Decifrando imagens do passado

Royal_Flush

Citação de: RedVC em 05 de Dezembro de 2022, 18:56
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Morte no balneário (parte II – de tragédia)

Sessão de banhos no balneário do Estádio da Luz. Foi num dia assim, que a tragédia caiu sobre o Sport Lisboa e Benfica.


Luciano ladeado por José Augusto e Germano, numa sessão de banhos no balneário da Luz. Fonte: Record


Naquela fatídica manhã de 5 de dezembro, o plantel benfiquista, cumpria um dia de treino de recuperação, onde se incluíam banhos e massagens, no tanque da Luz. Desde há alguns anos, o Benfica contava com infraestruturas e equipamentos para esses procedimentos de recuperação. Não havendo os modernos jacuzzis, estavam, no entanto, já disponíveis aparelhos elétricos que eram colocados dentro de água para provocar um efeito vibratório de massagem.



No início da década de 60, os banhos e hidromassagens eram já usados no futebol Benfiquista. Fonte: Museu SLB


O acidente explica-se por uma conjugação inadmissível de circunstâncias infelizes. Sem que o treinador Fernando Riera e o seu adjunto Fernando Cabrita soubessem, e mesmo sem que Domingos Claudino, diretor de campo do Estádio da Luz, também soubesse; um novo aparelho para hidromassagem foi usado nessa sessão de banhos e massagens. A autorização terá vindo da equipa médica do Benfica, confiando que, em termos técnicos, a segurança seria salvaguardada.

As circunstâncias do acidente não foram totalmente comunicadas. Segundo as recordações de José Augusto, naquele tempo estava em experiência um aparelho americano que tinha um cabo curto, tendo por isso sido feita uma extensão que terá sido isolada para evitar problemas. Infelizmente não se contou com o vapor da água e com a condensação que terá caído sobre a zona do isolamento e terá provocado a eletrocussão.

Tudo se desencadeou num instante de terror. De repente levantou-se uma enorme gritaria no balneário, tendo quem estava na zona, acudido aos jogadores que estavam dentro do tanque.

Segundo José Augusto, Luciano seria o homem que estava a segurar o aparelho e por isso terá sido ele quem levou a carga maior. Outros disseram que era Luciano estava submerso aquando da eletrocussão e por isso foi o mais exposto. Luciano sem hipóteses, terá tido morte instantânea. Em desespero, o Doutor Azevedo Gomes ainda executou duas punções diretamente no coração de Luciano, mas de nada valeu. Já nada havia a fazer. A morte foi confirmada.

Mas, no balneário viviam-se outros dramas. Estendidos no chão, outros jogadores lutavam pela vida. Assistidos pela equipa médica, durante horas, sofreram convulsões e para alguns o fio da vida esteve prestes a ser cortado.



Uma tragédia impensável.


Nesse dia, também Cavém, Eusébio, Santana, Malta da Silva, Carmo Pais, e Camolas estiveram às portas da morte. Todos eles foram eletrocutados.



Quem pode sequer imaginar o que teria sido se todos aqueles jogadores tivessem morrido eletrocutados, ali, naquele dia trágico?

Eusébio... seis meses depois do esplendor do Mundial de 1966, morto por eletrocussão?! Eusébio, a figura maior do futebol Benfiquista... E todos os outros, que tanto prestígio nos deram, antes e depois do acidente...

Foi Jaime Graça que os salvou.


Foi Jaime Graça que os salvou.


Chegado ao Clube apenas uns meses antes, Jaime Graça foi, nesse dia, o homem providencial, o anjo da guarda. Também afetado pelas descargas, Jaime Graça revelou um notável sangue frio, e, valendo-se dos seus conhecimentos de eletricista, conseguiu desligar o quadro e evitar a morte dos companheiros.



Jaime Graça, o anjo salvador, só não conseguiu salvar Luciano.



Em 2010, Jaime Graça lembrava o acidente, numa entrevista ao jornal I: "Fui rápido e decidido. Desliguei o quadro. Aqueles que estavam no fundo no tanque foram os que mais sofreram, como o Carmo Pais e o Malta da Silva. O Camolas, por exemplo, fugiu para o relvado. Veja lá, tão grande foi o susto. Ainda hoje quando me vê, o Malta da Silva faz questão de me apresentar como o homem que lhe salvou a vida. Ele e o Carmo Pais sofreram muito e tiveram de estar duas horas deitados no chão, a serem inspecionados pelos médicos.". E acrescentou: "Noutras condições e mais despreocupados, teríamos sido atingidos sem solução. Pobre Luciano...".

Também Cavém lembrava: "Foi tudo vertiginoso. Era como se um polvo gigantesco nos tivesse agarrado pelas pernas. Uns momentos mais e ninguém se salvava. O que me valeu foi agarrar-me ao varão da escada".

As consequências individuais e associativas foram terríveis. Nunca o Benfica tinha vivido tal tragédia.



Dor.


As manifestações de dor multiplicaram-se, atingindo a equipa, a direção, os adeptos. Foram dias de enorme sofrimento.



Dor.



O funeral



A comitiva fúnebre a atravessar a ponte sobre o Tejo.



De regresso à sua terra, num caixão, Luciano fez a sua última viagem, acompanhado por uma comitiva impressionante. Toda a equipa do Benfica acompanhou o corpo, mas não só. José Augusto recordou: "Estava muita gente por todo o lado. Em Alcácer, em Grândola, em todo o lado por onde passámos. Depois, em Olhão, foi uma coisa impressionante.".



Dor.



Mesmo num tempo bem distinto do mediatismo que atualmente rodeia o futebol, o funeral de Luciano seria televisionado para várias dezenas de países, que deram reporte da tragédia que envolvia um dos clubes mais prestigiados do mundo.



Dor.


O Benfica nunca tinha vivido tamanha tragédia. Nos dias de hoje, apenas temos um comparativo com a trágica perda de Miki Féher. Resta-nos evoca-los. Que ambos descansem em paz.




Luciano, quatro temporadas e 46 jogos de Águia ao peito
3 campeonatos nacionais e 1 Taça de Portugal
Para sempre recordado.
Descansa em Paz, Luciano.




Que cena macabra.

Houve depois algum litígio com a família do Luciano ou ficou tudo resolvido por acordo?

piratas15

#1306
Citação de: Voros1904 em 06 de Dezembro de 2022, 12:35
Citação de: RedVC em 05 de Dezembro de 2022, 18:56
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Morte no balneário (parte II – de tragédia)

Sessão de banhos no balneário do Estádio da Luz. Foi num dia assim, que a tragédia caiu sobre o Sport Lisboa e Benfica.


