Decifrando imagens do passado

dfernandes

O melhor tópico deste forum! Nunca é demais referi-lo. Muito obrigado!

RedVC

Citação de: dfernandes em 21 de Maio de 2022, 14:42
O melhor tópico deste forum! Nunca é demais referi-lo. Muito obrigado!

Muito obrigado, Daniel  O0

Alguns destes textos são extensos demais, eu sei. No entanto, a ideia é recuperar informação perdida e deixar registo para que não se perca.

Alguma desta informação custa muito tempo e esforço a desenterrar dos arquivos mas estes Ases do passado bem merecem.

Depois, há o prazer de descobrir, e em cada detalhe celebrar o Benfica. Enorme, inigualável!

RedVC

#1232
-326-
No fim de uma era

Dia 2 de agosto de 1925, Jardim de Inverno do Teatro de São Luiz, Lisboa.



Cerca de 90 convivas reunidos no Jardim de Inverno no Teatro São Luiz, em 2 de agosto de 1925. Fonte: SLB


O Teatro São Luiz está localizado em pleno Chiado, na Rua António Maria Cardoso, em Lisboa e é uma das grandes casas da cultura da nossa capital. Foi inaugurado em 22 de maio de 1894, tendo nessa altura o nome de Teatro Dona Amélia, à época rainha de Portugal, esposa do Rei Dom Carlos. Em 1896, este Teatro foi o segundo espaço que apresentou aos lisboetas uma novidade tecnológica chamada "cinema".

Em 1910, com a revolução republicana seria renomeado Teatro da República, mas em 1914 sofreria um incêndio devastador. Seria reabilitado de imediato, voltando a abrir portas em 1916, tendo em 1918 sido rebatizado para o seu nome atual, numa homenagem póstuma ao Visconde de São Luiz de Braga, seu grande dinamizador (ver: https://restosdecoleccao.blogspot.com/2012/07/sao-luiz-teatro-municipal.html).



Os fundadores do então Teatro D. Amélia, atual Teatro Municipal Dom Luís. Fonte: Restos de Coleção.


Foi nesse espaço amplo que, depois de jantar, se reuniram os cerca de noventa convivas, para fazer uma foto de grupo. O jantar tinha decorrido ali perto, no Largo do Chiado, na Pastelaria Garret.



Fonte: Restos de Coleção



A "Garret" era um local de encontro para uma certa faixa elegante da sociedade lisboeta, tendo uma banda permanente que animava os chás e os jantares que ali decorriam.

O propósito desse evento era prestar homenagem a António Ribeiro dos Reis, jogador de futebol do Sport Lisboa e Benfica que terminava a sua carreira desportiva. E embora os convivas não soubessem, a sua homenagem ainda foi mais justificada porquanto Ribeiro dos Reis iniciava aí mais de 4 décadas de extraordinário serviço associativo ao seu Clube.



Folheto de divulgação do jantar de homenagem de Benfiquistas a António Ribeiro dos Reis. Fonte: História do SLB 1904-1954.


Identificações


Não é fácil fazer identificações na fotografia inicial deste texto, quer pela poeira do tempo passado, quer pela limitada resolução da imagem. Ainda assim, tentemos alguns reconhecimentos.

Em cima, no varandim interior, enfeitado com a bandeira do Clube, temos reunidos os dirigentes da altura. Entre eles identificam-se duas figuras maiores do Clube: Félix Bermudes e Cosme Damião. Parece também estar Bento Mântua, na altura o presidente da direção



Uma rara fotografia em que Félix Bermudes está lado a lado com Cosme Damião. Nota-se a presença da bandeira do Clube.


Em baixo, sentado ao centro, está o homenageado e ao seu lado, também sentados, estão alguns dos seus colegas, ou seja, jogadores da nossa equipa principal de futebol.

De pé, reconhecem-se ainda Manuel da Conceição Afonso e Joaquim Ferreira Bogalho, dirigentes ainda muito jovens, e que alguns anos mais tarde chegariam à presidência do Clube.



Identificações


E mais identificações:



Identificações



Um gigante no seu tempo

Jogador, dirigente, formador, ideólogo e treinador, António Ribeiro dos Reis (Lisboa, 10-07-1896 - Lisboa, 3-12-1961) é uma das figuras de primeira grandeza da História do Sport Lisboa e Benfica. Dele por aqui falamos no texto nº 37 - Três gigantes, três caminhos separados (pág.8).

