Futebol Feminino Internacional / Selecções 2019/2020

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Qualificação do UEFA Women's EURO 2021

Grupos / Jogos

Citação de: anarcos em 26 de Abril de 2020, 03:57
UEFA Women's EURO passa para Julho de 2022

A fase final do torneio em Inglaterra será agora disputada entre 6 e 31 de Julho desse ano.

Spoiler

Wembley vai acolher a final, a 31 de Julho de 2022

O Comité Executivo da UEFA confirmou hoje que o UEFA Women's EURO 2021, que já tinha sido alvo de adiamento, vai realizar-se em Inglaterra entre 6 de Julho e 31 de Julho de 2022. Está planeada a utilização dos mesmos estádios que originalmente foram propostos para acolher o evento.

Em declarações sobre o reagendamento, Aleksander Čeferin, Presidente da UEFA, disse: "Quando tivemos de tomar uma decisão urgente sobre o adiamento do UEFA EURO 2020, tivemos sempre em mente o impacto do UEFA Women's EURO 2021. Considerámos de forma cuidadosa todas as opções, sempre com o nosso compromisso em relação ao crescimento do futebol feminino em consideração. Ao mudar o UEFA Women's EURO para o ano seguinte, asseguramos que a nossa competição feminina de referência seja o único grande torneio de futebol desse Verão, dando-lhe o destaque que merece".

A decisão de reagendar o UEFA Women's EURO surgiu após a UEFA ter anunciado a 17 de Março que o UEFA EURO 2020 seria adiado para 2021, devido à pandemia de COVID-19 e ao dever da UEFA em proteger a aúde de todos os envolvidos na modalidade, ao mesmo tempo dá tempo para serem concluídos os campeonatos nacionais e as provas europeias de clubes. Os extensos debates que deram origem à mudança incluíram conversas com os organizadores dos Jogos Commonwealth de 2022, em Birmingham, com quem a UEFA e a Federação Inglesa de Futebol continuam a trabalhar, por forma a garantir que 2022 terá um Verão memorável para o desporto de elite.

Nadine Kessler, responsável pelo futebol feminino da UEFA, disse: "A principal questão que nos orientou nos debates com a federação inglesa foi: 'O que é melhor para o futebol feminino? Com os Jogos Olímpicos confirmados para o Verão de 2021, acreditamos firmemente que a mudança para 2022 é no melhor interesse do torneio, das jogadoras, dos adeptos, dos parceiros do futebol feminino e de todos os envolvidos em todas as áreas e níveis da modalidade. O UEFA Women's EURO é o principal evento do desporto feminino europeu. Está também entre os maiores eventos desportivos do Mundo, e por isso precisa de um destaque à altura.

"Esta decisão coloca-nos numa posição de garantir um torneio que atrairá atenção global, maximiza a cobertura media e aumenta as assistências nos estádios, e por isso ajuda-nos a cumprir o nosso objectivo principal de inspirar a próxima geração de futebolistas.

2022 também permite uma maior promoção e activação de parceiros, algo que seria muito mais difícil num Verão de 2021 já bastante preenchido. É um sinal claro de empenho dos nossos parceiros dedicados, que se juntaram a nós desde que decidimos separar os patrocínios do futebol feminino daqueles do futebol masculino".

Sue Campbell, directora do futebol feminino da federação inglesa, disse: "Como nação e na federação, estamos extremamente orgulhosos por receber o UEFA Women's EURO 2021, e estamos totalmente comprometidos a garantir uma experiência de classe mundial para jogadoras, equipas técnicas e adeptos, com o melhor do futebol europeu a visitar Inglaterra.

"No entanto, o calendário desportivo tem de se adaptar enquanto o Mundo enfrenta algo que é muito maior que o desporto. Neste período sem precedentes, deve ser reiterado que a saúde das nossas comunidades continua a ser a principal prioridade de todos.

"Como resultado, e após conversas com a UEFA, apoiamos totalmente a sua decisão de adiar o UEFA Women's EURO 2021. Concordamos que esta decisão vai em última instância beneficiar o torneio, criando o seu próprio espaço no calendário futebolístico. Também nos vai permitir ter mais tempo, após este período desafiante, para garantir a realização de um evento inesquecível digno do EURO.