Luciano ladeado por José Augusto e Germano, numa sessão de banhos no balneário da Luz. Fonte: Record


Naquela fatídica manhã de 5 de dezembro, o plantel benfiquista, cumpria um dia de treino de recuperação, onde se incluíam banhos e massagens, no tanque da Luz. Desde há alguns anos, o Benfica contava com infraestruturas e equipamentos para esses procedimentos de recuperação. Não havendo os modernos jacuzzis, estavam, no entanto, já disponíveis aparelhos elétricos que eram colocados dentro de água para provocar um efeito vibratório de massagem.



No início da década de 60, os banhos e hidromassagens eram já usados no futebol Benfiquista. Fonte: Museu SLB


O acidente explica-se por uma conjugação inadmissível de circunstâncias infelizes. Sem que o treinador Fernando Riera e o seu adjunto Fernando Cabrita soubessem, e mesmo sem que Domingos Claudino, diretor de campo do Estádio da Luz, também soubesse; um novo aparelho para hidromassagem foi usado nessa sessão de banhos e massagens. A autorização terá vindo da equipa médica do Benfica, confiando que, em termos técnicos, a segurança seria salvaguardada.

As circunstâncias do acidente não foram totalmente comunicadas. Segundo as recordações de José Augusto, naquele tempo estava em experiência um aparelho americano que tinha um cabo curto, tendo por isso sido feita uma extensão que terá sido isolada para evitar problemas. Infelizmente não se contou com o vapor da água e com a condensação que terá caído sobre a zona do isolamento e terá provocado a eletrocussão.

Tudo se desencadeou num instante de terror. De repente levantou-se uma enorme gritaria no balneário, tendo quem estava na zona, acudido aos jogadores que estavam dentro do tanque.

Segundo José Augusto, Luciano seria o homem que estava a segurar o aparelho e por isso terá sido ele quem levou a carga maior. Outros disseram que era Luciano estava submerso aquando da eletrocussão e por isso foi o mais exposto. Luciano sem hipóteses, terá tido morte instantânea. Em desespero, o Doutor Azevedo Gomes ainda executou duas punções diretamente no coração de Luciano, mas de nada valeu. Já nada havia a fazer. A morte foi confirmada.

Mas, no balneário viviam-se outros dramas. Estendidos no chão, outros jogadores lutavam pela vida. Assistidos pela equipa médica, durante horas, sofreram convulsões e para alguns o fio da vida esteve prestes a ser cortado.



Uma tragédia impensável.


Nesse dia, também Cavém, Eusébio, Santana, Malta da Silva, Carmo Pais, e Camolas estiveram às portas da morte. Todos eles foram eletrocutados.



Quem pode sequer imaginar o que teria sido se todos aqueles jogadores tivessem morrido eletrocutados, ali, naquele dia trágico?

Eusébio... seis meses depois do esplendor do Mundial de 1966, morto por eletrocussão?! Eusébio, a figura maior do futebol Benfiquista... E todos os outros, que tanto prestígio nos deram, antes e depois do acidente...

Foi Jaime Graça que os salvou.


Foi Jaime Graça que os salvou.


Chegado ao Clube apenas uns meses antes, Jaime Graça foi, nesse dia, o homem providencial, o anjo da guarda. Também afetado pelas descargas, Jaime Graça revelou um notável sangue frio, e, valendo-se dos seus conhecimentos de eletricista, conseguiu desligar o quadro e evitar a morte dos companheiros.



Jaime Graça, o anjo salvador, só não conseguiu salvar Luciano.



Em 2010, Jaime Graça lembrava o acidente, numa entrevista ao jornal I: "Fui rápido e decidido. Desliguei o quadro. Aqueles que estavam no fundo no tanque foram os que mais sofreram, como o Carmo Pais e o Malta da Silva. O Camolas, por exemplo, fugiu para o relvado. Veja lá, tão grande foi o susto. Ainda hoje quando me vê, o Malta da Silva faz questão de me apresentar como o homem que lhe salvou a vida. Ele e o Carmo Pais sofreram muito e tiveram de estar duas horas deitados no chão, a serem inspecionados pelos médicos.". E acrescentou: "Noutras condições e mais despreocupados, teríamos sido atingidos sem solução. Pobre Luciano...".

Também Cavém lembrava: "Foi tudo vertiginoso. Era como se um polvo gigantesco nos tivesse agarrado pelas pernas. Uns momentos mais e ninguém se salvava. O que me valeu foi agarrar-me ao varão da escada".

As consequências individuais e associativas foram terríveis. Nunca o Benfica tinha vivido tal tragédia.



Dor.


As manifestações de dor multiplicaram-se, atingindo a equipa, a direção, os adeptos. Foram dias de enorme sofrimento.



Dor.



O funeral



A comitiva fúnebre a atravessar a ponte sobre o Tejo.



De regresso à sua terra, num caixão, Luciano fez a sua última viagem, acompanhado por uma comitiva impressionante. Toda a equipa do Benfica acompanhou o corpo, mas não só. José Augusto recordou: "Estava muita gente por todo o lado. Em Alcácer, em Grândola, em todo o lado por onde passámos. Depois, em Olhão, foi uma coisa impressionante.".



Dor.



Mesmo num tempo bem distinto do mediatismo que atualmente rodeia o futebol, o funeral de Luciano seria televisionado para várias dezenas de países, que deram reporte da tragédia que envolvia um dos clubes mais prestigiados do mundo.



Dor.


O Benfica nunca tinha vivido tamanha tragédia. Nos dias de hoje, apenas temos um comparativo com a trágica perda de Miki Féher. Resta-nos evoca-los. Que ambos descansem em paz.




Luciano, quatro temporadas e 46 jogos de Águia ao peito
3 campeonatos nacionais e 1 Taça de Portugal
Para sempre recordado.
Descansa em Paz, Luciano.



Bom post. Nunca ouvi esta historia nem sabia que alguma vez estivemos tao perto de perder varios jogadores-simbolo do clube. Escrevo isto com lagrimas nos olhos.
conhecia a história, e também venho aqui dizer que me caiem as lágrimas pelo rosto abaixo , o Benfica mexe  verdadeiramente com os sentimentos de  um gajo mesmo que seja frio como uma pedra ...puta que pariu a isto 😢😢

Capitao Moura

Citação de: RedVC em 05 de Dezembro de 2022, 18:56
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Morte no balneário (parte II – de tragédia)

Sessão de banhos no balneário do Estádio da Luz. Foi num dia assim, que a tragédia caiu sobre o Sport Lisboa e Benfica.


