Conquistas gloriosas - Futebol - Taça de Portugal

pcssousa



INTRODUÇÃO

Boa tarde, prosseguindo com o tema vitórias gloriosas, após finalizar o capítulo Campeonato de Portugal, é tempo agora de abordar a Taça de Portugal.
Conforme escrevi no tópico do Campeonato de Portugal, estando a Taça de Portugal umbilicalmente ligada a ele, poderia perfeitamente prosseguir com este tema utilizando-o e não abrir novo tópico. Mesmo assim, por razões práticas, decidi abri-lo e separar águas que poderiam estar unidas. Se algum moderador ou administrador algum dia ler estas linhas, por mim está à vontade para unir os tópicos.
Irei, progressivamente falando um pouco de cada uma das nossas 24 Taças de Portugal, espero que gostem.

Assim sendo, a Taça de Portugal, com esta denominação, teve início na longínqua época de 38/39. Passou por crises e convulsões, resistiu por duas vezes a épocas em que por problemas organizacionais não pôde ser realizada e chegou aos dias de hoje como a festa, a alegria do povo.
Como não podia deixar de ser, o Sport Lisboa e Benfica é, aqui também, o maior dos maiores, aquele com mais conquistas e mais finais. O Benfica esteve logo na primeira de todas elas, num jogo disputado nas Salésias, para quem não sabe, pertença do CF Os Belenenses e o primeiro estádio relvado de Portugal, frente a uma briosa e lutadora AA Coimbra, que para espanto geral ganharia a partida, por 3-2 e conquistaria a primeira edição da prova sob este nome.

Essa edição ficaria marcada pela célebre reviravolta nas meias-finais, em que depois de ter perdido, a primeira mão, no estádio do Lima (Porto) por 6-1, o Benfica recupera em Lisboa ao vencer o fc porto por 6-0. A 15 minutos do final da partida, alegando o constante lançamento de bombinhas de Santo António para a sua área, facto que desconcentraria o seu guarda-redes. A Federação Portuguesa de Futebol indeferiu o protesto e a direcção do Benfica, após as acusações portistas, corta relações com o clube nortenho.
Curiosamente, na época seguinte, o FC Porto, detentor do título de Campeão Nacional, ficou em terceiro lugar no "regional" portuense, pelo que não podia assim defender o seu título, já que só os dois primeiros classificados tinham entrada no "Nacional". A Solução encontrada foi o alargamento da prova: de oito para dez clubes, ante a oposição do Benfica de relações cortadas com os portistas no decurso do episódio acabado de relatar, e da AFL (Para que não restem dúvidas acerca de um assunto levantado cá no fórum a semana passada).Os Portistas entraram e ganharam com 11 pontos de avanço sobre o Benfica.

Segundo Guilherme Espírito Santo, talvez o mais conceituado jogador daquela equipa que perdeu essa final contra a Académica, atleta que também foi recordista nacional dos saltos em altura, comprimento e triplo salto:
«o normal era a Académica perder connosco, em especial em Lisboa mas, talvez até porque lhes tinahmos ganho 4-0 para o Campeonato Nacional, se tenha instalado a ideia de que a final era "favas contadas", o que propiciou um excesso de confiança que prejudicou a nossa equipa, obrigada a utilizar o defesa Joaquim Correia, por lesão do titular Vieira; Correia foi um furo que a Académica aproveitou bem, mas isso não invalida a justiça do seu êxito. A Académica comemorou, durante meio século, esta sua vitória histórica, o que motivou excelentes convívios entre os participantes, a tal ponto que os "maus" da Académica ficaram nossos amigos com quem trocávamos postais de Natal».

Logo no ano seguinte, o Sport Lisboa e Benfica ganharia a sua primeira Taça de Portugal.