Reafirma-se o que na altura se disse: "António Ribeiro dos Reis representa o caminho dos valores, da persistência, da mística Benfiquista no seu estado mais puro. De valores incorruptíveis até ao fim. O clube para alem de qualquer homem. Um gigante.".

Como jogador iniciou a sua atividade nos grupos de futebol na Casa Pia, entrando para o SL Benfica em 1913, ascendendo rapidamente à primeira equipa. Avançado de grande valor, cumpriu 11 temporadas e cerca de 125 jogos na equipa de honra, chegando a capitão prestigiado e prestigiante. Representou também o Clube em provas de atletismo, em especialidades de velocidade.




Algumas imagens do trajeto de António Ribeiro dos Reis enquanto jogador de futebol (1913-1925).


Como jogador, Ribeiro dos Reis integrou a primeira seleção nacional portuguesa, em 18-12-1921. Ao seu lado, como capitão de equipa, esteve o seu grande amigo Cândido de Oliveira. Com este manteria uma sólida amizade fora do Clube, mas de corte inflexível nos assuntos ligados ao SL Benfica, dado nunca lhe ter perdoado a deserção de 1920, aquando da fundação do Casa Pia Atlético Clube. Valores incorruptíveis.



Primeiro jogo da seleção nacional de futebol.


No SL Benfica, desempenhou cargos de máxima responsabilidade como, entre outros, membro do Conselho Fiscal, vice-presidente da Direção, presidente da Mesa da Assembleia-Geral e capitão geral do futebol (supervisor, treinador, organizador). Recebeu a Águia de Ouro em 1933, ou seja, apenas oito anos após deixar de jogar futebol. Notável.

Fora do Benfica, foi selecionador nacional em 1926, 1931 e 1943, secretário-geral da FPF, presidente da Comissão Central de Árbitros, membro de comissões de estatutos e representante português junto da FIFA.

Foi um militar prestigiado, com cargos na administração militar e no Instituto de Altos Estudos Militares. Passou à reserva em 1949 com o posto de Tenente-Coronel.

Foi ainda um dos três fundadores o jornal "A Bola", periódico onde desempenhou o cargo de redator principal, tendo também colaborado com vários outros jornais.

Publicou livros e formou diversas gerações e deu palestras, onde divulgou as diversas componentes táticas e técnicas do futebol.




António Ribeiro dos Reis, dirigente, militar e jornalista (1925-1961).



Cumprir o destino

Finda essa homenagem de 1925, António Ribeiro dos Reis iria começar a cumprir o seu destino como dirigente destacado do Clube. Esse ano de 1926 marcaria uma rotura dolorosa com o passado e com a visão de Cosme Damião.

Numas eleições realizadas num clima de grande dramatismo, a lista de Bento Mântua e Cosme Damião foi derrotada pela lista de António Ribeiro dos Reis, Ávila de Melo, Ferreira Bogalho, Vítor Gonçalves e outros. Apesar de tentarem nomear Cosme como presidente do Clube, este recusou e decidiu abandonar a vida associativa no Clube. Irredutível nas suas convicções. Felizmente, alguns anos depois, houve como esfriar esses desentendimentos e recuperar Cosme para a vida do Clube.

Concretizava-se a rotura com uma linha de ação que até então tinha privilegiado as obras no parque desportivo das Amoreiras e uma visão puramente amadora para o futebol do Clube. Ribeiro dos Reis e companheiros tiveram a lucidez de perceber os equívocos em que o Clube se tinha enredado e da necessidade de mudanças para garantir o futuro do Clube. Investir no futebol e permitir a contratação de jogadores era a única forma de impedir o definhamento competitivo do Clube.

Foi um processo eleitoral de roturas dolorosas, mas em que o Clube foi colocado acima de tudo e de todos. Anos mais tarde, Cosme Damião acabaria por reconhecer que a visão de Ribeiro dos Reis estava certa. Cosme voltaria ainda a assumir funções de dirigente no SL Benfica, tornando a fazer ouvir a sua voz e sabedoria, em prol da unidade do Clube.