Luciano ladeado por José Augusto e Germano, numa sessão de banhos no balneário da Luz. Fonte: Record


Naquela fatídica manhã de 5 de dezembro, o plantel benfiquista, cumpria um dia de treino de recuperação, onde se incluíam banhos e massagens, no tanque da Luz. Desde há alguns anos, o Benfica contava com infraestruturas e equipamentos para esses procedimentos de recuperação. Não havendo os modernos jacuzzis, estavam, no entanto, já disponíveis aparelhos elétricos que eram colocados dentro de água para provocar um efeito vibratório de massagem.



No início da década de 60, os banhos e hidromassagens eram já usados no futebol Benfiquista. Fonte: Museu SLB


O acidente explica-se por uma conjugação inadmissível de circunstâncias infelizes. Sem que o treinador Fernando Riera e o seu adjunto Fernando Cabrita soubessem, e mesmo sem que Domingos Claudino, diretor de campo do Estádio da Luz, também soubesse; um novo aparelho para hidromassagem foi usado nessa sessão de banhos e massagens. A autorização terá vindo da equipa médica do Benfica, confiando que, em termos técnicos, a segurança seria salvaguardada.

As circunstâncias do acidente não foram totalmente comunicadas. Segundo as recordações de José Augusto, naquele tempo estava em experiência um aparelho americano que tinha um cabo curto, tendo por isso sido feita uma extensão que terá sido isolada para evitar problemas. Infelizmente não se contou com o vapor da água e com a condensação que terá caído sobre a zona do isolamento e terá provocado a eletrocussão.

Tudo se desencadeou num instante de terror. De repente levantou-se uma enorme gritaria no balneário, tendo quem estava na zona, acudido aos jogadores que estavam dentro do tanque.

Segundo José Augusto, Luciano seria o homem que estava a segurar o aparelho e por isso terá sido ele quem levou a carga maior. Outros disseram que era Luciano estava submerso aquando da eletrocussão e por isso foi o mais exposto. Luciano sem hipóteses, terá tido morte instantânea. Em desespero, o Doutor Azevedo Gomes ainda executou duas punções diretamente no coração de Luciano, mas de nada valeu. Já nada havia a fazer. A morte foi confirmada.

Mas, no balneário viviam-se outros dramas. Estendidos no chão, outros jogadores lutavam pela vida. Assistidos pela equipa médica, durante horas, sofreram convulsões e para alguns o fio da vida esteve prestes a ser cortado.



Uma tragédia impensável.


Nesse dia, também Cavém, Eusébio, Santana, Malta da Silva, Carmo Pais, e Camolas estiveram às portas da morte. Todos eles foram eletrocutados.



Quem pode sequer imaginar o que teria sido se todos aqueles jogadores tivessem morrido eletrocutados, ali, naquele dia trágico?

Eusébio... seis meses depois do esplendor do Mundial de 1966, morto por eletrocussão?! Eusébio, a figura maior do futebol Benfiquista... E todos os outros, que tanto prestígio nos deram, antes e depois do acidente...

Foi Jaime Graça que os salvou.


Foi Jaime Graça que os salvou.


Chegado ao Clube apenas uns meses antes, Jaime Graça foi, nesse dia, o homem providencial, o anjo da guarda. Também afetado pelas descargas, Jaime Graça revelou um notável sangue frio, e, valendo-se dos seus conhecimentos de eletricista, conseguiu desligar o quadro e evitar a morte dos companheiros.



Jaime Graça, o anjo salvador, só não conseguiu salvar Luciano.



Em 2010, Jaime Graça lembrava o acidente, numa entrevista ao jornal I: "Fui rápido e decidido. Desliguei o quadro. Aqueles que estavam no fundo no tanque foram os que mais sofreram, como o Carmo Pais e o Malta da Silva. O Camolas, por exemplo, fugiu para o relvado. Veja lá, tão grande foi o susto. Ainda hoje quando me vê, o Malta da Silva faz questão de me apresentar como o homem que lhe salvou a vida. Ele e o Carmo Pais sofreram muito e tiveram de estar duas horas deitados no chão, a serem inspecionados pelos médicos.". E acrescentou: "Noutras condições e mais despreocupados, teríamos sido atingidos sem solução. Pobre Luciano...".

Também Cavém lembrava: "Foi tudo vertiginoso. Era como se um polvo gigantesco nos tivesse agarrado pelas pernas. Uns momentos mais e ninguém se salvava. O que me valeu foi agarrar-me ao varão da escada".

As consequências individuais e associativas foram terríveis. Nunca o Benfica tinha vivido tal tragédia.



Dor.


As manifestações de dor multiplicaram-se, atingindo a equipa, a direção, os adeptos. Foram dias de enorme sofrimento.



Dor.



O funeral



A comitiva fúnebre a atravessar a ponte sobre o Tejo.



De regresso à sua terra, num caixão, Luciano fez a sua última viagem, acompanhado por uma comitiva impressionante. Toda a equipa do Benfica acompanhou o corpo, mas não só. José Augusto recordou: "Estava muita gente por todo o lado. Em Alcácer, em Grândola, em todo o lado por onde passámos. Depois, em Olhão, foi uma coisa impressionante.".



Dor.



Mesmo num tempo bem distinto do mediatismo que atualmente rodeia o futebol, o funeral de Luciano seria televisionado para várias dezenas de países, que deram reporte da tragédia que envolvia um dos clubes mais prestigiados do mundo.



Dor.


O Benfica nunca tinha vivido tamanha tragédia. Nos dias de hoje, apenas temos um comparativo com a trágica perda de Miki Féher. Resta-nos evoca-los. Que ambos descansem em paz.




Luciano, quatro temporadas e 46 jogos de Águia ao peito
3 campeonatos nacionais e 1 Taça de Portugal
Para sempre recordado.
Descansa em Paz, Luciano.




Luciano era meu conterrâneo, de Olhão. Paz à sua alma

Realix

Citação de: RedVC em 05 de Dezembro de 2022, 00:18
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Morte no balneário (parte I – de dor e de talento)

7 de dezembro de 1966. Olhão, Algarve.





Tocando num caixão coberto pela bandeira do Sport Lisboa e Benfica, a mãe de Luciano, chorava a maior dor que se pode sentir.

À sua volta, rostos de angústia, estupefação, consternação. O drama tocava todos, perante a perda trágica de um homem na flor da vida, um desportista de talento, um bom companheiro. Luciano tinha morrido eletrocutado, dois dias antes, em pleno balneário do Estádio da Luz.


