Decifrando imagens do passado

RedVC

#1080
Citação de: Alexandre1976 em 18 de Setembro de 2021, 23:14
Como já aqui frisei uma vez em conversa com o Red VC,o massagista Mão de Pilão era tambem um excelente praticante de boxe,tinha uma esquerda temivel.

Desse plantel de 55-56 cuja foto foi tirada na antiga Estancia de Madeiras estão em baixo Ângelo,???,Águas,Palmeiro,Coluna,Naldo e Zezinho.Ao meio Garrido ,Alfredo,Jacinto,Caiado,Artur e Calado. Em cima Isidro,Neto,Pegado,Bastos,Santana,Cavém e Serra.
Falta nessa foto o grande Alberto Costa Pereira.

Exato, Alexandre!
Para quem quiser a imagem sem legendas.
Pena é que não seja de melhor qualidade.
Era um plantel magnífico. A base dos bicampeões europeus.



RedVC

Citação de: dfernandes em 18 de Setembro de 2021, 22:13
Tópico FABULOSO. Uma autêntica enciclopédia de benfiquismo!

Tudo o que aqui está merecia ser editado em livro.

Muito obrigado!!

Muito obrigado, Daniel!

Os elogios vindos dos nossos pares Benfiquistas têm grande valor e significado. E mais ainda, vindos de membros que já dedicaram muito do seu tempo e esforço para divulgar e honrar os Ases do nosso passado. Ser Benfiquista!

RedVC

Citação de: Alexandre1976 em 18 de Setembro de 2021, 23:14
Como já aqui frisei uma vez em conversa com o Red VC,o massagista Mão de Pilão era tambem um excelente praticante de boxe,tinha uma esquerda temivel.

Desse plantel de 55-56 cuja foto foi tirada na antiga Estancia de Madeiras estão em baixo Ângelo,???,Águas,Palmeiro,Coluna,Naldo e Zezinho.Ao meio Garrido ,Alfredo,Jacinto,Caiado,Artur e Calado. Em cima Isidro,Neto,Pegado,Bastos,Santana,Cavém e Serra.
Falta nessa foto o grande Alberto Costa Pereira.

Do tempo de boxeur



Metia respeito...

RedVC

#1083
-279-
Ases com mãos de oiro – parte V

Vamos finalizar esta série de homenagem a profissionais médicos que auxiliaram o nosso Clube, falando em maior detalhe de dois médicos mais antigos e depois referindo sucintamente outros dois, mais recentes; todos eles grandes dedicações ao Clube.


Edmundo Lima Basto
(Décadas 60-80)


O Professor Doutor Edmundo Lima Basto foi um prestigiado médico e professor universitário. Nasceu em Lisboa a 22-11-1911. Concluiu a sua formação médica em 1936 na Faculdade de Medicina de Lisboa, tendo depois feito o internato em Hospitais Civis de Lisboa.

Discípulo do Doutor Francisco Gentil, teve uma longa e prestigiada carreira ligada ao sector da Oncologia. Em 1937, foi nomeado assistente do Instituto Português de Oncologia. Complementou a sua formação-base, estagiando em serviços de oncologia de hospitais de referência em Londres, Manchester, Estocolmo e Chicago.

Em 1944, foi nomeado para assistente da cátedra de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Lisboa. Regressaria depois ao IPO como Chefe de Serviço, tendo depois ascendido a Diretor Clínico e a partir de 1962, tornou-se Presidente da Liga Portuguesa Contra o Cancro.

Foi autor de técnicas operatórias, com especialização em cirurgia oncológica, tendo também sido um dos primeiros médicos a praticar a cirurgia cardíaca em Portugal. Autor de numerosos artigos científicos publicados em revistas nacionais e estrangeiras, foi também um divulgador, colaborando com diversos títulos da imprensa nacional.

Embora não tenha exercido atos médicos ao serviço do Sport Lisboa e Benfica, o nome do Professor Lima Basto ficou indissociavelmente ligado à profunda reestruturação do departamento médico do Clube.

Benfiquista indefetível, Edmundo Lima Basto foi eleito presidente da Mesa da Assembleia Geral, integrando os Órgãos Sociais eleitos para o período correspondente à presidência de Adolfo Vieira de Brito. Sucedeu ao Engenheiro Augusto Cancella de Abreu que tinha ocupado o cargo durante 7 anos. Ao invés, o Professor Lima Basto cumpriria apenas um mandato, de 26-03-1964 a 07-05-1965, o tempo que os seus pesados afazeres profissionais lhe permitiram.



Em março de 1960, o Prof. Lima Basto participando numa homenagem ao Engº Maurício Vieira de Brito, presidente do Sport Lisboa e Benfica.



Em 1965, a reestruturação do departamento médico foi concretizada após solicitação do presidente António Catarino Duarte. Grosso modo, consistiu na criação equipa pluridisciplinar que incluiu um ortopedista (Dr. Azevedo Gomes), que assumiu também funções de diretor, um fisiatra (Dr. José Alberto Faria), um médico de Medicina interna (Dr. Ferreira de Almeida) e finalmente um especialista em cirurgia geral (Dr. Vieira da Fonseca). Este último veio a suceder ao Dr. Azevedo Gomes nas funções de diretor do departamento.



O Centro Médico do Sport Lisboa e Benfica nos anos 70.


O seu nome passou a assim a estar associado ao Centro Médico do Clube, estando a sua memória evocada num busto à entrada das instalações.



O Dr. Vieira a Fonseca junto de um busto de homenagem ao Professor Lima Basto. Fonte Benfica Ilustrado


Faleceu de forma súbita em Lisboa, em 11-02-1971. Deixou viúva e três filhos.



Uma morte repentina. Fonte: DL



Paz e honra à memória do Professor Lima Basto.



