Artur Correia, o Ruço

Defesa, (1950-04-18 - 2016-07-25),
Portugal
Equipa Principal: 6 épocas (1971-1977), 165 jogos (13230 minutos), 3 golos

Títulos: Campeonato Nacional (5), Taça de Portugal (1), AF Lisboa Taça de Honra 1ª Divisão (2)

LuigiSLB83

Descanse em paz e condolências à sua família.

Elvis the Pelvis

Figura histórica do nosso Benfica.

Não o vi jogar, mas pelos relatos era daqueles jogadores raçudos e temperamentais. Era um jogador à Benfica.

Que descanse em paz e que a família tenha força para ultrapassar este momento.

lmalves

Mais um dos nossos que nos deixa. Que descanse em paz.

Keiroxes

Um dos Verdadeiros. Que descanse em paz.

Centrix

Lembro-me de ainda, há poucos meses, andar por aqui a ler um pouco da história deste Senhor... que descanse em paz, e muito obrigado por tudo. Um de nós

BlankFile

Mais um IMORTAL que nos deixa. Um atleta de fibra e grande alma.

Que descanse em Paz.

rp

Descanse em paz, condolências aos mais chegados.

slbenfever


AG

Tenho pena por todos os gloriosos que partem, mas de Artur tenho mais. Teve uma vida muito marcada por problemas graves de saúde.

Que tenha o descanso que bem merece.

Magnusson

14 páginas...ridículo. Mais um bocadinho de Benfica que parte, e ver que este tópico foi criado pelo saudoso "Manuel Costa" só me reconforta, estou certo que ele será um belo anfitrião do nosso "Ruço".

CN82

O meu sincero obrigado por esta partilha.

Muito a sério!

Citação de: Holmesreis em 25 de Julho de 2016, 12:22
Era uma notícia já esperada, até porque o seu corpo estava já martirizado pelos efeitos de tantos ataques vasculares.

Homem com «H» grande que amava o nosso clube com uma paixão tal que vocês nem imaginam. Tal como a Académica, de quem ele dizia ter uma paixão platónica, infelizmente não recíproca. E com uma honorabilidade acima de qualquer dúvida. Vou contar-vos o meu inesquecível encontro profissional com ele, em 2007.

Nesse ano, o Ministério da Educação recambiou-me para Águeda, para substituir uma colega que se afastara por graves problemas psíquicos. A escola vivia numa desorganização generalizada e, depois de muitos avanços e recuos, fui nomeado Diretor de Turma de um Curso Profissional de Desporto, miúdos e miúdas cheios de genica e com vontade de mostrar serviço. Apesar da oposição da Direção e com a colaboração do núcleo de Estágio de Educação Física da Univ. de Coimbra, organizamos um colóquio a um Sábado sob o tema «Futebol e Motricidade». Muitos professores conimbricenses, mas faltava-nos alguém que representasse o balneário. Poucos dias antes, no jantar de aniversário de uma colega nossa, o núcleo masculino começou a partilhar histórias de futebol, da nossa infância, já que todos éramos nascidos na década de 70. De repente, começamos a falar no Vítor Martins e no Artur Correia que tinham visto as suas carreiras interrompidas por motivos de saúde e, a certa altura, comentei que seria giro termos um dos dois no colóquio. De repente, o Serafim que era um dos mais caladitos e que era afilhado de um ex-treinador da Académica disse:«Eh pá, o meu padrinho é capaz de ter o contato do Artur».

3 dias depois, as minhas mãos lá estavam a tremer que nem varas verdes ao discar no PBX da escola o número do sr. Artur, sem saber muito bem qual o cachet que lhe iria oferecer, visto que a Direção se recusava a dar um cêntimo para a iniciativa, apesar de ser bem conhecido dos docentes que haveria um saco azul e caixa paralela que entre outras coisas, serviu para a aquisição de dois aparelhos de ar condicionado para os Gabinetes da Direção e do Gabinete do Chefe da Secretaria.

Atendeu. Do outro lado da linha, um homem extremamente afável, doce, voz solta e prolongada no tempo. Recusou honorários, viajaria de comboio, só pediu que alguém o fosse buscar à estação da Mealhada. Lá fui eu com uma colega minha, com a convição de que estávamos a dar boleia ao Presidente da República. Começamos a conversar e quando ele soube que morava em Braga, disse-me:«Sabe que eu também sou bracarense por nascimento?»