Evocação

Passam hoje 56 anos da trágica morte de Luciano, ocorrida em pleno balneário do Estádio do Sport Lisboa e Benfica. Evoca-se o homem, o filho, o atleta. Honre-se a sua memória.


Ascensão

Luciano Jorge Fernandes nasceu em Olhão, no dia 6 de agosto de 1940. Foi um futebolista que atuava no sector defensivo e a quem eram reconhecidas grandes qualidades. Luciano iniciou-se no futebol com a camisola rubro-negra do SC Olhanense e com ela cumpriu 7 anos de competição.



Luciano nos seus tempos rubro-negros. Fonte: olhanense.net


O SC Olhanense é um clube histórico do futebol português, tendo na temporada 1923-1924 conquistado um campeonato de Portugal (prova antecessora da atual Taça de Portugal). Nessa altura tinha uma grande equipa em que o expoente foi o famoso Raúl Figueiredo "Tamanqueiro", médio internacional que vestiria também de águia ao peito, de 1925 a 1928. O glorioso Tamanqueiro já recebeu amplo e merecido destaque neste tópico (ver textos 177 a 181- Tamancos de oiro, partes I a V; pág. 46 e 47).

Oriundo de uma família de parcos recursos, Luciano ingressou nos juniores do SC Olhanense na temporada de 1956-57, onde se destacou, ascendendo à primeira equipa em 1958-59, quando os rubro negros disputavam o campeonato nacional de futebol da segunda divisão.

Depois de durante quase toda a década de 40, o futebol do SC Olhanense se ter notabilizado com classificações honrosas no campeonato nacional da primeira divisão, os rubro-negros militaram na segunda divisão durante toda a década 50. Com o valioso contributo de Luciano, a equipa principal do SC Olhanense concretizou o regresso à primeira divisão na temporada de 1960-1961.



A festa do regresso do SC Olhanense à primeira divisão. Fonte: olhanense.net



Na divisão principal, Luciano cumpriria ainda mais duas temporadas de rubro-negro, conquistando, por duas vezes, o 8º lugar entre 14 participantes. A consistência e a qualidade das suas exibições despertaram o interesse do SL Benfica, que o recrutou para os seus quadros na temporada de 1963-1964.



Um artigo da época sobre Luciano. Inclui uma fotografia de um jogo entre o SCO e o SLB, em que Luciano enfrenta Cávem, seu futuro companheiro, e que com ele poderia ter morrido no fatídico acidente. Fonte: ANTIGAS GLÓRIAS DO FUTEBOL ALGARVIO E ALENTEJANO



De águia ao peito




No Benfica, mal-grado uma sucessão de irritantes lesões, Luciano confirmou ser um defesa de valor, eficiente, e com a qualidade técnica exigida pelo lugar. As recorrentes condicionantes físicas foram sempre o problema. Luciano era visto como o provável sucessor de Germano de Figueiredo, na liderança do eixo central da defesa Benfiquista, mas nunca pode confirmar as expectativas por via dessas condicionantes físicas.

E se o destino não tivesse sido tão cruel, provavelmente teria integrado uma linha de grandes centrais benfiquistas que teve nomes como Félix Antunes (década de 40), Artur Santos (50s), Germano de Figueiredo (60s) e Humberto Coelho (70s).

Luciano chegou ao Benfica na temporada em que o romeno Lajos Czeiler liderou o futebol benfiquista. Seria uma temporada de intenso domínio benfiquista nas provas nacionais, e também a melhor temporada de Luciano com a águia ao peito.

A sua estreia com o manto sagrado ocorreu no Estádio da Luz, no dia 5 de setembro de 1963, num evento de grande simbolismo para o Benfiquismo, em que José Águas teve a sua merecida festa de despedida, terminando uma carreira esplendorosa. Entre outras atividades, o SL Benfica disputou um jogo particular em que defrontou e venceu o FCP, por 3-2.

Entre as diversas substituições, Águas passou o testemunho a Torres enquanto que Luciano entrou para o lugar de Ângelo Martins. E, apesar de uma desatenção inicial que originou de um dos golos portistas, Luciano reagiu, mostrando caráter, quando poucos minutos depois fez uma assistência para um golo de José Torres. Estava ali um jogador para o futuro.



5 de setembro de 1963, o dia da estreia de Luciano, na festa de despedida a José Águas.


Nessa primeira temporada, Luciano cumpriu 27 jogos oficiais, sendo 20 deles no campeonato (nota: números não verificados), tendo contribuído de forma relevante para a conquista do título nacional, garantida com 6 pontos de avanço sobre o FCP, 2º classificado, e que seriam 9 pontos no sistema de pontuação utilizado atualmente. Luciano foi opção regular até se ter lesionado gravemente em Guimarães, no dia 8-03-1964.

O Benfica conquistou também a Taça de Portugal dessa temporada, depois de esmagar o mesmo FCP, na final do Jamor, por 6-2. Nessa final, Germano de Figueiredo foi o titular no centro da defesa, mas Luciano participou em 4 dos 11 jogos da competição.

Infelizmente, a nível internacional a temporada não correu nada bem. Logo na 2ª ronda da Taça dos Clubes Campeões Europeus, o Benfica foi eliminado de forma escandalosa perante o Borussia de Dortmund. Depois de uma vitória em Lisboa por 2-1, onde se desperdiçaram muitas oportunidades de golo, a nossa equipa foi copiosamente derrotada (0-5) em Dortmund, sofrendo 3 golos de rajada entre os minutos 33 e 36...

Nessa noite fria de Dortmund, sentiram-se muito as ausências de jogadores nucleares como eram Eusébio, Torres, Germano, Raúl, Neto, Ângelo e Costa Pereira. Luciano jogou ambos os jogos, mas em Dortmund, tal como os restantes companheiros, revelou grande inadaptação ao frio, às condições do terreno e à capacidade atlética do adversário.



A equipa benfiquista que não evitou o desastre em Dortmund, a 4 de dezembro de 1963




Luciano ao lado do guarda-redes Rita, a tentaram bloquear uma das investidas germânicas.




Outra imagem extraordinária da impotência Benfiquista na noite de Dortmund. Luciano em primeiro plano a tentar ajudar o guarda redes Rita. Fonte: Gettyimages



A nível de seleções, quando chegou ao Benfica, Luciano contava já com uma internacionalização na seleção sub-21. Foi internacional ao lado dos futuros companheiros Jacinto, Jaime Graça e Serafim.

