Decifrando imagens do passado

alfredo

invadir o topico deles e deixar a tua mensagem para os outros lerem...

RedVC

Citação de: alfredo em 17 de Julho de 2018, 11:37
invadir o topico deles e deixar a tua mensagem para os outros lerem...

Ser membro "daquilo" mesmo para dizer verdades é algo que não farei. Não vale a pena argumentar com lagartos. Os lagartos não pensam. Vomitam. Com sportinguistas consegue falar-se mas com lagartos apenas arriscamos levar com o vomitado.

Passarei a ter outros cuidados com o material que interesse a lagartos armados em pesquisadores.

Alexandre1976

É a génese desse clube de merda,um total complexo de inferioridade,inveja e gosto por roubar o que seja nosso.Clube e gentalha execrável.

RedVC

#798
-217-
A semente que frutificou


Estádio da Luz, dia 1 de Dezembro de 1954.



Saudades do Benfica a desfilar no novinho Estádio da Luz. O Glorioso dia 1 de Dezembro de 1954.



Encantados com o seu Estádio novinho em folha e esperançosos nas Glórias futuras que se anunciavam, um grupo de anciãos desfila perante o olhar e o aplauso dos milhares de Benfiquistas presentes. Olhar brilhante e coração cheio de felicidade, mais do que ninguém eles sabiam da importância da nossa querida Catedral.

À cabeça desse venerável pelotão, distinguiam-se entre outros, o antigo presidente Félix Bermudes, o sócio nº 1, Luís Carlos Faria Leal e o sócio nº2, Luís Gatto. Alguns do homens que tinham liderado os Gloriosos dias da fusão de 1908.

Distingue-se também um outro ancião, talvez o mais idoso entre eles. Chamava-se José Netto e foi um homem de grande importância para o futebol Português e uma das mais ilustres figuras da Arte Portuguesa do século XX. Mas lá iremos.

Nesse dia radioso de Inverno, na radiância do seu Benfiquismo, José Netto mostrou-se emocionado e consciente da importância e dignidade daquele momento. Tal como outros dos mais antigos, ele sabia que depois de décadas e décadas em que o Clube tinha andado com a casa às costas, chegava enfim o momento em que tínhamos uma casa própria a longo prazo.

Esperava-se que, ao contrário das Amoreiras, este Estádio novo fosse a casa de uma caminhada longa e Gloriosa. Tal como as Amoreiras, este Estádio novo era assente em pilares feitos da dedicação e amor de tantos e tantos pioneiros, muitos deles já falecidos. O Clube estabilizava enfim e dava aos seus atletas as condições para mostrar o seu talento e com os seus títulos acentuar o seu estatuto de maior Clube de Portugal. E assim foi.




José Netto, ali bem na vanguarda daquele Glorioso pelotão de Saudades Benfiquistas. Tantos e tantos que honraram a nossa História.



Resistente, com uma personalidade forjada nas agruras mas também na celebração da beleza da vida, José Netto foi casapiano na sua meninice. Nesses anos casapianos cedo se revelou um aplicado e talentoso estudante. E desde 1904 se tornaria um adepto insigne e fiel do nosso Clube.


É de Jorge Netto que vamos falar neste texto. Honra e Glória à sua memória!




José Isidoro d'Oliveira Carvalho Netto
(Almada 02-06-1875 – Lisboa 10-01-1960)



José Isidoro d'Oliveira Carvalho Netto nasceu às 20h00 do dia 2de Junho de 1875, na Rua da Oliveira em Cacilhas, numa casa conhecida por "Casa do Gato". O pequeno José era filho de Isidoro de Oliveira Carvalho Neto, proprietário, natural de Almada e de Dona Júlia Amélia Freitas Netto, doméstica e natural da freguesia de Nossa Srª dos Anjos em Lisboa.

Nasceu no seio de uma família abastada mas quis o destino que na sua meninice a sua família entrasse em falência num processo de garantia para um banqueiro chamado Moura Borges. Esse terá sido o motivo que levou a que o pequeno José Netto tenha dado entrada na Real Casa Pia.

Pela Casa Pia teve uma educação esmerada, se fez homem e conviveu com outros ilustres pioneiros do futebol em Portugal. Tal como ele tendo muitos deles vindo também a destacar-se na sociedade e Cultura Portuguesa. Ironia da vida... Se não tivesse dado entrada na Casa Pia a sua vida teria sido radicalmente diferente e talvez nunca se tivesse tornado um ilustre pioneiro do futebol Português.



Fonte: Hemeroteca de Lisboa e Delcampe


José Netto pertenceu à fabulosa geração Margiochi de quem já por aqui falamos (ver -189- O professor providencial (p. 48) e -154- A Rotunda da Vitória (p. 43), entre outros), integrando primeiro os lendários grupos da Casa Pia e depois o numeroso colectivo efémera Associação do Bem (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2016/01/associacao-do-bem.html).



Alguns dos membros mais destacados do Grupo Margiochi. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.



Netto foi sempre um indubitável Casapiano, solidário e presente entre os outros que como ele foram carinhosamente acolhidos por essa grande Instituição Portuguesa.



Reunião de antigos Casapianos, provavelmente na década de 30. Ali se assinala a presença de outros dois ilustres casapianos, figuras maiores do futebol Português. Fonte: AML



José Netto, homem de Arte


Revelando desde cedo apurados dotes artísticos, o jovem José Netto frequentou a escola de Belas Artes de Lisboa. Concluiu o curso de Escultura com 20 valores e teve entre os seus professores nomes como Anatol Calmels e Jose Simões de Almeida (tio). entre os seus colegas de estudos esteve Simões de Almeida (sobrinho), que entre outras obras de relevo, esculpiu o primeiro busto da Republica Portuguesa.

Netto foi um artista prestigiado no seu tempo tendo algumas das suas obras sido premiadas com Medalhas de Bronze e Prata, em grandes exposições realizadas nos anos de 1895, 1896 e 1898. Ver mais em https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Isidoro_d%27Oliveira_Carvalho_Netto


De 1909 a 1911 José Netto foi bolseiro em Paris, apurando a sua Arte. Paris era o centro do Mundo Artístico e a Cultura Francesa era a matriz-referência da Cultura Portuguesa. Na Exposição Madrid de 1912, José Netto recebeu a comenda de Isabel a Católica. Quando regressou de Paris Netto era já uma figura prestigiada no meio artístico nacional.



Entre os seus pares. José Netto entre alguns dos maiores artistas Portugueses reunidos num encontro de grandes figuras da Sociedade Nacional de Belas Artes. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.



Na década seguinte destacar-se-ia na Exposição Internacional do Centenário da Independência do Brasil, tendo também recebido uma medalha de Ouro na exposição do Centenário do Rio de Janeiro 1923. Este evento realizou-se no Rio de Janeiro entre 7 de Setembro de 1922 e 23 de Março de 1923. O evento teve no seu tempo uma grande amplitude e relevância cultural e social.



Fonte: BND e AML



Nesse mesmo evento o Pavilhão das Indústrias Portuguesas seria inaugurado no dia 21 de Maio de 1923 e desmontado em 1929 para voltar a atravessar o oceano! Em Lisboa, o belo edifício foi montado novamente para acolher a Grande Exposição industrial Portuguesa de 1932.

Em meados da década de 1940, o edifício passou a receber espectáculos desportivos, com a designação de... Pavilhão dos Desportos. Isso mesmo, é o mesmo pavilhão que ainda hoje podemos visitar no Parque Eduardo VII, em Lisboa! Em 1984 seria ainda rebaptizado com o nome de Carlos Lopes, o primeiro atleta português que alcançou uma medalha de ouro em Jogos Olímpicos.

Para José Netto esta exposição ficou também marcada de forma amarga. No regresso do Brasil, o navio que transportava as obras que por lá expôs, naufragou na zona do Cabo da Roca, afundando para sempre uma parte brilhante da sua produção artística. Outros autores também por lá perderam peças brilhantes da sua produção tais como Columbano Bordalo Pinheiro (ao que me lembro pelo menos um famoso retrato de Eça de Queiroz jaz no fundo do mar).


Algumas das suas obras mais famosas podem nomear-se (fonte: wikipedia):

•   -"O Lançador do Disco", no Pavilhão Carlos Lopes, em Lisboa;
•   -Busto de António Enes, em marmore, teatro D.Maria II, em Lisboa;
•   -Escultura decorativa da Assembleia da República, em Lisboa;
•   -Corpo central do Mosteiro dos Jerónimos, em Belém, Lisboa;
•   -Cabeças de leão do banco Lisboa e Açores (depois Banco Totta e Açores) na Rua Áurea em Lisboa;
•   -Leões do espaço dos Passos Perdidos da Assembleia da República, Lisboa;
•   -Cariátide no Museu de Arte Contemporânea, Lisboa;
•   -Anjo da Guarda, em Beja,em mármore;
•   -Monumento de mármore a Costa Goldofim, em Lisboa e monumento do Dr. Miguel Bombarda e Almirante Cândido dos Reis, em Lisboa;
•   -Bustos de bronze de António Marques Pólvora, Dr.José Joaquim de Almeida, de mármore de Carlos de Moura, em madeira o busto da rainha Santa Isabel na capela da Casa Pia, em Lisboa;
•   -Medalhões de bronze Dr. Manuel Duarte e estatuário Francisco dos Santos
•   -Busto do arquitecto António do Couto.




Alguma da produção artística de José Netto.



Também no desporto José Netto deixaria a sua marca artística. O desporto, o futebol e o Sport Lisboa e Benfica foram uma paixão de toda a sua vida. A semente Casapiana frutificou no desporto e nas Artes.



Um interessante cruzamento entre as vertentes artísticas e desportistas de José Netto. A Taça de Honra da AFL foi desenhada por ele. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.



Durante uma boa parte da sua vida, José Netto seria Professor de Desenho na Escola Nacional e em vários colégios dependentes da Casa Pia de Lisboa. Entre os seus alunos contou-se o também notável escultor Leopoldo de Almeida (https://pt.wikipedia.org/wiki/Leopoldo_de_Almeida). Numa longa carreira de artista prestigiado, Netto nunca esqueceu as suas origens e os seus antigos companheiros, amigos de toda uma vida. A semente casapiana, de mérito desportivo, artístico, cultural e humanista frutificou, dando muito a Portugal e ao Sport Lisboa e Benfica.



José Netto entra antigos companheiros que se destacaram na Arte e na Arquitectura na primeira metade do século XX.




José Netto, o Benfiquista




Remonta aos dias de Belém e aos lendários treinos nas terras do Desembargador às Salésias, os primeiros dias em que José Netto envergou a camisola do Glorioso. José Netto envergou algumas das 12 míticas camisolas de flanela compradas na Casa do Povo de Alcântara (ver -101- As Gloriosas fazendas de Alcântara. p.29).

José Netto jogava essencialmente a defesa, tendo feito dupla nesse sector com nomes fundamentais dessas equipas casapianas tais como Emílio de Carvalho e Januário Barreto (mais tarde, respectivamente, futebolista e presidente da Direcção do Sport Lisboa).



À esquerda: uma equipa de futebol da Casa Pia de 1896 onde José Netto pontificou. À direita: um grupo de antigos alunos casapianos reunidos para uma futebolada numa das actividades promovidas pela efémera mas importante Associação do Bem.



José Netto não esteve entre os 24 fundadores do Sport Lisboa. Não esteve ele tal como não estiveram quase todos os seus antigos companheiros casapianos. Essa componente casapiana que reconhecidamente foi decisiva para a aceitação popular e o nosso precoce sucesso desportivo, entraria em força no Clube pouco tempo depois da fundação. Os casapianos trouxeram experiência e competitividade às equipas de futebol do Sport Lisboa mas também trouxeram consistência adicional ao Ideal do nosso Clube.

Em 1904, José Netto tinha já 29 anos de idade. Pela norma da época, Netto era já um veterano mas ainda assim terá mantido uma boa capacidade ou pelo menos a sua experiência terá sido muito valorizada. Note-se ainda que em caso de impedimento de algum dos jogadores da defesa, Netto chegou a fazer alguns jogos pela 1ª categoria.

Netto era um habitual da 2ª categoria, uma equipa que nessa época tinha tanto talento como inteligência pois era constituída por homens de talento artístico. Foi a famosa equipa dos "espertos", uma equipa que incluía diversos fundadores e duas das figuras mais importantes da História do nosso Clube: Félix Bermudes e Cosme Damião!




A Gloriosa segunda categoria do Sport Lisboa fotografada em 1905 ou 1906. A famosa equipa dos "espertos"! José Netto fazia parceria na defesa com José Rosa Rodrigues, fundador e primeiro presidente do nosso Clube.



A grande crise de Maio de 1907, despoletada pelo abandono da maior parte dos jogadores da nossa primeira categoria, seria um momento decisivo no nosso Clube. José Netto esteve entre os que ficaram, os que resistiram e continuaram a defender o nosso manto sagrado, envergando a Gloriosa camisola de flanela vermelha. Foi um tempo duro mas Glorioso do qual felizmente ficaram com alguns registos fotográficos.

Mas para sempre ficou a memória dessa equipa que em 1907 não teve receio em assumir a representação da 1ª categoria, tomando o lugar deixado vago por companheiros que optaram pelo caminho mais fácil e mais generosamente pago.
Em breve a idade e a emergência de novas gerações de grandes jogadores, faria com que José Netto arrumasse as botas e se dedicasse plenamente à sua vida artística e de docente.




A primeira categoria do Sport Lisboa depois da crise de Maio de 1907. Félix Bermudes (com a bola) a capitão e Cosme Damião como médio-centro. José Netto sempre como defesa à esquerda fazia dupla com o fundador Henrique Teixeira.




José Netto morreria no dia 10de Janeiro de 1960. Morreu apenas cinco dias depois da morte de outro grande Benfiquista, o Glorioso Félix Bermudes. Morreu em Benfica, onde tinha uma Quinta e onde terá residido de forma habitual. Benfiquista e Benfiquense até ao fim.