"Até ao momento, fizemos excelentes progressos no planeamento do torneio, e em particular gostaríamos de agradecer às cidades anfitriãs pelo seu compromisso e apoio contínuos. Também estamos gratos à Federação dos Jogos Commonwealth pela sua colaboração quando tentávamos confirmar estas novas datas, aguardando com expectativa por um trabalho conjunto para exibirmos o melhor do desporto feminino nestes dois eventos.

"Vamos continuar o nosso diálogo com cidades, estádios e parceiros ao longo dos próximos meses, à medida que vamos trabalhando para a concretização de um UEFA Women's EURO recordista em 2022. Acreditamos que a espera vai valer a pena".

Aleksander Čeferin, Presidente da UEFA, acrescentou: "Também gostaria de agradecer à federação inglesa, ao comité de organização local e às nossas federações-membro, que estão tão convencidas quanto nós que o adiamento para 2022 será em benefício do futebol feminino em larga escala. Mais uma vez a família do futebol mostrou união, e assim estamos em posição de ter um grande Verão de futebol europeu não só em 2021 mas também em 2022. Estamos gratos pela cooperação da FIFA e da Federação dos Jogos Commonwealth pelo acordo em relação a estas datas".

Mais detalhes, incluindo potenciais alterações ao calendário de jogos ou nome do torneio, serão anunciados em tempo oportuno.
[fechar]

https://pt.uefa.com/womenseuro/news/025c-0f3d8caa0e3e-1fb794654ff7-1000--women-s-euro-passa-para-julho-de-2022/



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#2
Espanha

Resultados

Classificação



CitaçãoCOMUNICADO DE LA RFEF EN RELACIÓN CON LAS COMPETICIONES NO PROFESIONALES DEL FÚTBOL ESPAÑOL

Competiciones/06 Mayo 2020/Ciudad del Fútbol

[...]

FÚTBOL FEMENINO

Finalización de la Liga Regular en todas las categorías sin descensos.

• En PRIMERA IBERDROLA será campeón el primer clasificado.

[...]

https://www.rfef.es/noticias/comunicado-rfef-relacion-competiciones-no-profesionales-del-futbol-espanol






França

Resultados/Classificação



Citaçãohttps://www.fff.fr/actualites/190805-championnats-2019-2020-laureats-promus-et-relegues







Itália

Resultados

Classificação



Citação[...]

Il Consiglio Federale, stabilita la classifica finale attraverso il coefficiente correttivo adottato nella scorsa riunione, ha deciso di assegnare il titolo di Campione d'Italia della Serie A femminile alla Juventus in virtù della posizione in classifica maturata al momento della sospensione definitiva del campionato.

[...]

https://www.figc.it/it/federazione/news/futuro-del-calcio-femminile-nuove-norme-e-via-al-professionismo-nel-2022/






Inglaterra

Resultados

Classificação



Citação de: anarcos em 05 de Junho de 2020, 21:45Women's Leagues decided

Chelsea Women awarded Barclays FA WSL title and Aston Villa win Women's Championship after tables decided on PPG

Our Board has reached a majority decision to decide the 2019-20 Barclays FA Women's Super League and FA Women's Championship on a basic point-per-game [PPG] basis, with promotion and relegation determined on sporting merit.

As a result, we can today confirm the decision to award the 2019-20 Barclays FA Women's Super League title to Chelsea Women, and to award the 2019-20 FA Women's Championship title to Aston Villa Women.

[...]

https://womenscompetitions.thefa.com/en/Article/statement-barclays-fa-wsl-and-womens-championship-season-2019-20-outcome-050620






Alemanha

Resultados/Classificação





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#4
Women's Super League to hold 'double-headers' with men's matches

Some Women's Super League matches will be "double-headers" with men's games next season, the Football Association's director of the professional game says.

Kelly Simmons wants to build on the "momentum" of the Women's World Cup, with 11.7 million watching England's semi-final loss to the USA on the BBC.

Double headers "will be tried" and there will be a "series" of stand-alone games at grounds that host men's teams.

She said it was all part of "trying to build an audience".

Manchester City's season-opening game against WSL debutants Manchester United in September will also be shown on television, Simmons announced on BBC Radio 5 Live.

A full fixtures list for the rest of the season will be announced on Wednesday, when the double-headers will become clear because the men's fixtures have already been announced.