Imagem do célebre Benfica 6 – Porto 0 de 1939

Actualizações:
1939/1940: Benfica 3 - Belenenses 1
1942/1943: Benfica 5 - Setúbal 1
1943/1944: Benfica 8 - Estoril 0
1948/1949: Benfica 2 - Atlético 1
1950/1951: Benfica 5 - Académica 1
1951/1952: Benfica 5 - Sporting 4
1952/1953: Benfica 5 - Porto 0
1954/1955: Benfica 2 - Sporting 1
1956/57: Benfica 3 - Sp. Covilhã 1

pcssousa

#1
TAÇA DE PORTUGAL 1939/40




Em 1939/40, o Benfica, campeão de Lisboa, atinge a sua 2ª final consecutiva da Taça de Portugal e fá-lo só com vitórias. Recebe o "irmão" Casa Pia que derrota por confortáveis e inequívocos 9-0, deslocando-se em seguida ao terreno adversário derrotando-o por 1-2. De seguida recebe e goleia o Carcavelinhos, por 6-1 e volta a ganhar fora por 1-2. Segue-se, nas meias-finais, o Barreirense, com uma difícil vitória no Barreiro por 1-2 e outra em casa por 3-1.

Na final o Benfica teria a sua primeira final de sempre de uma competição nível nacional contra o Belenenses.
O Campo do Lumiar como cenário privilegiado, reuniu uma apreciável moldura humana para assistir ao embate entre os encarnados, comandados pelo húngaro Janos Biri e os azuis comandados pelo treinador-jogador argentino Alejandro Scopelli.
Mais lestos e empreendedores, mais bem preparados física e psicologicamente, os benfiquistas apresentaram no Lumiar uma qualidade de jogo superior aos seus rivais, apostando numa maior velocidade.Valadas foi o principal impulsionador, mas valeu o colectivo. Aos azuis faltava garra e nem a boa técnica dos seus três jogadores argentinos (Tarrino, Tellechea e Scopelli), aliada ao virtuosismo de amaro e Quaresma (sim, esse mesmo, tio-avô do actual futebolista Quaresma), deu para disfarçar.
Logo aos 15 minutos, o guarda-redes belenense, Salvador saiu a destempo a uma recarga de Albino e Rodrigues chegou primeiro à bola tocando-a para a rede deserta. O segundo golo surgiria aos 34 minutos, num lance em que Salvador saltou à bola com Albino e a tentou socar, falhando, aparecendo Valadas. a empurrá-la para as malhas. O terceiro tento surgiria por Espírito Santo, num remate de ângulo difícil.
O ponto de honra do Belenenses seria apontado por Rafael, mas a vitória não fugiria ao Benfica, que assim enriquecia ainda mais o seu já interessante palmarés.

Lumiar, 07/07/1940
Benfica 3
Martins; Gaspar Pinto e António Elói; César Ferreira, Francisco Albino e Francisco Ferreira; Guilherme Espírito Santo, Alexandre Brito, Francisco Rodrigues, Joaquim Baptista e Alfredo Valadas.
Marcadores: Rodrigues, Valadas e Guilherme Espírito Santo.
Treinador: János Biri

Belenenses 1
Salvador; Francisco Galino e Óscar Tarrio; Mariano Amaro, Francisco Gomes e Alberto Gomes; Perfeito, Artur Quaresma, Scopelli e Rafael Correia.
Marcador – Rafael
Treinador – Scopelli
Árbitro: Santos Palma (Santarém) 


diableimage

Grandes tópicos, pcssousa! Tanto este como o outro. É interessante ler este tipo de crónicas.

Podias metê-las na homepage.

Eddie_

Grandes tópicos mesmo. Isto é serviço público!
Obrigado, pcsousa!



pcssousa

Citação de: Pedro Marques em 23 de Agosto de 2012, 17:09
Grandes tópicos, pcssousa! Tanto este como o outro. É interessante ler este tipo de crónicas.

Podias metê-las na homepage.
Agradeço a todos o feedback.
Penso que não são materiual para a homepage, pois não me parece o tipo de assunto que interesse ás massas.

Cumnprimentos.

pcssousa

#7
TAÇA DE PORTUGAL 1942/43




1943 foi um ano glorioso para o Sport Lisboa e Benfica. No apogeu da II Guerra Mundial, o panorama futebolístico português seria pintado de vermelho vivo e os adeptos benfiquistas comemorariam a primeira dobradinha do clube.
As curiosidades desse ano e dessa final não acabavam por aí. Esta final, marcava a presença, pela primeira vez, de uma equipa da 2ª divisão nesta fase da prova, marcaria igualmente a maior goleada em finais até então disputadas e seria ainda um ano deveras glorioso para o Benfica pois a juntar à dobradinha teria nessa época a maior goleada de sempre aquele que é hoje em dia o seu maior rival... nem mais nem menos que um robustíssimo, para não usar outras palavras 12-2. Esta goleada é ainda a maior em confrontos entre os 3 grandes e uma das maiores goleadas de sempre aplicadas pelo Benfica em jogos oficiais.

