Decifrando imagens do passado

Alexandre1976

Tinhamos perdido no defeso de 75-76 um naipe de jogadores importantes,alguns já a entrar na veterania.Sairam Humberto,Jaime Graça,Adolfo,Artur Jorge,Simões e o King Eusébio.

RedVC

Citação de: Alexandre1976 em 14 de Outubro de 2021, 23:17
Tinhamos perdido no defeso de 75-76 um naipe de jogadores importantes,alguns já a entrar na veterania.Sairam Humberto,Jaime Graça,Adolfo,Artur Jorge,Simões e o King Eusébio.

Sim, e depois Romão Martins tratou do resto...
Ter Romão Martins na Direção do Dr. Borges Coutinho foi um daqueles absurdos inexplicáveis.

luckyluke

Citação de: RedVC em 15 de Outubro de 2021, 13:15
Citação de: Alexandre1976 em 14 de Outubro de 2021, 23:17
Tinhamos perdido no defeso de 75-76 um naipe de jogadores importantes,alguns já a entrar na veterania.Sairam Humberto,Jaime Graça,Adolfo,Artur Jorge,Simões e o King Eusébio.

Sim, e depois Romão Martins tratou do resto...
Ter Romão Martins na Direção do Dr. Borges Coutinho foi um daqueles absurdos inexplicáveis.
O Romão Martins enfraqueceu-nos a equipa. Deixou antes ir Jordão e Artur Ruço, e depois o Eurico e o Fidalgo, todos para o Sporting para virem o veterano Laranjeira e o veterano Botelho...
O Romão Martins lesou o Benfica por incompetência e por ser um unhas de fome.

RedVC

#1113
-286-
Militar e associativista (parte I) – revolução

Cacilhas, 2 de fevereiro de 1926:



Movimento de 2 de fevereiro de 1926: em Almada, o Major Faria Leal em plenas operações à frente das tropas leais ao governo. Fonte: TT



O Major Luís Carlos de Faria Leal, avança decidido no comando das operações de tropas de Infantaria 16, forças militares leais ao governo democrático da República de Portugal. Enfrentava o movimento revolucionário que eclodiu no dia 2 de fevereiro de 1926.


*****


Norberto de Araújo (1889-1952), o grande jornalista, olisipógrafo e Benfiquista, escreveu por essa altura:

"As revoluções em Portugal, principiaram por ser revoluções, foram depois revoltas, depois insurreições, a seguir pronunciamentos logo movimentos, e acabaram em episódios.

Acabaram - não; continuarão.

Já o tenho descrito: - movimentos revolucionários são casos de sentimentalismo político. Boas intenções, desejos de redimir. Vencer ou não vencer, não importa. É uma manifestação de "lirismo político". Assim se compreende que os vencidos tenham quási orgulho em serem conduzidos aos presídios. Ensaiaram um poema."



Norberto de Araújo sabia do que escrevia, não apenas por ter sido testemunha da violência revolucionária que se desenrolava com alguma frequência na capital portuguesa, como por ter alguns dos seus amigos envolvidos nesses movimentos. Era o caso do Major Faria Leal, tal como veremos mais à frente.

O movimento revolucionário de 2 de fevereiro de 1926 não seria o único que Faria Leal enfrentaria na sua vida, mas ficaremos apenas com um breve resumo deste golpe. Será o ponto de partida para uma série de 4 textos em que se abordará a figura de
Luís Carlos de Faria Leal, distinto militar que foi o 1º presidente eleito da história do Grupo Sport Benfica e por inerência o 2º presidente da História do Sport Lisboa e Benfica.



Luis Carlos de Faria Leal
(Luanda, 1888 - Lisboa, 1956)



No presente texto, falaremos brevemente da família e a vida militar e revolucionária de Luís Carlos de Faria Leal. Nos restantes 3 textos, demonstrar-se-á que Faria Leal foi uma das figuras maiores dos primeiros anos da vida do nosso Clube.



Faria Leal, militar situacionista


A revolta de 2 de fevereiro de 1926 também chamada de "revolução de Almada" foi conduzida por um grupo de revoltosos, muito heterogéneo, de diversos sectores radicais que pretendiam derrubar um governo democraticamente eleito, chefiado por António Maria da Silva (1872–1950). A revolta foi inspirada e comandada por José Augusto da Silva Martins Júnior, um construtor civil e pelo Dr. Almeida Lacerda, um militar.

Aproveitando a ausência da capital do primeiro ministro e do presidente da República, Bernardino Machado (1851-1944), as tropas revoltosas iniciaram o movimento armado na madrugada do dia 2, assaltando a Escola Prática de Artilharia, em Vendas Novas.

Depois de prenderem os oficiais e terem morto pelo menos um militar, o regimento insurgente saiu de Vendas Novas e dirigiu-se para o Seixal, comandado por sargentos revoltosos, levando uma bateria com 4 peças de artilharia e algum armamento ligeiro. No Seixal foram libertados e armados alguns presos políticos, aumentando assim o contingente revoltoso para cerca de 300 homens. O forte de Almada foi ocupado, tendo sido hasteada uma bandeira vermelha e cortadas as comunicações de Lisboa com a margem sul. Restava esperar.

No entanto, ao contrário das expectativas dos revoltosos, que teriam compromissos de que em Lisboa outras unidades militares pegariam em armas, a situação na capital permaneceu calma. Rapidamente, foram congregadas forças fiéis ao governo e assim uma coluna de tropas de Infantaria 16 e uma companhia de infantaria da GNR de Lisboa e Santarém dirigiram-se para Almada, tendo sido alvejados com artilharia e metralha quando atravessavam o Tejo.



Fonte: TT e DL


Durante a noite, a situação alterou-se quando as tropas fiéis ao governo cercaram os revoltosos, tendo projetado um ataque pela 8-9 horas da manhã de 3 de fevereiro. Martins Júnior reuniu as suas tropas revoltosas na capela de um antigo convento no Alto de São Paulo, tendo solicitado aos jornalistas que convidassem (!) o major Faria Leal para se encontrar com ele e com o Dr. Lacerda de Almeida (chefe militar da revolta) para acertarem os termos de rendição. E seria este último a formalizar a rendição, evitando um banho de sangue.

As tropas fiéis avançaram, tomando posse das posições revoltosas e deram ordem de prisão às tropas sublevadas. Estes, esfaimados e desarmados, mas mantendo uma postura ordeira e digna, foram conduzidos para Porto Brandão, onde foram embarcados no navio de guerra "Pero Alenquer".



Fonte: TT e DL



Faria Leal, militar revolucionário

Em Portugal, e em particular em Lisboa, a década de 20 foi frequentemente agitada por movimentos revolucionários, geralmente mais barulho e escaramuças urbanas, que levaram a rearranjos nos poderes civis e militares. No entanto, revoluções houve em que se contaram bastantes mortos e danos de monta em bens públicos e privados.