Bem significativas da ligação de José Netto ao nosso Clube, saliento aqui as palavras sentidas de José Netto nesse dia inolvidável de inauguração da nossa linda Catedral.
Através das décadas José Netto continuaria a ter uma presença discreta mas constante no nosso Clube. Indubitavelmente Benfiquista! Que bonito seria que algum jornalista tivesse em vida feito uma entrevista biográfica extensa a José Netto, onde também fosse abordada a sua vida desportiva e associativa. Quem sabe se essa entrevista existe e se um dia ainda irá aparecer. Esperemos que sim. Na falta dela relembremos algumas das frase que deixou nesse inolvidável dia de 1 de Dezembro de 1954.



Uma semente que frutificou. José Netto no dia 1 de Dezembro de 1954.



Seis anos depois José Netto deixou-nos.



Dois obituários de José Netto, em 10 de Janeiro de 1960.


José Netto foi uma das sementes mais generosas e mais talentosas entre os Casapianos e Benfiquistas. Frutificou generosamente e soube sempre guardar o carinho imenso pelo nosso querido Clube.

Honra e Glória ao grande José Isidoro d'Oliveira Carvalho Netto.







Alexandre1976

A velha Catedral,feita com a vontade ferrea dos Benfiquistas personificada na figura do Grande Presidente Joaquim Ferreira Bogalho.Uma epopeia  que representa a massa da qual os Benfiquistas são feitos(superação,coragem e trabalho).

Ned Kelly

Já não vinha aqui (e ao fórum) há uns tempos. Estive a ler deliciado o material (para mim) novo. Não me canso de agradecer a tua paixão e dedicação. Eu sei o trabalho que dá pesquisar fontes, validar, enfim fazer trabalho, verdadeiro trabalho, de investigação.

Não deixa de ser paradoxal haver um lagarto a roubar daqui. Um clube que forma e atrai gente pequena, invejosa e mesquinha, com numerosas excepções claro, mas onde as referidas excepções são decerto silenciosas em oposição aos grunhos ruidosos que nos entram pelos olhos dentro diariamente na novela mexicana das eleições, destituição, Alcochete e afins.

RedVC

Citação de: Ned Kelly em 17 de Agosto de 2018, 19:49
Já não vinha aqui (e ao fórum) há uns tempos. Estive a ler deliciado o material (para mim) novo. Não me canso de agradecer a tua paixão e dedicação. Eu sei o trabalho que dá pesquisar fontes, validar, enfim fazer trabalho, verdadeiro trabalho, de investigação.

Não deixa de ser paradoxal haver um lagarto a roubar daqui. Um clube que forma e atrai gente pequena, invejosa e mesquinha, com numerosas excepções claro, mas onde as referidas excepções são decerto silenciosas em oposição aos grunhos ruidosos que nos entram pelos olhos dentro diariamente na novela mexicana das eleições, destituição, Alcochete e afins.


Obrigado Ned!  O0

Este tópico é aberto e tenho muito gosto que Benfiquistas e não Benfiquistas leiam, gostem, critiquem e usem material que por aqui publico.

Como é fácil ver eu preocupo-me em indicar fontes e se não o faço em algum caso isolado é por ignorância da fonte original ou por esquecimento.

O mínimo que se pode exigir é que quem use pedaços de texto ou montagens de fotos faça referência a quem teve o trabalho e o talento (ou falta dele) par o fazer. Eu não teria nunca problema algum de indicar (se calhar até já o fiz) uma fonte original que fosse de um fórum verde ou azul.

Francamente passei-me um pouco. Peço desculpa a quem possa ter achado de mau gosto algumas palavras que usei. apesar de aligeirar um pouco a linguagem na minha mensagem "indignada" ainda assim não a retirei pois não sou hipócrita e há que passar a mensagem ao lagarto.

E essa é outra. Que fique bem claro que para mim há uma diferença entre lagarto e sportinguista. Conheço ambos os tipos e apenas tenho respeito pelos últimos.

O Decifrando continuará. Tenho sido um pouco preguiçoso mas ideias e material há ainda em quantidade e qualidade. Virão tempos em que o material abundará mais do que o que apareceu nos últimos 2 meses.


Petrov_Carmovich

Citação de: RedVC em 17 de Agosto de 2018, 20:45
Citação de: Ned Kelly em 17 de Agosto de 2018, 19:49
Já não vinha aqui (e ao fórum) há uns tempos. Estive a ler deliciado o material (para mim) novo. Não me canso de agradecer a tua paixão e dedicação. Eu sei o trabalho que dá pesquisar fontes, validar, enfim fazer trabalho, verdadeiro trabalho, de investigação.

Não deixa de ser paradoxal haver um lagarto a roubar daqui. Um clube que forma e atrai gente pequena, invejosa e mesquinha, com numerosas excepções claro, mas onde as referidas excepções são decerto silenciosas em oposição aos grunhos ruidosos que nos entram pelos olhos dentro diariamente na novela mexicana das eleições, destituição, Alcochete e afins.


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Como é fácil ver eu preocupo-me em indicar fontes e se não o faço em algum caso isolado é por ignorância da fonte original ou por esquecimento.

O mínimo que se pode exigir é que quem use pedaços de texto ou montagens de fotos faça referência a quem teve o trabalho e o talento (ou falta dele) par o fazer. Eu não teria nunca problema algum de indicar (se calhar até já o fiz) uma fonte original que fosse de um fórum verde ou azul.

Francamente passei-me um pouco. Peço desculpa a quem possa ter achado de mau gosto algumas palavras que usei. apesar de aligeirar um pouco a linguagem na minha mensagem "indignada" ainda assim não a retirei pois não sou hipócrita e há que passar a mensagem ao lagarto.

E essa é outra. Que fique bem claro que para mim há uma diferença entre lagarto e sportinguista. Conheço ambos os tipos e apenas tenho respeito pelos últimos.

O Decifrando continuará. Tenho sido um pouco preguiçoso mas ideias e material há ainda em quantidade e qualidade. Virão tempos em que o material abundará mais do que o que apareceu nos últimos 2 meses.



RedVC, não querendo esticar-me muito no assunto, visto que aqui é para mim o Museu Virtual do Ser Benfiquista, e só se deve falar do passado do Benfica, qual a diferença para ti entre um "lagarto" como aquele sujeito que copiou o trabalho todo e um sportinguista?

RedVC

#803
Citação de: Petrov_Carmovich em 18 de Agosto de 2018, 00:57
Citação de: RedVC em 17 de Agosto de 2018, 20:45
Citação de: Ned Kelly em 17 de Agosto de 2018, 19:49
Já não vinha aqui (e ao fórum) há uns tempos. Estive a ler deliciado o material (para mim) novo. Não me canso de agradecer a tua paixão e dedicação. Eu sei o trabalho que dá pesquisar fontes, validar, enfim fazer trabalho, verdadeiro trabalho, de investigação.

Não deixa de ser paradoxal haver um lagarto a roubar daqui. Um clube que forma e atrai gente pequena, invejosa e mesquinha, com numerosas excepções claro, mas onde as referidas excepções são decerto silenciosas em oposição aos grunhos ruidosos que nos entram pelos olhos dentro diariamente na novela mexicana das eleições, destituição, Alcochete e afins.


Obrigado Ned!  O0

Este tópico é aberto e tenho muito gosto que Benfiquistas e não Benfiquistas leiam, gostem, critiquem e usem material que por aqui publico.

Como é fácil ver eu preocupo-me em indicar fontes e se não o faço em algum caso isolado é por ignorância da fonte original ou por esquecimento.

O mínimo que se pode exigir é que quem use pedaços de texto ou montagens de fotos faça referência a quem teve o trabalho e o talento (ou falta dele) par o fazer. Eu não teria nunca problema algum de indicar (se calhar até já o fiz) uma fonte original que fosse de um fórum verde ou azul.

Francamente passei-me um pouco. Peço desculpa a quem possa ter achado de mau gosto algumas palavras que usei. apesar de aligeirar um pouco a linguagem na minha mensagem "indignada" ainda assim não a retirei pois não sou hipócrita e há que passar a mensagem ao lagarto.

E essa é outra. Que fique bem claro que para mim há uma diferença entre lagarto e sportinguista. Conheço ambos os tipos e apenas tenho respeito pelos últimos.

O Decifrando continuará. Tenho sido um pouco preguiçoso mas ideias e material há ainda em quantidade e qualidade. Virão tempos em que o material abundará mais do que o que apareceu nos últimos 2 meses.



RedVC, não querendo esticar-me muito no assunto, visto que aqui é para mim o Museu Virtual do Ser Benfiquista, e só se deve falar do passado do Benfica, qual a diferença para ti entre um "lagarto" como aquele sujeito que copiou o trabalho todo e um sportinguista?



Essa pergunta é pertinente Petrov.


Antes de mais devo dizer que independentemente da questão lagarto / sportinguista há a questão de plagiador. Isso é uma questão moral. É uma questão de decência que é independente de qualquer preferência clubística. Como disse, esse tipo que sucede ser lagarto, para além de não ter a decência de citar a fonte original, usou pedaços enormes de texto e montagens de fotos, recebendo depois elogios como se fosse ele a fazer a pesquisa e a criar esses conteúdos. Vergonhoso.

Agora para responder à questão lagarto / sportinguista, vou justamente ao passado pois há razões que se prendem com a génese e a história inicial dos dois Clubes. Peço desculpa por me alongar mas o assunto é interessante.

O Sporting é um Clube que para mim nasceu torto. Nasceu de uma birra de José Alvalade para com alguns dos seus companheiros do Campo Grande FC. Nasceu sectário e endinheirado, entre uma elite que pretendia ter superioridade sobre tudo e todos. Era nesse tempo um Clube que tinha uma vintena de sócios que admitia ou vetava a entrada de novos sócios (com um arcaico sistema de voto com bolas pretas e bolas brancas) e que detinham todo o poder administrativo em círculo fechado.

Eram uma anedota do ponto de vista desportivo. Não tinham o interesse ou a adesão popular. Tinham por isso de recrutar atletas à base do dinheiro. Esvaziaram o  Império e o CIF (embora outro factor para a desgraça deste tenha sido a debandada dos Ingleses após o início doa I Guerra Mundial).

O Sport Lisboa escapou por pouco pois José de Alvalade investiu sobre nós levando-nos 8 jogadores e mais alguns sócios relevantes do SL para o SCP. Ficamos à beira do colapso mas resistimos por via da vontade férrea de Félix Bermudes, Manuel Gourlade, Cosme Damião, Marcolino Bragança. Luís Vieira, João Persónio e mais alguns. E resistimos essencialmente porque tínhamos a preferência popular maioritária. Resistimos porque tínhamos bases de recrutamento de novos jogadores (miúdos de Belém, de Benfica e antigos casapianos, entre outros) e porque tínhamos capacidade e gente que formava novos jogadores. Resistimos porque tinhamos e temos um Ideal. Gourlade foi um entusiasta associativo mesmo a duras expensas da sua própria situação financeira. Cosme Damião foi um inovador e organizador espantoso durante as duas décadas iniciais. Félix Bermudes apareceu em diversos tempos com o seu génio negocial fundamental nos momentos críticos do Clube, fazendo-o evoluir em moldes que garantiram a sua sustentabilidade. E depois deles vieram muitos outros que nos legaram o Clube que tmeos o privilégio de amar, fazer evoluir e legar cada vez mais Glorioso aos que hão-de vir.

Já no SCP, desde cedo a palavra era invejar o vizinho e recrutar o que fosse possível. E como todos sabemos há numerosos episódios ao longo da História - antigos e recentes - envolvendo jogadores e treinadores. O primeiro de todos foi em 1907, quando José Alvalade para além dos 8 supra-citados, chegou a inscrever gente do Sport Lisboa que já nem estava em Portugal (tal como Manuel Mora e Fortunato Levy!!!) ou que já nem praticava futebol como César de Melo... Ou seja a vontade era tornar grande o SCP à custa do esvaziamento dos outros clubes, usando a força bruta do dinheiro. Não se pretendia formar jogadores mas sim recrutar jogadores consagrados à custa dos outros Clubes.

Na primeira década da existência dos dois Clubes deram-se muitas situações tristes que hoje encontramos diariamente reproduzidas. Por exemplo, a maledicência dos jornais para com o nosso Clube. Sim, isso já era frequente nesse tempo mesmo que a imprensa tivesse moldes diferentes. Aliás eram práticas comuns mesmo à política. A adesão popular precoce de que o nosso Clube beneficiou desde cedo levantou invejas. Cosme Damião e Félix Bermudes desde cedo tiveram de responder a acusações baixas vindas de certos colunistas. Já o SCP - Clube - movia-se a queixas e protestos confrontado que era com insucessos desportivos. Está tudo documentado. Há casos célebres como agressões de um guarda-redes do SCP a jogadores do SLB apenas porque lhe marcaram golos, como uma falta de comparência do SCP no seu próprio terreno num jogo contra o SLB apenas porque não nos achavam "dignos" de frequentar as suas instalações, como o abandono desportivo de mais de um campeonato regional de futebol de 1ª categorias... Etc, etc. O lagartismo desenvolveu-se desce cedo. Nasceu da inveja e do sentimento de inferioridade desportiva e associativa.

Gradualmente, o País foi mudando na sua base social e como seria de esperar foi aparecendo uma crescente adesão popular do SCP. Quem não era do SLB tinha alternativas, entre elas o SCP. O princípio da década de 20 foi um tempo mais diverso, mais saudável em que existiam também forças desportivas poderosa do lado do Beleneneses, do Casa Pia e do Vitória de Setúbal, por exemplo. Nesses anos o SLB decresceu muto em força por via do enfraquecimento que sofreu após a formação do CFB e do Casa Pia AC e também por via de cisões internas e indefinições do nosso modelo de Clube.

