Miguel

Defesa, 44 anos,
Portugal
Equipa Principal: 5 épocas (2000-2005), 161 jogos (11740 minutos), 13 golos

Títulos: Campeonato Nacional (1), Taça de Portugal (1)

Star

Twilight Zone...destas so mesmo no Benfica

zefo

Mais um dos verdadeiros a voltar a casa  ::)

O Veloso ainda janta no restaurante de borla?

pedromrm2

Deu uma entrevista hoje.

acemessiae

Citação de: pedromrm2 em 28 de Outubro de 2014, 12:21
Deu uma entrevista hoje.

A falar do tráfico de droga, noitadas e de gangues?  ::)

RTB7

gostei da entrevista

Roronoa

O diferendo contra este artista ainda corre nos Tribunais e convidam-no para falar à televisão do clube.

Meus caros, isto é S-U-R-R-E-A-L!

Cloughie

Citação de: Roronoa em 28 de Outubro de 2014, 14:21
O diferendo contra este artista ainda corre nos Tribunais e convidam-no para falar à televisão do clube.

Meus caros, isto é S-U-R-R-E-A-L!

É o Benfica de Vieira, portanto.

Elvis the Pelvis

Realmente há coisas inexplicáveis...

Chelas

Gostei da entrevista do Miguel, recordou inclusive o grande Barbosa

MTrigueiros

#699
Cada vez que me lembro do jogador que era... com cabeça tinha sido dos melhores do Mundo na posição.

André Sousa


MTrigueiros

Citação de: André Sousa em 29 de Outubro de 2014, 00:36
E saiu.
Isto de fazer duas cenas ao mesmo tempo ;D

btw, já editei :ashamed:

Isai@sReis

Um marginal... estava bem era nos andrades.

zefo

Já foi para tailandia ou singapura?  :confused:

L0W

Citação
RECORD – Ainda se sente futebolista ou já é um ex-futebolista?

MIGUEL – A dada altura, quando saí do Wigan, ponderei deixar o futebol. As coisas não correram como eu desejava, passei a fazer a minha vida normal, com a família, a cuidar das filhas, e então pensei não jogar mais. Mas, nos últimos tempos, começaram a desafiar-me e achei que seria bom jogar, não precisando de ser em grandes palcos, porque isto é uma das coisas que mais gosto de fazer. Primeiro comecei a treinar no estágio do Sindicato e agora estou aqui, a manter a forma, pelo menos até dezembro. Agradeço muito ao Oriental ter-me recebido. Se vir que as coisas não vão para a frente, deixarei de jogar.

R – Aos 34 anos, por que é que chegou a esta situação, quando há outros jogadores, inclusivamente mais velhos, como Ricardo Carvalho, que até estão de regresso à Seleção?

M – Eu cheguei a este ponto porque havia certas decisões, quando estava no Valencia, que tinham de ser tomadas num dia e eu não as tomei, pensando que podia ir para melhor. De repente, quando dei por mim, as opções não eram muitas e o que havia não era do meu agrado. Cheguei aqui por não ter opções.

R – O que é que faz para além de treinar?

M – Aproveito para acompanhar o crescimento das minhas filhas, levo-as à escola e, no sábado ou no domingo, vamos ao cinema ou a um parque de diversões, coisas que antigamente não fazia por falta de tempo. Neste momento, estou numa fase boa da vida, perto de pessoas de que gosto.

R – Quando treina para manter a forma, quais são as recordações mais fortes que tem do futebol?

M – Não penso muito nisso. Mas agora, quando foi o jogo da Seleção, contra a Dinamarca, e mesmo com a França, deu-me uma certa saudade, acho que é normal. Qualquer jogador que tenha representado a Seleção tem saudades daqueles grandes palcos, de certos jogos, do público.

R – Imaginou-se lá? Frente à Dinamarca esteve em campo o Tiago, que tinha renunciado à Seleção na mesma altura que o Miguel...

M – Não, porque a minha situação é completamente diferente. Se estivesse no ativo, até poderia pensar dessa maneira. Isso faz parte do passado e à Seleção só faz falta quem lá está.

R – Tem ido ao futebol?

M – Não, prefiro ficar mais em casa, com amigos, os meus irmãos... não tenho muita paciência para ir ao estádio. Há coisas ditas que não entram, prefiro não ouvi-las.

R – Que coisas?