Vieira da Fonseca
(Décadas 60-80)


José Pedro Chaves Vieira da Fonseca nasceu em 16-04-1927, em Mocimboa da Praia, no norte de Moçambique. A família estava ali instalada por via do seu pai, médico, estar ali destacado. O jovem José Pedro regressaria à metrópole, com a sua mãe, para fazer os seus estudos em Lisboa, primeiro no Colégio Manuel Bernardes e depois, a partir de 1938, no Colégio Militar.

Naquela prestigiada instituição de educação, o jovem José Pedro revelou-se disciplinado, com elevado espírito de grupo e apreciador de atividades físicas, área em que beneficiou da orientação do professor Fernando Ferreira, um antigo atleta do SLB.



O jovem José Pedro, estudante do Colégio Militar, aluno 44/1938. Fonte: revista "Zacatraz.



Benfiquista de berço, foi futebolista das camadas jovens do Benfica, jogando como defesa e tendo como colega de equipa Francisco Calado, e sendo orientado por János Biri. Chegou a ser selecionado para seleções da AFL para jogos inter-regionais.

No Benfica, praticou também atletismo, orientado uma vez mais por Fernando Ferreira, destacando-se no salto à vara, modalidade na qual se sagrou campeão nacional de juniores. Com a entrada na Faculdade de Medicina, saiu do SLB e passou a representar o CDUL.

Formou-se na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, tendo depois feito internato em diversos hospitais civis de Lisboa (São José, Desterro e Capuchos). Tinha ainda um consultório particular na Praça de Londres.

Entrou para associado do SLB em 1944, ou seja, com apenas 17 anos. Em 1959 foi convidado para ocupar o lugar de suplente da Direção presidida pelo Engenheiro Maurício Vieira de Brito.

A sua mobilização para Timor, levou-o a afastar da vida associativa, mas em compensação ocupou o cargo de presidente da Direção do Sport Dili e Benfica. E tão dedicado se mostrou que exercia também funções de treinador e alinhava como futebolista pelas reservas!

No regresso a Lisboa, por volta de 1964, foi convidado para um cargo no Departamento Médico que na altura estava em reestruturação coordenada pelo Professor Lima Basto. Virava-se uma página de um Departamento médico com parcos recursos, e com apenas dois médicos, o já aqui falado Dr. José Pinho e o Dr. Sousa Dias. Integrou então uma equipa pluridisciplinar sendo-lhe atribuídas funções na área da cirurgia geral. A união e o compromisso com o Clube desta equipa eram tais que prescindiram do seu primeiro salário para angariar uma verba que possibilitasse a aquisição de equipamentos para o Departamento.



Fonte: Arquivo RTP



Em 1975, a convite do Dr. Borges Coutinho, o Dr. Vieira da Fonseca passou a chefiar o Departamento médico a partir de 1975 até a 1990, abandonando funções depois da final de Estugarda. Para trás ficaram muitos anos de dedicação, chefiando um departamento por onde passaram numerosos e dedicado profissionais que cumpriram com zelo dois requisitos exigentes para o cargo: ser médico e ser dedicado ao Clube.



Fonte: Benfica Ilustrado.


Era também um apaixonado pela Ópera, sendo aliás um cantor amador que chegou a entrar em récitas, em diversas fases da sua vida. Tinha também o hábito curioso de, enquanto assistia aos jogos no banco de suplentes, apontar meticulosamente, com uma letra pequenina nos seus cadernos, detalhes sobre o jogo. Deixou muitos cadernos desses, repletos de notas metódicas e completas sobre os jogos a que assistiu.



Jamor, 6 de junho de 1981. Um dia de grande felicidade, com a conquista da Taça de Portugal em



Durante as suas décadas de trabalho e atividade benfiquista, o Dr. Vieira da Fonseca viveu momentos de grande felicidade e prestígio, mas também situações desportivas dramáticas como aquela malfadada final em Milão em 1965 em que Costa Pereira teve de abandonar a baliza por lesão.



Fonte: Benfica Ilustrado


Enfrentou também dramas humanos como foi o caso do acidente que vitimou Luciano e que ia vitimando outros entre os quais Malta da Silva, Carmo Pais e Eusébio. Foram também dramáticos os graves problemas de saúde que incapacitaram definitivamente Augusto Silva e Vítor Martins.



Alguns dos dramas vividos de perto pelo Dr. Vieira da Fonseca, durante a sua carreira de médico no Benfica.



Em 1984, foi eleito sócio de mérito do Benfica.


Faleceu em 27-03-2013. Deixou viúva, dois filhos e 4 netos.


Paz e honra à memória do Dr. Vieira da Fonseca!




Nota: as fontes principais da informação sobre o Dr. Vieira da Fonseca foram o Benfica Ilustrado de Dezembro de 1991 e o nº13 da revista Zacatraz (ver: https://issuu.com/aaacm/docs/revista_zacatraz_191_web)


Finaliza-se este texto com uma breve menção ao Dr. Amílcar Miranda e ao Dr. Bernardo Vasconcelos que a partir de 1990, passaram a alternar no acompanhamento à equipa principal de futebol, ao mesmo tempo que passou a haver uma maior independência de funcionamento dos recursos entre o futebol sénior e o futebol juvenil.

 



Todos estes profissionais que referimos nesta série são credores do reconhecimento de todos os Benfiquistas. Através deles fica também o reconhecimento e a tantos outros profissionais médicos que por desconhecimento ou por falta de informação biográfica não foram aqui referidos. Todos serviram o Sport Lisboa e Benfica, com o melhor do seu saber e dedicação. Uma profissão nobre e difícil e cujo fruto é o bem estar de alguns para o deleite de muitos outros.

E Pluribus Unum








RedVC

#1084
-280-
Nicolau, primeiro!


Estoril, dia 26 de setembro de 1931. Seis Benfiquistas posam para uma câmara fotográfica.