Abordemos então um pouco esse jogo, até pelo interesse histórico de que se reveste. O primeiro confronto entre os dois rivais já tinha ocorrido há mais de trinta anos. Em 1912, deu-se a primeira deslocação do Benfica à nobre cidade portuense, para que no dia 28 de Abril se registasse um duplo confronto, entre as segundas categorias de manhã e entre as primeiras à tarde. O Benfica venceria ambos os jogos, o matutino por 1-2 e o vespertino, o mais importante dos dois e, o que fica para a história, por claros e incontestáveis 2-8. Estes momentos marcariam o principio de uma amizade entre os dois clubes, interrompida apenas em 1940, aquando do triste e inexplicável abandono de jogo por parte dos portistas na 2ª mão das meias-finais da Taça de Portugal. Mais tarde esta seria retomada, a pontos do Benfica ser convidado para a inauguração do Estádio das Antas e o porto para a do Estádio da Luz.
Desta forma, em jogo a contar para o campeonato nacional de 1942/43, no dia 7 de Fevereiro de 1943, logo à 5ª jornada da prova, um Benfica avassalador, goleia o FCP por 12-2. O grande herói do jogo foi Julinho, que marcaria quatro golos (jamais um jogador do Benfica voltaria a marcar 4 golos no mesmo jogo ao Porto e apenas Rui Águas em 86/87 marcaria 3). Os marcadores dos golos do Benfica (oficialmente, já que Julinho jura ter marcado pelo menos 5 do golos) foram: Valadas (5 e 31),Teixeira (39 e 85), Manuel da Costa (44 e 58), Alfredo (46 p.b.), Julinho (55, 60, 61 e 75) e Francisco Ferreira (77).

Fechemos então este parêntesis e foquemo-nos na Taça de Portugal.
Com eliminatórias apenas a uma mão, o Benfica recebeu e bateu o Vitória de Guimarães por claros 7-1, numa espécie de tira-teimas, uma vez que para o Nacional maior já tinha batido os vimaranenses em casa por 8-3 mas perdido na cidade-berço por 5-1. Em seguida receberia e bateria o Unidos de Lisboa por 5-2, equipa contra quem, recorde-se, tinha empatado em casa por 3-3 em jogo a contar para o Campeonato de Lisboa. Finalmente, deslocar-se-ia ao terreno do Sporting para disputar as meias-finais, numa espécie de final antecipada, trazendo a vitória por 1-2 do terreno do rival leonino.
No dia da grande final, disputada nas Salésias a 20 de Junho de 1943, os adeptos setubalenses, vieram desde as margens do Sado embrenhados num manto de esperança na conquista de mais um feito dos seus atletas.Todavia, o Benfica estava determinado a, uma vez mais arrecadar o troféu e imbuído de uma imparável veia goleadora, entrou forte, sem facilitar e logo no primeiro minuto marcou por Arsénio, mas o golo, foi anulado pelo juiz portuense Araújo Correia, por considerar que foi obtido em posição irregular. Inconformado, o Benfica continuou a atacar e Rogério aos 12 minutos atira a contar para a baliza vitoriana, sem que o pobre Indalécio, guarda-redes setubalense, pudesse fazer algo para o deter. Aos 23 minutos, após brilhante jogada do ataque vermelho e branco, com "passe de morte" de Julinho, surgiu Manuel da Costa a concretizar o segundo golo Benfiquista. Após a meia hora, Julinho fez o terceiro golo e viu Indalécio negar-lhe outro, com defesa espantosa.
A sorte do jogo estava mais que traçada mas, no segundo tempo, os sadinos fizeram tudo para recuperar; e, na verdade, depois de um golo, aos 58 min. de Amador, estiveram à beira de marcar novamente, não fora espectacular estirada de Martins, em resposta a um "tiraço" de Francisco Júlio. A linha média do Benfica, adormecida pelos 3 golos da primeira parte, não jogava bem e as jogadas de maior perigo eram agora do Vitória. Rendas e Passos perderam duas boas oportunidades, algo que teve o condão de acordar os Benfiquistas e, logo de seguida, Francisco Pires, envia uma bola à trave.
Depois deste período, um auto-golo de Armindo e novo golo de Julinho, arrumaram as contas, já no derradeiro quarto de hora.
O Benfica tinha acabado de consumar a primeira dobradinha do seu palmarés.