"Our job now is to make sure we capitalise on the momentum from the Women's World Cup and build audiences and build attendances," she said.

"I think one of the things the World Cup has done has made our players household names, and now people can follow them back at their clubs.

"We know there's a massive potential audience of fans coming across from the men's game and the men's clubs. We're seeing very much this 'one club ethos'.

"There's a massive chance for the game to pull those across this season with the Women's Super League and get more people coming to games and watching games on television.

"The stand-alone games in the men's stadiums, we've already seen when we've done that before a big uplift in numbers coming to the games."

When asked what the FA was going to do to keep England women's manager Phil Neville, Simmons said: "He's already come out and said he's committed to helping to run the Olympic team, so this is a long-term plan.

Simmons added that these are "three hugely important years" with the Women's World Cup, Tokyo 2020 and the Women's Euro 2021, which England is hosting.

"Phil has committed to those three years, and three very special years for the women's game," she said.

https://www.bbc.com/sport/football/48903284













Gradinni



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#9
Jéssica Silva: "Quero, sem dúvida, estar entre as melhores do mundo"

Quem vê Jéssica Silva jogar futebol, sabe que a velocidade e a técnica apurada são as suas grandes armas. Porém, quando paramos para conversar, revela uma visão de jogo digna de Zinedine Zidane e uma ambição assertiva capaz de pedir meças à de Cristiano Ronaldo. Não é o sucesso quem lhe bate à porta - ela é que destranca a porta do sucesso.



Franzina, ar de miúda, sorriso aberto, olhos brilhantes e umas tranças que são imagem de marca: assim se apresenta Jéssica Silva, uma das craques maiores do futebol português. Cada vez mais indiscutível na seleção nacional, Jéssica abre o jogo connosco, fala do seu percurso, fala de como o futebol ainda é demasiado inclinado a desfavor das raparigas, mostra grande humildade, mas não esconde a ambição nem a noção de que tem talento. A sua carreira fala por si: começou num clube amador, chegou a jogar na Suécia, no Linkoping, voltou a Portugal para jogar no Albergaria, depois no Braga e acabou por sair para Espanha, para o Levante. Mas, como a ambição de Jéssica tem a medida do seu talento, à hora a que esta revista chega às bancas é bem provável que a craque portuguesa já seja a mais recente estrela da maior constelação europeia.

DO INÍCIO

Nasceste em Vila Nova de Milfontes. Cresceste na costa alentejana? Sim, nasci em Milfontes, vivi lá até aos meus oito, nove anos, depois fui para Águeda, porque a minha mãe casou-se com o meu padrasto, o pai dos meus irmãos, nós somos seis irmãos. Passei lá o resto da minha infância.

E começaste a jogar futebol desde miúda? Sim, desde muito pequenina. Desde bebé, praticamente, que senti sempre uma ligação muito especial com uma bola de futebol, com qualquer objeto com que pudesse jogar à bola, até com laranjas que arrancava da laranjeira da minha avó, ou as nêsperas. Andava sempre aos chutos.

E gostavas mesmo do desporto em si, de ver jogos na televisão e assim? Não. Para ser sincera, não me dizia muito. Só comecei a ver futebol a partir do Euro 2004.

Ainda eras muito pequenina no Euro 2004... [Jéssica nasceu em 1994.] Sim, era pequenina, mas não achava muita piada a ver. Também, as câmaras, na televisão, aquelas panorâmicas, faziam o futebol um bocado diferente, fazia-me impressão. O que gostava mesmo era de ser eu a jogar com os meus amigos, lembro-me de riscar as linhas na estrada com tijolo, de fazer a baliza, o meio-campo. Sempre fui muito mais de jogar do que de ver. Com o Euro 2004, comecei a ver, mas só agora, nos últimos, digamos, quatro ou cinco anos, é que comecei a ver futebol com muito prazer. Sempre fui mais de praticar, o que é normal, mas durante muito tempo não fui de ver jogos de futebol.

Ou seja, não és uma fanática da bola. Não sou uma fanática da bola, se bem que acho que cada vez estou mais fanática da bola. Tem a ver com a minha aprendizagem, com a experiência que vou adquirindo nos clubes por onde vou passando e vou percebendo que a visualização é importante para aprender processos. É preciso estudar também o lado teórico do jogo. Agora consigo ver um jogo com outros olhos.