Fonte: TT


Neste instantâneo não foi captado um sentimento de alegria, mas antes uma postura de dever cumprido. E, no entanto, envergando a camisola amarela, José Maria Nicolau tinha acabado de vencer a sua primeira volta a Portugal em bicicleta.

Ao lado de Nicolau estavam três companheiros de equipa e ainda Manuel da Conceição Afonso, presidente do Sport Lisboa e Benfica, e por fim Vítor Lemos, prestigiado delegado da Direção, notabilizado em colaborações nas secções de hóquei em patins e ciclismo (pelo menos essas) e que foi também membro do Comité Olímpico Português.

Alguns anos depois, Gil Moreira, companheiro de estrada de Nicolau enquanto nosso ciclista e também ilustre historiador e divulgador do Ciclismo, escreveu sobre esta conquista:

"Terminou esta segunda Volta com a vitória prevista e justa de José Maria Nicolau, pois não só suportou todas as «andanças» movidas por António Augusto de Carvalho e João Francisco, como também teve ainda de se sobrepor ao comportamento de Alfredo Trindade, infalivelmente a defender-se, para depois mover ataques de surpresa. De assinalar que Nicolau saiu vencedor em 7 das 19 tiradas da Volta." (Texto do livro "História do Ciclismo Português" de Gil Moreira)


Nascido em 1908 e natural do Cartaxo, aos 19 anos de idade, Nicolau veio para a zona de Lisboa para representar o do Grupo Sportivo de Carcavelos, cuja equipa de ciclismo integrou apenas durante 1 ano por não se adaptar e por sentir uma grande vontade em vestir a camisola vermelha. Desejo que vinha já dos tempos do Cartaxo. Nicolau transferiu-se no ano seguinte para o Benfica.

Em 1931, Nicolau levava já três anos de águia ao peito, tendo começado numa equipa e embora levasse já alguns triunfos, a volta de 1931 marcaria a sua grande arrancada para a glória e para a popularidade. E seria ao longo da primeira metade dessa fabulosa de 30, que Nicolau conquistaria os seus mais retumbantes triunfos, conquistando um prestígio pessoal do qual o nosso Clube colheu muitos frutos.



O palmarés do grande José Maria Nicolau.



A volta de 1931


Organizada pelos jornais DN e "Os Sports", a II Volta a Portugal em bicicleta decorreu de 6 a 26 de setembro de 1931. Foi a segunda vez que a prova se disputou em Portugal, quatro anos depois da primeira edição!

À partida da volta de 1931, alinharam 8 corredores Benfiquistas, liderados pelo dedicado treinador Luís Augusto Lopes. Apenas dois desses ciclistas, Eduardo dos Santos e Artur Dias Maia, tinham estado presentes na I volta a Portugal, em 1927, embora apenas o primeiro tenha representado o Sport Lisboa e Benfica.



A equipa Benfiquista à partida no meio dos populares.



A prova consistiu em 19 etapas, perfazendo um total de mais de 2000 km, cobrindo todo o país embora por vezes envolvesse estradas que convertiam a corrida num cross... levantando muitas dificuldades aos ciclistas.  Depois, as avarias mecânicas eram frequentes e causavam enormes perdas de tempo, muitas vezes irremediáveis.
José Maria Nicolau vestiu a camisola amarela logo na 1ª etapa (Cova da Piedade-Setúbal), mas perdê-la-ia logo na etapa seguinte, só a recuperando na 7ª etapa (Évora-Elvas). E ficou assim vestido até ao final, até ao dia 26 de Setembro, no Estoril.



As 19 etapas, vencedores e camisola amarela, da II Volta a Portugal em bicicleta.



Nicolau venceu a competição com mais de 29 minutos de avanço para Alfredo Trindade, seu conterrâneo e amigo. Nessa altura, Trindade ainda representava a equipa do União Clube Rio de Janeiro, uma popular coletividade lisboeta. Nicolau tinha uma grande compleição física e uma enorme força física e resistência e embora tivesse também uma perceção tática da corrida, tinha em Alfredo Trindade um rival à altura nesse aspeto, virtude que para este último era decisiva dado ser de constituição franzina.




De notar que o Benfica apresentou 9 ciclistas, sendo 5 na categoria "fortes" (um total de 26 concorrentes) e 4 na categoria "fracos" (9 concorrentes), enquanto que as restantes equipas apresentaram no máximo um total de 4 ciclistas.

E se Nicolau venceu a geral, o nosso ciclista José Joaquim Esteve venceu a categoria de "fracos". Também vencemos por equipas, tendo para isso contado decisivamente as prestações dos "fortes" Carlos Domingos Alves e de Artur Dias Maia. Foi barba, cabelo e unhas!



A alegria da vitória!


Para trás ficaram muitas dificuldades e privações, que tornavam as provas verdadeiramente infernais, muito mais exigentes e duras do que o moderno ciclismo.

Assim, as peripécias foram diárias. Na 2ª etapa (Setúbal-Sines), Nicolau caiu, mas na etapa seguinte (Sines-Lagos), João Francisco, que levava a camisola amarela, viu a sua bicicleta partir-se.... Pouco depois, na etapa Faro-Beja, Nicolau envolveu-se numa queda ao choca com o seu colega Artur Dias Maia, quando se desviou bruscamente para não atropelar uma senhora idosa. Ambos ficaram bastante doridos, mas continuaram... à Benfica! E venceram no final!



Campeão!



Em 1937, José Maria Nicolau foi distinguido com o galardão de sócio de mérito, tendo dois anos mais tarde recebido a Águia de prata, colocada na sua lapela pelo presidente Manuel da Conceição Afonso. Abandonava a prática da modalidade, mas deixava para sempre o seu nome associado ao Clube e algumas das marcas distintivas do Benfica: o amor à camisola, o desportivismo, a lealdade competitiva, a classe e a ambição de vencer.