Republicanos, monárquicos, democráticos, sidonistas, reformistas. conservadores, radicais, naqueles tempos todo o tipo de fauna política pegava em armas. E assim, entre equilíbrios, conivências e conveniências, entre traições, deserções e dissuasões, se concretizaram muitos "complots".

Do lado do governo houve quem falasse que o golpe tinha sido mais um caso de sentimentalidade política, mas o que em breve ficaria demonstrado é que existiam enormes tensões na sociedade portuguesa. A república e a democracia estavam em regressão e completamente descredibilizadas em sectores influentes da sociedade civil e militar.

Três meses depois, a 28 de maio de 1926, eclodiu um golpe de Estado que no dia seguinte depôs o regime democrático e instituiu a ditadura militar que duraria 48 anos.
Faria Leal não esteve envolvido no golpe do 28 de maio, antes pelo contrário. No ano seguinte, em fevereiro de 1927, envolvido num golpe oposicionista que seria abortado pelas forças leais ao governo de Óscar Carmona. Faria Leal, nunca chegaria ao posto de general do exército português...



Os Faria Leal


Hesitei diversas vezes em escrever extensivamente sobre Luís Carlos de Faria Leal, isto apesar de ser um gigante dos primeiros 50 do Sport Lisboa e Benfica e de estar – muito injustamente – bastante esquecido. Quando morreu, em 15 de agosto de 1956, Faria Leal era o sócio nº 1 do Sport Lisboa e Benfica, mas esse estatuto estava longe de ser apenas honorífico. Faria Leal foi um dos atores principais em algumas das mais delicadas etapas iniciais da vida do nosso Clube.

Hesitei, também, porque a vida de Faria Leal foi tão repleta de acontecimentos e intervenções revolucionárias e associativas, que se torna difícil fazer uma sumarização eficaz. Para além disso, a complexidade desses acontecimentos é tal, que o que quer que se diga será sempre incompleto. Pede-se por isso alguma indulgência ao leitor....

Luís Carlos de Faria Leal nasceu em Luanda, Angola, por volta do ano de 1888. Era um dos seis filhos (Luís, Rosina, Mário, António, Nuno e Lucíla) de José Heliodoro Corte-Real de Faria Leal e de Ernestina Augusta de Faria Leal. O seu pai, natural de Nova Gôa (Pangim), Índia Portuguesa, foi um prestigiado general do Exército Português, que passou à situação de reforma em 1908 e cuja notável obra militar e social em Angola, colónia onde viria a falecer, tem merecido interesse de estudos académicos. O seu avô, António Justino de Faria Leal, foi oficial-médico da Marinha de Guerra Portuguesa.




José Heliodoro Côrte-Real de Faria Leal (1862-1945). Fonte: IICT e "O Século"


Para lá da presença e da sua prolífica atividade em África, a família Faria Leal tinha também casa em Benfica, então um bairro periférico de Lisboa, pacato, ainda com fortes traços campesinos, mas também com belas quintas e casas de férias e de fins de semana, frequentadas por uma certa burguesia lisboeta, ávida de convívio social.

Seguindo a tradição familiar, Luís Carlos tornou-se militar, distinguindo-se como oficial de Artilharia em missões em Damba, Congo Português, no norte de Angola, entre 1911 e 1915. Combateu em França, na I Guerra Mundial, integrado no CEP, como tenente miliciano. Embarcou para França em 15 de maio de 1917 tendo aí cumprido 239 dias de campanha, incluindo um período de baixa médica entre 21 e 31 de dezembro de 1917.

Ainda em França, a 30 de março de 1918 foi promovido ao posto de capitão miliciano, sendo frequentemente elogiado pela sua capacidade e dedicação no cumprimento das tarefas que lhe tinham sido incumbidas.



Ficha de Luís Carlos de Faria Leal no CEP. Fonte Exército Português


Recebeu numerosos louvores e medalhas, destacando-se a palma dourada de bons serviços e a medalha da Vitória. Em 1921, chegou a ocupar o cargo de governador civil de Santarém, mas fruto da volatilidade política, acabou por ficar no cargo apenas alguns meses.

Chegou ao posto de major, e, tal como outros membros da família, foi agraciado com diversas condecorações. Foi feito Cavaleiro da Ordem Militar de Nosso Senhor Jesus Cristo a 28 de junho de 1919, elevado a Oficial da mesma Ordem a 5 de fevereiro de 1922 e a Comendador a 15 de outubro de 1923. Daí em frente, a sua progressão seria inviabilizada pelo regime de Salazar. Não foi caso único.




Ordens honoríficas atribuídas a membros da família Faria Leal. Fonte: https://www.ordens.presidencia.pt/


No próximo texto falaremos do papel de Faria Leal na fundação e gestão do Grupo Sport Benfica.



RedVC

#1114
-287-
Militar e associativista (parte II) – a fundação e o labor

A primeira Direção eleita do Grupo Sport Benfica (GSB).



A primeira direção eleita do GSB. Fonte: História do SLB 1904-1954



Eleitos em 12 de novembro de 1906, estes três jovens eram na altura e na ordem que são apresentados, os sócios nº 3, 2 e 1 do GSB. Faziam parte do núcleo fundador do GSB e tinham todos menos de 22 anos de idade (Faria Leal 18, Sobral Júnior 19 e José Augusto de Brito 22) No texto de hoje falaremos um pouco dos primeiros dias do GSB e do papel de Faria Leal nesses dois anos de labor associativo.

Para lá da sua condição militar e da sua recorrente insatisfação com os rumos que varriam a política portuguesa nas duas décadas após a instauração da República, o jovem Luís Carlos de Faria Leal tinha também interesse no desporto e no associativismo.

Assim se explica o seu envolvimento na fundação de um clube, juntamente com outras figuras da elite burguesa, financeira e política da sociedade Benfiquense (como então se dizia). A vontade de tempos livres em atividades desportivas num contexto de interação social foi a motivação que levou à fundação do GSB.



Fundação do Grupo Sport Benfica


O Grupo Sport Benfica foi fundado em 26 de julho de 1906. Da lista de fundadores constam 15 nomes, grande parte deles com pouco mais de 20 anos.

Visando a criação das bases administrativas e infraestruturais do novo Clube, formou-se uma Comissão Instaladora para a qual foram nomeados os três sócios fundadores que ocupavam o topo da lista, ou seja: nº 1, José Duarte (presidente); nº 2, António dos Santos Sobral Júnior (secretário) e nº 3, José Augusto de Brito (tesoureiro). Luís Carlos de Faria Leal, era então o socio nº4 e ficou de fora dessa Comissão de Instalação.