Nas 4 décadas seguintes, Ribeiro dos Reis manteria intensa atividade ao serviço do Clube, embora por vezes entre-cortada devido à sua atividade profissional. Foi alvo de muitas mais homenagens dentro do Clube.




Outra homenagem no Clube a Ribeiro dos Reis, agora em 1943. Fonte: Stadium


E homenagens de fora do Clube



Em 1947, Ribeiro dos Reis receberia na sede do SL Benfica, a Ordem de Avis por parte do Estado Português. Fonte: Stadium


António Ribeiro dos Reis faleceu em Lisboa, no dia 3-12-1961, com a idade de 65 anos, vítima de uma doença prolongada. Apesar da doença, terá ainda tido consciência da conquista da primeira Taça dos Clubes Campeões Europeus. Foi sepultado no cemitério dos Prazeres onde também descansa o seu amigo e mestre, Cosme Damião.




Diversos obituários de António Ribeiro dos Reis


Nas décadas seguintes, a sua filha Margarida seria acionista do jornal "A Bola" e uma digna representante do legado de seu pai. O SL Benfica e a autarquia de Lisboa fariam ainda uma sentida homenagem póstuma a Ribeiro dos Reis, quando já na década de 70, deram o seu nome a uma rua de Lisboa.



Fevereiro de 1972, homenagem póstuma a António Ribeiro dos Reis. Fonte: jornal "O Benfica".



Paz e honra à alma de António Ribeiro dos Reis.




RedVC

Passam hoje 72 anos que o Sport Lisboa e Benfica conquistou a Taça Latina em futebol.




Obrigado

José Bastos, Joaquim Fernandes, Félix, Jacinto Marques, José da Costa, Rosário, Rogério Pipi, Francisco Moreira, Corona, Julinho, Arsénio e Pascoal.

Treinador Ted Smith, presidente Mário Madeira e todos os restantes membros da equipa, sejam eles jogadores, treinadores, médicos, massagistas e dirigentes.

Paz às suas almas. Honra às suas memórias.

Jotenko

Brutal este tópico e o trabalho do RedVC.

RedVC

Citação de: Jotenko em 24 de Junho de 2022, 02:27
Brutal este tópico e o trabalho do RedVC.

Muito obrigado Jotenko  O0

Nos próximos tempos não deverá haver novidades, apesar de haver ideias. Falta tempo...
Mas, como sempre, quem quiser colocar imagens, terá seguramente algum tipo de retorno.
Vamos esperar que este início de temporada nos traga bom futebol e boa inspiração para todos nós. Bem precisamos, nestes tempos carregados de escuridão.



WHERO

Nunca me canso de aqui vir refurgiar-me da espuma dos dias. Aguardo o dia em que possa tirar estas histórias da estante, escritas e organizadas desta forma, sem tirar nem pôr, sabendo que as gerações vindouras possam ter a mesma sorte. Obrigado, RedVC.

RedVC

Citação de: WHERO em 13 de Julho de 2022, 16:29
Nunca me canso de aqui vir refurgiar-me da espuma dos dias. Aguardo o dia em que possa tirar estas histórias da estante, escritas e organizadas desta forma, sem tirar nem pôr, sabendo que as gerações vindouras possam ter a mesma sorte. Obrigado, RedVC.

Muito obrigado, Whero!  O0

O conhecimento e a partilha a são uma parte fundamental, maravilhosa, desta celebração diária que é Ser Benfiquista.

Lá para setembro espero concretizar alguns novos textos. Há ideias, falta o tempo.

Godescalco

Trabalho superlativo do RedVC.

Um tópico cheio de tesouros históricos inestimáveis.

RedVC

Citação de: Godescalco em 13 de Julho de 2022, 18:53
Trabalho superlativo do RedVC.

Um tópico cheio de tesouros históricos inestimáveis.

Muito obrigado, Godescalco!  O0

É um enorme prazer poder partilhar o Benfiquismo com todos vocês que usam algum do vosso tempo para ler estes textos.

Alexandre1976

Não tens nada que agradecer o tempo que supostamente é perdido a ler estes fabulosos excertos da nossa história.Falando por mim,eu é que te agradeço o muito que tenho aprendido com o que aqui publicas.E pensava eu que sabia muito do historia do Glorioso.Obrigado Red VC.