José Maria Nicolau, Águia de prata em 1939!


Os dirigentes do Benfica dessa época foram muito sagazes em fazer uma tão grande aposta no ciclismo pois esta modalidade revelou-se decisiva para expandir a implantação do Clube a nível nacional. O ciclismo passava à porta das pessoas, não exigia dinheiro para ser visto e dava o colorido às estradas e corpo às rivalidades. Aliás muita gente passou a saber que o Benfica vestia de vermelho por causa do ciclismo. Com o ciclismo, os dirigentes do Benfica dessa época deram notável seguimento aquela que foi a visão de ter um Clube com implantação nacional, visão essa que Cosme Damião tinha anunciado como objetivo, duas décadas antes.

Uma plena demonstração desta ideia é atentar a um ilustre Benfiquista, recentemente desaparecido.




Viva o Benfica! Viva José Maria Nicolau!







Alexandre1976


Alexandre1976

José Maria Nicolau é sem qualquer favor uma das maiores figuras da Nossa Gloriosa História.Á sua conta milhares de pessoas passaram a ser adeptas do Nosso Clube.

RedVC

#1087
Citação de: Alexandre1976 em 25 de Setembro de 2021, 14:18
José Maria Nicolau é sem qualquer favor uma das maiores figuras da Nossa Gloriosa História.Á sua conta milhares de pessoas passaram a ser adeptas do Nosso Clube.

Ganhou duas voltas a Portugal em 1931 e 1934. Não ganhou em 1932 por azares de corrida mas demonstrou em condições normais ser superior a Alfredo Trindade. Teve poucos anos de glória a correr na estrada pois as condições de treino e competição eram muito duras.

MAS, tão importante como as vitórias e os recordes foi o prestígio, a visibilidade, a popularidade que deu ao Clube. Tinha uma figura magnética e atraia as multidões vestido com a camisola vermelha. Campeão de popularidade.

São múltiplos, os testemunhos deixados por pessoas da província que naqueles anos se tornaram Benfiquistas por causa de Nicolau!









RedVC

#1088
-281-
Águias na Guerra (parte VIII): a corrida da Chama da Pátria.


Avenida da Liberdade, dia 9 de abril de 1938.


José Maria Nicolau (ciclista) e José Martins (motociclista) prestando homenagem aos mortos da Grande Guerra. Fonte: TT


José Maria Nicolau, o mais velho e mais prestigiado de um grupo de uma trintena de ciclistas, alinha ao lado do Monumento aos Mortos da Grande Guerra.

Nesse dia celebrava-se a passagem dos 20 anos da funesta batalha de La Lys, homenageando os mortos que deram a vida pela Pátria. Em apenas quatro horas de batalha, que decorreu na madrugada e manhã de 9 de abril, as tropas portuguesas terão registado milhares de baixas, entre mortos (1 341), feridos (4 626), desaparecidos (1 932) e prisioneiros (7440) (fonte: https://www.infopedia.pt/$batalha-de-la-lys e https://portugalgrandeguerra.wordpress.com/batalhadelalys/).


Estando ainda vivos muitos milhares de militares que combateram nesse terrível evento, prestava-se assim sentida homenagem a esses bravos combatentes.



Outras imagens do evento de homenagem aos mortos da Grande Guerra na Avenida da Liberdade, Lisboa.



Depois de uma romagem matinal ao talhão dos combatentes no cemitério do Alto de São João, a romaria dirigiu-se à Avenida da Liberdade, ao Monumento dos Mortos da Grande Guerra, ali depositando flores e instalando os fachos com a Chama da Pátria, prestando homenagem às vítimas do conflito.

Entre as celebrações previstas estavam incluídas uma corrida ciclista e outra motociclista, organizadas pelo jornal "O Século". A corrida a que chamaram "Corrida da Chama da Pátria!, teve como competidores uma trintena de ciclistas pertencentes às melhores equipas dessa época entre elas o Sport Lisboa e Benfica, o CF "os Belenenses", o Sporting CP, a CUF, etc.

Os ciclistas e os elementos de fiscalização e organização da corrida partiram depois em camionetas para a frente do mosteiro da Batalha, local onde esteve assinalado a partida de uma corrida para... Lisboa. No próprio dia... o que diz sobre a forma como se preparavam as corridas naqueles tempos!

A corrida seria vencida pelo sportinguista Filipe de Melo que fez equipa com Alfredo Trindade e Ildefonso Rodrigues.



Aspetos da corrida velocipédica da Chama da Pátria de 1938. Fonte TT



Águias na Guerra

Entre os milhares de mortos portugueses na Grande Guerra, certamente que terão falecido muitos simpatizantes do Sport Lisboa e Benfica, mas dos mais conhecidos não tenho conhecimento de terem morrido. Todos ficaram com mazelas que os afetaram e muitas vezes incapacitaram permanentemente para o resto da vida. Alguns tiveram morte precoce, certamente associada a essa experiência traumática limite que foi aquela grande tragédia coletiva. Lições que ciclicamente são esquecidas e que levam de novos à emergência de nacionalismos criminosos e oportunistas.


Ao longo dos anos, neste espaço têm sido contadas histórias desse grande conflito na série ´"Aguias na Guerra"; ver:


-105- Águias na Guerra (parte I) (p.30)
-106- Águias na Guerra (parte II) (p.30)
-107- Águias na Guerra (parte III) (p.30)
-157- Águias na Guerra (parte IV): "Deste triste viver" (p. 44)
-158- Águias na Guerra (parte V): veterano de guerra. (p. 44)
-229- Águias na guerra (parte VI): os manos Vivaldo (p. 57)
-241-Aguias na guerra (parte VII): desenhando para a eternidade (I) (p.60)




A identificação de Benfiquistas na Grande Guerra tem sido um processo gradual que coincidiu com esses textos. Aproveita-se agora a oportunidade para listar todos os Benfiquistas que de alguma forma integraram o CEP ou noutros destacamentos militares que combateram na Grande Guerra.