Os 15 sócios fundadores do Grupo Sport Benfica.



Tal como no Sport Lisboa, fundado dois anos antes, o núcleo de fundadores do GSB era bastante jovem, e alguns membros tinham parentescos próximos entre si. Ainda assim, muito provavelmente esse grupo de fundadores do GSB tinha uma menor heterogeneidade social. Uma outra diferença assinalável, era o futebol ser uma modalidade pouco importante no GSB, sendo o clube mais direcionado para a prática do ciclismo e dos desportos atléticos, em particular o pedestrianismo. Abreviando, em termos de atitude desportiva, os dois clubes diferiam bastante, o Sport Lisboa era competitivo e o GSB era essencialmente recreativo.

O primeiro ano do GSB foi bastante tumultuoso, com o abandono de 9 dos 15 fundadores. No final de 1906, restavam 12 fundadores e no final de 1907, restavam 6. Em meados de 1908, aquando da junção com o Sport Lisboa, restavam 4 fundadores. Nessas saídas, aconteceu um pouco de tudo, desde expulsões, resignações, falta de pagamento de quotas ou motivos não conhecidos. Houve até um caso de um fundador, estudante de 18 anos, que faleceu dois dias depois de sair do Clube.



Um presidente com 18 anos!


A primeira saída de um fundador foi a de José Duarte, o sócio nº 1 e presidente da Comissão Instaladora! Ocorreu no decurso de uma crise, despoletada a 12 de agosto de 1906, ou seja, menos de dois meses após a fundação do Clube. Tudo começou quando José Duarte comprou uma cautela com o dinheiro do Clube, sem antes ter consultado os restantes sócios.... Em assembleia-geral, aquando da apresentação de contas, Faria Leal liderou a contestação ao presidente, classificando o ato como um abuso do poder.

Faria Leal teve o apoio de toda a assembleia-geral, incluindo do resto da Comissão Instaladora. O processo culminaria no dia 7 de outubro de 1906 com a demissão de José Duarte! E, como então era considerado adequado, Faria Leal foi consequente com as suas ações, assumindo a presidência do Comissão Instaladora.

Para avaliar o caráter de Luís Carlos de Faria Leal, atente-se nestas afirmações, feitas 46 anos depois daqueles eventos:



Fonte: História SLB 1904-1954



Apesar das discórdias, a festa inaugural do Clube ocorreu em 2 de setembro de 1906, com um primeiro festival desportivo que incluiu provas de ciclismo e de pedestrianismo. O evento envolveu não apenas os sócios do Clube, mas também alguns dos comerciantes locais, e revelou-se importante para a admissão de novos sócios.

O crescimento do Clube foi então rápido. Em finais de 1906, tinham entrado mais umas duas dezenas sócios, em finais de 1907 tinham entrado mais umas seis dezenas (incluindo Cosme Damião) e até meados de 1908 entrou mais uma centena. A entrada de tantos novos sócios, particularmente aqueles vindos fora dos limites de Benfica, foi uma das grandes realizações do presidente Faria Leal e dos restantes membros da direção. Garantiu a sobrevivência e a expansão do Clube.



O primeiro evento desportivo do GSB. Note-se a prevalência das palavras "Grupo Sport" relativamente a "Benfica".


Ainda em 1906, no dia 18 de novembro, Faria Leal foi confirmado no cargo de presidente do GSB, desta vez de uma direção legitimada pelas primeiras eleições no Clube. António dos Santos Sobral Júnior e José Augusto de Brito mantiveram os postos de secretário e tesoureiro da direção. Foram também eleitos os restantes Órgãos Sociais, que integraram mais alguns sócios fundadores.



Os primeiros Órgãos Sociais eleitos do GSB, em 18-11-1906, para a 1ª presidência de Luís Carlos de Faria Leal



Nestes anos, não se coibindo de mostrar o seu voluntarismo associativo, Faria Leal fez parte de comités organizadores de torneios de desportos atléticos. Estes eventos tiveram grande participação e sucesso, sendo importantes para difundir a prática desportiva e fortalecer o espírito associativo em alguma sociedade lisboeta.



Luís Carlos de Faria Leal na organização de uma prova de lançamento do peso. Evento talvez realizado no campo de Palhavã. Fonte: AML




Evento desportivo organizado pelo GSB em 17 de julho de 1907, por ocasião do seu 1º aniversário. Fonte: Hemeroteca Lx



Em termos desportivos, o maior feito do GSB seria a vitória individual do seu atleta Carlos Marques e também a vitória por equipas na I Maratona nacional, disputada em 20 de outubro de 1907 e da qual já por aqui falamos (ver: -115- A "Corrida da Marathona". p.32).



Fonte: Hemeroteca Lx



Infraestruturas

Os Faria Leal dariam outra relevante contribuição ao GSB, quando permitiram que o clube instalasse a sua primeira sede na cave da Vila Faria Leal, uma propriedade do pai José Heliodoro, situada na Avenida Gomes Pereira, em Benfica. Servia para guardar equipamentos do campo de jogos.



Vila Faria Leal em cuja cave funcionou a primeira sede do GSB



Foi também durante a vigência da sua presidência, a 26 de maio de 1907, que o GSB tomou conta da Quinta da Feiteira embora já no ano anterior tivesse vindo a utiliza-lo por gentileza do proprietário. Era um terreno agrícola, na altura com um extenso faval, paralelo à Estrada de Benfica. Foi alugado ao clube pelo Comendador César José de Figueiredo, um destacado capitalista da época, que em setembro desse ano foi agraciado com o título de sócio de mérito do GSB.



Bem ao lado da Igreja de Benfica, ficava o chalet do comendador César Figueiredo, proprietário da Quinta da Feiteira, que estava ali mais ao fundo, do lado esquerdo




Recibo relativo ao aluguer da Quinta da Feiteira para o primeiro semestre e 1908 pelo comendador César Figueiredo. Recibo passado a Luís Carlos de Faria Leal, presidente do GSB.



Concluídas as obras de adaptação, o campo de jogos seria inaugurado no dia 14 de julho seguinte, tendo durante alguns anos sido considerado o melhor campo de futebol de Lisboa.

Dois anos depois, aquando da tentativa de renovação da renda, o GSB foi informado que o terreno estava destinado à construção urbana, só podendo ser alugado por um curto período de tempo. Não sendo solução de futuro e como a renda tinha sido progressivamente aumentada, impôs-se a necessidade de encontrar alternativas. A Feiteira seria utilizada pela última vez em 22 de maio de 1911.



O campo de jogos e o terreno envolvente da Quinta da Feiteira, em Benfica.