RedVC

Citação de: Alexandre1976 em 13 de Julho de 2022, 20:58
Não tens nada que agradecer o tempo que supostamente é perdido a ler estes fabulosos excertos da nossa história.Falando por mim,eu é que te agradeço o muito que tenho aprendido com o que aqui publicas.E pensava eu que sabia muito do historia do Glorioso.Obrigado Red VC.

Obrigado, Alexandre! O0
Aprendemos todos uns com os outros. O Benfica é gigante e há mundos nele ainda por descobrir.

RedVC

-327-
E (algum)a Europa "descobriu" o Benfica!


Estádio da Luz. Tarde do dia 6 de novembro de 1961.



A máquina Benfiquista alinhando antes de uma vitória épica.



A poderosa equipa do Benfica alinha para a eternidade. Em breve, a Europa do futebol, a menos atenta, iria "descobrir" uma nova potência do futebol europeu.

De facto, nos primeiros 28 minutos daquela partida, a avalanche ofensiva rubra, carregada de técnica e de "Mística", arrasou com uma das mais poderosas e conceituadas equipas da Europa. Não obstante a resposta resoluta dos húngaros no início da segunda parte, marcando dois golos, o Benfica vincaria a vitória com mais um golo, deixando o resultado nuns impensáveis 6-2!



Ecos mediáticos de uma grande vitória.


Foi um resultado tremendo, que espantou a Europa do futebol menos atenta. E diz-se menos atenta porque apesar de já ter conquistado uma Taça Latina e disputado mais duas finais na década anterior, o SL Benfica era ainda considerado como um clube de um futebol periférico, emergente de um país pobre e politicamente isolado.

Não obstante, nessa e nas eliminatórias seguintes, as equipas do SL Benfica confirmariam as suas novas credenciais, conquistando a competição com sagacidade e classe. Nos anos seguintes, o Clube consolidaria o seu estatuto, tornando-se o mais bem-sucedido na Taça dos Clubes Campeões Europeus de Futebol, durante a década de 60.



Újpest Football Club



Alguns dos muitos emblemas que se podem encontrar relacionados com o Újpest FC


O nosso oponente desse dia era o Újpest Futebol Clube, campeão do então imensamente prestigiado futebol húngaro. O clube foi fundado em 16 de junho de 1885 em Újpest, então uma pequena cidade ainda separada de Budapeste, capital da Hungria. O primeiro nome da coletividade foi Újpesti Torna Egylet (Újpesti TE), sendo inicialmente uma coletividade dedicada à prática do atletismo, ginástica e esgrima, às quais aplicava o seu lema: "Solidez, Força, Harmonia".

O futebol chegaria à cidade de Újpest apenas em 1899, tendo nessa altura sido fundado um novo clube chamado Újpesti FC, que definiu o roxo e o branco como as suas cores, opção que ainda hoje se mantém.

Durante dois anos, os dois clubes da cidade, o Újpesti TE e o Újpesti FC, coexistiram, mas em 1901, acordaram a sua junção. Nesse processo, foi criada uma divisão de futebol no Újpesti TE, que na altura foi inscrita na segunda divisão da recém-formada Liga Húngara. Ou seja, parece ter ocorrido um processo de junção algo similar com o que ocorreu entre os nossos Grupo Sport Benfica e Sport Lisboa...

Em 1904, o Újpest TE ascenderia à primeira divisão, onde se manteve desde então, com exceção da temporada 1911-12. A partir de 1926, após a introdução do futebol profissional na Hungria, a equipa de futebol passou a competir sob o nome de Újpest FC. O clube orgulha-se de ser uma das duas coletividades magiares que praticam o futebol sem qualquer interrupção desde a constituição das competições de futebol na Hungria.

À presente data, o Clube ostenta 20 títulos de campeão húngaro (último em 1997-98), sendo apenas suplantado pelo MTK-Hungária 22 títulos e pelo Ferencváros com 33 títulos. O UFC conquistou ainda 11 taças da Hungria (última em 2021) e 3 supertaças (última em 2014).

Em 1950, o governo comunista no poder, escolheu o Újpest FC como o clube oficial da polícia e renomeando-o primeiro como Budapesti Dózsa e depois de como György Dózsa... Essa situação era frequente um pouco por todo o mundo que ficou por trás da cortina de ferro. Só em 1998, o clube recuperaria o seu nome de Újpest FC.