Quais foram as tuas primeiras referências no futebol? A Marta [Vieira da Silva, atacante brasileira, considerada pela FIFA melhor do mundo em cinco ocasiões] é, para mim, a melhor de sempre. Já apareceram muitas jogadoras, entretanto, algumas muito boas [N. do R.: Marta tem 33 anos], mas nenhuma conseguiu ainda atingir o nível da Marta. Continua a ser uma jogadora fantástica. Não vejo ninguém que seja melhor ou que possa vir a ser melhor do que a Marta. Para além dela, claro, o "nosso" Cristiano Ronaldo é, sem dúvida, uma referência, assim como o Ricardinho [jogador de futsal]. Sou muito patriota, mas é claro que são os melhores do mundo. Não nos podemos queixar, no futebol de praia ainda temos o Madjer.

Falta aparecer um super craque destes no futebol feminino? O nosso futebol tem crescido...

O futebol feminino, no geral tem crescido... Sim, claro. Particularmente, em Portugal há mais visibilidade, nota-se um maior interesse das miúdas. O problema é não sermos muitas a praticar, não haver estímulo para que as miúdas joguem logo desde cedo, mas os clubes já começam a investir na formação, já há mais meninas – agora até se diz que está na moda, porque há cada vez mais meninas a jogar. Dantes era "ai, jogar à bola, uma menina", os próprios pais parece que não gostavam. Mas as coisas são completamente diferentes e já se vê muitos pais a acompanhar as meninas.

O facto de terem entrado três clubes grandes [Braga, Sporting e, este ano, o Benfica] nas competições profissionais ajudou a este aumento de visibilidade? Claro, a entrada dos grandes foi determinante para que haja mais meninas a aparecer no futebol, a quererem jogar.



JÉSSICA, A PROFISSIONAL

Como é que aconteceu passares pelo futebol sueco? Tornei-me profissional com 19 anos, quando fui jogar para o Linkoping [lê-se "linchoping"]. Cá em Portugal sempre tinha jogado por amor à camisola. Já tinha tido oportunidades para me tornar profissional, mas escolhi o Linkoping, porque tinha uma equipa incrível, é uma das melhores equipas, senão a melhor, do campeonato sueco. Aceitei a transferência de olhos fechados, tinha a minha ambição e sabia que o meu futuro havia de passar por ir para fora, mas não estava tão preparada quanto devia. Essa experiência acabou por ser determinante para me preparar para o futuro, portanto, foi boa, mas a verdade é que não correu muito bem. Estive lá cinco ou seis meses e depois voltei a Portugal. Mas foi uma boa experiência, muito importante, aprendi que sacrifícios era preciso fazer para me tornar profissional, estava entre algumas das melhores jogadoras, várias delas campeãs olímpicas. Nem tudo correu bem, mas as minhas colegas ajudaram-me muito. Ainda que eu tivesse 19 anos, e aos 19 anos uma pessoa já é adulta, mas eu era uma menina muito de casa, muito da família, dos meus irmãos, muito dos meus amigos, da minha mãe, era uma bebé grande e foi a primeira vez que fiquei mesmo longe, bem afastada deles e custou-me.

Como é que o Linkoping veio descobrir-te cá? Sou uma jogadora de seleção nacional e o treinador do Linkoping terá visto em mim alguma coisa que eu pudesse acrescentar à equipa. Portanto, viu-me ao serviço da seleção. Na altura, era a única maneira de ser vista lá fora, porque o campeonato de cá não tinha visibilidade. Agora está diferente, já há jogos televisionados.

A competitividade cá ainda é baixa? É muito baixa.

Notas muitas diferenças, por exemplo, comparando com Espanha? Sim. É incrível porque é aqui ao lado e a diferença é abismal, quer a nível competitivo, quer a nível de visibilidade, do interesse, do crer no potencial da mulher.