O entusiasmo dos primeiros festivais desportivos disputados no campo da Feiteira ficou registado em fotografia, sendo evidente a participação de dezenas de atletas, cujos desempenhos foram monitorizados por júris, e observados por numerosos populares, num contraste de vestimentas e de atitudes bem característico dessa época.



Os primeiros festivais de "Desportos Atléticos" do GSB foram realizados na Feiteira em 14, 23 e 28 de julho de 1907


O futebol era, nesses primeiros anos, uma modalidade de fraca expressão no GSB, mas seria justamente por causa da Feiteira, que tudo mudaria. A Feiteira dava condições para a prática do futebol e assim tornou-se um fator atrativo para futebolistas vindos de outros clubes desprovidos de campo, em particular do Sport Lisboa.

A Feiteira tornou-se então um espaço de convívio entre membros relevantes das duas coletividades e logo aí terá germinado a ideia de uma junção entre GSB e o Sport Lisboa, que seria concretizada em 13 de setembro de 1908.

Por ser vantajosa para as duas partes, a junção impôs-se ao fim de diversos meses de conhecimento e convívio entre sócios das duas instituições naquele espaço. Aliás, alguns sócios do Sport Lisboa como que anteciparam essa junção, fazendo-se sócios de GSB, como foi o caso de Cosme Damião que em 27 de outubro de 1907 se tornou o sócio nº 81 do clube de Benfica. Quando participou nas negociações para a junção, Cosme era sócio das duas coletividades.



Cosme Damião, sócio do GSB a partir de 27 de outubro de 1907.




Fonte: História SLB 1904-1954



Entretanto, Faria Leal tinha sido reeleito presidente da direção em 15 de setembro de 1907, tendo cumprido esse segundo mandato até 6 de junho de 1908, data antecipada por via da necessidade de ter novos Órgão Sociais que tomassem decisões fundamentais para o futuro do Clube. Já se antevia a necessidade de conduzir negociações para a junção com o Sport Lisboa.



Órgãos Sociais do GSB, eleitos para 1908-1909, no 2º mandato presidencial de Luís Carlos de Faria Leal. Fonte: História SLB 1904-1954



Foi sucedido no cargo por João José Pires, um prestigiado comerciante local, minhoto de origem e de 48 anos de idade. Faria Leal permaneceu nos Órgão Sociais, mas agora como secretário da direção, passando Sobral Júnior para vice-secretário.



Órgãos Sociais do GSB, eleitos para 1908-1909, com a presidência de João José Pires. Fonte: História SLB 1904-1954



Estava tudo pronto para o processo da junção. Será esse o tema do próximo texto.




RedVC

-288-
Militar e associativista (parte III) – a junção

Livro de atas da direção do Grupo Sport Benfica (GSB). Ata, nº 94, que reporta os trabalhos e deliberações tomadas numa reunião que decorreu no dia 4 de setembro de 1908 na Travessa Visconde Sanches de Baena, nº4, 1º andar, em Benfica.



A ata nº 94, onde ficou definido o processo de junção do GSB e do SL.


Esta ata descreve os termos acordados entre representantes do GSB e do Sport Lisboa (SL) para a junção das duas coletividades, passando a denominar-se Sport Lisboa e Benfica.


A junção

Desconhece-se quem lançou a ideia da junção entre o Sport Lisboa, clube fundado em Belém, e o Grupo Sport Benfica, clube fundado em Benfica. Talvez tenha sido uma ideia inicial de Cosme Damião, então sócio dos ambos os clubes, e por isso habilitado a avaliar as forças e fraquezas de cada coletividade. É razoável concluir que, mais do que lançada por um homem, a ideia ter-se-á imposto, de tão óbvia, pelo convívio e pela afinidade das ideias e dos sonhos dos sócios dos dois clubes.

O processo exigiu um grande envolvimento dos membros mais pensantes de cada Clube. No caso particular de Faria Leal, é possível que as intervenções que fez durante este processo tenham sido o contributo mais valioso que deu ao Clube. Ajudou a definir o Sport Lisboa e Benfica.



Os principais negociadores do processo de junção do Grupo Sport Benfica e do Sport Lisboa.


Cerca de 36 anos depois, Cosme Damião lembrou numa entrevista, que a junção foi um processo relativamente simples que envolveu 3 reuniões; uma em cada clube e outra com sócios dos dois clubes.

Da reunião no Sport Lisboa sabemos pouco, uma vez que desse tempo sobreviveram pouco mais do que documentos de despesa. Se houve livro de atas, nunca apareceu. Cosme Damião referiu que essa reunião envolveu os cerca de 40 sócios que o Sport Lisboa tinha nessa altura. O que é certo é que as negociações seriam conduzidas por dois homens que não pertenciam à direção eleita dois anos antes, e presidida pelo Dr. Januário Barreto. Houve certamente delegação, embora se afigure possível que a desagregação provocada pela crise de maio de 1907 também tenha tido consequências nos Órgãos Sociais.

Da parte do GSB, tudo ficou registado em atas e essas constam do arquivo do Clube. Permitem perceber a evolução das discussões e os pontos fundamentais que exigiram compromissos. A primeira reunião decorreu em 2 de setembro de 1908 (ata nº 93), onde tiveram maior destaque as intervenções de António Freire Sobral, Alfredo Luís da Silva e de Luís Carlos de Faria Leal. Foi aprovado um projeto, com 9 pontos, a submeter à aprovação do Sport Lisboa.


O nome em questão

Dentro do GSB, não houve concordância quanto ao nome a adotar para o Clube depois da junção. Antes de explicar as propostas e a resolução da questão no âmbito da junção, há que dizer que, no GSB, a questão do nome da coletividade tinha sido relevante num passado recente. Sete meses antes, tinha havido mudança de nome!

Na verdade, o GSB apresentou-se nas negociações para a junção como sendo o "Sport Clube de Benfica", ou seja, em rigor devíamos estar a falar de SCB e não de GSB... Essa mudança de nome explica-se pela vaidade do clube ter passado a dispor de uma nova e faustosa sede, bem mobilada, situada na Travessa do Visconde Sanches de Baena nº 4, 1º, atual Travessa do Rio, uma transversal da Estrada de Benfica.

Essa propriedade foi doada ao GSB por alguns dos seus sócios, por via de uma bizarra sequência de eventos políticos. Os doadores eram simultaneamente sócios do Centro local do Partido Regenerador Liberal, que tinha entrado em desagregação após o regicídio de 1 de fevereiro de 1908. A doação terá sido uma solução de recurso no aperto revolucionário da altura... O pior é que a nova sede trouxe encargos que acabaram por tornar incomportável a manutenção daquele espaço no património do clube, mas foi ali que se deram as negociações para a junção dos dois clubes. O prédio ainda hoje existe.