Ao longo dos seus 137 anos de história, o UFC teve nos seus quadros muito e bons treinadores, com destaque para Béla Gutmann (em 1937-38 e depois em 1947) e Lájos Baroti (1961-1973). E, sem surpresa, ambos deixariam uma marca impressiva na história do UFC.

Nas suas duas passagens pelo UFC, Béla Guttmann conquistou dois campeonatos (1938-39 e 1946-47) uma Taça Mitropa (1939). Ou seja, quando em 1960, Béla Guttmann defrontou um adversário que conhecia muito bem e onde tinha sido extraordinariamente bem-sucedido. Infelizmente não consegui encontrar fotografias desses dois períodos.

Também a passagem de Lájos Baroti ficou associada ao início de uma nova era dourada do UFC. Lajos Baróti treinou o UFC desde 1967 a 1971, tendo nessa altura conquistado o campeonato de 1969 e disputado a final da Taça das Cidades com Feira (UEFA) no mesmo ano (e 6-2 no total contra o Newcastle United). Quando, em 1971, Baroti deixou o clube, a equipa continuou a ganhar, conquistando 7 títulos consecutivos entre 1969 e 1975.


Em 1969, o UFC, liderado por Lájos Baroti.



O futebol húngaro

Apesar de, atualmente, o futebol húngaro ser considerado como estando numa segunda linha do futebol europeu, nas décadas de 40, 50 e 60, o seu prestígio era imenso. Aliás, na década de 50, sem favor ou equívoco, o futebol magiar foi mesmo o mais prestigiado a nível mundial. Apenas por acasos circunstanciais, a Hungria não se sagrou campeã mundial no torneio da Suíça 1954, perdendo numa malfadada final frente à Alemanha.

Nessa década, os húngaros dispunham de muitos futebolistas extraordinários, que estavam entre as maiores figuras do futebol internacional. Púskas, Kocsis, Czibor, Kubala, Hidegkuti e Bószik, entre outros, praticavam um futebol-arte, de grande associação, com passe curto, executado com grande precisão e mobilidade ao mesmo tempo que eram orientados por treinadores que introduziram grandes inovações táticas.

O futebol húngaro estava incluído na grande escola do Danúbio, ou seja, num espaço geográfico decorrente do antigo império Austro-Húngaro, compreendendo regiões hoje pertencentes à Áustria, Chéquia e a Hungria. Essa escola foi fomentada desde a década de 20, por ação de treinadores extraordinários como o boémio Hugo Meisl e o inglês Jimmy Hogan, e teria seguimento em muitos outros notáveis treinadores, tendo os seus expoentes sido, talvez, Gusztáv Sebes (mítico treinador da seleção húngara) e Béla Guttmann!

Quando Guttmann chegou ao futebol português e ao Benfiquista em particular, já muitos outros treinadores da escola do Danúbio tinham dado contribuição fundamental. Nomes como Arthur John, Lipót Hertzka e János Biri serão sempre incontornáveis na História do SLB.


Regressando ao jogo




O Ujpest Dósza, apresentou.se no Estádio da Luz, capitaneado pela sua maior estrela, Férenc Szusza (1923-2006; https://en.wikipedia.org/wiki/Ferenc_Szusza), que embora estivesse em final de carreira, continuava influente e prestigiado. Szusza foi orientado por Guttmann aquando da segunda passagem deste pelo Újpest FC. Ainda hoje o estádio do UFC ostenta o nome deste grande jogador, o maior da sua história.



As duas grandes estrelas húngaras da eliminatória.


Cumpridas as amabilidades dos cumprimentos inaugurais, o jogo iniciou-se com uma velocidade vertiginosa, deixando rapidamente os húngaros debaixo do domínio Benfiquista que, como se escreveu na altura, praticava um futebol "atómico e cilindrador". E de tal forma foram dominados, que nem perceberam bem o que lhes estava a acontecer.