Em 15 de novembro de 1964, quando já integrava os quadros benfiquistas, o selecionador nacional Manuel da Luz Afonso, convocou-o para a seleção B, para disputar um jogo em Cordóva, contra a sua congénere espanhola (ver: https://www.fpf.pt/Jogadores/Jogador/playerId/730171). Seria a sua última internacionalização. A internacionalização pela seleção A nunca chegaria, ao contrário do que se lhe augurava.



Uma das duas internacionalizações de Luciano; a seleção sub-21 que defrontou a Grécia, no Estádio Nacional no dia 14-04-1963 (vitória por 2-1).


Infelizmente, nas duas temporadas seguintes, Luciano jogou muito pouco, condicionado por sucessivas lesões. Nesse contexto, as negociações para renovação do seu contrato foram difíceis, levantando-se muitas dúvidas nos dirigentes do Benfica quanto à possibilidade de recuperar o atleta.

Atingido o acordo negocial, Luciano iniciou a temporada de 1966-67, encarando-a como uma nova oportunidade de confirmar as suas qualidades e reverter a má-sorte que até aí o havia atingido.

O Clube vivia então a ressaca da perda do campeonato nacional na temporada anterior, durante um turbulento e frustrante regresso de Béla Guttmann. No entanto, com o regresso do chileno Fernando Riera ao Benfica e com a notável prestação da linha ofensiva Benfiquista no Mundial de 1966, abriam-se boas perspetivas quanto à nova temporada. E assim seria, numa temporada em que o nosso mais forte oponente foi... a Académica de Coimbra!



Dia 31 de janeiro de 1965, Luciano titular no empate arrancado em Alvalade: SCP 2- SLB 2.


Como se esperava, o Benfica arrancou bem no campeonato, registando 8 vitórias e 1 empate nas primeiras 9 jornadas, ali se incluindo duas vitórias conclusivas, na Luz, sobre SCP e FCP, ambas por 3-0. Essa série foi fechada a 4 de dezembro, com uma vitória em casa da Sanjoanense por 3-1.

Riera era um treinador que privilegiava equilíbrios táticos, não se convencendo com vertigens ofensivas. Para esse modelo de jogo, Riera contava com excelentes opções para o centro da defesa: Germano, Raúl, Jacinto, Humberto Fernandes e Luciano.

Não sendo particular apreciador das características de Germano de Figueiredo, Riera deu a titularidade a Luciano nas 5 primeiras jornadas até que este se lesionou no jogo contra o Atlético CP, em 16-10-1966. Até esse jogo, embora mostrasse a sua qualidade, notava-se que Luciano jogava algo condicionado pelo medo de novas lesões, mas isso era compreensível depois de um calvário de lesões. Naquele início de dezembro de 1966, a recuperação estava em curso, e Luciano tinha perspetivas legítimas de recuperar o lugar na equipa.


Detalhes adicionais sobre o trajeto Benfiquista de Luciano, podem ser lidos, aqui:
https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2020/12/luciano-54.html


No próximo texto falaremos da manhã do trágico dia de 5 de dezembro de 1966.

Isto sim um post à Benfica.
As melhores mensagens fazem impressão, é só mensagens do tópico mundial. Irra

RedVC

#1309
Citação de: Royal_Flush em 06 de Dezembro de 2022, 13:25
Citação de: RedVC em 05 de Dezembro de 2022, 18:56
-340-
Morte no balneário (parte II – de tragédia)

Sessão de banhos no balneário do Estádio da Luz. Foi num dia assim, que a tragédia caiu sobre o Sport Lisboa e Benfica.


Luciano ladeado por José Augusto e Germano, numa sessão de banhos no balneário da Luz. Fonte: Record


Naquela fatídica manhã de 5 de dezembro, o plantel benfiquista, cumpria um dia de treino de recuperação, onde se incluíam banhos e massagens, no tanque da Luz. Desde há alguns anos, o Benfica contava com infraestruturas e equipamentos para esses procedimentos de recuperação. Não havendo os modernos jacuzzis, estavam, no entanto, já disponíveis aparelhos elétricos que eram colocados dentro de água para provocar um efeito vibratório de massagem.



No início da década de 60, os banhos e hidromassagens eram já usados no futebol Benfiquista. Fonte: Museu SLB


O acidente explica-se por uma conjugação inadmissível de circunstâncias infelizes. Sem que o treinador Fernando Riera e o seu adjunto Fernando Cabrita soubessem, e mesmo sem que Domingos Claudino, diretor de campo do Estádio da Luz, também soubesse; um novo aparelho para hidromassagem foi usado nessa sessão de banhos e massagens. A autorização terá vindo da equipa médica do Benfica, confiando que, em termos técnicos, a segurança seria salvaguardada.

As circunstâncias do acidente não foram totalmente comunicadas. Segundo as recordações de José Augusto, naquele tempo estava em experiência um aparelho americano que tinha um cabo curto, tendo por isso sido feita uma extensão que terá sido isolada para evitar problemas. Infelizmente não se contou com o vapor da água e com a condensação que terá caído sobre a zona do isolamento e terá provocado a eletrocussão.

Tudo se desencadeou num instante de terror. De repente levantou-se uma enorme gritaria no balneário, tendo quem estava na zona, acudido aos jogadores que estavam dentro do tanque.

Segundo José Augusto, Luciano seria o homem que estava a segurar o aparelho e por isso terá sido ele quem levou a carga maior. Outros disseram que era Luciano estava submerso aquando da eletrocussão e por isso foi o mais exposto. Luciano sem hipóteses, terá tido morte instantânea. Em desespero, o Doutor Azevedo Gomes ainda executou duas punções diretamente no coração de Luciano, mas de nada valeu. Já nada havia a fazer. A morte foi confirmada.

Mas, no balneário viviam-se outros dramas. Estendidos no chão, outros jogadores lutavam pela vida. Assistidos pela equipa médica, durante horas, sofreram convulsões e para alguns o fio da vida esteve prestes a ser cortado.



Uma tragédia impensável.


Nesse dia, também Cavém, Eusébio, Santana, Malta da Silva, Carmo Pais, e Camolas estiveram às portas da morte. Todos eles foram eletrocutados.



Quem pode sequer imaginar o que teria sido se todos aqueles jogadores tivessem morrido eletrocutados, ali, naquele dia trágico?

Eusébio... seis meses depois do esplendor do Mundial de 1966, morto por eletrocussão?! Eusébio, a figura maior do futebol Benfiquista... E todos os outros, que tanto prestígio nos deram, antes e depois do acidente...

Foi Jaime Graça que os salvou.


Foi Jaime Graça que os salvou.