Há pouco tempo, Atlético Madrid e Barcelona encheram completamente o estádio do primeiro. Os vossos jogos normais costumam ter muito público? Depende sempre das equipas. Esse jogo foi projetado, houve muito marketing, mas só o facto de cada clube grande – o Bilbao, o Atlético Madrid, o Levante, o Valência – abrir o seu estádio para acolher um jogo de futebol feminino é um incentivo para que as pessoas vão ver. As pessoas aderem, não é preciso grande marketing. Já antes desse recorde tinha existido uma lotação de 40 mil e sem muita publicidade. Eu já joguei para 20 mil, para 17 mil. Há um canal aberto em Espanha que todos os fins de semana transmite dois, três, às vezes quatro jogos.

Quem gosta de futebol, pouco se importa se são homens ou se são mulheres a jogar, certo? Exatamente. As pessoas, mesmo a fazer um zapping, param e veem "ah, elas estão a jogar, deixa cá ver". Isto acaba por despertar interesse.

Às vezes, nos anos ímpares, os adeptos do futebol acham que não há competições porque não há Europeus nem Mundiais masculinos, no entanto, é nesses anos que se disputam as grandes competições de futebol feminino. Achas que ainda há preconceitos em relação ao futebol jogado por mulheres? Já sentiste isto na pele? Já senti mais. Em Espanha também é um pouco diferente, mas mesmo aqui em Portugal há diferenças de hoje para o que era dantes. Como já se vê, já vês posters, já vês publicidade, as mulheres futebolistas já existem publicamente, então acaba por... enfim, ainda existe preconceito, objetivamente, mas já não é tanto porque tem havido interesse em mostrar. É importante mostrar que existe.



Em que aspetos notas que há mais diferenças para o futebol masculino? Naturalmente, o homem é mais forte do que a mulher. Mas, em termos de qualidade técnica, as mulheres estão tão capacitadas como os homens.

Mas, por exemplo, no futebol feminino há uma tendência para haver muitos mais golos. Existe alguma explicação para isso? Acho que depende da equidade entre equipas. Se és uma equipa de topo e estás a jogar com a última classificada... a competição ainda não é homogénea. O primeiro lugar é muito bom e o último é mesmo muito, muito mau. Nos rapazes, como são tantos a jogar, é mais fácil equilibrar. Os rapazes começam muito cedo a jogar futebol e com naturalidade. Muitos rapazes não pensam, não sonham sequer jogar futebol, mas são-lhes dadas todas as condições para jogarem, condições que não foram dadas às raparigas.

Ou seja, uma rapariga tem de querer muito mais ser jogadora de futebol... Exatamente. E depois ainda há aquele discurso do "para ti é mais fácil" porque somos menos a jogar. Eu cheguei à seleção nacional com 16 anos e houve pessoas a dizer-me isso, que para nós era mais fácil porque havia menos concorrência. Acontece que as coisas não são bem assim, eu só consegui começar a jogar futebol a sério com 14, 15 anos, um rapaz começa a jogar aos sete ou aos cinco.

Jogavas muito contra os rapazes, quando eras mais nova? Claro, sempre. Sobretudo no Alentejo, onde éramos muito menos. Não havia meninas a jogar futebol, tinha de jogar com os rapazes. Eu era a única que jogava com os rapazes. Mais tarde, durante a minha passagem pelo clube de Albergaria, que é um clube amador, treinava com os rapazes porque sentia que podia melhorar com eles, sobretudo a nível físico – eles são mais rápidos, eles são mais fortes. A nível técnico eu posso pensar "epá, sou melhor que tu", mas a nível físico eu sei que eles me podem superar pelo facto de serem mais fortes.

Portanto, um homem médio vai ser mais rápido e mais forte do que uma mulher de topo, é isso? Lá está, depois tens de conjugar a inteligência e uma série de outros fatores. [Risos.]

E quando jogavas com os rapazes já lhes fazias aquela finta? [N. do R.: é fácil encontrar no YouTube a incrível finta de Jéssica contra a Bélgica e contra o Atlético Bilbao, em 2018, e ainda outra semelhante diante do Montenegro, em 2015; sintetizando: mete, de calcanhar, a bola por baixo das pernas da adversária sem que esta perceba o que lhe está a acontecer.] [Risos.] Eu sempre fui de fazer fintinhas, acho que agora até faço menos.

Aprendeste a jogar futebol, entretanto... [Risos.] [Risos.] É um bocadinho isso. Aprendes a ser mais prático. Sabes como podes chegar à baliza mais rapidamente, não tens de te pôr a fazer malabarismos. É a tal noção teórica do futebol que é tão importante. Às vezes ainda faço, são coisas que me saem espontaneamente, poucas vezes tenho tempo para pensar naquilo que vou fazer no jogo. Às vezes no treino tento mais drible, mas corrijem-me, "Jéssica, faz mais assim".