Depois, com a emergência do novo regime e com as alterações sociais, desde o final da década de 20, o SCP cresceu, tornando-se uma força poderosa que disputou com o SLB, o FCP e com o CFB, a liderança do futebol Português. Infelizmente, o CFB definhou a partir da década de 50 num processo que para mim ainda está em curso e que acabará de forma triste.

Mas voltando ao SCP, em minha opinião há algo que se manteve sempre constante, transversal  a essas décadas, que é essa pseudo elite que do alto dessa pseudo superioridade moral, desportiva, social, que procurou sempre trancar a liderança do clube a sectores que não fossem desse círculo. Uma elite frequentemente conotada com o antigo regime. É indesmentível. Alberto Miguéns em tempos fez um notável trabalho comparativo entre o SLB e do SCP que dissecou presidentes com factos biográficos, mostrando as ligações para com  poder vigente desses períodos.

Ao invés do que acontecia no SCP, o SLB sempre teve eleições democráticas. No SCP os presidentes eram nomeados dentro dum círculo restrito. O Conselho Leonino ainda hoje existe e existirá pois mesmo que tenha sido tentado o seu esvaziamento por BdC. Estou convencido que o tentarão revigorar num futuro imediato. O SCP é um ninho de círculos elitistas.

Apesar dos recentes acontecimentos, essa pseudo superioridade moral, ética, elitista de certos meios do SCP para com os outros clubes está ainda viva. aliás é uma fraude histórica pois existem episódios suficientes na história deles que os deviam fazer pensar. Um deles envolveu até um presidente que entrou numa cabine dum árbitro com um revolver na mão...

Agora, eu conheço alguns Sportinguistas. Gente que tem dignidade na defesa do seu Clube. Gente que sabe discutir futebol. Gente que ama o seu Clube antes de odiar o adversário. Gente que embora não goste do SLB não fazem do anti-Benfica a sua atitude primária, destrutiva, obsessiva, prioritária. Esses são os lagartos. Não estou com isso a dizer que não existe gente do lado dos Benfiquistas que tem atitudes reprováveis perante Clubes rivais. Agora não conheço é Benfiquistas que antes da vitória do seu Clube coloquem o desejo da derrota dos adversários. Os Benfiquistas que eu conheço colocam acima de tudo o bem do seu Clube.

E assim e para mim. Eu nunca ponho nada à frente da vitória do Sport Lisboa e Benfica. Seja em que modalidade for. Amo o meu Clube antes de tudo. Porque conheço a sua História. Porque conheço a sua evolução nas dificuldade e na ambição. Porque conheço as suas figuras. Porque admiro como souberam lutar contra as dificuldades e desigualdades com que foram confrontados. Porque sempre emanaram da vontade popular. Porque foram a tradução democrática dessa vontade muito antes do País e dos outros Clubes saberem sequer o que era a democracia. Porque como Félix Bermudes escreveu, soube sempre conservar imaculado um Ideal sincero e puro.

Em resumo, os lagartos odeiam o SLB antes de amar o seu Clube. E nem tem problema de o declarar publicamente, expondo-se ao ridículo. Cresci a ouvir os dois tipos de adeptos do SPC e por isso consigo bem diferenciar os dois tipos.


Petrov_Carmovich

Citação de: RedVC em 18 de Agosto de 2018, 09:40
Citação de: Petrov_Carmovich em 18 de Agosto de 2018, 00:57
Citação de: RedVC em 17 de Agosto de 2018, 20:45
Citação de: Ned Kelly em 17 de Agosto de 2018, 19:49
Já não vinha aqui (e ao fórum) há uns tempos. Estive a ler deliciado o material (para mim) novo. Não me canso de agradecer a tua paixão e dedicação. Eu sei o trabalho que dá pesquisar fontes, validar, enfim fazer trabalho, verdadeiro trabalho, de investigação.

Não deixa de ser paradoxal haver um lagarto a roubar daqui. Um clube que forma e atrai gente pequena, invejosa e mesquinha, com numerosas excepções claro, mas onde as referidas excepções são decerto silenciosas em oposição aos grunhos ruidosos que nos entram pelos olhos dentro diariamente na novela mexicana das eleições, destituição, Alcochete e afins.


Obrigado Ned!  O0

Este tópico é aberto e tenho muito gosto que Benfiquistas e não Benfiquistas leiam, gostem, critiquem e usem material que por aqui publico.

Como é fácil ver eu preocupo-me em indicar fontes e se não o faço em algum caso isolado é por ignorância da fonte original ou por esquecimento.

O mínimo que se pode exigir é que quem use pedaços de texto ou montagens de fotos faça referência a quem teve o trabalho e o talento (ou falta dele) par o fazer. Eu não teria nunca problema algum de indicar (se calhar até já o fiz) uma fonte original que fosse de um fórum verde ou azul.

Francamente passei-me um pouco. Peço desculpa a quem possa ter achado de mau gosto algumas palavras que usei. apesar de aligeirar um pouco a linguagem na minha mensagem "indignada" ainda assim não a retirei pois não sou hipócrita e há que passar a mensagem ao lagarto.

E essa é outra. Que fique bem claro que para mim há uma diferença entre lagarto e sportinguista. Conheço ambos os tipos e apenas tenho respeito pelos últimos.

O Decifrando continuará. Tenho sido um pouco preguiçoso mas ideias e material há ainda em quantidade e qualidade. Virão tempos em que o material abundará mais do que o que apareceu nos últimos 2 meses.



RedVC, não querendo esticar-me muito no assunto, visto que aqui é para mim o Museu Virtual do Ser Benfiquista, e só se deve falar do passado do Benfica, qual a diferença para ti entre um "lagarto" como aquele sujeito que copiou o trabalho todo e um sportinguista?



Essa pergunta é pertinente Petrov.


Antes de mais devo dizer que independentemente da questão lagarto / sportinguista há a questão de plagiador. Isso é uma questão moral. É uma questão de decência que é independente de qualquer preferência clubística. Como disse, esse tipo que sucede ser lagarto, para além de não ter a decência de citar a fonte original, usou pedaços enormes de texto e montagens de fotos, recebendo depois elogios como se fosse ele a fazer a pesquisa e a criar esses conteúdos. Vergonhoso.

Agora para responder à questão lagarto / sportinguista, vou justamente ao passado pois há razões que se prendem com a génese e a história inicial dos dois Clubes. Peço desculpa por me alongar mas o assunto é interessante.

O Sporting é um Clube que para mim nasceu torto. Nasceu de uma birra de José Alvalade para com alguns dos seus companheiros do Campo Grande FC. Nasceu sectário e endinheirado, entre uma elite que pretendia ter superioridade sobre tudo e todos. Era nesse tempo um Clube que tinha uma vintena de sócios que admitia ou vetava a entrada de novos sócios (com um arcaico sistema de voto com bolas pretas e bolas brancas) e que detinham todo o poder administrativo em círculo fechado.

Eram uma anedota do ponto de vista desportivo. Não tinham o interesse ou a adesão popular. Tinham por isso de recrutar atletas à base do dinheiro. Esvaziaram o  Império e o CIF (embora outro factor para a desgraça deste tenha sido a debandada dos Ingleses após o início doa I Guerra Mundial).

O Sport Lisboa escapou por pouco pois José de Alvalade investiu sobre nós levando-nos 8 jogadores e mais alguns sócios relevantes do SL para o SCP. Ficamos à beira do colapso mas resistimos por via da vontade férrea de Félix Bermudes, Manuel Gourlade, Cosme Damião, Marcolino Bragança. Luís Vieira, João Persónio e mais alguns. E resistimos essencialmente porque tínhamos a preferência popular maioritária. Resistimos porque tínhamos bases de recrutamento de novos jogadores (miúdos de Belém, de Benfica e antigos casapianos, entre outros) e porque tínhamos capacidade e gente que formava novos jogadores. Resistimos porque tinhamos e temos um Ideal. Gourlade foi um entusiasta associativo mesmo a duras expensas da sua própria situação financeira. Cosme Damião foi um inovador e organizador espantoso durante as duas décadas iniciais. Félix Bermudes apareceu em diversos tempos com o seu génio negocial fundamental nos momentos críticos do Clube, fazendo-o evoluir em moldes que garantiram a sua sustentabilidade. E depois deles vieram muitos outros que nos legaram o Clube que tmeos o privilégio de amar, fazer evoluir e legar cada vez mais Glorioso aos que hão-de vir.

Já no SCP, desde cedo a palavra era invejar o vizinho e recrutar o que fosse possível. E como todos sabemos há numerosos episódios ao longo da História - antigos e recentes - envolvendo jogadores e treinadores. O primeiro de todos foi em 1907, quando José Alvalade para além dos 8 supra-citados, chegou a inscrever gente do Sport Lisboa que já nem estava em Portugal (tal como Manuel Mora e Fortunato Levy!!!) ou que já nem praticava futebol como César de Melo... Ou seja a vontade era tornar grande o SCP à custa do esvaziamento dos outros clubes, usando a força bruta do dinheiro. Não se pretendia formar jogadores mas sim recrutar jogadores consagrados à custa dos outros Clubes.

Na primeira década da existência dos dois Clubes deram-se muitas situações tristes que hoje encontramos diariamente reproduzidas. Por exemplo, a maledicência dos jornais para com o nosso Clube. Sim, isso já era frequente nesse tempo mesmo que a imprensa tivesse moldes diferentes. Aliás eram práticas comuns mesmo à política. A adesão popular precoce de que o nosso Clube beneficiou desde cedo levantou invejas. Cosme Damião e Félix Bermudes desde cedo tiveram de responder a acusações baixas vindas de certos colunistas. Já o SCP - Clube - movia-se a queixas e protestos confrontado que era com insucessos desportivos. Está tudo documentado. Há casos célebres como agressões de um guarda-redes do SCP a jogadores do SLB apenas porque lhe marcaram golos, como uma falta de comparência do SCP no seu próprio terreno num jogo contra o SLB apenas porque não nos achavam "dignos" de frequentar as suas instalações, como o abandono desportivo de mais de um campeonato regional de futebol de 1ª categorias... Etc, etc. O lagartismo desenvolveu-se desce cedo. Nasceu da inveja e do sentimento de inferioridade desportiva e associativa.

Gradualmente, o País foi mudando na sua base social e como seria de esperar foi aparecendo uma crescente adesão popular do SCP. Quem não era do SLB tinha alternativas, entre elas o SCP. O princípio da década de 20 foi um tempo mais diverso, mais saudável em que existiam também forças desportivas poderosa do lado do Beleneneses, do Casa Pia e do Vitória de Setúbal, por exemplo. Nesses anos o SLB decresceu muto em força por via do enfraquecimento que sofreu após a formação do CFB e do Casa Pia AC e também por via de cisões internas e indefinições do nosso modelo de Clube.

Depois, com a emergência do novo regime e com as alterações sociais, desde o final da década de 20, o SCP cresceu, tornando-se uma força poderosa que disputou com o SLB, o FCP e com o CFB, a liderança do futebol Português. Infelizmente, o CFB definhou a partir da década de 50 num processo que para mim ainda está em curso e que acabará de forma triste.

Mas voltando ao SCP, em minha opinião há algo que se manteve sempre constante, transversal  a essas décadas, que é essa pseudo elite que do alto dessa pseudo superioridade moral, desportiva, social, que procurou sempre trancar a liderança do clube a sectores que não fossem desse círculo. Uma elite frequentemente conotada com o antigo regime. É indesmentível. Alberto Miguéns em tempos fez um notável trabalho comparativo entre o SLB e do SCP que dissecou presidentes com factos biográficos, mostrando as ligações para com  poder vigente desses períodos.

Ao invés do que acontecia no SCP, o SLB sempre teve eleições democráticas. No SCP os presidentes eram nomeados dentro dum círculo restrito. O Conselho Leonino ainda hoje existe e existirá pois mesmo que tenha sido tentado o seu esvaziamento por BdC. Estou convencido que o tentarão revigorar num futuro imediato. O SCP é um ninho de círculos elitistas.

Apesar dos recentes acontecimentos, essa pseudo superioridade moral, ética, elitista de certos meios do SCP para com os outros clubes está ainda viva. aliás é uma fraude histórica pois existem episódios suficientes na história deles que os deviam fazer pensar. Um deles envolveu até um presidente que entrou numa cabine dum árbitro com um revolver na mão...

Agora, eu conheço alguns Sportinguistas. Gente que tem dignidade na defesa do seu Clube. Gente que sabe discutir futebol. Gente que ama o seu Clube antes de odiar o adversário. Gente que embora não goste do SLB não fazem do anti-Benfica a sua atitude primária, destrutiva, obsessiva, prioritária. Esses são os lagartos. Não estou com isso a dizer que não existe gente do lado dos Benfiquistas que tem atitudes reprováveis perante Clubes rivais. Agora não conheço é Benfiquistas que antes da vitória do seu Clube coloquem o desejo da derrota dos adversários. Os Benfiquistas que eu conheço colocam acima de tudo o bem do seu Clube.

E assim e para mim. Eu nunca ponho nada à frente da vitória do Sport Lisboa e Benfica. Seja em que modalidade for. Amo o meu Clube antes de tudo. Porque conheço a sua História. Porque conheço a sua evolução nas dificuldade e na ambição. Porque conheço as suas figuras. Porque admiro como souberam lutar contra as dificuldades e desigualdades com que foram confrontados. Porque sempre emanaram da vontade popular. Porque foram a tradução democrática dessa vontade muito antes do País e dos outros Clubes saberem sequer o que era a democracia. Porque como Félix Bermudes escreveu, soube sempre conservar imaculado um Ideal sincero e puro.

Em resumo, os lagartos odeiam o SLB antes de amar o seu Clube. E nem tem problema de o declarar publicamente, expondo-se ao ridículo. Cresci a ouvir os dois tipos de adeptos do SPC e por isso consigo bem diferenciar os dois tipos.