Chegado ao Clube apenas uns meses antes, Jaime Graça foi, nesse dia, o homem providencial, o anjo da guarda. Também afetado pelas descargas, Jaime Graça revelou um notável sangue frio, e, valendo-se dos seus conhecimentos de eletricista, conseguiu desligar o quadro e evitar a morte dos companheiros.



Jaime Graça, o anjo salvador, só não conseguiu salvar Luciano.



Em 2010, Jaime Graça lembrava o acidente, numa entrevista ao jornal I: "Fui rápido e decidido. Desliguei o quadro. Aqueles que estavam no fundo no tanque foram os que mais sofreram, como o Carmo Pais e o Malta da Silva. O Camolas, por exemplo, fugiu para o relvado. Veja lá, tão grande foi o susto. Ainda hoje quando me vê, o Malta da Silva faz questão de me apresentar como o homem que lhe salvou a vida. Ele e o Carmo Pais sofreram muito e tiveram de estar duas horas deitados no chão, a serem inspecionados pelos médicos.". E acrescentou: "Noutras condições e mais despreocupados, teríamos sido atingidos sem solução. Pobre Luciano...".

Também Cavém lembrava: "Foi tudo vertiginoso. Era como se um polvo gigantesco nos tivesse agarrado pelas pernas. Uns momentos mais e ninguém se salvava. O que me valeu foi agarrar-me ao varão da escada".

As consequências individuais e associativas foram terríveis. Nunca o Benfica tinha vivido tal tragédia.



Dor.


As manifestações de dor multiplicaram-se, atingindo a equipa, a direção, os adeptos. Foram dias de enorme sofrimento.



Dor.



O funeral



A comitiva fúnebre a atravessar a ponte sobre o Tejo.



De regresso à sua terra, num caixão, Luciano fez a sua última viagem, acompanhado por uma comitiva impressionante. Toda a equipa do Benfica acompanhou o corpo, mas não só. José Augusto recordou: "Estava muita gente por todo o lado. Em Alcácer, em Grândola, em todo o lado por onde passámos. Depois, em Olhão, foi uma coisa impressionante.".



Dor.



Mesmo num tempo bem distinto do mediatismo que atualmente rodeia o futebol, o funeral de Luciano seria televisionado para várias dezenas de países, que deram reporte da tragédia que envolvia um dos clubes mais prestigiados do mundo.



Dor.


O Benfica nunca tinha vivido tamanha tragédia. Nos dias de hoje, apenas temos um comparativo com a trágica perda de Miki Féher. Resta-nos evoca-los. Que ambos descansem em paz.




Luciano, quatro temporadas e 46 jogos de Águia ao peito
3 campeonatos nacionais e 1 Taça de Portugal
Para sempre recordado.
Descansa em Paz, Luciano.




Que cena macabra.

Houve depois algum litígio com a família do Luciano ou ficou tudo resolvido por acordo?

É algo que também pensei diversas vezes.
Eu não era nascido e nunca tentei saber.

Tenho a ideia que terá sido incompetência dos técnicos que instalaram o aparelho. Sem conseguir confirmar, penso que seria da marca Whirlpool, mas terão sido técnicos do representante. Eram tempos muito diferentes e se calhar houve - se houve - lugar a uma indemnização ridícula...

Já o Benfica tinha e tem uma tradição de assistência a estes casos. Por essa altura houve também a tragédia de Augusto Silva e penso que passou a ser funcionário do Clube.
Luciano tinha origens muito humildes. Seguramente a sua ajuda seria fundamental para os seus pais. Estou convencido que o Benfica não os terá deixado desamparados. Espero que sim e que tenha sido seguida a tradição do Clube, que nessa altura tinha excelentes dirigentes, com Cultura de Clube.

Se alguém souber, que nos faça saber.


Torgal

Citação de: RedVC em 05 de Dezembro de 2022, 18:56
-340-
Morte no balneário (parte II – de tragédia)

Sessão de banhos no balneário do Estádio da Luz. Foi num dia assim, que a tragédia caiu sobre o Sport Lisboa e Benfica.


Luciano ladeado por José Augusto e Germano, numa sessão de banhos no balneário da Luz. Fonte: Record


Naquela fatídica manhã de 5 de dezembro, o plantel benfiquista, cumpria um dia de treino de recuperação, onde se incluíam banhos e massagens, no tanque da Luz. Desde há alguns anos, o Benfica contava com infraestruturas e equipamentos para esses procedimentos de recuperação. Não havendo os modernos jacuzzis, estavam, no entanto, já disponíveis aparelhos elétricos que eram colocados dentro de água para provocar um efeito vibratório de massagem.



No início da década de 60, os banhos e hidromassagens eram já usados no futebol Benfiquista. Fonte: Museu SLB


O acidente explica-se por uma conjugação inadmissível de circunstâncias infelizes. Sem que o treinador Fernando Riera e o seu adjunto Fernando Cabrita soubessem, e mesmo sem que Domingos Claudino, diretor de campo do Estádio da Luz, também soubesse; um novo aparelho para hidromassagem foi usado nessa sessão de banhos e massagens. A autorização terá vindo da equipa médica do Benfica, confiando que, em termos técnicos, a segurança seria salvaguardada.

As circunstâncias do acidente não foram totalmente comunicadas. Segundo as recordações de José Augusto, naquele tempo estava em experiência um aparelho americano que tinha um cabo curto, tendo por isso sido feita uma extensão que terá sido isolada para evitar problemas. Infelizmente não se contou com o vapor da água e com a condensação que terá caído sobre a zona do isolamento e terá provocado a eletrocussão.

Tudo se desencadeou num instante de terror. De repente levantou-se uma enorme gritaria no balneário, tendo quem estava na zona, acudido aos jogadores que estavam dentro do tanque.

Segundo José Augusto, Luciano seria o homem que estava a segurar o aparelho e por isso terá sido ele quem levou a carga maior. Outros disseram que era Luciano estava submerso aquando da eletrocussão e por isso foi o mais exposto. Luciano sem hipóteses, terá tido morte instantânea. Em desespero, o Doutor Azevedo Gomes ainda executou duas punções diretamente no coração de Luciano, mas de nada valeu. Já nada havia a fazer. A morte foi confirmada.

Mas, no balneário viviam-se outros dramas. Estendidos no chão, outros jogadores lutavam pela vida. Assistidos pela equipa médica, durante horas, sofreram convulsões e para alguns o fio da vida esteve prestes a ser cortado.



Uma tragédia impensável.


Nesse dia, também Cavém, Eusébio, Santana, Malta da Silva, Carmo Pais, e Camolas estiveram às portas da morte. Todos eles foram eletrocutados.