Presta-se aqui, uma vez mais, a devida homenagem à memória destes homens assim como o agradecimento à sua contribuição para edificar a maior instituição desportiva portuguesa: o Sport Lisboa e Benfica!





RedVC

#1089
-282-
Um ardina olímpico! (parte I): as dores olímpicas.

Berlim, Estádio Olímpico, domingo, 9 de agosto de 1936.

Um atleta português termina a prova da maratona olímpica em grande sofrimento, sendo imediatamente assistido.



Manuel Dias termina a prova da maratona em Berlim, 1936. Fonte: https:Youtube


Após duas horas e quarenta e nove minutos de corrida, Manuel Dias, atleta português, atleta Benfiquista, terminava a maratona olímpica. Uma parte do seu desempenho ficou imortalizada no filme "Olympia" de Leni Riefenstahl




Estas serão provavelmente as primeiras imagens em movimento de um atleta Benfiquista em plena competição olímpica. Salvaguardo a situação de Francisco Lázaro pois, quando este foi filmado nos jogos de Estocolmo e 1912, já era atleta do Velo Clube de Lisboa.

E, atendendo à dureza da prova, bem espelhada no sofrimento dos atletas a cruzar a meta, é bem possível que durante aquela maratona, a sombra da tragédia de Lázaro estivesse nas mentes de Manuel Dias e de todos os portugueses presentes na delegação.

Em diversos momentos, o filme oficial do evento foca o maratonista português, que na fase inicial da corrida chegou a comandar a corrida, juntamente com um argentino. Manteve depois um excelente desempenho, passando em quarto lugar a meio da prova. Nesse período, os relatos nos altifalantes do Estádio Olímpico referiam o seu nome.




Esteticamente fascinante, o filme "Olympia" de Leni Riefenstahl dá alguns grandes planos de Manuel Dias que corria com o dorsal 559. E, no entanto, ao ver as imagens, uma outra pergunta me ocorre:

terá Manuel Dias usado a camisola vermelha do Benfica nessa maratona olímpica?



Terá Manuel Dias corrido a maratona olímpica com a camisola vermelha?


Não ficaria admirado! Não vejo nenhuma camisola com as argolas olímpicas ou o símbolo da missão portuguesa mas sim uma camisola em tudo similar à que Manuel Dias passou a envergar em 1932 até ao fim da sua carreira desportiva.

Nesse tempo, a camisola Benfiquista das modalidades por norma não ostentava o emblema. As imagens a preto e branco sugerem que Manuel Dias envergou a sua camisola Benfiquista!



Terá Manuel Dias corrido a maratona olímpica com a camisola vermelha?


A partir dos 25 km, atletas japoneses, ingleses e finlandeses ultrapassaram Manuel Dias, passando a dominar os primeiros lugares. Nesse período Manuel Dias viu-se traído pelo... calçado! Ao que parece começou a prova utilizando uns sapatos de ginástica, muito leves, que lhe foram oferecidos dias antes! Um erro crasso tanto mais que nem sequer os experimentara.... À passagem dos 30 km, já com os pés em sangue, teve de parar e pedir emprestadas umas botas a um escuteiro, e assim terminou o percurso (fonte: Record).

A maratona olímpica dos jogos de Berlim foi uma competição muito dura. Apesar das provações, Manuel terminou num honroso 17º lugar, numa competição em que se apresentaram 56 concorrentes à partida. Na mesma prova, participou ainda o maratonista português Jaime Mendes, que acabou por desistir.

Manuel Dias terminou a prova com o tempo de 2h48min49s, ficando a cerca de 19 minutos do 1.º classificado. E, merecidamente, foi elogiado internacionalmente por ter batido "o melhor americano, o melhor belga, o melhor dinamarquês, o melhor alemão, o melhor polaco e o melhor suíço", "deixando atrás de si campeões de fama mundial" (fonte: slbenfica.pt).



Classificação final da maratona olímpica de 1936. Fonte: google


Nesse dia, a Manuel Dias faltou experiência competitiva e sentido tático, sobrando-lhe ingenuidade e incapacidade de dosear esforço. Noutras condições, com outra orientação, e sobretudo com outro calçado, Manuel Dias teria certamente tido um desempenho muito melhor e mais ajustado ao seu efetivo valor.

E, espante-se, essa maratona foi disputada 5 semanas depois de Manuel Dias ter disputado... outra maratona! Por incrível que pareça, nesse tempo foi considerado boa ideia fazer disputar uma prova de 42,165 km (Salésias-Estoril-Salésias) para selecionar 3 representantes nacionais para a maratona olímpica! Manuel Dias venceu essa prova, com 2h37min apesar de um incidente com um ciclista durante o trajeto. Venceu com mais 5 minutos de vantagem para Jaime Mendes.

Assim, aos 32 anos de idade, já numa fase madura da sua carreira atlética, Manuel Dias apresentava boas credenciais para uma participação olímpica prestigiante.



Nas Salésias, o Benfiquista Manuel Dias vencia a maratona de preparação, disputada em 5-07-1936. Fonte: Hemeroteca Lx e DL



As olimpíadas do Terceiro Reich

Os jogos da XI Olimpíada da era moderna foram disputados em Berlim de 1 a 16 de agosto de 1936. Ocorreram 20 anos depois da primeira data prevista, ou seja 1916, data que ficou inviabilizada pelo decurso da I Guerra Mundial.