Bom, embora soubesse no fundo qual era a essência da resposta à diferença entre "lagarto" e sportinguista (e eu gostaria que houvesse no futebol português adeptos "istas" mais desportistas, com um espírito mais de fair-play de inspiração inglesa), estava curioso em saber a tua opinião.

A história do clube endinheirado que vai buscar recursos humanos a outros clubes, rivais, por assim dizer, faz-me lembrar um bocado o futebol atual muito caracterizado pelo poder do dinheiro e do capitalismo desportivo onde o clube com mais posses, vai buscar a um clube não tão rico mas com ótima capacidade formadora. É a regra geral, hoje em dia.

Depois, um grupo que se considere elite de alguma coisa, e que tenha bastantes posses normalmente dá para o torto. Não que eu seja contra a existência de pessoas ricas, ou defensoras do capitalismo, pois quando existem grupos sociais de pressão ("lobbies") e são criadas leis que se dispõem a diminuir desigualdades sociais a nível de uma nação, a existência de gente rica com aptidões para ajudar ao bem comum da grande maioria, até pode ser benéfica.

Quanto ao carácter das pessoas, seja alguém com virtudes que são uma constante na sua vida, um plagiador ou um nobre endinheirado com birras de menino, depende sempre das atitudes que queremos ter durante as nossas existências. Resta saber se as atitudes no final de contas, são benéficas ou prejudiciais para nós mesmos e para os outros. É sempre bom fazer introspeções pessoais acerca do que andamos aqui a fazer. Pelo menos todos nós deveríamos fazer isso várias vezes.

Eu, mesmo que pessoalmente não seja um poço de virtudes na vida real e aqui no fórum (todos nós temos críticos à nossas atitudes e até personalidades), prefiro evitar o confronto inútil e tentar chegar a consensos. Claro que se a situação for extrema, temos de engolir medos e enfrentar quem tivermos de enfrentar segundo o que nos foi ensinado de bons e maus exemplos e as experiências pessoais que tivemos, na esperança de que a situação seja bem resolvida e de forma tranquila. Mesmo que para isso tenhamos que cortar relações, semelhante a um blackout mediático...não para criar mais inimizades e guerras, mas para evitar violência verbal ou quiçá física se houver um frente-a-frente daqueles bem quentinhos.

Concluíndo, que já meti aqui um bruto testamento, fiquei totalmente esclarecido, RedVC. Obrigado pela resposta :)

RedVC

#805
Citação de: Petrov_Carmovich em 18 de Agosto de 2018, 20:54
Citação de: RedVC em 18 de Agosto de 2018, 09:40
Citação de: Petrov_Carmovich em 18 de Agosto de 2018, 00:57
Citação de: RedVC em 17 de Agosto de 2018, 20:45
Citação de: Ned Kelly em 17 de Agosto de 2018, 19:49
Já não vinha aqui (e ao fórum) há uns tempos. Estive a ler deliciado o material (para mim) novo. Não me canso de agradecer a tua paixão e dedicação. Eu sei o trabalho que dá pesquisar fontes, validar, enfim fazer trabalho, verdadeiro trabalho, de investigação.

Não deixa de ser paradoxal haver um lagarto a roubar daqui. Um clube que forma e atrai gente pequena, invejosa e mesquinha, com numerosas excepções claro, mas onde as referidas excepções são decerto silenciosas em oposição aos grunhos ruidosos que nos entram pelos olhos dentro diariamente na novela mexicana das eleições, destituição, Alcochete e afins.


Obrigado Ned!  O0

Este tópico é aberto e tenho muito gosto que Benfiquistas e não Benfiquistas leiam, gostem, critiquem e usem material que por aqui publico.

Como é fácil ver eu preocupo-me em indicar fontes e se não o faço em algum caso isolado é por ignorância da fonte original ou por esquecimento.

O mínimo que se pode exigir é que quem use pedaços de texto ou montagens de fotos faça referência a quem teve o trabalho e o talento (ou falta dele) par o fazer. Eu não teria nunca problema algum de indicar (se calhar até já o fiz) uma fonte original que fosse de um fórum verde ou azul.

Francamente passei-me um pouco. Peço desculpa a quem possa ter achado de mau gosto algumas palavras que usei. apesar de aligeirar um pouco a linguagem na minha mensagem "indignada" ainda assim não a retirei pois não sou hipócrita e há que passar a mensagem ao lagarto.

E essa é outra. Que fique bem claro que para mim há uma diferença entre lagarto e sportinguista. Conheço ambos os tipos e apenas tenho respeito pelos últimos.

O Decifrando continuará. Tenho sido um pouco preguiçoso mas ideias e material há ainda em quantidade e qualidade. Virão tempos em que o material abundará mais do que o que apareceu nos últimos 2 meses.



RedVC, não querendo esticar-me muito no assunto, visto que aqui é para mim o Museu Virtual do Ser Benfiquista, e só se deve falar do passado do Benfica, qual a diferença para ti entre um "lagarto" como aquele sujeito que copiou o trabalho todo e um sportinguista?



Essa pergunta é pertinente Petrov.


Antes de mais devo dizer que independentemente da questão lagarto / sportinguista há a questão de plagiador. Isso é uma questão moral. É uma questão de decência que é independente de qualquer preferência clubística. Como disse, esse tipo que sucede ser lagarto, para além de não ter a decência de citar a fonte original, usou pedaços enormes de texto e montagens de fotos, recebendo depois elogios como se fosse ele a fazer a pesquisa e a criar esses conteúdos. Vergonhoso.

Agora para responder à questão lagarto / sportinguista, vou justamente ao passado pois há razões que se prendem com a génese e a história inicial dos dois Clubes. Peço desculpa por me alongar mas o assunto é interessante.

O Sporting é um Clube que para mim nasceu torto. Nasceu de uma birra de José Alvalade para com alguns dos seus companheiros do Campo Grande FC. Nasceu sectário e endinheirado, entre uma elite que pretendia ter superioridade sobre tudo e todos. Era nesse tempo um Clube que tinha uma vintena de sócios que admitia ou vetava a entrada de novos sócios (com um arcaico sistema de voto com bolas pretas e bolas brancas) e que detinham todo o poder administrativo em círculo fechado.

Eram uma anedota do ponto de vista desportivo. Não tinham o interesse ou a adesão popular. Tinham por isso de recrutar atletas à base do dinheiro. Esvaziaram o  Império e o CIF (embora outro factor para a desgraça deste tenha sido a debandada dos Ingleses após o início doa I Guerra Mundial).

O Sport Lisboa escapou por pouco pois José de Alvalade investiu sobre nós levando-nos 8 jogadores e mais alguns sócios relevantes do SL para o SCP. Ficamos à beira do colapso mas resistimos por via da vontade férrea de Félix Bermudes, Manuel Gourlade, Cosme Damião, Marcolino Bragança. Luís Vieira, João Persónio e mais alguns. E resistimos essencialmente porque tínhamos a preferência popular maioritária. Resistimos porque tínhamos bases de recrutamento de novos jogadores (miúdos de Belém, de Benfica e antigos casapianos, entre outros) e porque tínhamos capacidade e gente que formava novos jogadores. Resistimos porque tinhamos e temos um Ideal. Gourlade foi um entusiasta associativo mesmo a duras expensas da sua própria situação financeira. Cosme Damião foi um inovador e organizador espantoso durante as duas décadas iniciais. Félix Bermudes apareceu em diversos tempos com o seu génio negocial fundamental nos momentos críticos do Clube, fazendo-o evoluir em moldes que garantiram a sua sustentabilidade. E depois deles vieram muitos outros que nos legaram o Clube que tmeos o privilégio de amar, fazer evoluir e legar cada vez mais Glorioso aos que hão-de vir.

Já no SCP, desde cedo a palavra era invejar o vizinho e recrutar o que fosse possível. E como todos sabemos há numerosos episódios ao longo da História - antigos e recentes - envolvendo jogadores e treinadores. O primeiro de todos foi em 1907, quando José Alvalade para além dos 8 supra-citados, chegou a inscrever gente do Sport Lisboa que já nem estava em Portugal (tal como Manuel Mora e Fortunato Levy!!!) ou que já nem praticava futebol como César de Melo... Ou seja a vontade era tornar grande o SCP à custa do esvaziamento dos outros clubes, usando a força bruta do dinheiro. Não se pretendia formar jogadores mas sim recrutar jogadores consagrados à custa dos outros Clubes.

Na primeira década da existência dos dois Clubes deram-se muitas situações tristes que hoje encontramos diariamente reproduzidas. Por exemplo, a maledicência dos jornais para com o nosso Clube. Sim, isso já era frequente nesse tempo mesmo que a imprensa tivesse moldes diferentes. Aliás eram práticas comuns mesmo à política. A adesão popular precoce de que o nosso Clube beneficiou desde cedo levantou invejas. Cosme Damião e Félix Bermudes desde cedo tiveram de responder a acusações baixas vindas de certos colunistas. Já o SCP - Clube - movia-se a queixas e protestos confrontado que era com insucessos desportivos. Está tudo documentado. Há casos célebres como agressões de um guarda-redes do SCP a jogadores do SLB apenas porque lhe marcaram golos, como uma falta de comparência do SCP no seu próprio terreno num jogo contra o SLB apenas porque não nos achavam "dignos" de frequentar as suas instalações, como o abandono desportivo de mais de um campeonato regional de futebol de 1ª categorias... Etc, etc. O lagartismo desenvolveu-se desce cedo. Nasceu da inveja e do sentimento de inferioridade desportiva e associativa.

Gradualmente, o País foi mudando na sua base social e como seria de esperar foi aparecendo uma crescente adesão popular do SCP. Quem não era do SLB tinha alternativas, entre elas o SCP. O princípio da década de 20 foi um tempo mais diverso, mais saudável em que existiam também forças desportivas poderosa do lado do Beleneneses, do Casa Pia e do Vitória de Setúbal, por exemplo. Nesses anos o SLB decresceu muto em força por via do enfraquecimento que sofreu após a formação do CFB e do Casa Pia AC e também por via de cisões internas e indefinições do nosso modelo de Clube.

Depois, com a emergência do novo regime e com as alterações sociais, desde o final da década de 20, o SCP cresceu, tornando-se uma força poderosa que disputou com o SLB, o FCP e com o CFB, a liderança do futebol Português. Infelizmente, o CFB definhou a partir da década de 50 num processo que para mim ainda está em curso e que acabará de forma triste.

Mas voltando ao SCP, em minha opinião há algo que se manteve sempre constante, transversal  a essas décadas, que é essa pseudo elite que do alto dessa pseudo superioridade moral, desportiva, social, que procurou sempre trancar a liderança do clube a sectores que não fossem desse círculo. Uma elite frequentemente conotada com o antigo regime. É indesmentível. Alberto Miguéns em tempos fez um notável trabalho comparativo entre o SLB e do SCP que dissecou presidentes com factos biográficos, mostrando as ligações para com  poder vigente desses períodos.

Ao invés do que acontecia no SCP, o SLB sempre teve eleições democráticas. No SCP os presidentes eram nomeados dentro dum círculo restrito. O Conselho Leonino ainda hoje existe e existirá pois mesmo que tenha sido tentado o seu esvaziamento por BdC. Estou convencido que o tentarão revigorar num futuro imediato. O SCP é um ninho de círculos elitistas.

Apesar dos recentes acontecimentos, essa pseudo superioridade moral, ética, elitista de certos meios do SCP para com os outros clubes está ainda viva. aliás é uma fraude histórica pois existem episódios suficientes na história deles que os deviam fazer pensar. Um deles envolveu até um presidente que entrou numa cabine dum árbitro com um revolver na mão...

Agora, eu conheço alguns Sportinguistas. Gente que tem dignidade na defesa do seu Clube. Gente que sabe discutir futebol. Gente que ama o seu Clube antes de odiar o adversário. Gente que embora não goste do SLB não fazem do anti-Benfica a sua atitude primária, destrutiva, obsessiva, prioritária. Esses são os lagartos. Não estou com isso a dizer que não existe gente do lado dos Benfiquistas que tem atitudes reprováveis perante Clubes rivais. Agora não conheço é Benfiquistas que antes da vitória do seu Clube coloquem o desejo da derrota dos adversários. Os Benfiquistas que eu conheço colocam acima de tudo o bem do seu Clube.

E assim e para mim. Eu nunca ponho nada à frente da vitória do Sport Lisboa e Benfica. Seja em que modalidade for. Amo o meu Clube antes de tudo. Porque conheço a sua História. Porque conheço a sua evolução nas dificuldade e na ambição. Porque conheço as suas figuras. Porque admiro como souberam lutar contra as dificuldades e desigualdades com que foram confrontados. Porque sempre emanaram da vontade popular. Porque foram a tradução democrática dessa vontade muito antes do País e dos outros Clubes saberem sequer o que era a democracia. Porque como Félix Bermudes escreveu, soube sempre conservar imaculado um Ideal sincero e puro.

Em resumo, os lagartos odeiam o SLB antes de amar o seu Clube. E nem tem problema de o declarar publicamente, expondo-se ao ridículo. Cresci a ouvir os dois tipos de adeptos do SPC e por isso consigo bem diferenciar os dois tipos.



Bom, embora soubesse no fundo qual era a essência da resposta à diferença entre "lagarto" e sportinguista (e eu gostaria que houvesse no futebol português adeptos "istas" mais desportistas, com um espírito mais de fair-play de inspiração inglesa), estava curioso em saber a tua opinião.

A história do clube endinheirado que vai buscar recursos humanos a outros clubes, rivais, por assim dizer, faz-me lembrar um bocado o futebol atual muito caracterizado pelo poder do dinheiro e do capitalismo desportivo onde o clube com mais posses, vai buscar a um clube não tão rico mas com ótima capacidade formadora. É a regra geral, hoje em dia.