M – Todos nós temos um bocadinho de treinadores, cada um acha que é o míster ideal ou que sabe muito de futebol, e eu, para evitar certas situações, prefiro não ir ao estádio.

R – Gosta mais de ver o jogo do que falar dele?

M – É, às vezes, as pessoas não vão ver o jogo, vão ver as camisolas, se são vermelhas, brancas, verdes. Não conseguem analisar, só lhes interessa a camisola, e eu não gosto de ver o futebol assim.

R – E o que é que tem visto de bom?

M – Olhe, tenho visto um clube que não é o meu e pelo qual tenho o maior respeito, porque passei pelos seus escalões de formação, o Sporting, a jogar bom futebol. Que tem apostado muito na malta jovem e tem progredido de jogo para jogo. Com a chegada do Nani, o Sporting melhorou muito, ele deu o empurrão que faltava.

R – Tem visto bons jogadores jovens?

M – Os sub-21 portugueses mostraram que temos jogadores para o futuro, não estou de acordo com quem diz o contrário. Os jovens não têm oportunidades. Os clubes lá sabem o que querem, mas nós temos muita qualidade.

R – Nomes, nomes...

M – Olhe, o Bernardo Silva está emprestado ao Monaco, mas o Benfica não está assim tão forte para o dispensar. Ele podia perfeitamente ajudar o Benfica este ano, quando o Fejsa e o Ruben Amorim estão lesionados. Ele tem muita qualidade, mas pronto, olhe, é como digo, os treinadores, os presidentes, quem toma as decisões, eles lá sabem o que é que é melhor.

R – Ainda é sócio do Benfica?

M – Sou, sou sócio.

R – Guarda alguma mágoa ao Benfica?

M – Não, mas não gostei da forma como saí. Já passou algum tempo e as pessoas, o presidente, já ultrapassaram a situação. Depois disso já tive várias conversas com ele, fui convidado pelo Benfica para ir a Turim ver a final da Liga Europa, estive em três ou quatro jogos. Penso que está tudo ultrapassado.

R – Na altura, nas entrevistas que deu, o Miguel confessou-se muito magoado com Luís Filipe Vieira e chegou a declarar: "Ele até disse que eu sou maluco!"

M – Sim, foram coisas com que eu não concordei, mas que fazem parte do passado. Eu agora quero viver o presente e estou bem com o Benfica.

R – Chegou a receber do Benfica o prémio de campeão, em 2005?

M – Não, isso são questões que estão pendentes.

R – Ainda?

M – Ainda, mas eu não estou preocupado. As coisas vão resolver-se.

R – Houve um período da sua vida em que os problemas se sucederam, com muitas confusões. Como é que foi?

M – Não quero armar-me em vítima, porque eu não sou nenhum santo. Como o meu pai costumava dizer, eu não sou homem de levar desaforos para casa, sei resolver os meus problemas. Quando tenho de o fazer, seja a falar, seja de outra maneira, sou homem suficiente para o fazer. Simplesmente, há situações que não correspondem à verdade. Fui prejudicado. Por exemplo, o Quaresma foi assaltado e disseram logo que tinha sido o gangue do Miguel. E eu em Espanha, a ouvir isto. Eu nunca tive gangues. Depois disseram que tinha andado aos tiros e chego a tribunal e a juíza diz não perceber por que é que eu estou ali sentado. "Olhe, e eu muito menos", respondi. Nestes anos todos só fui uma vez a tribunal, por causa dessa situação da Margem Sul, em que disseram que tinha sido eu a andar aos tiros.

R – E não foi?!

M – Ficou provado, em janeiro deste ano, que eu não tinha nada a ver com aquilo. Não fui apanhado com qualquer arma, mas ainda hoje tenho de ouvir bocas.

R – Como é que convive com isso?

M – Olhe, são pessoas ignorantes, que não têm vida. São pessoas que gostam de rir do mal dos outros, mas depois, quando o mal lhes bate à porta, querem ajuda. Eu sou amigo do meu amigo, mas também assumo que não tenho um temperamento fácil. Tem sido uma luta constante, nos últimos cinco anos, para melhor, porque eu não quero desapontar as minhas filhas, elas estão a crescer e apercebem-se das coisas. Não quero que elas se sintam mal, quero que tenham orgulho no pai. Não é bom chegarem à escola e ouvirem certos comentários das outras crianças. Melhorei bastante. Houve uma altura em que cheguei mesmo a pensar em ir a umas sessões... como é que se diz?... a umas sessões de terapia, para me controlar um pouco mais.