Muito para além de um acontecimento desportivo, os Jogos de 1936 foram também um massivo evento de propaganda da Alemanha nazi num contexto político-militar de plena guerra civil espanhola, antecâmara da II guerra mundial, que deflagraria 3 anos depois.



XI Jogos Olímpicos da era moderna, Berlim, 1936.


Estes foram também os jogos em que, pela primeira vez, existiu cobertura televisiva embora apenas num circuito fechado. As transmissões foram feitas apenas para 28 auditórios situados em Berlin, Leipzig e Potsdam, para além da aldeia olímpica. Estima-se que 150.000 pessoas tenham assistido a essas transmissões televisivas. A Alemanha tinha iniciado as primeiras transmissões televisivas regulares no ano anterior.







https://www.youtube.com/watch?v=3exBWIwrvsE&t=709s
Documentário inglês sobre as transmissões televisivas dos jogos de Berlin 1936, com imagens extraordinárias da aldeia olímpica. fonte: youtube


Em termos desportivos, a Alemanha dominou a competição, mas o maior mediatismo acabaria por recair no atleta americano Jesse Owens, não apenas pela excelência do seu desempenho atlético (4 medalhas de ouro), mas também pelo racismo implícito gerado nas autoridades políticas e desportivas alemãs.


https://youtu.be/ZfRIeCqdpRA
Jesse Owens em cor!





A delegação portuguesa


A delegação portuguesa teve 31 representantes no desfile inaugural, sendo porta-estandarte o esgrimista João Sassetti, medalha de bronze em Amesterdão, 1928.



Emblema usado pela delegação portuguesa aos jogos olímpicos de 1936. Fonte: slbenfica.pt



O chefe da missão portuguesa foi o Dr. César de Mello, que fez parte da primeira equipa do Sport Lisboa em 1 de janeiro de 1905 (ver: -32- Glorioso por um dia. pág.7) e o chefe de equipa Vasco Ribeiro, que era também presidente do Sport Lisboa e Benfica (mandatos entre 1933-1936)!



Membros do COP, em que se destacam César de Melo, chefe de missão e Vasco Ribeiro, chefe de equipa nos jogos olímpicos de 1936. Ambos ligações ao Benfica.


Nos jogos de 1936, a comitiva portuguesa viria a assegurar uma medalha de bronze, no último dia de uma prova de equitação por equipas (Prémio das Nações), através dos cavaleiros Luís Mena e Silva, Domingos de Sousa Coutinho e José Beltrão.



Parte da delegação portuguesa foi recebida na embaixada portuguesa em Berlim. Manuel Dias está em cima, segundo a contar da esquerda. Fonte: slbenfica.pt



Entre os aspetos negativos, os atletas salientaram a falta de... vinho! E o bacalhau e o azeite lá tiveram que vir de Portugal por intervenção de... Manuel Dias! Transcrevendo um texto publicado no "JN História", nº3, maio 2016

"Como não há bela sem senão, os portugueses só lamentam a falta de vinho. Às refeições só servem água ou leite. Hão de convir, que não é das coisas mais agradáveis, acompanhar a carne guisada ou o bife com um copo de leite." A "bela" era a Aldeia Olímpica de Berlim, um "verdadeiro triunfo" nas palavras do enviado especial do Diário de Lisboa, quem deu igualmente conta dos lamentos portugueses pela falta de vinho às refeições. "Não lhes deixam beber vinho, mas deixam-nos admirar bailarinas quase nuas", acrescenta sobre a oferta de variedades disponível na aldeia olímpica. Não havia vinho, mas bacalhau não faltou, ainda que trazido desde Portugal por Manuel Dias, maratonista, e um dos 19 atletas entre os 22 e os 50 anos que compôs a comitiva portuguesa.





RedVC

#1090
-283-
Um ardina olímpico! (parte II): um percurso destemido.


Dia 24 de Abril de 1932, Avenida da Índia, Lisboa.
Uma equipa Benfiquista acabava de vencer a estafeta Cascais – Lisboa.


Equipa do Benfica, vencedora da Estafeta Cascais-Lisboa no dia 24-04-1932. Em baixo, Manuel Dias, João Miguel e Armando Silva, em cima, Armindo Farinha. Fonte: https://endurance1963.weebly.com/galerias.html


A Estafeta Cascais - Lisboa é a mais antiga e prestigiada corrida pedestre nacional por estafetas. A edição de 24 de abril de 1932, foi a primeira edição da prova embora por vezes seja considerada a edição zero pois teve a parte final do seu percurso anulada pelas autoridades.

Em 1934, o percurso cobriu cerca de 24 km, em 4 etapas depois do último percurso de 3 km das 5 etapas inicialmente previstas, ter sido anulado. Aparentemente havia um intenso trânsito entre a Avenida da Índia e a Praça do Comércio, onde estava instalada a meta, e as autoridades não tinham precavido essa situação! Na verdade a multidão estendeu-se ao longo de todo o percurso, sendo os corredores vitoriados por milhares de espetadores, que, nas bermas da estrada ou acompanhando a prova de carro ou bicicleta, complicaram a vida quer às autoridades quer aos próprios atletas!

À partida, na estação ferroviária de Cascais, apresentaram-se oito equipas, em representação de quatro clubes: três do Benfica, duas do Sporting CP e dos Vendedores de Jornais e uma da Probidade (patrocinada pela companhia de seguros do mesmo nome).

A equipa Benfiquista "A", que aliás era a favorita, ganhou a prova com 1h16min à frente da equipa do Sporting CP. Essa equipa vencedora era constituída por Armando Silva (A1, 1º percurso), João Miguel (A2, 2º), Armindo Farinha (A3, 3º) e Manuel Dias (A4, 4º).

Decisivo para a vitória desse dia, Manuel Dias, tinha sido a grande contratação no início desse ano, para o atletismo do Sport Lisboa e Benfica. Foi recrutado no ano anterior, depois de sair do Sporting CP, clube onde tinha estado 5 anos. Mas esse é apenas um dos detalhes da interessante vida de Manuel Dias...