Depois, um grupo que se considere elite de alguma coisa, e que tenha bastantes posses normalmente dá para o torto. Não que eu seja contra a existência de pessoas ricas, ou defensoras do capitalismo, pois quando existem grupos sociais de pressão ("lobbies") e são criadas leis que se dispõem a diminuir desigualdades sociais a nível de uma nação, a existência de gente rica com aptidões para ajudar ao bem comum da grande maioria, até pode ser benéfica.

Quanto ao carácter das pessoas, seja alguém com virtudes que são uma constante na sua vida, um plagiador ou um nobre endinheirado com birras de menino, depende sempre das atitudes que queremos ter durante as nossas existências. Resta saber se as atitudes no final de contas, são benéficas ou prejudiciais para nós mesmos e para os outros. É sempre bom fazer introspeções pessoais acerca do que andamos aqui a fazer. Pelo menos todos nós deveríamos fazer isso várias vezes.

Eu, mesmo que pessoalmente não seja um poço de virtudes na vida real e aqui no fórum (todos nós temos críticos à nossas atitudes e até personalidades), prefiro evitar o confronto inútil e tentar chegar a consensos. Claro que se a situação for extrema, temos de engolir medos e enfrentar quem tivermos de enfrentar segundo o que nos foi ensinado de bons e maus exemplos e as experiências pessoais que tivemos, na esperança de que a situação seja bem resolvida e de forma tranquila. Mesmo que para isso tenhamos que cortar relações, semelhante a um blackout mediático...não para criar mais inimizades e guerras, mas para evitar violência verbal ou quiçá física se houver um frente-a-frente daqueles bem quentinhos.

Concluíndo, que já meti aqui um bruto testamento, fiquei totalmente esclarecido, RedVC. Obrigado pela resposta :)

Tens uma ótima cabeça Petrov. Com boas vibrações e uma atitude positiva e construtiva neste fórum. É um prazer trocar ideias com membros como tu.  O0



Não querendo fazer outro testamento ficam aqui umas adições à História inicial do SCP para o caso de alguns dos leitores daqui terem curiosidade.

OU também para "picar" o lagarto plagiador quando aqui vier buscar mais material. Vai-se irritar com esta visão da história inicial do SCP escrita por um Indefectível Benfiquista. Temos pena.  :coolsmiley:



Em 1907, os Clubes Portugueses que praticavam preferencialmente o futebol estavam a definir-se. Não havia praticamente estrutura nem organização no futebol nacional. Nem sequer havia uma Associação de Futebol (uma proto AFL surgiu apenas em 1910).

O futebol era incipiente mas já havia rivalidades. Nesse tempo, os Ingleses estavam acima de tudo. A verdadeira rivalidade era entre o Sport Lisboa e o CIF. O aparecimento do SCP foi uma anomalia pois tinham condições impressionantes para a época. Estreavam uma bola nova em cada jogo (às vezes em cada parte) quando nós comprávamos uma em 2ª mão aos Ingleses. Tinham água quente, balneários, roupas limpas ao intervalo. Tinham tudo mas faltava o apoio e a competência e competitividade desportiva. Naturalmente que procuraram compra-la. Falharam durante alguns anos pois rapidamente os jogadores que nos vieram buscar entraram em declínio físico. Um deles - Henrique Costa - até voltou pois tinha real amor ao nosso Clube. E foi esse o factor distintivo. Tínhamos as massas, o amor à camisola que surgiu muito cedo e a vontade de resistir definiu o nosso ADN.

O que me surpreende foi que desde cedo e não obstante serem endinheirados, o SCP frustrado com os insucessos sucessivos nos jogos contra nós entrou numa espiral de contestação e de birras - como descrevi anteriormente. Em 1914 deram-nos um novo golpe ao contratar o nosso melhor jogador e o melhor (durante décadas) do futebol Português: Artur José Pereira. Foi chocante pois fizeram isso à socapa, atitude que causou escândalo pois alguns meses antes o SLB tinha recusado recrutar Jaime Cadete, jogador do SCP que se tinha vindo oferecer a nós. De forma leal informamos o SCP e não aceitamos o jogador. Em troca... Esse episódio definiu os dois Clubes e acirrou a rivalidade.

Mas curiosamente o SCP rapidamente entrou também em convulsões internas. Poucos sabem mas José Alvalade saiu do SCP e houve mesmo questões tristes (de que desconheço detalhes) relativas a um contrato de arrendamento para construção de um novo campo de jogos. José de Alvalade julgava-se dono do Clube. Ele aliás tinha pago as contas por isso... Só quando a oposição arranjou uma alternativa (Campo Grande) é que se livraram de José de Alvalade... E ele pelo que sei saiu de sócio. Infelizmente morreria muito cedo. Afastou-se em 1916 e morreu em 1918. Salvo o erro, penso que não era sócio quando faleceu. Era um Clube muito conflituoso nesse tempo. Ou seja eles andaram à porrada com rivais e logo depois entre eles. Soa familiar? É o Sporting...


Petrov_Carmovich

Citação de: RedVC em 18 de Agosto de 2018, 21:56
Citação de: Petrov_Carmovich em 18 de Agosto de 2018, 20:54
Citação de: RedVC em 18 de Agosto de 2018, 09:40
Citação de: Petrov_Carmovich em 18 de Agosto de 2018, 00:57
Citação de: RedVC em 17 de Agosto de 2018, 20:45
Citação de: Ned Kelly em 17 de Agosto de 2018, 19:49
Já não vinha aqui (e ao fórum) há uns tempos. Estive a ler deliciado o material (para mim) novo. Não me canso de agradecer a tua paixão e dedicação. Eu sei o trabalho que dá pesquisar fontes, validar, enfim fazer trabalho, verdadeiro trabalho, de investigação.

Não deixa de ser paradoxal haver um lagarto a roubar daqui. Um clube que forma e atrai gente pequena, invejosa e mesquinha, com numerosas excepções claro, mas onde as referidas excepções são decerto silenciosas em oposição aos grunhos ruidosos que nos entram pelos olhos dentro diariamente na novela mexicana das eleições, destituição, Alcochete e afins.


Obrigado Ned!  O0

Este tópico é aberto e tenho muito gosto que Benfiquistas e não Benfiquistas leiam, gostem, critiquem e usem material que por aqui publico.

Como é fácil ver eu preocupo-me em indicar fontes e se não o faço em algum caso isolado é por ignorância da fonte original ou por esquecimento.

O mínimo que se pode exigir é que quem use pedaços de texto ou montagens de fotos faça referência a quem teve o trabalho e o talento (ou falta dele) par o fazer. Eu não teria nunca problema algum de indicar (se calhar até já o fiz) uma fonte original que fosse de um fórum verde ou azul.

Francamente passei-me um pouco. Peço desculpa a quem possa ter achado de mau gosto algumas palavras que usei. apesar de aligeirar um pouco a linguagem na minha mensagem "indignada" ainda assim não a retirei pois não sou hipócrita e há que passar a mensagem ao lagarto.

E essa é outra. Que fique bem claro que para mim há uma diferença entre lagarto e sportinguista. Conheço ambos os tipos e apenas tenho respeito pelos últimos.

O Decifrando continuará. Tenho sido um pouco preguiçoso mas ideias e material há ainda em quantidade e qualidade. Virão tempos em que o material abundará mais do que o que apareceu nos últimos 2 meses.



RedVC, não querendo esticar-me muito no assunto, visto que aqui é para mim o Museu Virtual do Ser Benfiquista, e só se deve falar do passado do Benfica, qual a diferença para ti entre um "lagarto" como aquele sujeito que copiou o trabalho todo e um sportinguista?



Essa pergunta é pertinente Petrov.


Antes de mais devo dizer que independentemente da questão lagarto / sportinguista há a questão de plagiador. Isso é uma questão moral. É uma questão de decência que é independente de qualquer preferência clubística. Como disse, esse tipo que sucede ser lagarto, para além de não ter a decência de citar a fonte original, usou pedaços enormes de texto e montagens de fotos, recebendo depois elogios como se fosse ele a fazer a pesquisa e a criar esses conteúdos. Vergonhoso.

Agora para responder à questão lagarto / sportinguista, vou justamente ao passado pois há razões que se prendem com a génese e a história inicial dos dois Clubes. Peço desculpa por me alongar mas o assunto é interessante.

O Sporting é um Clube que para mim nasceu torto. Nasceu de uma birra de José Alvalade para com alguns dos seus companheiros do Campo Grande FC. Nasceu sectário e endinheirado, entre uma elite que pretendia ter superioridade sobre tudo e todos. Era nesse tempo um Clube que tinha uma vintena de sócios que admitia ou vetava a entrada de novos sócios (com um arcaico sistema de voto com bolas pretas e bolas brancas) e que detinham todo o poder administrativo em círculo fechado.

Eram uma anedota do ponto de vista desportivo. Não tinham o interesse ou a adesão popular. Tinham por isso de recrutar atletas à base do dinheiro. Esvaziaram o  Império e o CIF (embora outro factor para a desgraça deste tenha sido a debandada dos Ingleses após o início doa I Guerra Mundial).

O Sport Lisboa escapou por pouco pois José de Alvalade investiu sobre nós levando-nos 8 jogadores e mais alguns sócios relevantes do SL para o SCP. Ficamos à beira do colapso mas resistimos por via da vontade férrea de Félix Bermudes, Manuel Gourlade, Cosme Damião, Marcolino Bragança. Luís Vieira, João Persónio e mais alguns. E resistimos essencialmente porque tínhamos a preferência popular maioritária. Resistimos porque tínhamos bases de recrutamento de novos jogadores (miúdos de Belém, de Benfica e antigos casapianos, entre outros) e porque tínhamos capacidade e gente que formava novos jogadores. Resistimos porque tinhamos e temos um Ideal. Gourlade foi um entusiasta associativo mesmo a duras expensas da sua própria situação financeira. Cosme Damião foi um inovador e organizador espantoso durante as duas décadas iniciais. Félix Bermudes apareceu em diversos tempos com o seu génio negocial fundamental nos momentos críticos do Clube, fazendo-o evoluir em moldes que garantiram a sua sustentabilidade. E depois deles vieram muitos outros que nos legaram o Clube que tmeos o privilégio de amar, fazer evoluir e legar cada vez mais Glorioso aos que hão-de vir.

Já no SCP, desde cedo a palavra era invejar o vizinho e recrutar o que fosse possível. E como todos sabemos há numerosos episódios ao longo da História - antigos e recentes - envolvendo jogadores e treinadores. O primeiro de todos foi em 1907, quando José Alvalade para além dos 8 supra-citados, chegou a inscrever gente do Sport Lisboa que já nem estava em Portugal (tal como Manuel Mora e Fortunato Levy!!!) ou que já nem praticava futebol como César de Melo... Ou seja a vontade era tornar grande o SCP à custa do esvaziamento dos outros clubes, usando a força bruta do dinheiro. Não se pretendia formar jogadores mas sim recrutar jogadores consagrados à custa dos outros Clubes.

Na primeira década da existência dos dois Clubes deram-se muitas situações tristes que hoje encontramos diariamente reproduzidas. Por exemplo, a maledicência dos jornais para com o nosso Clube. Sim, isso já era frequente nesse tempo mesmo que a imprensa tivesse moldes diferentes. Aliás eram práticas comuns mesmo à política. A adesão popular precoce de que o nosso Clube beneficiou desde cedo levantou invejas. Cosme Damião e Félix Bermudes desde cedo tiveram de responder a acusações baixas vindas de certos colunistas. Já o SCP - Clube - movia-se a queixas e protestos confrontado que era com insucessos desportivos. Está tudo documentado. Há casos célebres como agressões de um guarda-redes do SCP a jogadores do SLB apenas porque lhe marcaram golos, como uma falta de comparência do SCP no seu próprio terreno num jogo contra o SLB apenas porque não nos achavam "dignos" de frequentar as suas instalações, como o abandono desportivo de mais de um campeonato regional de futebol de 1ª categorias... Etc, etc. O lagartismo desenvolveu-se desce cedo. Nasceu da inveja e do sentimento de inferioridade desportiva e associativa.

Gradualmente, o País foi mudando na sua base social e como seria de esperar foi aparecendo uma crescente adesão popular do SCP. Quem não era do SLB tinha alternativas, entre elas o SCP. O princípio da década de 20 foi um tempo mais diverso, mais saudável em que existiam também forças desportivas poderosa do lado do Beleneneses, do Casa Pia e do Vitória de Setúbal, por exemplo. Nesses anos o SLB decresceu muto em força por via do enfraquecimento que sofreu após a formação do CFB e do Casa Pia AC e também por via de cisões internas e indefinições do nosso modelo de Clube.

Depois, com a emergência do novo regime e com as alterações sociais, desde o final da década de 20, o SCP cresceu, tornando-se uma força poderosa que disputou com o SLB, o FCP e com o CFB, a liderança do futebol Português. Infelizmente, o CFB definhou a partir da década de 50 num processo que para mim ainda está em curso e que acabará de forma triste.

Mas voltando ao SCP, em minha opinião há algo que se manteve sempre constante, transversal  a essas décadas, que é essa pseudo elite que do alto dessa pseudo superioridade moral, desportiva, social, que procurou sempre trancar a liderança do clube a sectores que não fossem desse círculo. Uma elite frequentemente conotada com o antigo regime. É indesmentível. Alberto Miguéns em tempos fez um notável trabalho comparativo entre o SLB e do SCP que dissecou presidentes com factos biográficos, mostrando as ligações para com  poder vigente desses períodos.

Ao invés do que acontecia no SCP, o SLB sempre teve eleições democráticas. No SCP os presidentes eram nomeados dentro dum círculo restrito. O Conselho Leonino ainda hoje existe e existirá pois mesmo que tenha sido tentado o seu esvaziamento por BdC. Estou convencido que o tentarão revigorar num futuro imediato. O SCP é um ninho de círculos elitistas.

Apesar dos recentes acontecimentos, essa pseudo superioridade moral, ética, elitista de certos meios do SCP para com os outros clubes está ainda viva. aliás é uma fraude histórica pois existem episódios suficientes na história deles que os deviam fazer pensar. Um deles envolveu até um presidente que entrou numa cabine dum árbitro com um revolver na mão...