R – Essa iniciativa era sua?

M – Sim, minha. As coisas não estavam controladas como eu pensei que estavam. Ponderei e acabou por não ser preciso.

R – Na altura estava no Valencia. Chegou a ser multado pelo clube?

M – Não, nunca fui multado. Como disse, não sou nenhum santo, tive problemas, alguns podia tê-los evitado, mas outros não tinha nada a ver com eles. Houve alguma culpa minha, mas também fui muito prejudicado.

CitaçãoR – Que jogadores foram as suas referências?

M – Na Seleção, o Figo, Fernando Couto, Rui Costa, e o próprio Pauleta, apesar de ser um grande brincalhão. Aprendi com eles. No Valencia, o Canizares e o Ayala. Receberam-me bem, apoiaram-me e quando tinham de me dar na cabeça, davam. O Figo é um líder nato, o Couto também. Foi um privilégio jogar com eles.

R – Acha que podia ter ganho mais títulos?

M – Podia, mas era preciso ter tomado algumas decisões na altura certa. Fiquei à espera que alguém as tivesse tomado por mim.

R – Está a falar em mudar de clube?

M – Sim, de clubes com maior projeção. Após o Mundial' 2006, tive propostas concretas do Chelsea, do Real Madrid e do Bayern Munique. Mas, devido à maneira conturbada como tinha saído do Benfica, não quis sair do Valencia. Fui mais ponderado. Passei a batata quente para o meu empresário.

R – Paulo Barbosa?

M – Sim. E como o Valencia queria formar uma grande equipa, fiquei mais um ano, que até correu bem, mas a seguir já não foi assim, e depois já não havia aquelas propostas.

CitaçãoR – Na preparação desta entrevista, percebi que o Miguel perdeu muitos amigos em acidentes de viação. Eram assim tão comuns essas mortes?

M – Não foi só em acidentes de viação, mas também devido a outras situações da vida, que eles achavam melhores para eles.

R – Está a falar de uma vida marginal?

M – Estou a falar da droga, que é um mundo complicado. Pessoas que nunca tinham fumado um cigarro e que de repente caíam nesse mundo em que se morre pouco a pouco. Não conseguiram sair dele.

R – O Miguel experimentou e conseguiu sair a tempo?

M – Não, eu nunca estive metido na droga, felizmente tive uma família que, com o pouco que havia, se conseguiu aguentar. Havia dificuldades, éramos cinco irmãos num bairro social...

R – Bairro social que era a famosa Zona J, em Chelas...

M – Sim, a Zona J, que também não é como as pessoas a pintam. Se for preciso, vamos lá e não vemos nada do que dizem. As pessoas pensam que entram lá e é o descalabro, são assaltadas, maltratadas. Não é assim. Eu sempre defendi o bairro, nunca fugi às minhas raízes, e tenho o maior orgulho de ser da Zona J. Normalmente, os problemas não acontecem lá, acontecem fora do bairro. É um bairro como outros que há em Lisboa.

R – Chegou a ir ver o filme de Leonel Vieira?

M – Sim, fui ver. Gostei. Correspondia um pouco à realidade. No filme está muito a vida fácil, e a vida fácil, muitas vezes, não é a melhor para nós.

R – Em 2003 já tinha sete tatuagens, quantas são agora?

M – Não sei, tenho nos braços, nas pernas. A maioria é tudo relacionado com a família, o meu avô, a minha avó, as minhas filhas. Tenho o meu nome em chinês. Uma é de quando a minha filha teve o acidente...

R – Como é que viveu esse drama?

M – Não foi fácil. Lembro-me que ia no carro, para o estágio, estavam a ligar-me e eu penso: "Já atendo, já atendo". Mas estou a chegar à cidade desportiva do Valencia e as chamadas continuavam. "Este gajo está chato", disse eu. E atendo. Dizem-me logo: "Olha, a tua filha caiu."

R – Do 9.º ano andar.

M – Não foi a melhor maneira de me darem a notícia. Aí, fui à cidade desportiva, falei com o secretário-técnico, com o treinador, que era Unai Emery, e disse que não tinha condições para jogar. E o Valencia disponibilizou um avião. Felizmente, não foi nada daquilo que me disseram. Deus esteve com ela e agora está aí, é uma criança saudável, só quer é pular.