Sede do Grupo Sport Benfica em setembro de 1908


Voltando às negociações da junção, no GSB, Faria Leal, discordou de uma proposta inicial de designar a coletividade como o "Sport Clube de Lisboa". O argumento de Faria Leal pareceu imbatível, ao salientar que não se podia perder o valor inerente aos termos "Sport Lisboa" por um lado e "Sport Benfica" pelo outro. Valor esse conquistado em alguns anos de vitórias desportivas e pela popularidade dos clubes, principalmente do Sport Lisboa nos seus feitos futebolísticos.

Estava aqui a solução? Talvez, mas a proposta seguinte de Alfredo Luís da Silva, e que seria incluída no artigo 2º do projeto submetido ao Sport Lisboa, mencionava "Sport Clube de Lisboa e Benfica"! Ainda havia ajustes a fazer...



Faria Leal e um excerto da ata nº 93 onde ficou registada a sua opinião quanto ao nome a adotar pelo Clube, após a junção.


Entra Félix Bermudes!

Dois dias depois, a 4 de setembro de 1908, realizou-se uma nova reunião nas instalações do GSB (ata nº 94), desta vez com a presença de Félix Bermudes e Cosme Damião, delegados do Sport Lisboa. E, como seria de esperar, o brilhantismo intelectual e sentido prático de Félix Bermudes foi determinante para resolver os artigos em que ainda não existia acordo. E fê-lo de tal forma que diversos sócios do GSB foram bom suporte para os seus pontos de vista.

Interessa dizer que Faria Leal e António dos Santos Sobral Júnior não foram os Benfiquenses mais entusiasmados com os pontos de vista trazidos pelo Sport Lisboa. Ao invés, Alfredo Luís da Silva, em particular, assim como António Marques e António Sobral Freire, foram bem mais sensíveis à argumentação de Félix Bermudes.

No artigo 2º, Félix Bermudes discordou do nome da coletividade proposto pelo GSB, mas deu rapidamente a solução final: "Sport Lisboa e Benfica"!



Félix Bermudes, e o excerto da ata nº 94 onde ficou estabelecida a definição final do nome "Sport Lisboa e Benfica"!


E acrescentou que a equipa de futebol teria de ser a continuidade da equipa do Sport Lisboa, com tão gloriosas conquistas.

Félix Bermudes terá também discordado do artigo 7º, onde se propunha a adoção da insígnia do SCB com alteração apenas de uma letra da sigla. Não ficando registado em ata, existe, no entanto, uma tradição oral em que terá sido Faria Leal a dar a ideia que vingou, ou seja, de justapor os dois emblemas e adicionar a sigla SLB.

Por fim, no artigo 8.º, que definia as cores do equipamento, Félix Bermudes fez vingar a adoção das camisolas vermelhas e calção branco, cujo valor desportivo e popularidade eram indiscutíveis depois do feito – único para portugueses – de ter derrotado uma equipa de futebol dos ingleses do Carcavellos Club.



Nome e cores do Clube. Os dois artigos que obrigaram a maior negociação entre o Grupo Sport Benfica e o Sport Lisboa.


As negociações foram encerradas com sucesso, estabelecendo-se que faltava a ratificação final do acordo, em assembleia-geral, a realizar em cada um dos clubes.



Bases do projeto de junção, aprovado pelo Grupo Sport Benfica e pelo Sport Lisboa. De notar que o Grupo Sport Benfica se designava como "Sport Clube de Benfica".



A junção ficou concluída em 13 de setembro de 1908, num processo rápido e transparente. Existem indicadores que as assembleias-gerais se realizaram nesse mesmo dia, em ambos os Clube, cada uma dando aprovação ao projeto.

Como atrás se demonstrou, o processo ficou registado em ata de forma transparente. Logo aqui se notou o fator diferenciador de ter dirigentes competentes e de contar com a eficaz organização administrativa do GSB. O Museu Cosme Damião guarda esse livro de atas do GSB e faz a alguma divulgação de forma regular, como lhe compete.

De tudo o que atrás se disse é importante que os Benfiquistas percebam a importância da palavra "junção", uma vez que não foi uma fusão ou uma absorção. Foi essa a palavra explicitada de forma repetida nas atas. Traduz fielmente o propósito de juntar vontades e recursos materiais e humanos complementares, devidamente identificados pelas duas coletividades que, ainda assim, mantiveram a sua individualidade, garantindo dessa forma a continuidade da excelência nas suas atividades.

Uma demonstração da harmoniosa junção das duas coletividades, é atentar à composição dos órgãos sociais que foram eleitos cinco meses depois, no dia 26 de fevereiro de 1909. Identificam-se membros vindos de Belém e de Benfica. O presidente da direção continuou a ser o Benfiquense João José Pires, e integrava elementos de Benfica à exceção dos dois vogais vindos de Belém. A mesa da assembleia-geral foi integralmente composta por membros de Benfica, já o conselho fiscal era liderado pelo Conde do Restelo (proprietário da Farmácia Franco) e integrava Manuel Gourlade como relator, dois ilustres sócios protetores do Sport Lisboa, que continuavam comprometidos com o seu clube.



Os Órgãos Sociais do SLB eleitos para o exercício de 1909-1910.


O Sport Lisboa contribuiu essencialmente com as suas equipas campeãs de futebol, envolvendo cerca de 70 futebolistas e alguns homens com conhecimentos técnicos sobre o jogo e com capacidade de formar novos jogadores. O Grupo Sport Benfica contribuiu com as suas infraestruturas, os seus atletas da velocipedia, e dos desportos atléticos, e acima de tudo com a sua organização administrativa assente em dirigentes de grande qualidade. Competências complementares que ajudaram a moldar o maior Clube de Portugal.

Esta junção de esforços deu considerável impulso ao desenvolvimento de um Clube ambicioso, que defende os valores do desportivismo e do associativismo, assente na igualdade de direitos e deveres dos sócios. De todos, um. De todos os sócios, sem elitismos ou nepotismos, se fez e tem de continuar a fazer-se o Sport Lisboa e Benfica!


Avante, pelo Benfica.

Depois do processo da junção, Faria Leal continuou a dar valiosos contributos ao Clube, tendo sido eleito para integrar os órgãos sociais da Liga Portuguesa de Football. Com apenas 21 anos de idade, terá sido o único dos dirigentes provenientes do GSB que desempenhou um cargo na precursora da FPF, órgão para o qual foi inicialmente indicado como presidente, o Dr. Azevedo Meyrelles (ver 224- A ilustre Casa do Dr. Meyrelles, pág. 55) mas sendo depois desempenhado pelo Dr. Januário Barreto (ver -78- O casal virtuoso, pág. 23). Ambos tinham distintas ligações ao Sport Lisboa.