O treino no Levante é muito duro? É duro. O meu primeiro ano custou-me mais, por causa da intensidade. E, também, porque a jogadora espanhola tem muita técnica – porquê? Porque já vêm a trabalhar desde muito pequenas. Por exemplo, eu sinto que a minha maior dificuldade é o último passe, tomar a decisão correta, às vezes driblo quando devia rematar – agora, já não é tanto isso, é mesmo o último passe que às vezes sai mal – e eu sinto que isso tem mesmo a ver com os meus anos de prática. Eu tenho 24 anos, outra jogadora com 19 anos faz aquilo bem feito, mas ela começou a jogar futebol com sete anos, eu comecei a jogar com 14, no fundo, tem quase mais dez anos de prática do que eu. Nesses pormenores, dá para perceber que, se calhar, isto tem influência.



Para além do futebol prático, tu estudas o futebol? Agora sim. Sobretudo, desde que fui para Espanha, porque tive um treinador que me colocou a jogar a ponta-de-lança e eu sempre joguei nas alas, então foi difícil, de repente, estava a jogar de costas para a baliza. Não tinha bases nenhumas do que era jogar a ponta-de-lança. Com ele, chegava a estar a ver jogos do Barcelona – não é que seja um tipo de jogo que me encante ver –, mas ficava a ver o Suaréz a jogar, o modo como se movia, como é que ele chateava os defesas centrais. Agora, vejo muito o jogo assim, observo mais a partir da minha posição, tento seguir os bons exemplos, as boas referências.

Dizes que não te encanta muito o tipo de jogo do Barcelona? Sim, pá. Se não é o Messi... Prefiro um jogo mais vertical. Por exemplo, o Ajax deste ano, tem um jogo de toque, mas rápido. E há o pragmatismo de chegar à baliza. O Barcelona já jogou assim há uns anos, mais pam-pam-pam. Agora, se não é o Messi que tem aqueles momentos de pam-pam, aquilo já me cansa.

E cá em Portugal, alguma equipa te encanta? O Benfica. Gosto de ver o Benfica jogar. Sobretudo agora, que estão a jogar mesmo bem.

Notas diferença do Bruno Lage para o Rui Vitória? O Vitória teve os seus momentos, com a equipa a jogar bem. Não sei se animicamente quebraram, mas nota-se uma diferença muito grande no futebol jogado. Não sei se tem a ver com o facto de o Lage ter vindo da equipa de formação. O Lage parece ter mais ideia de jogo. O Vitória tinha jogadores com determinada qualidade e metia-os lá, vá. Este tem uma filosofia mais concreta.

E em termos de ambição, até onde é que tu esperas chegar na tua carreira? Para onde queres ir? Eu sou uma rapariga muito ambiciosa e a partir do momento em que me apercebi que, não só podia ganhar o meu dinheiro a fazer aquilo de que eu mais gosto, mas também que tinha alguma aptidão especial para o fazer, percebi que talvez pudesse estar nas melhores equipas do mundo.

Estás a falar de quem, do Lyon? Sim, o Lyon ou outras equipas de topo. Sinto que posso ser uma referência. Sei que em Portugal já há muitas meninas a jogar e é fantástico sentir que sou uma referência, que sou um exemplo, tudo isso, mas quero que haja outro impacto a nível internacional e quero, sem dúvida, estar entre as melhores do mundo.



A SELEÇÃO E O FUTURO

Portugal não se apurou para o Mundial de 2019, mas já esteve a um nível muito próximo do das equipas que se apuraram. O que é que falta à equipa para conseguirmos chegar lá? Acho que tivemos uma fase que serviu para percebermos que praticamos bom futebol e que também podemos chegar lá. Agora é uma nova fase, a de assimilação dessa ideia, saber que somos capaz e temos de ter consciência que já não podemos voltar para trás. Não podemos, agora, chegar a um jogo e levar um, dois, três, quatro golos, isso já não pode acontecer. Há situações em que podes chegar a um patamar e depois dar um passo atrás. Mas nós aqui não, a nossa mente tem de estar focada em que não podemos descer.