R – Na viagem, o que é que pensou?

M – Foi uma das piores viagens da minha vida, se não a pior mesmo, com aquela ansiedade de chegar ao pé dela. Queria ver com os meus olhos como é que estava. Cheguei, estava na cama, foi uma grande dor, mas ao mesmo tempo tranquilizei-me. Estava a falar, mas também não foi fácil para ela, porque se envergonhava e quando falava metia sempre a mão na cara, não queria ver ninguém.

R – Ainda sobre as tatuagens, porque é que os futebolistas fazem tantas?

M – Eu fiz a primeira com dois amigos... dois amigos que já não estão entre nós. Tínhamos 17 anos.

R – Morreram?

M – Um foi de acidente de mota, o outro teve aí um percalço, foi confundido com outra pessoa e...

R – ...Foi assassinado?

M – E, pronto, foi... prefiro não falar nisso, porque é um bocado complicado. Decidimos fazer a tatuagem e eu apanhei o gosto. Foi ali à Almirante Reis que nós fomos, ao Francisco, Chico para os amigos, e eu fui gostando da arte de tatuar. Fiz a segunda, outra, e outra. Depois estive alguns anos sem fazer e decidi que só voltaria a fazer com um motivo muito forte. De repente, faço a dos meus avós, das minhas filhas, da minha mulher e uma homenagem a um amigo que faleceu num acidente de mota, há dois anos. E também quero fazer em homenagem ao meu pai, que faleceu.

R – O Miguel ainda viajou para tentar despedir-se dele...

M – Não foi possível, não foi possível, infelizmente, não chegámos a tempo e pronto... foi com muita pena. Se há coisas que custam... (pausa longa)... foi não me ter despedido do meu pai.

CitaçãoR – O que é que pensou quando Chalana decidiu adaptá-lo a lateral?

M – Eu não quero tirar mérito ao Chalana, mas eu não joguei a defesa-direito, joguei num sistema de três centrais, com o Simão pela esquerda e eu pela direita. Como eu estava habituado a baixar, por jogar a médio, quando a equipa defendia era eu quem fechava atrás, na direita. O jogo correu-me de feição e, com a entrada do Camacho, houve continuidade. Ele perguntou-me se eu gostava de jogar ali. Na altura não achei muita piada à ideia, mas continuei. Se o treinador do clube achava que eu devia jogar ali, eu tinha de jogar, mas disse que precisavam de me ensinar três ou quatro coisas, porque não estava habituado à posição. E assim foi. Comecei por cometer erros, mas adaptei-me bem, cheguei à Seleção. Tenho de agradecer a aposta que fizeram em mim, porque muitas coisas boas aconteceram a partir daí.

R – E de repente já se sentia um dos cinco melhores laterais do Mundo, entre o Cafu, o Cicinho, o Michel Salgado e o Paulo Ferreira...

M – Cheguei ao Valencia, as coisas corriam-me bem, já tinha feito um bom Euro'2004, em que infelizmente não ganhámos a final...

R – Foi aí que ganhou a titularidade a Paulo Ferreira, na Seleção.

M – Sim. Nós fomos alternando muito nos jogos particulares, porque Scolari estava numa fase experimental e ora jogava um, ora jogava outro. No primeiro jogo do Euro'2004 foi o Paulo a entrar, depois fui eu. Apoiámo-nos muito, porque já nos conhecemos desde os 15 anos.

R – Qual foi o treinador que deixou marca na sua carreira?

M – Tenho dois treinadores que me marcaram bastante. Quando comecei no E. Amadora, foi o Miguel Quaresma, que, salvo erro, é adjunto de Jorge Jesus no Benfica. Foi meu treinador nos juniores e, quando eu não acreditava em mim, foi ele a acreditar, ele é que puxou por mim. Ajudou-me a fugir um pouco dos problemas dos bairros sociais. Eu não queria saber e ele dizia: "Não, não, tens de acreditar". E depois foi o Jorge Jesus, que me deu oportunidade de fazer a estreia na 1.ª Liga.

R – Que problemas eram esses nos bairros sociais?

M – Quem cresce num bairro desses tem problemas e há sempre grande facilidade em seguir outros rumos. O Quaresma fez-me acreditar que tudo era possível e tinha qualidade para ser jogador profissional de futebol. Isso veio a confirmar-se quando assinei o meu primeiro contrato com o E. Amadora.