De facto, nesses tempos iniciais da organização do futebol nacional, do lado do Sport Lisboa diversos dirigentes tiveram, nessa época, esse tipo de responsabilidades, provavelmente por serem mais conhecidos no meio futebolístico lisboeta. No lado do GSB, apenas tenho conhecimento de Faria Leal ter desempenhado esse tipo de cargos. De notar ainda, que em 1909, quando Faria Leal teve de abandonar o cargo, por se ausentar para Angola, foi muito elogiado pela sua retidão e sentido de justiça. A sua vaga foi preenchida por Cosme Damião, outro dirigente moral e eticamente irrepreensível.



Entre 1908 e 1909, cinco homens ligados ao SLB, integraram os órgãos sociais da LPF. Fonte: Hemeroteca LX e Arquivo Norberto de Araújo


Ainda em 1909, Faria Leal foi eleito "Sócio Benemérito", tal como receberam o Dr. Azevedo Meyrelles, o comendador César José de Figueiredo (dono da Feiteira), o comandante Joaquim Costa (prestigiado dirigente de futebol) e João Carvalho Persónio (guarda-redes e instrutor das nossas equipas de futebol). Tudo gente que deixou obra no futebol de então.



Notícia de maio de 1909. Fonte: Hemeroteca Lx


Em 1913, fez parte do núcleo que lançou o jornal "O Sport Lisboa", periódico que pretendia dar informação mais completa e acima de tudo credível, aos sócios e adeptos Benfiquistas. Para evocar esses tempos "jornalísticos" temos hoje uma fotografia notável que reúne Cosme Damião e mais 12 companheiros, dos quais 4 foram presidentes do Benfica.



Fotografia captada em 15 de novembro de 1913, durante um banquete de homenagem ao fotojornalista Arnaldo Garcês Pereira.


A fotografia foi captada durante uma homenagem do jornal a um seu colaborador, o fotógrafo e Benfiquista, Arnaldo Garcês Pereira, também ali representado (mais detalhes podem ser lidos no texto -39- Um banquete de notáveis, pág. 9).

As contribuições de Faria Leal para o SLB tornaram-se cada vez mais intermitentes por via da sua condição militar. Como atrás se disse, participou em campanhas militares em África e combateu em França, na I Guerra Mundial. Em 1921, chegou a ser eleito para 1º secretário de uma das direções presididas por Bento Mântua, mas logo a seguir foi nomeado para o cargo de Governador Civil de Santarém, cargo público que desempenhou por muito pouco tempo por via da volatilidade política da época. Depois viriam os anos revolucionários e o ostracismo salazarista.

Mas, como veremos no próximo texto, ainda estava para vir um capítulo final, feliz no seu Benfica! O dia da Luz.





RedVC



Oliveira Ramos, Francisco Campas e Manuel Carvalho, 20-07-1957.
Fotografia de Roland Oliveira.

Uma das mais extraordinárias equipas que tivemos na modalidade. Em todas as modalidades.


Já aqui tive a honra e o prazer de escrever sobre estes homens e a excelente e prestigiante digressão que fizeram ao Brasil em 1956. Honraram o Clube. Ver: -81- Gloriosas compras na pátria do futebol. (pág. 23)

RedVC

#1117
-289-
Militar e associativista (parte IV) – o dia da Luz

Dia 1 de dezembro de 1954. Dia da inauguração do Estádio da Luz.



Desfile dos ases que honraram o passado do Clube, desde 1904. À frente os sócios nº 1, 2 e 3.


O capítulo final da vida associativa de Faria Leal, foi o dia da inauguração do Estádio da Luz. Nesse dia 1 de dezembro de 1954, desfilou como sócio nº 1, uma vez que o seu velho companheiro António dos Santos Sobral Júnior tinha falecido no ano anterior. Desfilou ao lado dos sócios nº 2 e 3 e à frente de uma longa coluna de antigos jogadores das nossas equipas de futebol desde 1904.



A primeira, alva, elegante, deslumbrante versão do Glorioso Estádio da Luz.



O mais belo estádio alguma vez erigido



O Estádio do Sport Lisboa e Benfica, popularmente eternizado com o nome de Estádio da Lua, era o segundo Estádio edificado em terrenos próprios do Clube. Pela sua grandiosidade, funcionalidade e beleza, tornou-se um motivo de orgulho tal que compensou todas as dificuldades, todos os sofrimentos, toda a dedicação e amor prestado ao Clube por numerosos pioneiros.

Aqueles que sobreviveram para o ver edificado, tinham, naquele dia, os olhos a brilhar e as pernas e as mãos a tremer sobre um sol de inverno e sobre a alegria dos aplausos da multidão Benfiquista.

Os Benfiquistas são humildes e agradecidos. Reconhecem os seus e reconhecem todos os que fizeram bem ao Clube. Esse dia foi especial no reconhecimento aos Ases que nos honraram o passado.

As palavras de Faria Leal, nesse "Dia da Luz" são ainda hoje comoventes. E por tudo o que atrás se disse, no balanço de uma vida, terá sido naquela visão de bancadas repletas de alegria, que tudo lhe terá passado pela cabeça. Recordou os companheiros que partiram, as reuniões, os sonhos, as desilusões, as vitórias e conquistas. Tudo fazia sentido, tudo tinha valido a pena. Tudo era Benfica!



Desfile do sócio nº 1 Luís Carlos de Faria Leal. Fonte: Em Defesa do Benfica


Faria Leal como muitos outros viveram anos de sangue, suor e lágrimas, mas apenas como muito poucos, viveu para ver essa obra monumental, a expressão máxima do associativismo Benfiquista! E de certa maneira, pelo seus olhos e coração, muitos outros que tinham já partido, foram também lembrados e reconhecidos. Aquele foi verdadeiramente o dia da Luz!


Capítulo final

Dois anos depois, Luís Carlos de Faria Leal deixou-nos, no dia 15 de agosto de 1956, com a idade de 68 anos.

Faleceu em Lisboa e foi sepultado no talhão dos antigos combatentes do cemitério do Alto de São João. Repousa ali, ao lado de muitos dos seus camaradas de armas, muitos deles Benfiquistas, alguns deles que até foram... presidentes do Sport Lisboa e Benfica.



Obituário da Luís Carlos de Faria Leal. Fonte: DL e Em Defesa do Benfica


Sempre lembrado. Paz e honra à memória de Luís Carlos de Faria Leal.




RedVC

#1118
-290-
Dirigente e atleta

Equipa de pedestrianismo do Velo Club de Lisboa, vencedora da prova da "corrida da marathona", disputada no dia 3 de maio de 1908.



Equipa do Grupo Velo Club de Lisboa em 1908.


Sentado, com o nº 4, sentado, identifica-se o malogrado Francisco Lázaro, atleta que morreu 2 anos depois desta fotografia, quando competia na maratona olímpica de Estocolmo. De pé, com o nº 6, identifica-se José de Mascarenhas e com o nº 5, identifica-se José de Brito.