Salésias, 20/06/1943
Benfica: 5
Martins; Gaspar Pinto e César Correia; Alcobia, Jordão e Francisco Ferreira; Manuel da Costa, Francisco Pires, Julinho, Joaquim Teixeira e Rogério
Marcadores: Julinho (2), Rogério, Manuel da Costa e Armindo (p.b.)
Treinador: János Biri

Vit. Setúbal: 1
Indalécio; Montês e Armindo; Pacheco, Figueiredo e Rogério Cruz; Passos, Rendas, Francisco Júlio, Nunes e Amador
Marcador: Amador
Treinador: Armando Martins

Árbitro: Araújo Correia (Porto). 

misteryeyes

Se já tinha adorado o tópico do Campeonato de Portugal, que dizer deste...

Por favor continua o óptimo trabalho!  :bow2: :bow2:

Aloutre


pcssousa

#10
TAÇA DE PORTUGAL 1943/44


Esta edição da Taça de Portugal marca mais uma época histórica para o Benfica.
Tratou-se, de facto, da primeira vez que um clube revalidou um título na Taça de Portugal. Mas as curiosidades acerca da edição deste ano não se ficam por aqui, na final registou-se o mais volumoso resultado de todas as finais da Taça até aos dias de hoje e Rogério tornou-se no melhor marcador de sempre numa única final, registo que também se mantém até aos dias de hoje. Rogério Carvalho mantem ainda o record do melhor marcador absoluto de todas as finais da Taça com 15 golos totalizados em todas as finais que disputou, 1 ao Setúbal, 5 ao Estoril, 1 ao Atlético, 4 à Académica, 3 ao Sporting e 1 ao Porto.
Outro facto a registar é que esta seria a última final da Taça disputada antes da inauguração do Estádio Nacional, que teria lugar poucos dias depois, a 10 de Junho de 1944, na qual estaria incluído um derby Benfica – Sporting que atribuiu as taças Estádio e Taça Império e que os Sportinguistas ganhariam por 3-2. Todavia, a primeira final da Taça de Portugal disputada no Estádio Nacional ocorreria apenas em 1946, pelo que as Salésias receberiam ainda a final de 1945. 

Para atingir a final o Benfica teve que, numa prova com as eliminatórias novamente a serem disputadas a duas mãos, primeiro eliminar o Luso de Beja com uma dupla vitória por 4-1, primeiro na recepção aos alentejanos e depois na capital do Baixo Alentejo. Seguiu-se o Belenenses, campeão de Lisboa em titulo e equipa que tradicionalmente criava muitas dificuldades ao Benfiquistas, que se deslocaram às Salésias e derrotaram os azuis por 1-2 para posteriormente os receber em casa e os bater por confortáveis 8-2.
Atingidas as meias-finais, era tempo de defrontar a Académica de Coimbra. Mais um jogo em casa, mais uma goleada, desta feita por 6-1, a permitir uma deslocação descansada ao Campo de Santa Cruz em Coimbra, onde se registou o único empate da campanha, 1-1.
Mais uma final, mais um marco para o historial, cada vez mais impressionante do Sport Lisboa e Benfica.

Fundado em Maio de 1939, o Estoril-Praia viveu na temporada de 1943/44 um dos mais gloriosos momentos da sua existência enquanto instituição. Os canarinhos começaram a dar nas vistas ao colocarem fora de competição o Unidos de Lisboa. Já com presença assegurada nos quartos-de-final, saiu ao caminho da formação da linha o Futebol Clube do Porto. Com o equilíbrio na eliminatória a ser nota dominante, os estorilistas continuaram a dar forma a numa campanha notável, graças a um suado triunfo por 3-2 no primeiro jogo e um difícil 2-1 no segundo, resultado que selava desde logo a presença nas meias-finais, onde defrontaria o Vitória de Guimarães e não teria dificuldade em golear em ambos os jogos por 5-0 e 4-1. O Estoril tornava-se na segunda equipa da II divisão a atingir a final da Taça de Portugal e teria ainda a dupla satisfação de na temporada seguinte ir disputar o campeonato nacional da I divisão.