Tivemos o Auditório cheio e o sr. Artur, que teria direito só a uma preleção de 20 minutos, triplicou o tempo previsto perante o gáudio da plateia, essencialmente juvenil, falando sem tabus do seu acidente vascular que lhe findara o percurso profissional aos 30 anos de idade.

Findo o colóquio e como o sr. Artur tinha tirado bilhete de ida e volta e faltavam 5 horas, resolvemos oferecer-lhe um lanche ajantarado. Ainda pensamos em ir devorar leitão, mas um amigo nosso de Oliveira de Frades fez-nos uma surpresa e levou-nos a uma aldeia de que nunca ouvíramos falar: Arcozelo das Matas, onde numa tasquinha, devoramos a maior e mais saborosa tábua de queijos&enchidos da minha vida. O sr. Artur era um bom garfo e um amante do vinho de Lafões e já na altura bebia bem. Éramos 8 à mesa e para trás foram 12 garrafas vazias, ainda me lembro.

E o sr. Artur começou a desfiar as histórias de balneário: da Académica onde se lançou como extremo direito, da chegada ao Benfica, das "pancas" do Jimmy Hagan, as picardias na Selecção com o Pedroto, as bebedeiras épicas nos bares de Boston, etc,etc. Foi um verdadeiro banho de Mística.

Do AVC que lhe roubou a carreira, ele falou coloquialmente. Vou referir apenas as partes "publicáveis". Estava no Casino Estoril com um grupo de amigos e de "amigas", a festejar o regresso a Portugal. Ele tinha um contrato duplo, que lhe permitia fazer a temporada oficial nos EUA e jogar encontros oficiais em Portugal até ao Carnaval, regressando aos States quando faltariam sempre 4 ou 5 jornadas para findar o nosso campeonato. A temporada nos USA tinha-lhe corrido muito bem, continuava a ser o lateral direito titular da nossa Selecção. Ele tinha saído do Benfica 4 anos antes porque o novo Presidente (Ferreira Queimado), ao assumir o posto, decidiu apostar numa política de contenção orçamental, diminuindo bastante os vencimentos e prémios de jogo. Assinara pelo Sporting e pelo Boston por dinheiro e não por paixão, já que o coração ficara sempre benfiquista.

Nessa noite de setembro de 1980, depois duma jantarada em Cascais, ele e os amigos foram terminar a noite no Casino. O Artur estava um pouco cansado porque tivera o primeiro treino matinal muito puxado, já que o preparador físico Radisic dava verdadeiras tareias. Na parte final do treino com bola, o brasileiro Manoel dera um pastilho na bola e esta embateu na cara do Artur que passou o resto da tarde com dores de cabeça. Por volta da meia noite, ao dançar com uma "amiga", sentiu-se a desmaiar, a ver tudo andar à roda e a ficar com o lado esquerdo do corpo paralisado. O olho começou a fechar e deitaram-no num divã de um camarim. E eis o que choca: a assistência de emergência médica/hospitalar no início dos anos 80. Éramos um verdadeiro país de Terceiro Mundo. O sr. Artur esperou uma hora e meia pela ambulância, esta escolheu o caminho mais longo para o hospital e só chegou lá quase 3 horas depois do aparecimento dos sintomas. O hospital, para saber as condições do seguro desportivo dele, ligou ao médico do Sporting. A angiografia foi feita 8(oito!!) horas depois de chegar ao hospital e a operação para retirar o coágulo no final do dia seguinte...Sem comentários.

É verdade que lhe salvaram a vida, mas o mais engraçado é que na apólice de seguro feita pelo Sporting, esta não cobria problemas vasculares. A do Boston Teamen, sim, mas estes argumentaram que o jogador não se encontrava ao serviço deles. Saída airosa: em finais de 1981, o João Rocha concordou em promover um concerto rock no estádio de Alvalade, pediu ao Júlio Isidro para o organizar e até foi concorrido. O problema é que, das receitas que reverteriam para o Artur, metade serviu para pagarem às bandas, técnicos de som e de iluminação, apesar da Direção do Sporting ter garantido que a receita total iria para o Artur...


Descanse em paz, sr. Artur.

Desculpem a extensão do post, mas era importante que o fórum soubesse que este senhor vivia a Mística intensamente.

Imortal. Imortalíssimo!

Cloughie


dfernandes


BCaldeira

Mais um para o 4.º anel. Que descanse em paz.

+1benfiquista

Um dos nossos, para sempre. Que o corpo descanse em paz e a memória seja sempre respeitada. Condolências à família.