Ora, neste texto não vamos focar atenções em Lázaro, mas sim em José de Brito. Este atleta tinha o nome completo de José Augusto de Brito, e era um dos 15 sócios-fundadores do Grupo Sport Benfica (GSB).

Em 26 de julho de 1906, no dia da fundação do GSB, José Augusto de Brito foi listado como o sócio nº 3 da nova coletividade, tendo no dia 7 de novembro desse mesmo ano, ascendido ao nº 2.



Lista parcial dos 15 fundadores do Grupo Sport Benfica, fundado em 26 de julho de 1906.



Parentesco estreitos

José Augusto de Brito nasceu em 5 de setembro de 1884, na freguesia da Encarnação, embora a sua família morasse no rés-do-chão do nº 5 da Estrada do Poço do Chão (atual Rua da República da Bolívia), uma antiga Azinhaga, que constituía a principal via de comunicação de Benfica a Carnide.

José Augusto de Brito era filho de Elisa Valeriana de Brito, moça solteira, natural de Benfica. O seu avô materno era José Faustino de Brito, um condutor de obras de viação, empregado na Câmara municipal de Lisboa que estava radicado em Benfica embora fosse natural do Rio de Janeiro.

José Augusto de Brito era também primo direito, pela parte materna, de António dos Santos Sobral Júnior e de seu irmão José de Santos Sobral. De facto, as suas mães era irmãs, ambas filhas do acima referido José Faustino de Brito. Isto equivale a dizer que, aquando da fundação do GSB, o sócio fundador nº 3 era primo direito dos sócios fundadores nº 2 e nº 14.

Saliente-se que António dos Santos Sobral Júnior, a partir de 7 de novembro de1906, passou a ser o sócio nº 1 do nosso Clube, e assim permaneceria até à data da sua morte em novembro de 1953. Conforme falamos nos textos anteriores, nessa data seria Luís Carlos de Faria Leal a ascender ao estatuto de sócio nº 1.



António dos Santos Sobral Jr, primo-direito de J.A. Brito e sócio nº 1 do SLB de 1906 até 1953, aqui ao lado de Albino na cerimónia de despedida deste último em 13-05-1945. Fonte: História SLB 1904-1954


Em termos profissionais, José Augusto de Brito, em 1907, quando tinha 23 anos de idade, era amanuense (escriturário-contabilista) na Caixa Geral de Depósitos, uma posição interessante para a época. Nessa altura morava na Rua de Santo Amaro 35, 2º esq., tendo casado em 1909 com Antónia Manuela d'Oliveira Lima.


De dirigente a atleta

Sempre como tesoureiro, José Augusto de Brito fez parte da Comissão Instaladora do GSB, nomeada no dia da fundação e fez parte da 1ª Direção eleita do Clube, em 18 de novembro de 1906.



A primeira direção eleita do GSB.
Nota-se a vestimenta ciclista de José Augusto de Brito, com algumas medalhas ao seu peito. Fonte: História do SLB 1904-1954


No entanto, para além destas funções de dirigente, o jovem José Augusto era um desportista empenhado dividindo o seu tempo entre o pedestrianismo e a velocipedia, modalidades que eram privilegiadas por vários outros sócios do GSB. Pelas fotografias percebe-se que José Augusto de Brito obteve algum sucesso desportivos na velocipedia, ostentando orgulhosamente diversas medalhas ganhas nas competições velocipédicas em que participou.



José Augusto de Brito, ciclista. Fonte: Hemeroteca Lx



Resultados de uma prova velocipédica onde participou José Augusto de Brito e mais alguns sócios do GSB. Fonte: Hemeroteca Lx


Como sócio destacado do GSB e no ambiente competitivo dos dias da Feiteira, José Augusto Brito competiu também em outras modalidades. na Feiteira, e até setembro de 1908, a maioria dos atletas usavam as camisolas listadas de branco e uma cor que ainda hoje não sabemos qual era.



José Augusto de Brito à frente da equipa de luta de tração do GSB, durante um festival desportivo disputado em 1907, na Feiteira. Fonte: Hemeroteca Lx



Essa segunda cor é um mistério que subsiste, existindo duas versões de homens que viveram esses tempos. A primeira é do próprio José Augusto de Brito que falava em branco e azul-marinho e a segunda é de Luís Gato, sócio nº 5 do GSB, que falava em branco e vermelho. Talvez nunca tenhamos a resolução do mistério.



As cores das listas do equipamento do GSB, um mistério que perdura. Fotos coloridas a partir de original do AML


Ainda na Feiteira, sabe-se que José Augusto de Brito praticou também futebol, tendo sido nomeado capitão da terceira categoria do Clube em novembro de 1907. Infelizmente, sabemos muito pouco dessas equipas do GSB, para lá de que eram pouco competitivas e de que nem sempre gozavam da simpatia dos moradores mais pudicos que viviam nas imediações do campo da Feiteira. Havia, no entanto, a vontade de melhorar e a convivência com atletas vindos do Sport Lisboa, clube radicado em Belém, seria fundamental para o salto competitivo.

E de facto, quando Cosme Damião e companheiros do Sport Lisboa começaram a frequentar o terreno da Feiteira, a organização competitiva e o nível futebolístico subiram. Para isso não terá sido alheia a nomeação de João Persónio, antigo casapiano e guarda-redes do Sport Lisboa, como instrutor de futebol no GSB.



Os homens do Sport Lisboa comprometidos com o GSB nos tempos pré-junção.



Será aliás, dessa época, ou seja, de meados de 1907, que foi captada a fotografia original das versões coloridas que acima se apresentaram. Essa fotografia é uma das duas, de que tenho conhecimento, em que podemos ver uma equipa completa de futebol do GSB. Infelizmente, está fora das minhas capacidades a identificação da totalidade dos jogadores presentes, e a fotografia original não tem uma legenda original associada (ou pelo menos não é disponibilizada pelo AML...)

Percebe-se que se trata de um jogo amigável em que o árbitro foi Daniel Queirós dos Santos, antigo casapiano, antigo jogador do Sport Lisboa e muito provavelmente nessa data já sócio destacado do Sporting CP. Nota-se que apenas uma das equipas apresenta equipamentos padronizados, listados de branco e uma cor indeterminada. Desta fotografia já por aqui falamos, tendo concluído que pelas identificações inequívocas de Cosme Damião, Luís Vieira, Álvaro Vivaldo e muito provavelmente Marcolino Bragança, teria de ser uma equipa do GSB, muito provavelmente datada do segundo semestre de 1907.