A 28 de Maio de 1944, já com a Europa a ser bafejada por ventos de mudança no decurso da II Grande Guerra, finalmente Benfica e Estoril-Praia entravam nas Salésias com um só pensamento: a vitória.
Logo aos dez minutos, o defesa central Elói sai a coxear e três minutos volvidos, os "encarnados" marcam por intermédio de Rogério, com a bola a embater num dos postes e ressaltar para a rede. Aqui, tudo começava a ficar definido. Elói voltava ao campo, mas encontrava-se incapacitado pelo que ocupou o lugar de extremo-esquerdo, sem utilidade, até que abandonou em definitivo a contenda. Ao quarto de hora Julinho marca o segundo para o Benfica, arrumando as dúvidas.
Os "canarinhos", em resposta, fizeram recuar Alberto para o sector defensivo e Sbarra para médio, mas não evitaram que Rogério
voltasse a marcar, à passagem da meia-hora e, a um minuto do intervalo, Arsénio Duarte fez o quatro zero.
No começo da segunda metade, tudo se complicou ainda mais para a formação da Costa do Estoril, pois Raul Silva caiu mal e abandonou o campo com uma fractura clavicular. E, com nove jogadores, a situação piorou. Após novo golo de Julinho, completou-se a goleada com 3 golos seguidos de Rogério "Pipi".
Valongo, guarda-redes estorilista, mereceu, além de Rogério, especial destaque, pois, não obstante ter sofrido oito golos, conseguiu evitar o que poderia ter sido um desastre memorável, com uma série de valorosas intervenções.
O Benfica tinha o seu bi na Taça e já só voltaria a uma final da mesma no Estádio Nacional e não sem que esta tenha experimentado a sua primeira interrupção.


Campo das Salésias, Lisboa, 28 de Maio de 1944
Benfica: 8
António Martins, César Ferreira, Carvalho, João Silva, Francisco Albino, Francisco Ferreira, Guilherme Espírito Santo, Arsénio Duarte, Julinho, Joaquim Teixeira e Rogério Carvalho.
Treinador: János Biri
Marcadores: Rogério (5), Julinho (2) e Arsénio Duarte.

Estoril: 0
Valongo, Pereira, Francisco Elói, Júlio Costa, António Nunes, Alberto Jesus, Canal, José Gomes, Petrak, Sbarra e Raul Silva.
Treinador: Augusto Silva

Árbitro: Carlos Canuto (Lisboa)



Foto de um dos golos Benfiquistas

pcssousa

#11
TAÇA DE PORTUGAL 1948/49


Depois da histórica conquista de 43/44, o Benfica apenas voltaria à final da competição na época de 1948/49, marcando aquele que era até então o maior período de ausência do clube em finais.
Pelo meio, o Benfica já tinha enriquecido o palmarés com o Campeonato Nacional de 44/45, tendo sido sempre vice-campeão nos restantes campeonatos disputados, acabando inclusive o de 1947/48, atrás do melhor sporting da sua história, o tal dos "violinos" empatado em pontos mas com menos um golo no confronto directo... o melhor estava para vir, e os "trompetes" do Benfica acabariam por dar música bem mais afinada.
Pelo meio, atenção, a final, conforme já tinha sido dito anteriormente, passou a disputar-se no novel Estádio Nacional, a partrir de 1946, e registou-se também a primeira interrupção da competição, em 1947/48. Convém esclarecer que a Taça de Portugal era então disputada, não ao longo da época, como hoje em dia, mas antes quase como uma competição de encerramento. Assim, após a disputa das outras competições, campeonato regional primeiro, que dava apuramento para o Nacional, e Campeonato Nacional depois, disputava-se de seguida a Taça de Portugal, com todas as eliminatórias seguidas.
Na época de 46/47, alegadamente por escassez de datas para disputa da competição e também por uma recusa das equipas da II divisão, que diziam ser-lhes muito dispendioso disputar a prova, esta acabou mesmo por não se disputar. Voltaria contudo no ano seguinte. Foi também um ano de reestruturação dos calendários desportivos nacionais, deixando os Campeonatos Regionais de servirem de apuramento para as diversas divisões dos Campeonatos Nacionais e estes foram alargados para 14 equipas.