Agora, eu conheço alguns Sportinguistas. Gente que tem dignidade na defesa do seu Clube. Gente que sabe discutir futebol. Gente que ama o seu Clube antes de odiar o adversário. Gente que embora não goste do SLB não fazem do anti-Benfica a sua atitude primária, destrutiva, obsessiva, prioritária. Esses são os lagartos. Não estou com isso a dizer que não existe gente do lado dos Benfiquistas que tem atitudes reprováveis perante Clubes rivais. Agora não conheço é Benfiquistas que antes da vitória do seu Clube coloquem o desejo da derrota dos adversários. Os Benfiquistas que eu conheço colocam acima de tudo o bem do seu Clube.

E assim e para mim. Eu nunca ponho nada à frente da vitória do Sport Lisboa e Benfica. Seja em que modalidade for. Amo o meu Clube antes de tudo. Porque conheço a sua História. Porque conheço a sua evolução nas dificuldade e na ambição. Porque conheço as suas figuras. Porque admiro como souberam lutar contra as dificuldades e desigualdades com que foram confrontados. Porque sempre emanaram da vontade popular. Porque foram a tradução democrática dessa vontade muito antes do País e dos outros Clubes saberem sequer o que era a democracia. Porque como Félix Bermudes escreveu, soube sempre conservar imaculado um Ideal sincero e puro.

Em resumo, os lagartos odeiam o SLB antes de amar o seu Clube. E nem tem problema de o declarar publicamente, expondo-se ao ridículo. Cresci a ouvir os dois tipos de adeptos do SPC e por isso consigo bem diferenciar os dois tipos.



Bom, embora soubesse no fundo qual era a essência da resposta à diferença entre "lagarto" e sportinguista (e eu gostaria que houvesse no futebol português adeptos "istas" mais desportistas, com um espírito mais de fair-play de inspiração inglesa), estava curioso em saber a tua opinião.

A história do clube endinheirado que vai buscar recursos humanos a outros clubes, rivais, por assim dizer, faz-me lembrar um bocado o futebol atual muito caracterizado pelo poder do dinheiro e do capitalismo desportivo onde o clube com mais posses, vai buscar a um clube não tão rico mas com ótima capacidade formadora. É a regra geral, hoje em dia.

Depois, um grupo que se considere elite de alguma coisa, e que tenha bastantes posses normalmente dá para o torto. Não que eu seja contra a existência de pessoas ricas, ou defensoras do capitalismo, pois quando existem grupos sociais de pressão ("lobbies") e são criadas leis que se dispõem a diminuir desigualdades sociais a nível de uma nação, a existência de gente rica com aptidões para ajudar ao bem comum da grande maioria, até pode ser benéfica.

Quanto ao carácter das pessoas, seja alguém com virtudes que são uma constante na sua vida, um plagiador ou um nobre endinheirado com birras de menino, depende sempre das atitudes que queremos ter durante as nossas existências. Resta saber se as atitudes no final de contas, são benéficas ou prejudiciais para nós mesmos e para os outros. É sempre bom fazer introspeções pessoais acerca do que andamos aqui a fazer. Pelo menos todos nós deveríamos fazer isso várias vezes.

Eu, mesmo que pessoalmente não seja um poço de virtudes na vida real e aqui no fórum (todos nós temos críticos à nossas atitudes e até personalidades), prefiro evitar o confronto inútil e tentar chegar a consensos. Claro que se a situação for extrema, temos de engolir medos e enfrentar quem tivermos de enfrentar segundo o que nos foi ensinado de bons e maus exemplos e as experiências pessoais que tivemos, na esperança de que a situação seja bem resolvida e de forma tranquila. Mesmo que para isso tenhamos que cortar relações, semelhante a um blackout mediático...não para criar mais inimizades e guerras, mas para evitar violência verbal ou quiçá física se houver um frente-a-frente daqueles bem quentinhos.

Concluíndo, que já meti aqui um bruto testamento, fiquei totalmente esclarecido, RedVC. Obrigado pela resposta :)

Tens uma ótima cabeça Petrov. Com boas vibrações e uma atitude positiva e construtiva neste fórum. É um prazer trocar ideias com membros como tu.  O0



Não querendo fazer outro testamento ficam aqui umas adições à História inicial do SCP para o caso de alguns dos leitores daqui terem curiosidade.

OU também para "picar" o lagarto plagiador quando aqui vier buscar mais material. Vai-se irritar com esta visão da história inicial do SCP escrita por um Indefectível Benfiquista. Temos pena.  :coolsmiley:



Em 1907, os Clubes Portugueses que praticavam preferencialmente o futebol estavam a definir-se. Não havia praticamente estrutura nem organização no futebol nacional. Nem sequer havia uma Associação de Futebol (uma proto AFL surgiu apenas em 1910).

O futebol era incipiente mas já havia rivalidades. Nesse tmepo, os Ingleses estavam acima de tudo. A verdadeira rivalidade era entre o Sport Lisboa e o CIF. O aparecimento do SCP foi uma anomalia pois tinham condições impressionantes para a época. Estreavam uma bola nova em cada jogo (às vezes em cada parte) quando nós comprávamos uma em 2ª mão aos Ingleses. Tinham água quente, balneários, roupas limpas ao intervalo. Tinham tudo mas faltava o apoio e a competência e competitividade desportiva. Naturalmente que procuraram compra-la. Falharam durante alguns anos pois rapidamente os jogadores que nos vieram buscar entraram em declínio físico. Um deles - Henrique Teixeira - até voltou pois tinha real amor ao nosso Clube. E foi esse o factor distintivo. Tínhamos as massas, o amor à camisola que surgiu muito cedo e a vontade de resistir definiu o nosso ADN.

O que me surpreende foi que desde cedo e não obstante serem endinheirados, o SCP frustrado com os insucessos sucessivos nos jogos contra nós entrou numa espiral de contestação e de birras - como descrevi anteriormente. Em 1914 deram-nos um novo golpe ao contratar o nosso melhor jogador e o melhor (durante décadas) do futebol Português: Artur José Pereira. Foi chocante pois fizeram isso à socapa, atitude que causou escândalo pois alguns meses antes o SLB tinha recusado recrutar Jaime Cadete, jogador do SCP que se tinha vindo oferecer a nós. De forma leal informamos o SCP e não aceitamos o jogador. Em troca... Esse episódio definiu os dois Clubes e acirrou a rivalidade.

Mas curiosamente o SCP rapidamente entrou também em convulsões internas. Poucos sabem mas José Alvalade saiu do SCP e houve mesmo questões tristes (de que desconheço detalhes) relativas a um contrato de arrendamento para construção de um novo campo de jogos. José de Alvalade julgava-se dono do Clube. Ele aliás tinha pago as contas por isso... Só quando a oposição arranjou uma alternativa (Campo Grande) é que se livraram de José de Alvalade... E ele pelo que sei saiu de sócio. Infelizmente morreria muito cedo. Afastou-se em 1916 e morreu em 1918. Salvo o erro, penso que não era sócio quando faleceu. Era um Clube muito conflituoso nesse tempo. Ou seja eles andaram à porrada com rivais e logo depois entre eles. Soa familiar? É o Sporting...



Obrigado pela parte que me toca, RedVC. :) Quando quiseres trocar ideias seja nos tópicos ou por mensagem privada, eu vou dando aqui um salto de tempos a tempos.

Quanto ao resto, não tenho grande coisa a comentar, exceto que apesar de haver personalidades que estiveram ligadas ao Sporting que admiro (casos de Carlos Lopes e Joaquim Agostinho), tenho pena que este clube esteja ligado a vários casos de gente com carácter duvidoso, incluído nos seus primórdios e na pessoa do seu principal fundador.

Se alguém ou algum grupo desportivo quer ser grande como os grandes da Europa (quiçá do Mundo), como afirmou o José de Alvalade (a quem tenho somente pena de ter falecido com a maldita gripe espanhola que matou milhões após a 1ª Guerra Mundial) tem sempre de começar por dentro de si mesmo(s). Alma. Espírito. Coração.  :smitten:

RedVC

#807
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Nas escadarias da Quinta Nova (parte I) – Uma fotografia histórica


Dia 4 de Maio de 1935. Escadaria da porta principal da Quinta Nova de Santo António em Carcavelos.



Fonte: Delcampe


Um grupo de jogadores e dirigentes que então integravam a Selecção Nacional de Futebol Portuguesa, posa para a fotografia nesse local de grande simbolismo para o Futebol Português.



A fachada principal da Quinta Nova ou Quinta de Santo António ou Quinta dos Ingleses em Carcavellos. Fonte: carcavelos.com



No dia seguinte a nossa Selecção jogaria mais uma partida importante contra a equipa Nacional de Espanha, selecção que até então nunca tínhamos derrotado. Cândido de Oliveira, então seleccionador nacional, para lá de um homem de grande cultura, era também um conhecedor profundo da História do Futebol Português. Cândido sabia bem da importância e do simbolismo daquelas escadarias.


Mas qual a razão de por ali estar a nossa equipa nacional de futebol?


O facto é que nessa década de 30 era frequente a FPF aceitar a hospitalidade dos Ingleses da Quinta Nova, para que a nossa Selecção por lá estagiasse nas fases finais de preparação para a disputa de importantes jogos internacionais. Acresce a dizer que essa era também a Quinta onde algumas décadas antes tinham acontecido alguns dos jogos mais importantes do início da Historia do Futebol Português. Um local carregado da mística do Futebol. Mas lá iremos.

Assim, não admira que mestre Cândido tenha pretendido posar ali, com os seus atletas, talvez para ganhar inspiração e forças para o embate do dia seguinte. Esse jogo, que foi disputado no Estádio do Lumiar (então utilizado pelo SCP), acabaria com um empolgante empate a 3 bolas, isto depois da equipa Portuguesa ter estado a perder por 0-3!




A equipa nacional Portuguesa que participou no IV Portugal - Espanha. Os jogadores Benfiquistas estão nomeados.



Nessa selecção estiveram presentes seis jogadores Benfiquistas sendo que quatro entraram em jogo, a saber: Gustavo Teixeira (capitão), Francisco Albino, Vítor Silva e Alfredo Valadas (que entrou como suplente, durante o jogo). Jogou também um antigo Benfiquista, o guarda-redes Dyson que nessa altura jogava á se tinha transferido para o SCP.

Mas agora atentemos em alguns detalhes da fotografia com que iniciamos este texto. Atentemos nos cinco homens sentados da primeira fila:




Da esquerda para a direita podemos reconhecer Gustavo Teixeira o nosso jogador e então capitão da equipa nacional Portuguesa, o Dr. Cruz Filipe (presidente da FPF), um anfitrião Inglês (que presumo ser o Major Montgomery, na altura Director da Eastern Telegraph Co), Mestre Cândido Oliveira (seleccionador nacional) e por fim o grande Artur José Pereira.

Desconheço os motivos da presença de Artur José Pereira (AJP) mas é possível que ele ajudasse Cândido de Oliveira na Direcção técnica da Selecção Nacional. Talvez tenha estado presente por conservar o prestígio dos seus tempos de jogador, isto apesar de já estar retirado das competições há mais de uma década.

Recordando, até à década de 50, Artur José Pereira foi considerado por muitos como o melhor jogador do Futebol Português. Pelos relatos que nos chegaram, tinha um explosivo com a bola nos pés, cheio de técnica e ao qual juntava um temperamento muito competitivo, muitas vezes conflituoso. Foi um futebolista que espantou todos pela classe e carisma com que jogou. O primeiro verdadeiro craque do futebol Português.

Ao longo da sua carreira envergou as camisolas do Sport União Belenense, FC Cruz Negra, Sport Lisboa e Benfica, Associação de Futebol de Lisboa, Sporting Clube de Portugal, Clube de Futebol "os Belenenses" e (de forma circunstancial) o Futebol Clube do Porto... Já por aqui falamos de algum do seu notável percurso futebolístico, com a revelação de uma rara e notável fotografia dos seus tempos de menino futebolista no extinto Sport União Belenense (ver –108- Olhos de fogo, coração de Belém)



Artur José Pereira, (Belém, 15/10/1888 – Belém, 6/09/1943), um trajecto notável e controverso.


Apesar de nunca terem jogado juntos no SLB, a amizade entre estes dois homens era antiga e em breve teria um novo capítulo pois logo no ano seguinte, Cândido de Oliveira substituiu Artur José Pereira no comando técnico do Belenenses. Esta substituição ocorreria por via da grave doença, que aliás se tornaria fatal na década seguinte. Esse facto levou a que Mestre Cândido prescindisse do seu ordenado em favor de AJP! Cândido de Oliveira era um Homem superior.

Por opção própria muito cedo se tornaram dois ex-Benfiquistas. A sua saída do Sport Lisboa e Benfica seria definitiva. Nunca mais regressaram ou no caso de Cândido de Oliveira, nunca mais o deixaram regressar. Fora do Benfica, mantiveram o brilho da sua contribuição para o Futebol Português. Mas independentemente dos caminhos que percorreram foi no Ideal Benfiquista, na sua natureza ganhadora e nos conhecimentos desportivos de Cosme Damião que se formaram, que definiram a sua matriz formativa, competitiva e ganhadora. Para quem queira saber mais sobre eles, recomendo a leitura do texto -37- Três gigantes, três caminhos separados.



Cândido de Oliveira e Artur José Pereira durante o tempo em que o primeiro treinou o CFB (1936-1938). Fonte: Hemeroteca de Lisboa.



Enquanto jogador do Sport Lisboa e Benfica, AJP terá tido as suas exibições mais memoráveis, em Portugal e em Espanha. No total cumpriu 7 anos com o manto sagrado, com intenso brilho mas também com frequentes sombras.