Quem pode sequer imaginar o que teria sido se todos aqueles jogadores tivessem morrido eletrocutados, ali, naquele dia trágico?

Eusébio... seis meses depois do esplendor do Mundial de 1966, morto por eletrocussão?! Eusébio, a figura maior do futebol Benfiquista... E todos os outros, que tanto prestígio nos deram, antes e depois do acidente...

Foi Jaime Graça que os salvou.


Foi Jaime Graça que os salvou.


Chegado ao Clube apenas uns meses antes, Jaime Graça foi, nesse dia, o homem providencial, o anjo da guarda. Também afetado pelas descargas, Jaime Graça revelou um notável sangue frio, e, valendo-se dos seus conhecimentos de eletricista, conseguiu desligar o quadro e evitar a morte dos companheiros.



Jaime Graça, o anjo salvador, só não conseguiu salvar Luciano.



Em 2010, Jaime Graça lembrava o acidente, numa entrevista ao jornal I: "Fui rápido e decidido. Desliguei o quadro. Aqueles que estavam no fundo no tanque foram os que mais sofreram, como o Carmo Pais e o Malta da Silva. O Camolas, por exemplo, fugiu para o relvado. Veja lá, tão grande foi o susto. Ainda hoje quando me vê, o Malta da Silva faz questão de me apresentar como o homem que lhe salvou a vida. Ele e o Carmo Pais sofreram muito e tiveram de estar duas horas deitados no chão, a serem inspecionados pelos médicos.". E acrescentou: "Noutras condições e mais despreocupados, teríamos sido atingidos sem solução. Pobre Luciano...".

Também Cavém lembrava: "Foi tudo vertiginoso. Era como se um polvo gigantesco nos tivesse agarrado pelas pernas. Uns momentos mais e ninguém se salvava. O que me valeu foi agarrar-me ao varão da escada".

As consequências individuais e associativas foram terríveis. Nunca o Benfica tinha vivido tal tragédia.



Dor.


As manifestações de dor multiplicaram-se, atingindo a equipa, a direção, os adeptos. Foram dias de enorme sofrimento.



Dor.



O funeral



A comitiva fúnebre a atravessar a ponte sobre o Tejo.



De regresso à sua terra, num caixão, Luciano fez a sua última viagem, acompanhado por uma comitiva impressionante. Toda a equipa do Benfica acompanhou o corpo, mas não só. José Augusto recordou: "Estava muita gente por todo o lado. Em Alcácer, em Grândola, em todo o lado por onde passámos. Depois, em Olhão, foi uma coisa impressionante.".



Dor.



Mesmo num tempo bem distinto do mediatismo que atualmente rodeia o futebol, o funeral de Luciano seria televisionado para várias dezenas de países, que deram reporte da tragédia que envolvia um dos clubes mais prestigiados do mundo.



Dor.


O Benfica nunca tinha vivido tamanha tragédia. Nos dias de hoje, apenas temos um comparativo com a trágica perda de Miki Féher. Resta-nos evoca-los. Que ambos descansem em paz.




Luciano, quatro temporadas e 46 jogos de Águia ao peito
3 campeonatos nacionais e 1 Taça de Portugal
Para sempre recordado.
Descansa em Paz, Luciano.


Arrepiante.

Raydenn

Citação de: RedVC em 05 de Dezembro de 2022, 18:56
-340-
Morte no balneário (parte II – de tragédia)

Sessão de banhos no balneário do Estádio da Luz. Foi num dia assim, que a tragédia caiu sobre o Sport Lisboa e Benfica.


Luciano ladeado por José Augusto e Germano, numa sessão de banhos no balneário da Luz. Fonte: Record


Naquela fatídica manhã de 5 de dezembro, o plantel benfiquista, cumpria um dia de treino de recuperação, onde se incluíam banhos e massagens, no tanque da Luz. Desde há alguns anos, o Benfica contava com infraestruturas e equipamentos para esses procedimentos de recuperação. Não havendo os modernos jacuzzis, estavam, no entanto, já disponíveis aparelhos elétricos que eram colocados dentro de água para provocar um efeito vibratório de massagem.



No início da década de 60, os banhos e hidromassagens eram já usados no futebol Benfiquista. Fonte: Museu SLB


O acidente explica-se por uma conjugação inadmissível de circunstâncias infelizes. Sem que o treinador Fernando Riera e o seu adjunto Fernando Cabrita soubessem, e mesmo sem que Domingos Claudino, diretor de campo do Estádio da Luz, também soubesse; um novo aparelho para hidromassagem foi usado nessa sessão de banhos e massagens. A autorização terá vindo da equipa médica do Benfica, confiando que, em termos técnicos, a segurança seria salvaguardada.

As circunstâncias do acidente não foram totalmente comunicadas. Segundo as recordações de José Augusto, naquele tempo estava em experiência um aparelho americano que tinha um cabo curto, tendo por isso sido feita uma extensão que terá sido isolada para evitar problemas. Infelizmente não se contou com o vapor da água e com a condensação que terá caído sobre a zona do isolamento e terá provocado a eletrocussão.

Tudo se desencadeou num instante de terror. De repente levantou-se uma enorme gritaria no balneário, tendo quem estava na zona, acudido aos jogadores que estavam dentro do tanque.

Segundo José Augusto, Luciano seria o homem que estava a segurar o aparelho e por isso terá sido ele quem levou a carga maior. Outros disseram que era Luciano estava submerso aquando da eletrocussão e por isso foi o mais exposto. Luciano sem hipóteses, terá tido morte instantânea. Em desespero, o Doutor Azevedo Gomes ainda executou duas punções diretamente no coração de Luciano, mas de nada valeu. Já nada havia a fazer. A morte foi confirmada.

Mas, no balneário viviam-se outros dramas. Estendidos no chão, outros jogadores lutavam pela vida. Assistidos pela equipa médica, durante horas, sofreram convulsões e para alguns o fio da vida esteve prestes a ser cortado.



Uma tragédia impensável.


Nesse dia, também Cavém, Eusébio, Santana, Malta da Silva, Carmo Pais, e Camolas estiveram às portas da morte. Todos eles foram eletrocutados.



Quem pode sequer imaginar o que teria sido se todos aqueles jogadores tivessem morrido eletrocutados, ali, naquele dia trágico?

Eusébio... seis meses depois do esplendor do Mundial de 1966, morto por eletrocussão?! Eusébio, a figura maior do futebol Benfiquista... E todos os outros, que tanto prestígio nos deram, antes e depois do acidente...

Foi Jaime Graça que os salvou.


Foi Jaime Graça que os salvou.