Há pouco falávamos de haver competitividade no campeonato português. Achas que faz falta à seleção que mais jogadoras joguem em campeonatos competitivos para que tragam para a seleção essa experiência e essa exigência? Cada vez temos menos internacionais a jogar fora de Portugal. Eu não quero estar a dizer que é mau, mas tenho uma opinião própria sobre o facto de haver muitas jogadoras a voltar para Portugal, porém isso são aspetos que têm a ver com a ambição e o trabalho de cada jogadora. Se as jogadoras estiverem a trabalhar bem, por exemplo, se jogares no Sporting ao lado das melhores jogadoras do País, é claro que continua a ser estimulante. Mas, se calhar, será preciso fazer algum trabalho extra para que, num contexto internacional, consigas responder à exigência e estar ao nível da situação. Se eu no Levante tenho uma determinada carga de treinos, que é pesada, e se treino com excelentes jogadoras, é natural que depois fisicamente me sinta mais apta e que esteja mais bem preparada para as grandes competições. No entanto, sei que os clubes grandes, que são quem mais fornece jogadoras à seleção, sabem preparar as jogadoras para um contexto internacional. Obviamente, tudo depende de cada jogadora. Eu não venho para Portugal jogar.

Está mesmo fora dos teus planos para o futuro? Não, não mesmo. Precisamente porque sou uma jogadora ambiciosa e, não desvalorizando as jogadoras que temos, porque temos boas jogadoras, o campeonato está abaixo de outros.

É um campeonato desinteressante comparando com o espanhol, ou com o francês, ou com o alemão? Há muita discrepância. Há duas equipas só. Ainda assim, a entrada dos clubes grandes foi muito impactante no campeonato e no aparecimento de mais miúdas a quererem jogar futebol.

Num plano mais pessoal, como é a tua vida em Valência? É uma vida muito boa, começo a afeiçoar-me. Mas o meu futuro não vai passar por Valência.

Ai sim? Mas já sabes que vais para um determinado sítio? Sim, sim, mas ainda é top secret.

Mas sais de Valência já este ano? Sim, depois de dois anos em Valência, vou sair, precisamente depois da Algarve Cup.

Não podes mesmo dizer para onde vais? A revista só vai estar nas bancas depois de teres terminado a época. Sim, mas eu estou muito nervosa na mesma. Assinei um pré-contrato com uma das melhores equipas da Europa e do mundo [N. do R.: Jéssica assinou, como se previa, pelo Olympique Lyonnais, popularmente conhecido como Lyon, a equipa de futebol feminino mais poderosa da atualidade]. Nos dias 23 e 24, vou fazer os exames médicos, então estou muito nervosa. No princípio, foi tudo muito rápido, "queremos a Jéssica", isto era o rival desse clube, que até quis conhecer-me, foi a Valência e tudo, só que demoraram muito tempo a avançar para o pré-contrato. Entretanto, surgiu este clube. E vou em free transfer. Não sabia se havia de aceitar, podia ter escolhido outras coisas, mas decidi aceitar, acho que é uma oportunidade e podem vir aí coisas boas.

https://www.gqportugal.pt/jessica-silva-entrevista-gq-portugal

TeamRocket37

A entrevista da Jéssica Silva prova aquilo que sempre disse, a Jéssica não quer jogar em Portugal e no Benfica, apesar de ser o seu clube de coração.

anarcos


JMiguel23

O Apollon tem uma equipa que é tudo menos cipriota.
Muitas jogadoras estrangeiras, quase todas elas internacionais.
O Braga vai ter muitas dificuldades em conseguir fazer frente.

cerqueira13

A UEFA bem que podia mudar o formato desta competição para um semelhante ao da competição masculina. Nem fase de grupos há. Já agora podiam criar também uma espécie de Liga Europa, só enriqueceria o fut feminino.

nelsonandre

Citação de: cerqueira13 em 06 de Agosto de 2019, 15:36
A UEFA bem que podia mudar o formato desta competição para um semelhante ao da competição masculina. Nem fase de grupos há. Já agora podiam criar também uma espécie de Liga Europa, só enriqueceria o fut feminino.


Há fase de grupos sim senhor!
Esta fase é a de acesso à fase de grupos.