Enquanto tentavam responder com o seu futebol requintado, perfumado, cheio de classe, feito de trocas de bola e de precisão geométrica e inteligência posicional, o Benfica respondia com um futebol atacante dinâmico, cheio de garra e técnica, que confundiu completamente os húngaros. Os golos sucederam-se fazendo daquela tarde uma epopeia benfiquista. O resultado final seria implacável para os húngaros, definindo-se desde logo o desfecho da eliminatória.



Vendaval ofensivo.


No início da sua segunda temporada ao serviço do Benfica, e ainda sem contar com Eusébio e Simões, a máquina Benfiquista estava montada por Béla Guttmann. Na baliza o genial apesar de inconstante Costa Pereira, na defesa a segurança do capitão Artur e a raça do aguerrido Ângelo. No meio campo estavam os músculos infatigáveis da equipa: Cruz, Neto e Saraiva. E depois, no ataque deslumbrava a poderosa e incomparável linha ofensiva com os extremos José Augusto e Cávem, a técnica sublime de Santana, a liderança e força ofensiva do monstro sagrado Coluna e o classe do requintado e letal José Águas.



Uma equipa fabulosa, um treinador lendário.



Todos eles integram a mais fina flor dos futebolistas que alguma vez pisaram os relvados portugueses. São intemporais, inesquecíveis e gloriosos. São e serão, Benfica!


Roland Oliveira, um Eusébio da fotografia



(São Vicente, Cabo Verde, 25-03-1920 – Lisboa, 07-09-2007),



Naquela tarde de novembro, as imagens da tremenda vitória Benfiquista, foram captadas pelo inesquecível Roland Oliveira. É mais do que justo lembrar essa grande figura da nossa História.

Roland Carlos de Oliveira ou Roland Oliveira, foi o grande fotógrafo de "O Benfica". Ao longo das suas muitas décadas de atividade, foi um infatigável e apaixonado fotógrafo, captando imagens de atividades e figuras do SL Benfica. Morreu na sequência de um acidente profissional, justamente quando procurava captar uma determinada imagem do novo Estádio da Luz. Deixou-nos milhares de fotografias com a marca do seu apurado sentido estético e imbatível oportunidade. Grande parte desse espólio, de valor incalculável, permanece por publicar.



Roland de Oliveira, em dois tempos, com dois dos seus temas favoritos: o Estádio da Luz e Eusébio. Benfiquista infatigável e apaixonado.


Uma sentida e excelente homenagem pode ser lida aqui: https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2014/03/o-fotografo-fotografado-e-foto.html

O nosso Museu evoca-o com frequência e com grande justiça, tendo incorporado, por doação da família de Roland Oliveira, uma boa parte do seu espólio, constituído por cerca de 80 mil negativos, captados ao longo de décadas de trabalho dedicado e inspirado.





E que melhor homenagem a Roland Oliveira senão voltando aquela tarde de 6 de novembro de 1960, apresentado mais colorizações de algumas das suas fotografias...




Costa Pereira e Torok.



Cruz cumprimentando um adversário. De costas Artur, e mais atrás José Águas.



José Águas, Torok e José Augusto.



Publicado na revista "Benfica Ilustrado", o cumprimento entre os capitães de equipa: Artur Santos e Férenc Szusza.




Artur e José Augusto cumprimentando os árbitros.


De notar o notável desportivismo dos Húngaros. Classe. Mesmo depois de um vendaval ofensivo e de uma derrota tão inesperada quanto pesada, ainda assim os magiares mostraram admiração e respeito pelo adversário.

Na segunda mão, em Budapeste, apesar do vendaval ofensivo, o Benfica resistiu, marcou primeiro embora tenha perdido o jogo por 1-2. Seria a única derrota da campanha europeia da equipa Benfiquista, que resultaria no primeiro título europeu. No jogo de Budapeste, Béla Guttmann não se sentou no banco, pois o presidente Maurício Vieira de Brito não autorizou a sua deslocação à capital húngara, temendo que as autoridades húngaras pudessem deter o seu treinador (histórias antigas que agora não interessa falar). Antes como agora, muitas vezes a política ensombra a nobreza e a liberdade do desporto.



Outra imagem espantosa de Roland Oliveira. O banco Benfiquista na temporada de 1959-1960, antecâmara da glória europeia.



Glória aos notáveis jogadores, treinadores e dirigentes que construíram as míticas conquistas europeias do Sport Lisboa e Benfica!