A época de 48/49 continuou pautada a nível de Campeonato Nacional pelo domínio sportinguista, acabando os leões por conquistar a prova com 5 pontos de avanço sobre o Benfica e assim garantir a presença na disputa da primeira edição da Taça Latina, competição oficial disputada pelos campeões de Portugal, Espanha, França e Itália e tendo sido um dos seus ideólogos o próprio Jules Rimet, mítico presidente da FIFA. O SCP acabaria por perder a final contra o CF Barcelona (sim, era assim o seu nome na altura) e a edição seguinte ficava desde logo marcada para Portugal, sonhando os dirigentes da FPF com uma vitória sportinguista. A competição revestiu-se de importância tal, que antes da sua partida para a disputar, a comitiva leonina foi recebida pelo chefe de Estado para que este desejasse boa sorte aos "leões". Mal imaginavam o que aconteceria um ano depois... adiante...

A campanha encarnada na prova começou a ganhar contornos vitoriosos logo nos 1/16 avos-de-final graças a uma gorda vitória caseira sobre o Boavista, por concludentes 7-1. Não dando mostras de qualquer género de extinção, a "chama encarnada" voltou a dar bons frutos na ronda seguinte, com uma robusta goleada de 13-1 sobre o Académico de Viseu, também ela obtida em casa. Denotando uma insaciável fome pelo golo, o Benfica celebraria, nos quartos-de-final, a qualificação para a fase seguinte da competição construindo mais um desequilibrado resultado caseiro. Desta feita, a vítima seria o Marítimo, que saiu vergado do Continente por inapeláveis 9-3. Em plenas meias-finais, os Benfiquistas visitaram Setúbal, derrotando o Vitória local, que na ronda anterior já tinha deixado pelo caminho o FC Porto.
Numa edição da competição que ficou marcada pela eliminação do Sporting pelo Tirsense logo na primeira ronda, naquela que seria a primeira vez que era eliminado por um adversário de um escalão secundário, o adversário do Benfica na final seria o Atlético Clube de Portugal, que tinha deixado pelo caminho o Barreirense, o Famalicão, o Lusitano de VRSA e Covilhã, com uma suada vitória por 1-0 na cidade serrana que garantiria aquela que é até hoje a última final do clube Alcantarense.
 
Naquele 12 de Junho de 1949, o Benfica entro melhor no terreno, com Corona em bom plano e a pertencerem-lhe as melhores oportunidades. Os alcantarenses tentaram proteger com "unhas e dentes" as redes de Correia, que fez boas defesas e viu um remate de Melão bater num poste. Após uma primeira parte morna, o Benfica surgiu melhor na segunda, continuou a dominar e a criar oportunidades até que a 13 minutos do fim, Espírito Santo cruzou para o golo de Corona, inaugurando assim o marcador sem que antes Armando Correia tenha falhado uma boa ocasião de complicar a vida aos Benfiquistas. Estava aberto o sistema defensivo dos alcantarenses e, menos de dois minutos volvidos, de novo Espírito Santo e Corona criaram uma jogada que Rogério concluiria com êxito.
Apesar da clara fadiga de ambas as equipas, Melão voltou a ter um remate à trave e Correia teve de se arrojar aos pés de Corona para evitar novo golo.
A segundos do fim, Armindo Silva fez o golo do Atlético.
Estava selada mais uma vitória encarnada na Taça de Portugal.


Estádio Nacional, 12 de Junho de 1949

Benfica: 2
Contreiras, Jacinto Marques, Joaquim Fernandes, Francisco Moreira, Félix Antunes, Francisco Ferreira, Corona, Arsénio,Espírito Santo, Melão e Rogério.
Treinador: Ted Smith
Marcadores: Corona, Rogério.

Atlético: 1
Francisco Correia, Baptista, Abreu, José Lopes, Armindo Correia, Morais, Carlos Martinho, Armando Carneiro, Ben David, Armindo Silva e Caninhas.
Treinador: Pedro Areso
Marcador: Armindo Silva.