Um percurso destemido


Manuel Dias foi uma grande figura do atletismo do Sport Lisboa e Benfica, Clube onde se notabilizou de 1932 a 1944. Hoje bastante esquecido, Manuel Dias foi, na sua época, um atleta que gozou de grande popularidade. Foi um digno sucessor de Francisco Lázaro.

Nasceu a 13-03-1904, em Lisboa, presumo que na zona da Picheleira. De origens populares, filho de um vendedor de jornais, ele próprio também viria a adotar a profissão de ardina. Como todos os ardinas, o pequeno Manuel recolhia os jornais no Bairro Alto, onde se situavam a maior parte das redações e gráficas dos principais jornais de então, e, transportando-os na sua sacola, partia em passo de corrida pela cidade fora, apregoando as manchetes e distribuindo os jornais pelos clientes. Treinava a trabalhar. Melhor treino não podia arranjar, nessa época!



Os ardinas de Lisboa, uma presença pitoresca e socialmente relevante nas décadas de 20 e 30. Fonte: AML


Franzino, mas com uma estrutura rija, revelou muito cedo uma invulgar propensão para corridas de competição. Iniciou-se nas competições no Grupo Desportivo Vendedor de Jornais, ingressando depois no Vendedor de Jornais FC. Note-se que este clube tinha boa fonte de recrutamento e por vezes apresentava equipas de corrida que competiam de igual para igual com as formações do Benfica e do Sporting!



Abril de 1927, grupo de sócios da Caixa de Solidariedade dos Vendedores de Jornais com a sua bandeira durante uma visita ao jornal O Século.


Por ser muito franzino nem sempre o jovem Manuel Dias era escolhido para correr, situação que considerou injusta e que o levou a, na companhia de alguns amigos, fundar o Sport Picheleira Atlético Clube. Esta modesta agremiação manteria atividade até 1944, altura em que se juntou ao Botafogo Futebol Clube, fundando-se assim o Vitória Clube de Lisboa, instituição que ainda hoje existe.

No Picheleira AC, Manuel Dias permaneceria até 1926, altura em que se desentendeu com alguns dirigentes, levando-o, em agosto de 1926, a aceitar uma proposta que lhe vinha sendo repetidamente feita pelo Sporting CP.



Manuel Dias com a camisola listada, a competir num cross no final da década de 20.


Permaneceu no clube leonino durante 5 anos, conquistando diversos títulos nacionais e arrebatando alguns recordes nacionais, em diversas distâncias. No final da temporada de 1931, teve alguns desentendimentos no Sporting, que começaram com uma repreensão registada "por ter tomado parte numa prova contra as instruções dadas pela Direção", e que sofreria ainda maior agravo: "Suspensão até à 1ª Assembleia Geral por se ter negado a entregar a Taça Mário Duarte que ganhara na Anadia, representando o clube, e que só entregou por intermédio da polícia." (fonte: http://www.sportingcanal.com/?p=3176)

Despeitado com semelhante injustiça, Manuel Dias abandonou o clube leonino e aceitou logo uma proposta do Sport Lisboa e Benfica, embora só viesse a estrear-se de águia ao peito, em janeiro de 1932.




Fonte: História do SLB 1904-1954


No Benfica continuou igual a ele próprio: alegre, franzino, rápido e campeão!



Fonte: História do SLB 1904-1954


De 1932 até 1944, envergando a camisola vermelha, Manuel Dias obteve um verdadeiro desfile de vitórias que consolidaram a sua posição como o mais destacado e popular corredor da sua geração. Tornou-se um símbolo do Benfica, sendo profundamente admirado por colegas e adeptos da modalidade.



Uma imensa popularidade no universo Benfiquista.


É impressionante atentar no seu palmarés:

● 28 títulos de campeão nacional (6x da maratona, 8x de corta-mato, 8x de 5.000m, 3x de 1.500m, 10.000m, estafetas 4x800m, e 4x1.500m)

● 19 títulos de Lisboa (7x de cross, 5x de 5.000m, 3x de 1.500m, 800m, 10.000m, estafetas 4x800m, e 4x1.500m)

● 10 recordes nacionais (maratona, 30Km, 5.000m, 2.000m, 3.000m obstáculos, 3.000m, milha, 4x800 m e 4x1500 m)


Em termos internacionais, para além dos jogos olímpicos de Berlim, Manuel Dias competiu também em Londres e Barcelona (num Barcelona vs. Lisboa), sempre dignificando o desporto nacional.

Em particular, Manuel Dias conseguiu um brilhante 2º lugar a Maratona da Coroação em Londres, regressando, orgulhoso, com uma taça. Esse evento desportivo, disputado no dia 12-05-1937, fez parte das comemorações da coroação do Rei Jorge VI, pai da futura Isabel II. Esse foi um dos raros eventos que "obrigaram" Salazar a viajar para o estrangeiro.



Antes e depois da Maratona da Coroação. À esquerda, 21-05-1937, Manuel Dias com Raul Oliveira, diretor do jornal "Os Sports". À direita, 08-06-1937, no regresso de Londres, Manuel Dias segurando a taça que conquistou com o 2º lugar. Fonte: TT


https://www.youtube.com/watch?v=3Q_t1A5SMdI
A maratona da Coroação, Londres, 12-05-1937.




Poster evocativo da vitória de Manuel Dias na maratona da coroação, Londres, maio de 1937. Fonte: TT


Em abril de 1944, a Stadium anunciava a retirada de Manuel Dias, dando-lhe o merecido destaque na sua primeira página.



Capa colorida da revista Stadium que anunciou a retirado do campeão, Fonte: Hemeroteca Lx



As origens Benfiquistas do... Record!