Fonte: AML


É também possível que José Augusto de Brito e António dos Santos Sobral Júnior ali estivessem. No caso deste último temos o reporte que praticou futebol até ter sido afetado por uma grave lesão na zona do joelho, que o incapacitou definitivamente para a modalidade. Já no caso de José Augusto de Brito, não posso assumir certezas, mas posso salientar parecenças...



Será?



Ausente na junção

Apesar de ser um sócio fundador do GSB e com funções executivas durante os dois primeiros anos da coletividade, José Augusto de Brito já não esteve nas negociações para a junção entre o GSB e o Sport Lisboa, em setembro de 1908.

Acontece que em 22 de abril de 1908, José Augusto de Brito pediu a sua demissão de sócio do GSB, de forma a poder prosseguir, sem conflitos de interesse, a sua atividade desportiva velocipédica e no pedestrianismo num outro clube, ou seja, o Velo Club de Lisboa. Talvez sentisse que nesse clube teria mais possibilidade de ter uma atividade competitiva nessas modalidades.

O Velo Club de Lisboa era uma associação desportiva fundada em 1 de novembro de 1894, sediada na Travessa de São Domingos, nº 39 - 1º, Lisboa, essencialmente direcionada para atividades de velocipedicas competitiva e lúdica, embora tivesse também uma secção ligada ao pedestrianismo.

No pedestrianismo, o seu maior destaque foram, sem dúvida, as prestações das suas equipas na "corrida da marathona". Essa competição, que se realizou em Lisboa de 1907 a 1910, era organizada pela revista "Tiro e Sport", o mais destacado periódico da divulgação e promoção do desporto nesse princípio do século.



Troféu "Au but", para a competição por equipas e trofeu "Victória!" atribuído ao vencedor individual da "corrida da marathona".


José Augusto de Brito participou apenas uma vez nessa competição, com a camisola do Velo Club de Lisboa.



A maratona nacional de 1908. Onde José Augusto de Brito competiu e onde o Grupo Sport Benfica, campeão em título, compareceu à partida. Fonte: Hemeroteca Lx.



Em 1910, o Velo Clube de Lisboa conquistaria definitivamente o troféu "Au but" depois de arrebatar a vitória por equipas por 3 vezes competitivas. O Grupo Sport Benfica (GSB) foi a única coletividade que também conquistou um triunfo na prova, conforme consta do histórico da "Corrida da marathona":




Notas relevantes:

● José Augusto de Brito só participou na corrida de 1908, onde foi 5º classificado.

● A equipa do GSB apresentou-se em 1907 (vencedora) e 1908 (2º classificado). Depois da junção, o SLB não se apresentou à competição.

● O troféu "Au but", para vencedores por equipas foi conquistado definitivamente pelo Velo Clube de Lisboa em 1910.

● Francisco Lázaro só competiu nas provas de 1908 e 1910, que aliás venceu. Em 1911, competiu pelo Sport Lisboa e Benfica, tendo vencido muitas provas com a camisola vermelha. Nessa altura esta prova da "Corrida da marathona" já não se disputava. Em finais de 911, mudou-se para o Sporting Clube de Lisboa, clube que representava quando faleceu em na maratona olímpica de Estocolmo.


De regresso

Em fevereiro de 1911, José Augusto de Brito já estava de volta ao Clube, tendo integrado uma falange de dirigentes do Sport lisboa e Benfica que solenemente vestidos, assistiu à retumbante vitória da equipa principal de futebol sobre os mestres ingleses do Carcavellos Club.

Nenhum outro clube português em atividade se pode orgulhar desse feito, que aliás conseguimos por mais de uma vez. Estas vitórias sobre os ingleses podem hoje representar uma curiosidade histórica, mas na altura foram feitos consideráveis que para lá do feito desportivo deram também muita estima ao orgulho nacional.



José Augusto de Brito (3º a contar da direita) entre a falange de dirigentes que se deslocaram a Carcavelos em 1911. Fonte: História SLB 1904-1954.




A equipa do Sport Lisboa e Benfica que venceu em futebol a equipa do Carcavellos Club no dia 19-02-1911. Jogo no terreno dos ingleses, na Quinta Nova em Carcavelos. De pé, esquerda para a direita: Luís Vieira, Henrique Costa, Alfredo Machado, Francisco Belas, Cosme Damião (cap.) e Artur José Pereira. Em baixo: Germano de Vasconcelos, António Costa, José Domingos Fernandes, Carlos Homem de Figueiredo e Virgílio Paula.



Apesar do regresso, José Augusto de Brito não recuperou mais o seu antigo número de sócio. Se o tivesse feito e como o seu primo António dos Santos Sobral Júnior faleceu em 1953, ele teria sido sócio nº 1 do Sport Lisboa e Benfica durante 12 anos.

José Augusto de Brito faleceu em Carnaxide, no dia 10 de abril de 1965, embora mantivesse ainda residência na Estrada Poço do Chão, nº 31, r/c, Benfica, Lisboa.


Paz e honra à memória de José Augusto de Brito.





Alexandre1976

O teu trabalho na divulgação da nossa história aqui no forum é extraordinário.Muito obrigado Red VC.

RedVC

Citação de: Alexandre1976 em 21 de Novembro de 2021, 00:24
O teu trabalho na divulgação da nossa história aqui no forum é extraordinário.Muito obrigado Red VC.

Obrigado, Alexandre  O0

Em breve passarei para uma série dedicada aos nossos presidentes. Um trabalho mais gráfico.

RedVC

-291-
Presidentes do Sport Lisboa e Benfica

O Sport Lisboa e Benfica teve, até hoje, 34 homens que foram formalmente eleitos para presidir aos destinos do nosso Clube.

Nem sempre se encontra informação sobre esses homens, particularmente os mais antigos. O sítio oficial do nosso Clube tem alguma informação sumariada, que é factual e interessante porque saiu da pena de Alberto Miguéns, o melhor e mais rigoroso dos historiadores do nosso Clube.

Ainda assim, há alguma informação adicional que pode ser sistematizada de forma a relevar e homenagear esses 34 homens. Com tempo, pretende-se ir publicando essa informação. Pede-se indulgência por qualquer falha e agradece-se qualquer correção ou sugestão complementar. Pretende-se apenas dar uma contribuição honesta e reconhecida ao seu papel, maioritariamente positivo, destes homens na construção do maior Clube português.

Neste primeiro texto serão publicadas uma série de galerias tentando resumir os factos e contribuições mais importantes das suas vidas enquanto cidadãos e associados.

















Nos próximos textos será dada (muito gradualmente...) um enfoque visual a alguns episódios da vida e da contribuição associativa destes presidentes.



RedVC

-292-
Presidente José Rosa Rodrigues













RedVC

#1123
-293-
Presidente Januário Barreto












sardao

O melhor tópico do fórum. Obrigado RedVC, és o maior