Árbitro: Paulo de Oliveira (Santarém)

Na época seguinte, na qual se registaria mais um interregno na prova, o Benfica conseguiria conquistar o título nacional ao Sporting, muito graças a um golo de José Maria Pedroto (esse mesmo...), em Vila Real de Santo António, tendo sido portanto a nossa delegação nº1 fundamental não só para a conquista do Campeonato Nacional 1949/50 e consequente apuramento para a Taça Latina que se iria disputar em pleno Estádio do Jamor.
O resto, penso já ser sobejamente conhecido, um Benfica abnegado derrotou primeiro a Lázio de Roma e atingiu a final, onde precisaria de finalíssima e prolongamentos para levar de vencida os Girondins de Bordeaux e desta forma conquistar a primeira grande vitória internacional para o futebol português... Este feito será descrito de forma mais detalhada noutra altura, noutro tópico.
Precisamente, no decurso do entusiasmo resultante da disputa desta competição em solo luso, ao que se diz, nesta época a Taça de Portugal mais uma vez não seria disputada. Outros factores pesaram também nesta decisão.


Rogério "Pipi", com o troféu, junto de Guilherme Pinto Basto, um dos introdutores do futebol em Portugal.


Bilhete da final da Taça Latina, com a chancela da FPF, o que inviabiliza a tese de alguns de que não seria uma competição oficial. Para vergonha desses, pois é inconcebível que a FPF organize competições oficiosas, estamos cá para mostrar as verdades...

Vitor84

Competição mágica a Taça de Portugal.
Que mágoa me dá estarmos tanto tempo sem conquistar uma, aliás nos últimos 20 anos (que são mais ou menos os anos que eu acompanho com olhos de ver o Benfica) ganhamos 3 Taças.
Estamos de longe no período mais negro da nossa história e teima em não acabar.

Vitor84

#13
pcsousa quando dizes que na época seguinte o Benfica seria campeão graças a um golo do Pedroto, não percebi muito bem. O gajo jogava no VRSA? E foi graças a esse desaire dos lagartos que fomos campeões? E no ano seguinte vencedores da Taça Latina?
Ui estou a imaginar a azia do Pedroto nessa altura, deve ter ido para a cova ainda com esse golo atravessado hehehehe


Uma grande curiosidade nestas primeiras 4 Taças que o Benfica conquistou é que em nenhuma delas defrontou os seus históricos rivais nas finais e essas finais foram todas com clubes da zona de Lisboa, que era a região que na altura tinha os clubes mais fortes.

pcssousa

#14
De facto, José Maria Pedroto encontrava-se a cumprir serviço militar em Tavira, penso que na escola de sargentos milicianos. Desta forma acabou por sair do Leixões e ir representar o Lusitano F.C. (Vila Real de Santo António), ao abrigo da Lei militar, vigente na época. Esteve por lá nas épocas de 48/49 e 49/50. O Lusitano, como já escreví por cá, delegação nº 1 do Sport Lisboa e Benfica, na época de 49/50, de má memória para eles, pois acabaram no último lugar da tabela classificativa, recebeu e bateu o Sporting naquele que hoje naquele que hoje  é conhecido como Campo Francisco Gomes Socorro, para espanto geral por 2-0, tendo sido José Maria Pedroto autor do golo inaugural. Naquele dia 16 de Janeiro de 1950, à 14ª jornada do campeonato, o Benfica acabaria por ganhar boa margem para o resto do campeonato. Já tinhamos ganho fora ao Sporting na 10ª jornada por 1-2, mas eles ganharm moral somando por vitórias os 3 jogos seguintes, pelo que esta inesperada derrota por terras algarvias, a abrir a 2ª volta do campeonato, acabou por ser a machadada definitiva de que não mais recuperaram. Ainda nos vieram ganhar na 2ª volta, mas o destino do campeonato estava traçado e apenas tivemos que o gerir.
No final do campeonato, o campeão nacional em titulo, Sport Lisboa e Benfica, foi disputar a Taça Latina, como todos sabemos. Ainda na mesma época  desportiva do campeonato, pois este terminou a 7 de Maio e a finalíssima da Taça Latina ocorreu a 18 de Junho do mesmo ano.
Entre as duas competições, ainda tivemos um particular contra o Sporting, em Braga, na inauguração do Estádio 1º de Maio, se não estou em erro a 28 de Maio, em que ganhámos por 3-2.

Ah, Pedroto, após esta época, acabou por ingressar nos Belenenses, apesar de o FCP também estar interessado nos seus serviços, e só mais tarde ingressaria no clube da invicta.

Cumprimentos e espero ter sido esclarecedor.