver as
verbas da transferência, rumores apontaram para que os salamantinos tivessem recebido
25 milhões de pesetas e para que João Alves passasse a ganhar 200 contos por mês, o
mais alto salário do futebol português. E tão polémica seria a transferência que um
deputado a levou à Assembleia da República, acusando o Benfica do crime de... saída de
divisas. A terreiro, para defesa da honra beliscada, saltou Ferreira Queimado, presidente
do Benfica, que, irónico, questionou: «Terá sido com títulos do tesouro que se fizeram os
pagamentos das transferências de Cubillas e de Jordão?»

Não foram de felicidade as horas que Alves viveu na sua primeira estada na Luz. Depois
de confidenciar que recusara 21 mil contos para se naturalizar espanhol, considerou que o
grande erro da sua vida fora... «regressar a Portugal». Os portistas de Pedroto tinham-se
já transformado em dragões com línguas de fogo. Apesar de tudo, de olho em Alves
estava o Bordéus. Estugaram o passo os dirigentes do Paris Saint-Germain e acabaram por
contratá-lo, aquietando a Direcção do Benfica, que avisara já que não baixaria um centavo
aos 32 mil contos exigidos pela carta internacional: «Essas coisas, entre nós, resolvem-se
em 48 horas, a menos que o Banco de França embirre com a saída de tanto dinheiro ou
com a entrada de um futebolista.»

Eriksson, o atraso e a mágoa
Os sonhos que levava consigo para Paris depressa se volveriam em farelo. À terceira
jornada do campeonato francês, a 13 de Agosto de 1979, em Sochaux. «Não acredito que
Gengini entrasse propositadamente a matar, só que tive azar. O árbitro, um tal senhor
Meeus, que acabou por ser irradiado como corolário de tudo isso, já tinha perdoado um
penalty ao Sochaux, por falta cometida sobre mim e na jogada da lesão, uma entrada por
trás que me partiu logo a perna, chegou ao desplante de marcar livre contra o PSG e nem
sequer ter mostrado cartão amarelo ao Gengini.»

Foi o destino! João Alves acredita que, nesse ano, poderia ter seduzido a Europa do
futebol, semeando, assim, esperanças no contrato multimilionário que nunca chegaria a
ter. «Acabei por estar cinco meses parado, depois foi uma penosa recuperação, só na
época seguinte, já no Benfica, consegui, de facto, voltar a ser eu próprio.»
Mas, talvez nada o tenha magoado tanto, como o facto de não ter jogado o jogo decisivo
entre o Benfica e o Anderlecht, no Estádio da Luz, na final da Taça UEFA, em 1983. Diz-se
que foi castigo imposto por Eriksson, por ter chegado atrasado a um treino. «Só Eriksson
pode dizer porque não me pôs a jogar, depois de uma época inteira de titularidade e
grandes jogos. Mas se foi só por ter chegado atrasado a um treino, parece-me injusto de
mais...»

Do Benfica ainda saltou, no final dessa época, para o Boavista, onde fecharia a carreira de
jogador, começando a desbravar caminho de treinador ao render Mário Wilson, em 1986.
No Estrela da Amadora, o ponto mais alto, ao conquistar a Taça de Portugal, em 1990.
Voltaria ao Boavista, passaria por Guimarães, retornaria à Amadora, para resgatar o clube
da II Divisão, tal como fizera, em 1987, no Leixões, assentaria, depois, em 1994, em
Belém. Quando Manuel Damásio decidiu fazer de Toni director desportivo do Benfica
chegou a ser hipótese para treinador de campo. Gorou-se. Como se gorara antes a
possibilidade de render Carlos Queirós como seleccionador nacional. Depois, aqui e ali,
manteve a aura de treinador com faro.
este texto diz td...

Almada

João Alves é um grande treinador.
É verdade que não passou por equipas grandes na superliga, nem conseguiu grandes títulos, mas isso deve-se ao seu feitio e ao facto de não pertencer ao sistema que faz que sejam sempre os mesmos a treinar na superliga.
JOão Alves é um mestre de táctica, ao nível de Jorge Jesus.
Não o conheço pessoalmente, mas acompanhei a sua carreira de treinador em várias equipas e não tenho dúvidas que teria capacidade para treinar qualquer das grandes equipas do futebol português.
Por essa razão, quando ao longo do ano passado assisti à campanha vergonhosa contra a sua pessoa quando treinava os juniores do SLB, sempre fui dizendo que eram injustas as acusações.
A fase final que a equipa de juniores fez demonstrou que tinha razão.
Oxalá consiga ter sucesso na Suiça, como teve em Espanha como jogador, para depois voltar ao glorioso, quando o JJ sair para o Real Madrid, Barcelona ou outro desse nível.