Alguma imaturidade e alguma soberba vinda da consciência da superioridade do seu futebol explicam que AJP tenha entrado muitas vezes em choque com Cosme Damião. Os dois eram as grandes figuras do futebol Benfiquista, os mais carismáticos e no entanto os que tinham as personalidades mais opostas.

Cosme Damião era simultaneamente colega de equipa e capitão geral (treinador) de AJP. Nessas funções Cosme mostrou-se sempre um desportista aprumado, metódico, exigente, justo e competente que punia com vigor a indisciplina e as atitudes irreflectidas, por vezes até malcriadas. Para Cosme o Clube esteve sempre acima de qualquer individualidade. Durante alguns anos AJP aceitou essa autoridade mas ao fim de alguns anos a relação começou a mudar.

A rotura definitiva chegaria em meados de 1914, depois da Direcção do SLB impor mais uma punição a AJP. Seguiu-se uma proposta tentadora do SCP e AJP mudou do vermelho para o verde. Saiu pela porta pequena; saiu como um traidor, numa deserção que foi um escândalo para os padrões da época.

Apesar desse triste corte, entre as memórias mais inesquecíveis do futebol Benfiquista desse período, destaca-se a estrondosa vitória do SLB sobre os sobre os Mestres Ingleses do Carcavellos Club. Uma vitória (1-0) no dia 18 de Fevereiro de 1911, em plena Quinta Nova (ver -102- Os primeiros troféus (parte II) – os Costas de Belém)!



Aspectos da grande vitória SLB sobre o Carcavellos Club por 1-0 no dia 18 de Fevereiro de 1911.



No próximo texto falaremos com outro detalhe sobre estes Mestres Ingleses do Carcavellos Club e da Quinta Nova em Carcavelos. Mas antes há que os contextualizar na génese do Futebol em Portugal, recordando os pioneiros Portugueses.




A Rua do Cabo submarino e a fachada principal da Quinta Nova em Carcavelos em postais da época. Fonte: carcavelos.com



Pioneiros Lusos do Futebol Português


Em Portugal, o futebol foi inicialmente um jogo praticado por miúdos das classes mais favorecidas. De facto, tanto em Lisboa como no Porto, a introdução e prática inicial do Futebol deveu-se à acção voluntarista de alguns miúdos com recursos e tempo livre para o fazer. Do que se conhece, o jogo foi trazido para Portugal por alguns desses miúdos que o tinha visto e praticado enquanto estudantes em Colégios Ingleses.



Fonte: Torre do Tombo e AML



E assim, por volta de 1888, os manos Pinto Basto (Guilherme, Eduardo e Frederico), fascinados com a dimensão desportiva e económica que o futebol tinha nas ilhas Britânicas nesse final do século XIX, ao regressarem a Portugal, trouxeram e divulgaram o Jogo. E, detalhe muito importante, na sua bagagem trouxeram bolas de futebol, então um raro objecto mas fundamental para o Jogo. Pela sua acção e entusiasmo, as famílias Pinto Basto e Villar tiveram diversos membros a quem o Futebol Português muito deve.





A Famílias Pinto Basto e Vilar deram-nos alguns dos mais ilustres pioneiros da génese do Futebol em Portugal. Fonte: AML



Nesses tempos iniciais, o Futebol era jocosamente apelidado pelos populares Portugueses como o "jogo do coice" ou o "jogo dos Ingleses. Havia uma conotação negativa sobre o Jogo que aliás era visto como malicioso para a saúde da juventude. E pior se tornou aquando do Ultimatum Inglês (ver: http://ensina.rtp.pt/artigo/ultimato-ingles/).

Inevitavelmente, o Futebol teria de aguardar uma nova explosão. Essa veio a ocorrer com uma nova geração de entusiastas, no princípio do século XX. Seria essa nova geração que estaria na base da popularização do Futebol, pela adopção do Jogo pelas classes menos favorecidas. Entre eles, os mais notáveis foram os estudantes Casapianos de Lisboa, muitos dos passaram a integrar o Sport Lisboa logo nos primeiros dias depois do Acto Fundador de 28 de Fevereiro de 1904.

Em termos associativos, os primeiros clubes Portugueses que praticaram o Jogo foram o Club Lisbonense (de que ainda hoje é herdeiro directo o CIF e que ainda tem futebol de formação e amador) e o Ginásio Club Português (ainda bem vivo embora sem a prática do futebol). Chegou a haver um campeonato que com algumas irregularidades de calendário, chegou a movimentar quase uma dezena de clubes ou Grupos como então se chamavam.

No princípio do século XX deu-se um novo renascimentos, formando-se e desfazendo-se muitos outros clubes, os mais notáveis dos quais foram o Campo Ourique FC, o Império FC, o Cruz Negra FC e principalmente o nosso Sport Lisboa. Este último, ainda radicado em Belém, resultou de uma notável associação entre miúdos de diversas classes sociais que residiam de Belém reforçada mais tarde por antigos estudantes casapianos, então já prestigiados praticantes de futebol e por operários do Arsenal da Marinha. Tinha nascido o Glorioso Sport Lisboa e Benfica!




Fonte: AML



No próximo texto falaremos enfim da importância dos pioneiros Ingleses na génese e divulgação do Futebol em Portugal. Em particular falaremos no mais notável de todos os Clubes de Ingleses em Portugal: o Carcavellos Club. Falaremos também, ainda que brevemente, de alguns dos seus épicos confrontos com o Sport Lisboa e Benfica!




RedVC

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Nas escadarias da Quinta Nova (parte II) – Os Mestres Ingleses de Carcavelos.



Quatro das colectividades que foram total ou essencialmente constituídas por atletas Ingleses. O seu papel foi fundamental para a génese e difusão do Futebol em Portugal. Fonte: hemeroteca de Lisboa.



Ao mesmo tempo (se não antes...) dos Portugueses, diversos membros da comunidade Inglesa no Porto e em Lisboa deram também uma contribuição fundamental para a difusão do Futebol em Portugal. Eram geralmente empregados de empresas Inglesas com representação e actividade comercial em Portugal, que praticavam o Futebol entre outras das numerosas actividades sociais e desportivas promovidas pelos seus Clubes.


Na cidade do Porto o mais notável dos clubes Ingleses foi o Oporto Cricket Lawn-Tennis Club (fundado em 1855 mas que ainda hoje existe) inicialmente implantado na zona do Candal em Gaia e mais tarde sediado em Campo Alegre, ver: https://www.oportocricketclub.com/history.htm). Em outros Clubes Portuenses, tais como o Leixões Football Club e o Boavista Football Club, viria a ocorrer uma curiosa interacção entre Ingleses e Portugueses, em que os Britânicos tiveram um papel inicial importante para mais tarde se afastarem.


Em Lisboa foram relevantes o Lisbon Cricket Club (fundado por volta de 1873 e implantado na zona da Cruz Quebrada, pela comunidade Britânica ligada aos caminhos de ferro em Portugal) e o mais notável de todos, o Carcavellos Cricket and Football Club mais tarde apenas conhecido apenas por Carcavellos Club.

O Carcavellos Club estava sediado desde 1873 na Quinta Nova em Carcavellos e era a componente desportiva e social da Eastern Telegraph Company, a grande empresa Inglesa responsável pela instalação em Portugal de cabos submarinos de telecomunicação. Mas lá iremos.

À semelhança do Porto, existiram também Clubes com interessantes associações entre Portugueses e Ingleses. Entre esses salientaram-se o Gillman FC (na zona de Sacavém da fábrica de loiças Gillman), o Colonials (da Colonian Oil Co), o clube de Braço de Prata e claro o mais célebre dentre todos, o CIF- Clube Internacional de Futebol (onde pontificaram os irmãos Vilar, os Pinto Basto e os Barley, entre outros).



Lugares



Fonte: CM Cascais, CM Sintra, Delcampe e AML



Falando da história conhecida - que está longe de ser a factualmente completa - existem lugares incontornáveis para o aparecimento e difusão inicial do futebol em Portugal. No final do século XIX, "futebolou-se" no

● Largo da Achada na Madeira,
● Jardim da Parada em Cascais,
● Quinta do Bonjardim em Belas,
● Campo Pequeno em zona onde seria construída a Praça de touros,
● Pátio das Malvas em Belém,
● Terras do Desembargador às Salésias também em Belém,
● Candal em Gaia
● Campo Alegre no Porto.

Muitos outros locais vieram depois a ser utilizados mas entre os primeiros e mais prestigiados há que salientar sempre a Quinta Nova em Carcavelos.



Fonte: AML



A Quinta Nova ou Quinta de Santo António ou Quinta dos Ingleses é um local nem sempre devidamente lembrado, mesmo que seja consensual que ter sido um espaço incontornável para a génese do Futebol em Portugal. É notória a importância do papel dos Ingleses na divulgação e prestígio do Jogo no final do século XIX e princípio do século XX.



A Eastern Telegraph Company e o Carcavellos Club


Voltando à Eastern Telegraph Company, empresa responsável pela instalação de cabos submarinos de telecomunicações transatlânticos.





O Cabo submarino é o meio de comunicação que suporta a maior parte dos gigantescos volumes das comunicações internacionais. No passado esses cabos eram feitos de fios de cobre (hoje são fios de vidro) rodeados de plástico e fios de aço. No seu interior circulavam electrões (hoje são fotões) que possibilitam a circulação instantânea de enormes volume de informação entre continentes (fonte: ANACOM ). A melhor analogia que podemos fazer da importância – que se mantém - dos cabos submarinos é que eles estão para o nosso planeta como o sistema nervoso está para o corpo humano.

Foram, são e serão, fundamentais para o nosso meio de vida, assente nas tecnologias da informação. A sua origem é bastante antiga e merece um pequeno resumo.

A instalação de cabos submarinos em diversas partes do mundo iniciou-se em meados do século XIX e teve uma contribuição fundamental por parte das empresas Britânicas. Essa instalação mereceu a prioridade política e financeira dos governos Ingleses dessa época, que acertadamente a julgaram decisiva para manter a coesão e pujança do Império Britânico e da Commonwealth. Foram essenciais para suportar o aumento inusitado de fluxos de pessoas e bens desse tempo.

Esse final do século XIX foi marcado por grandes transformações, por uma torrente de inovações tecnológicas que modelaram muito do que é o actual modelo de vida ocidental. O aumento do volume e da rapidez do fluxo de informação e a facilidade a que a ela acediam um número crescente de pessoas, gerou uma aproximação nunca antes vista de pessoas e culturas.

Em 1870, o governo português concedeu à Falmouth, Gibraltar and Telegraph Company a possbilidade de instalar um Cabo Submarino para transmissão de mensagens telegráficas entre Inglaterra, Portugal, Gibraltar e Malta. No decurso, seria em 1872 que os descendentes do Morgado da Alagoa venderiam a Quinta Nova de Santo António em Carcavelos, para a instalação da referida Companhia.

No entanto em Fevereiro de 1873, a dita companhia transferiria a concessão para a Eastern Telegraph Company (mais tarde Cable & Wireless) que prosseguiu as actividades. O Carcavellos Club era uma estrutura organizada e elitista que juntava os empregados da Eastern Telegraph Co e respectivas famílias em actividades sociais e desportivas nos seus tempos de lazer.



Fonte: CM Cascais



A instalação dos Ingleses da zona de Carcavelos marcaria uma rotura profunda entre uma localidade pequena, rural e estagnada do passado para uma localidade dinâmica e crescentemente cosmopolita. Ainda nos dias de hoje, Carcavelos goza de uma prestigiada auréola turística e de veraneio. Apesar da Companhia do Cabo Submarino ter sido extinta em 1962, a Quinta Nova mantém-se como um espaço de forte e frutuosa ligação entre a comunidade Britânica e Portuguesa, uma vez que ali funciona a prestigiada Saint Julian's School.

Entre as diversas modalidades praticadas pelo Carcavellos Club destacaram-se o futebol, a corrida, o ténis, o cricket, o râguebi, o ciclismo e o golfe (na Ajuda). Estas modalidades eram praticadas de uma forma muito British, o que equivale a dizer que primavam pela disciplina, ecletismo e competitividade: eram esses os exemplos enquanto desportistas, dados por essa comunidade Britânica. O crescente (embora altamente seleccionado) contacto com comunidades Portuguesa foi decisivo para a divulgação e popularidade de hábitos desportivos, aproveitando os crescentes períodos de lazer que alguns Portugueses já iam tendo.



Algumas das diversas modalidades desportivas praticadas na Quinta Nova. Fonte: Delcampe



As equipas de futebol do Carcavellos Club adquiriram rapidamente grande prestígio ao ponto de que as suas equipas participaram nos primeiros campeonatos regionais disputados em Lisboa, arrebatando os títulos. Note-se que então, à falta de uma competição nacional, esse Campeonato Regional era a mais importante competição de futebol de Portugal. Equipando primeiro de branco com uma lista azul e depois com camisola negra e calção branco, as equipas dos Mestres Ingleses de Carcavelos mostram-se um adversário temível, arrebatando à conta de goleadas sucessivas os primeiros títulos desportivos do Futebol em Lisboa!




Fonte: Em Defesa do Benfica, AML e Hemeroteca de Lisboa



O derby Luso-Inglès


Ficaram célebres os embates entre o Carcavellos Club e o Sport Lisboa. Durante quase uma década defrontamos as equipas de futebol dos Mestres Ingleses, somando um total de 27 jogos. Recomenda-se vivamente, a leitura do texto de Alberto Miguéns: Os Imprescindíveis em Carcavelos. Há Mais de 100 Anos, ver: https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2017/02/os-imprescindiveis-em-carcavelos-ha.html.

Como se pode ler nesse trabalho, o SLB conseguiu vencer por 7 vezes... Nenhum outro Clube Português actual, venceu uma única vez os Mestres Ingleses do Carcavellos Club. Esse é um privilégio que só nós conquistamos.

No princípio a norma era sofrermos derrotas pesadas, algo que acontecia a todos os outros Clubes. E quando a maré virou, os Ingleses prudentemente retiraram-se das competições, percebendo que o seu tempo tinha terminado. Esse ano de 1914 marcou o fim de várias eras.

