Benfica história VI - Anos 60 (a década de ouro)

Dandy

Citação de: pcssousa em 19 de Agosto de 2013, 18:27
Citação de: Dandy em 19 de Agosto de 2013, 18:22
Citação de: Dandy em 16 de Agosto de 2013, 20:55




   Alguém me sabe dizer porque raio de motivo é que o terceiro jogo, de desempate, da final da Intercontinental, de 1961, foi disputado no estádio do nosso adversário?

   Não conheço nenhum clube mais azarado do que o Benfica.

   Disputámos três finais no país do adversário... e, dessas três, disputámos duas finais na própria casa do adversário!








   Ninguém sabe?
Sei, e já o escreví por cá. É simples: face aos regulamentos da prova, o Benfica só poderia fazer alinhar os jogadores que teriam participado da campanha da TCCE de 1961. Ora, por aí Eusébio e Simões ficariam de fora.
Guttmann entendeu que necessitava deles. Desta forma, o Benfica negociou com os uruguaios a sua utilização no jogo de desempate, acordaram a utilização dos jogadores e que em troca a finalíssima fosse lá disputada e com árbitro sul-americano que, rezam as crónicas, nos terá prejudicado de tal forma que inviabilizou a nossa vitória na prova... ah, Eusébio marcou de livre, curiosamente num livre marcado de dentro da meia-lua do meio campo uruguaio, a exemplo do que faria uns quantos anos depois ante a Juve.



   Utilizei o meu primeiro Like nesta mensagem. :)

   Obrigado!



pcssousa

Ora essa, caríssimo Dandy... Eu gosto de falar destas coisas, muito mesmo.
Para quem não sabe, segundo as regras da competição, os golos não contavam como factor de desempate. Desta foram, depois da vitória na Luz graças a um solitário tento de Coluna, o Benfica desloca-se ao Estádio Centenário em Montevideu e é goleado. Ora, não contando os golos como factor de desempate, teria que haver um 3º jogo. Onde se realizaria? bem, com Guttmann com as mãos na cabeça pela goleada, decide-se que a presença de Eusébio e Simões é imprescindivel (no jogo da 2ª mão, até o eterno reservista, Mendes, tinha jogado, ele que não tinha sido utilizado na campanha da TCCE mas tinha sido inscrito na prova, logo era elegível para a Intercontinental).
As negociações foram concluidas de forma célere e o jogo seria disputado 3 dias depois... Eusébio e Simões embarcaram às pressas. Reforçado com a irreverência dos miúdos, o Benfica não se atemorizou, Sasia marcou decorridos poucos minutos, mas Eusébio empatou de forma fabulosa. A cabar a primeira metade o árbitro argentino assinalou uma grande penalidade no mínimo discutível e os uruguaios acabaram por vencer por 2-1.
Na bancada, a assistir a este jogo de desempate, esteve um meu tio-avô Manuel Sousa, que era empregado de uma companhia Brasileira, tendo primeiro trabalhado em Moçambique, depois mudado-se para o Brasil e poucos dias antes, ele e mais 4 portugueses teriam ido em serviço, montar uma estrutura para a construcção de uma ponte no Uruguai. Foi a primeira vez que viu Eusébio ao vivo e ficou louco com o "miúdo".

Na época seguinte, após proposta do Benfica para alteração dos regulamentos, que nitídamente, até pelo desfazamento das temporadas nos dois Continentes, prejudicavam os clubes europeus, e esta acontece mesmo. Desta forma, tanto o guarda-redes Rita, como o defesa Raúl, acabam por defrontar o Santos logo na 1ª mão, num jogo disputado no Maracanã e em que demos boa réplica, embora perdendo 3-2 com bis de Santana. O guarda-redes natural de Vila Real de Santo António conheceria aí a sua futura esposa e um dia mudar-se-ia para o Brasil. Muitos anos mais tarde um seu neto, brasileiro, viria jogar em Portugal, representando o Paços de Ferreira e relembraria o avô... 

Dandy





   Não fazia ideia que o Eusébio e o Simões não viajaram com a equipa, tendo chegado ao Uruguay mais tarde.

   Já agora... alguma veracidade no boato de que Riera teria dito aos jogadores do Benfica para não fazerem maracação cerrada a Pelé, no jogo de Lisboa (1962), uma vez que... os portugueses têm o direito de ver actuar o Astro?




pcssousa

#18
Riera simplesmente era um apaixonado pelo futebol e não acreditava em marcações homem a homem, no sentido de que nas suas equipas não as utilizava, entenda-se. Além disso, não colocava nunca, em circunstãncia alguma, as suas equipas a "jogar à defesa"... a melhor prova que temos disso é que disputámos com ele ao leme uma final de uma TCCE em que estivemos a vencer, tivemos a lesão do nosso capitão, que ficou em campo apenas a fazer figuiura de corpo presente, e mesmo assim ordenou sempre à sua equipa para ir para cima do adversário... sofremos 2 golos de contra-ataque e perdemos... foi essa a primeira final em que Eusébio enviaria uma bola ao poste, não seria a única. Daí, quando me falam das bolas aos postes da época passada eu responder sempre "Se as bolas ao poste fossem golos, seriamos, no mínimo, tri-campeões europeus".

E já agora, como se está a falar de finais ou finalíssimas disputadas em terreno adverso, esclareço de uma vez por todas que a final de 1965, em que defrontámos o Inter em San Ciro, foi marcada para esse estádio já depois de  se saber quem eram os finalistas. Foi um escândalo, mas já tinha havido um precedente, quando a final entre Real Madrid e Fiorentina tinha sido marcada para Chamartin (conhecido hoje como Santiago Bernabéu). Depois de 1965, após tantos e tantos protestos da imprensa Mundial, a UEFA deixou de marcar as finais em cima do joelho... já agora, e porque isto é como as cerejas, sabiam que a finbal que disputámos em Berna em 61, estava originalmente marcada para Roma?