Um detalhe curioso e pouco lembrado é que em 1949, Manuel Dias foi fundador do jornal Record!

E não foi o único Benfiquista pois os outros dois fundadores eram também Benfiquistas!

Fernando Ferreira, foi atleta e treinador de atletismo no Benfica.

José Monteiro Poças era o único jornalista entre os três fundadores, sendo também reconhecido adepto do Benfica (ver: https://www.record.pt/exclusivos-record/cinquentenario/detalhe/os-fundadores-monteiro-pocas-o-resistente)! Três fundadores, três adeptos do Benfica!



Os três fundadores do jornal "Record". Três Benfiquistas!


Os detalhes ficam aqui transcritos a partir de um texto retirado do próprio jornal, em que deixei os factos históricos e retirei a propaganda autoelogiativa.

"Record foi fundado por iniciativa de um homem – Manuel Dias – vendedor de jornais e também atleta olímpico, com uma honrosa participação nos Jogos de 1936, em Berlim.

É uma história invulgar e curiosa. Já então ardina, com negócio de venda de jornais montado, Manuel Dias vê-se um dia contemplado com um prémio de 40 contos (200 euros) da Lotaria Nacional. Estávamos em 1949 e essa quantia era relativamente importante.

Foi Manuel Dias quem teve a ideia de fundar um jornal desportivo e foi ele quem financiou em grande parte a operação para a qual "arrastou" um jornalista de "A Bola", José Monteiro Poças, e um professor de Educação Física muito ligado ao desporto - e em particular ao atletismo - Fernando Ferreira.

A primeira edição do jornal, então semanário, apareceu na rua no dia 26 de novembro de 1949, tendo desde logo procurado - apesar da posição dominante do futebol nas suas colunas - dar cobertura às restantes modalidades desportivas.




A primeira edição do jornal Record, em 26-11-1949


Desde 1949, sediado na Travessa dos Inglesinhos, é interessante perceber as origens de um jornal que é hoje dominado pela cor verde, com alguns laivos azuis e essencialmente – para ser elegante - pelo ativismo enviesado do seu produto comercial... Uma pouca vergonha quando se pensa na qualidade dos seus fundadores e em particular em José Monteiro Poças, o seu diretor durante diversas décadas e figura fundamental para a sobrevivência do título!


Para sempre Benfiquista!


Alegre, generoso, dedicado ao seu Clube, Manuel Dias continuou sempre associado ao Benfica, representando-o em diversas ocasiões festivas.



Dia 10 de junho de 1944, representando o Sport Lisboa e Benfica e o Atletismo nacional na inauguração do Estádio Nacional. Fonte: Hemeroteca Lx



Em 1985, aquando das cerimónias festivas do fecho do terceiro anel da nossa Catedral, Manuel Dias ali se apresentou, provavelmente pela última vez, aos adeptos e sócios. Benfiquistas.



Ao lado de outros grandes campeões Benfiquistas, a maior parte atletas olímpicos. Da esquerda para a direita, de pé: António Leitão e Manuel Dias (atletismo), Oliveira Ramos (ténis de mesa), Alexandre Yokochi (natação) e Guilherme Espírito Santo (atletismo e futebol). Em baixo, João Campos (atletismo) Uma constelação Gloriosa! Fonte: Lusa



Até sempre, campeão! Fonte: Lusa



Nasceu humilde, começou como ardina, chegou a atleta olímpico, fundou um clube e fundou um jornal!

Passou por diversos clubes, mas foi no Sport Lisboa e Benfica que encontrou o amor clubístico e se tornou ídolo das massas!

Deixou obra e saudade.

Paz e honra à memória de Manuel Dias!






Ned Kelly

Edição de autor, com o patrocínio da malta e um livro feito por um benfiquista para benfiquistas. Pensa nisso. Isto tem tanto mas tanto valor, é tão profundo, que se calhar a maioria das pessoas nem consegue perceber a verdadeira dimensão do que aqui publicas.

É um grande legado que aqui está. Saibamos valorizá-lo.

RedVC

Citação de: Ned Kelly em 04 de Outubro de 2021, 20:31
Edição de autor, com o patrocínio da malta e um livro feito por um benfiquista para benfiquistas. Pensa nisso. Isto tem tanto mas tanto valor, é tão profundo, que se calhar a maioria das pessoas nem consegue perceber a verdadeira dimensão do que aqui publicas.

É um grande legado que aqui está. Saibamos valorizá-lo.


Muito obrigado, Ned!  O0


Uma edição de autor não seria viável do ponto de vista financeiro tendo em conta os direitos de autor das fotografias.

Estes textos não têm qualquer interesse económico associado, daí ser viável o uso de tantas imagens.

Pretende-se:

- lembrar e honrar os Ases que nos honraram o passado

- reunir e transmitir informação tão rigorosa quanto possível sobre figuras e eventos da História do SLB

- valorizar as fotografias, dando-lhe o seu contexto e importância histórica.


E por último, a satisfação de um prazer pessoal que é descobrir e com isso deliciar-me com a grandeza do passado do nosso Clube.

Alguns textos são mesmo explorações no desconhecido. Estes dois sobre Manuel Dias são um bom exemplo. Há duas semanas só sabia que tinha existido e que tinha competido pelo SCP e pelo SLB.

Não sei quantas pessoas leem estes textos mas espero que se sintam como eu quando acabo de os escrever: mais conhecedoras e mais orgulhosas do Glorioso.


Assim, fica aqui um repositório de Benfiquismo para quem quiser ler.
Os textos cujas fotografias estiverem em baixo pode ser carregados de novo, assim alguém o peça.

Pelo Benfica, sempre!

Alexandre1976


Fundado1904

Obrigatório passar neste tópico.

O banho de Benfiquismo que nos lava a alma não tem preço.