Para além disso, um facto notável é que 4 dessas 7 vitórias foram conseguidas em plena Quinta Nova: 1906/1907 (2-1), 1910/1911 (1-0), 1911/1912 (1-0) e 1913/1914 (3-0). As 3 restantes vitórias foram obtidas noutros campos: 1909/1910 na Feiteira (1-0), 1912/1913 em Palhavã (2-0) e 1913/1914 em Sete Rios (2-0).


E ilustrando alguns desses jogos memoráveis:



A primeira vitória sobre o Carcavellos Club e logo na Quinta Nova. Adaptado de Em Defesa do Benfica.





Uma das grandes vitórias do Benfica sobre o Carcavellos Club. Fonte: Em Defesa do Benfica, AML e Hemeroteca de Lisboa




Uma derrota no dia em que a Feiteira bateu o recorde de assistência pois terão estado presentes cerca de 8 mil pessoas. Fonte: Hemeroteca de Lisboa e AML



O futebol praticado pelo Carcavellos Club era tipicamente Inglês, com passes largos, correrias e centros bem medidos. A disciplina, a preparação física, a organização táctica e a capacidade técnica dos seus futebolistas eram algumas das virtudes que acentuavam as diferenças e explicavam as recorrentes goleadas sofridas pelos Portugueses.

Assim, com os Mestres Ingleses aprendemos o Jogo de Futebol nas suas diversas vertentes, tácticas, técnicas, físicas e motivacionais. Deles admiramos a intensidade e eficácia do seu futebol. Eram – tanto quanto sei - funcionários da Eastern Telegraph Company sendo que alguns eram também antigos jogadores das Ligas Inglesas de Futebol. Esses jogadores manteriam certamente muitas das suas qualidades, moldadas em campeonatos competitivos do final do século XIX, alguns com assistências de dezenas de milhares de espectadores. Eram outros campeonatos...

O Carcavellos Club é uma lenda. É pena que os seus arquivos não estejam localizados e disponíveis. Se existirem estou certo que poderiam dar-nos mais entendimento e deleite acerca desse período fundamental do Futebol Português e do Futebol Benfiquista em particular.


Honra e Glória ao Carcavellos Club!





Petrov_Carmovich

Spoiler
Citação de: RedVC em 24 de Agosto de 2018, 21:43
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Nas escadarias da Quinta Nova (parte II) – Os Mestres Ingleses de Carcavelos.



Quatro das colectividades que foram total ou essencialmente constituídas por atletas Ingleses. O seu papel foi fundamental para a génese e difusão do Futebol em Portugal. Fonte: hemeroteca de Lisboa.



Ao mesmo tempo (se não antes...) dos Portugueses, diversos membros da comunidade Inglesa no Porto e em Lisboa deram também uma contribuição fundamental para a difusão do Futebol em Portugal. Eram geralmente empregados de empresas Inglesas com representação e actividade comercial em Portugal, que praticavam o Futebol entre outras das numerosas actividades sociais e desportivas promovidas pelos seus Clubes.


Na cidade do Porto o mais notável dos clubes Ingleses foi o Oporto Cricket Lawn-Tennis Club (fundado em 1855 mas que ainda hoje existe) inicialmente implantado na zona do Candal em Gaia e mais tarde sediado em Campo Alegre, ver: https://www.oportocricketclub.com/history.htm). Em outros Clubes Portuenses, tais como o Leixões Football Club e o Boavista Football Club, viria a ocorrer uma curiosa interacção entre Ingleses e Portugueses, em que os Britânicos tiveram um papel inicial importante para mais tarde se afastarem.


Em Lisboa foram relevantes o Lisbon Cricket Club (fundado por volta de 1873 e implantado na zona da Cruz Quebrada, pela comunidade Britânica ligada aos caminhos de ferro em Portugal) e o mais notável de todos, o Carcavellos Cricket and Football Club mais tarde apenas conhecido apenas por Carcavellos Club.

O Carcavellos Club estava sediado desde 1873 na Quinta Nova em Carcavellos e era a componente desportiva e social da Eastern Telegraph Company, a grande empresa Inglesa responsável pela instalação em Portugal de cabos submarinos de telecomunicação. Mas lá iremos.

À semelhança do Porto, existiram também Clubes com interessantes associações entre Portugueses e Ingleses. Entre esses salientaram-se o Gillman FC (na zona de Sacavém da fábrica de loiças Gillman), o Colonials (da Colonian Oil Co), o clube de Braço de Prata e claro o mais célebre dentre todos, o CIF- Clube Internacional de Futebol (onde pontificaram os irmãos Vilar, os Pinto Basto e os Barley, entre outros).



Lugares



Fonte: CM Cascais, CM Sintra, Delcampe e AML



Falando da história conhecida - que está longe de ser a factualmente completa - existem lugares incontornáveis para o aparecimento e difusão inicial do futebol em Portugal. No final do século XIX, "futebolou-se" no

● Largo da Achada na Madeira,
● Jardim da Parada em Cascais,
● Quinta do Bonjardim em Belas,
● Campo Pequeno em zona onde seria construída a Praça de touros,
● Pátio das Malvas em Belém,
● Terras do Desembargador às Salésias também em Belém,
● Candal em Gaia
● Campo Alegre no Porto.

Muitos outros locais vieram depois a ser utilizados mas entre os primeiros e mais prestigiados há que salientar sempre a Quinta Nova em Carcavelos.



Fonte: AML



A Quinta Nova ou Quinta de Santo António ou Quinta dos Ingleses é um local nem sempre devidamente lembrado, mesmo que seja consensual que ter sido um espaço incontornável para a génese do Futebol em Portugal. É notória a importância do papel dos Ingleses na divulgação e prestígio do Jogo no final do século XIX e princípio do século XX.



A Eastern Telegraph Company e o Carcavellos Club


Voltando à Eastern Telegraph Company, empresa responsável pela instalação de cabos submarinos de telecomunicações transatlânticos.





O Cabo submarino é o meio de comunicação que suporta a maior parte dos gigantescos volumes das comunicações internacionais. No passado esses cabos eram feitos de fios de cobre (hoje são fios de vidro) rodeados de plástico e fios de aço. No seu interior circulavam electrões (hoje são fotões) que possibilitam a circulação instantânea de enormes volume de informação entre continentes (fonte: ANACOM ). A melhor analogia que podemos fazer da importância – que se mantém - dos cabos submarinos é que eles estão para o nosso planeta como o sistema nervoso está para o corpo humano.

Foram, são e serão, fundamentais para o nosso meio de vida, assente nas tecnologias da informação. A sua origem é bastante antiga e merece um pequeno resumo.

A instalação de cabos submarinos em diversas partes do mundo iniciou-se em meados do século XIX e teve uma contribuição fundamental por parte das empresas Britânicas. Essa instalação mereceu a prioridade política e financeira dos governos Ingleses dessa época, que acertadamente a julgaram decisiva para manter a coesão e pujança do Império Britânico e da Commonwealth. Foram essenciais para suportar o aumento inusitado de fluxos de pessoas e bens desse tempo.

Esse final do século XIX foi marcado por grandes transformações, por uma torrente de inovações tecnológicas que modelaram muito do que é o actual modelo de vida ocidental. O aumento do volume e da rapidez do fluxo de informação e a facilidade a que a ela acediam um número crescente de pessoas, gerou uma aproximação nunca antes vista de pessoas e culturas.

Em 1870, o governo português concedeu à Falmouth, Gibraltar and Telegraph Company a possbilidade de instalar um Cabo Submarino para transmissão de mensagens telegráficas entre Inglaterra, Portugal, Gibraltar e Malta. No decurso, seria em 1872 que os descendentes do Morgado da Alagoa venderiam a Quinta Nova de Santo António em Carcavelos, para a instalação da referida Companhia.

No entanto em Fevereiro de 1873, a dita companhia transferiria a concessão para a Eastern Telegraph Company (mais tarde Cable & Wireless) que prosseguiu as actividades. O Carcavellos Club era uma estrutura organizada e elitista que juntava os empregados da Eastern Telegraph Co e respectivas famílias em actividades sociais e desportivas nos seus tempos de lazer.



Fonte: CM Cascais



A instalação dos Ingleses da zona de Carcavelos marcaria uma rotura profunda entre uma localidade pequena, rural e estagnada do passado para uma localidade dinâmica e crescentemente cosmopolita. Ainda nos dias de hoje, Carcavelos goza de uma prestigiada auréola turística e de veraneio. Apesar da Companhia do Cabo Submarino ter sido extinta em 1962, a Quinta Nova mantém-se como um espaço de forte e frutuosa ligação entre a comunidade Britânica e Portuguesa, uma vez que ali funciona a prestigiada Saint Julian's School.

Entre as diversas modalidades praticadas pelo Carcavellos Club destacaram-se o futebol, a corrida, o ténis, o cricket, o râguebi, o ciclismo e o golfe (na Ajuda). Estas modalidades eram praticadas de uma forma muito British, o que equivale a dizer que primavam pela disciplina, ecletismo e competitividade: eram esses os exemplos enquanto desportistas, dados por essa comunidade Britânica. O crescente (embora altamente seleccionado) contacto com comunidades Portuguesa foi decisivo para a divulgação e popularidade de hábitos desportivos, aproveitando os crescentes períodos de lazer que alguns Portugueses já iam tendo.



Algumas das diversas modalidades desportivas praticadas na Quinta Nova. Fonte: Delcampe



As equipas de futebol do Carcavellos Club adquiriram rapidamente grande prestígio ao ponto de que as suas equipas participaram nos primeiros campeonatos regionais disputados em Lisboa, arrebatando os títulos. Note-se que então, à falta de uma competição nacional, esse Campeonato Regional era a mais importante competição de futebol de Portugal. Equipando primeiro de branco com uma lista azul e depois com camisola negra e calção branco, as equipas dos Mestres Ingleses de Carcavelos mostram-se um adversário temível, arrebatando à conta de goleadas sucessivas os primeiros títulos desportivos do Futebol em Lisboa!




Fonte: Em Defesa do Benfica, AML e Hemeroteca de Lisboa



O derby Luso-Inglès


Ficaram célebres os embates entre o Carcavellos Club e o Sport Lisboa. Durante quase uma década defrontamos as equipas de futebol dos Mestres Ingleses, somando um total de 27 jogos. Recomenda-se vivamente, a leitura do texto de Alberto Miguéns: Os Imprescindíveis em Carcavelos. Há Mais de 100 Anos, ver: https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2017/02/os-imprescindiveis-em-carcavelos-ha.html.

Como se pode ler nesse trabalho, o SLB conseguiu vencer por 7 vezes... Nenhum outro Clube Português actual, venceu uma única vez os Mestres Ingleses do Carcavellos Club. Esse é um privilégio que só nós conquistamos.

No princípio a norma era sofrermos derrotas pesadas, algo que acontecia a todos os outros Clubes. E quando a maré virou, os Ingleses prudentemente retiraram-se das competições, percebendo que o seu tempo tinha terminado. Esse ano de 1914 marcou o fim de várias eras.

Para além disso, um facto notável é que 4 dessas 7 vitórias foram conseguidas em plena Quinta Nova: 1906/1907 (2-1), 1910/1911 (1-0), 1911/1912 (1-0) e 1913/1914 (3-0). As 3 restantes vitórias foram obtidas noutros campos: 1909/1910 na Feiteira (1-0), 1912/1913 em Palhavã (2-0) e 1913/1914 em Sete Rios (2-0).


E ilustrando alguns desses jogos memoráveis:



A primeira vitória sobre o Carcavellos Club e logo na Quinta Nova. Adaptado de Em Defesa do Benfica.





Uma das grandes vitórias do Benfica sobre o Carcavellos Club. Fonte: Em Defesa do Benfica, AML e Hemeroteca de Lisboa




Uma derrota no dia em que a Feiteira bateu o recorde de assistência pois terão estado presentes cerca de 8 mil pessoas. Fonte: Hemeroteca de Lisboa e AML



O futebol praticado pelo Carcavellos Club era tipicamente Inglês, com passes largos, correrias e centros bem medidos. A disciplina, a preparação física, a organização táctica e a capacidade técnica dos seus futebolistas eram algumas das virtudes que acentuavam as diferenças e explicavam as recorrentes goleadas sofridas pelos Portugueses.

Assim, com os Mestres Ingleses aprendemos o Jogo de Futebol nas suas diversas vertentes, tácticas, técnicas, físicas e motivacionais. Deles admiramos a intensidade e eficácia do seu futebol. Eram – tanto quanto sei - funcionários da Eastern Telegraph Company sendo que alguns eram também antigos jogadores das Ligas Inglesas de Futebol. Esses jogadores manteriam certamente muitas das suas qualidades, moldadas em campeonatos competitivos do final do século XIX, alguns com assistências de dezenas de milhares de espectadores. Eram outros campeonatos...

O Carcavellos Club é uma lenda. É pena que os seus arquivos não estejam localizados e disponíveis. Se existirem estou certo que poderiam dar-nos mais entendimento e deleite acerca desse período fundamental do Futebol Português e do Futebol Benfiquista em particular.


Honra e Glória ao Carcavellos Club!





[fechar]

Só um pequeno aparte de cariz pessoal, RedVC. Fiquei muito contente por saber que a infelizmente já destruída Quinta da Feiteira (e já agora a Junta de Freguesia de Benfica, que foi a antiga sede do SLB) é perto do sítio onde resido atualmente, sendo que também fica perto da Vila Ana que ainda existe ao fim destes anos com a Vila Ventura (pelo menos parece que é desta que vão renovar a zona para habitação local):


Desculpa lá usar o link da imagem do teu tópico, mas estou a tentar mostrar aqui uma coisa.



Isto para um rapaz que nasceu em Peniche, é como tropeçar em tesouros da história de Lisboa  ^-^