Chegado ao Clube apenas uns meses antes, Jaime Graça foi, nesse dia, o homem providencial, o anjo da guarda. Também afetado pelas descargas, Jaime Graça revelou um notável sangue frio, e, valendo-se dos seus conhecimentos de eletricista, conseguiu desligar o quadro e evitar a morte dos companheiros.



Jaime Graça, o anjo salvador, só não conseguiu salvar Luciano.



Em 2010, Jaime Graça lembrava o acidente, numa entrevista ao jornal I: "Fui rápido e decidido. Desliguei o quadro. Aqueles que estavam no fundo no tanque foram os que mais sofreram, como o Carmo Pais e o Malta da Silva. O Camolas, por exemplo, fugiu para o relvado. Veja lá, tão grande foi o susto. Ainda hoje quando me vê, o Malta da Silva faz questão de me apresentar como o homem que lhe salvou a vida. Ele e o Carmo Pais sofreram muito e tiveram de estar duas horas deitados no chão, a serem inspecionados pelos médicos.". E acrescentou: "Noutras condições e mais despreocupados, teríamos sido atingidos sem solução. Pobre Luciano...".

Também Cavém lembrava: "Foi tudo vertiginoso. Era como se um polvo gigantesco nos tivesse agarrado pelas pernas. Uns momentos mais e ninguém se salvava. O que me valeu foi agarrar-me ao varão da escada".

As consequências individuais e associativas foram terríveis. Nunca o Benfica tinha vivido tal tragédia.



Dor.


As manifestações de dor multiplicaram-se, atingindo a equipa, a direção, os adeptos. Foram dias de enorme sofrimento.



Dor.



O funeral



A comitiva fúnebre a atravessar a ponte sobre o Tejo.



De regresso à sua terra, num caixão, Luciano fez a sua última viagem, acompanhado por uma comitiva impressionante. Toda a equipa do Benfica acompanhou o corpo, mas não só. José Augusto recordou: "Estava muita gente por todo o lado. Em Alcácer, em Grândola, em todo o lado por onde passámos. Depois, em Olhão, foi uma coisa impressionante.".



Dor.



Mesmo num tempo bem distinto do mediatismo que atualmente rodeia o futebol, o funeral de Luciano seria televisionado para várias dezenas de países, que deram reporte da tragédia que envolvia um dos clubes mais prestigiados do mundo.



Dor.


O Benfica nunca tinha vivido tamanha tragédia. Nos dias de hoje, apenas temos um comparativo com a trágica perda de Miki Féher. Resta-nos evoca-los. Que ambos descansem em paz.




Luciano, quatro temporadas e 46 jogos de Águia ao peito
3 campeonatos nacionais e 1 Taça de Portugal
Para sempre recordado.
Descansa em Paz, Luciano.


Obrigado!

RedVC

#1313
-341-
Um gigante da velha Albion (parte I – de Grays a Londres)

Dia 10 de janeiro de 1938, Estádio The Den, Londres, Inglaterra.


Nove jogadores do Millwall FC de 1937-1938. Fonte: Gettyimages


Os jogadores do Millwall FC ultimavam a preparação de um jogo de desempate contra o Manchester City, campeão inglês de futebol. Estava em disputa a qualificação para as meias-finais da Taça de Inglaterra de 1937-1938.



O jovem Ted Smith, entre os seus colegas do Millwall FC, 1937-38


Essa eliminatória constituiu um dos maiores feito da história do Millwall FC. O desafio teve um amplo destaque dos media, existindo aliás um registo fílmico interessante e que nos mostra o encanto – até mesmo visual - desses tempos no futebol inglês.




Entre os jogadores do Millwall FC, nota-se a presença de um jovem, na altura com 24 anos, alto, loiro, atlético, chamado Edward John Smith. Era mais conhecido por "Ted Smith", e era o titular da defesa, jogando à direita, ainda no tradicional sistema de pirâmide (2x3x5).



O jovem Ted Smith, defesa central à direita do Millwall FC de 1935 a 1947


Edward John Smith nasceu em Grays, uma pequena cidade situada no condado de Essex, Inglaterra. Nasceu no dia 3 de setembro de 1914, o ano em que deflagrou a I Guerra Mundial.



Ted Smith foi um desportista e um cavalheiro durante toda a sua vida, em múltiplos locais e circunstâncias. Em outubro de 1948, alguns meses após terminar a sua carreira de futebolista, seria contratado para treinador principal de futebol do Sport Lisboa e Benfica. Um salto profissional que lhe daria cerca de 4 anos de grande intensidade coletiva e de conquistas relevantes. Mas, lá iremos...



O jovem Ted Smith, defesa central à direita do Millwall FC de 1935 a 1947. Fonte: Gettyimages



De Grays até aos leões


Ted Smith iniciou-se no futebol em representação da equipa da sua escola primária, a Arthur Street School, em Grays. Passou depois por diversos pequenos clubes, caso do Thames Mills, do Grays Athletic FC em 1932 (https://www.graysathletic.co.uk/), do Barking FC (https://barking-fc.co.uk/) em 1933, e do Tilbury FC (https://tilburyfc.co.uk/) em 1934.



As diversas etapas da carreira de futebolista de Ted Smith.


Em maio de 1935, Ted Smith assinou o seu primeiro contrato como jogador profissional de futebol, ao ser recrutado pelo Millwall FC (https://www.millwallfc.co.uk/). Fundado em 1885, o Millwall tinha uma maior dimensão social e desportiva, embora nessa altura também participasse numa liga secundária. Seria no Millwall, até 1947, que Ted Smith faria o resto da sua carreira de futebolista.



O plantel do Millwall FC em 1937-1938. Ted Smith em destaque.


No Millwall FC, Ted Smith tornou-se titular, e figura relevante da equipa, logo na sua primeira temporada. Jogador de características defensivas, marcou apenas um golo durante toda a sua carreira de futebolista (em casa, frente ao Walsall, em março de 1937).

Na temporada de 1937-1938, o Millwall foi campeão da divisão III (Sul), ascendendo à Division II. Essa terá sido a temporada de maior sucesso de Ted Smith. Mas, seria nas eliminatórias da Taça de Inglaterra (F.A. Cup) das temporadas de 1936-1937 e 1937-1938, que o Millwall conseguiria atingir alguns dos maiores feitos da sua história. Em ambas, os leões enfrentaram o Manchester City.


Leões vs Citizens


Ora, em 1936-1937, no dia 6 de março de 1937, jogando no seu estádio "The Den", o Millwall eliminou o Manchester City (2-0), numa eliminatória que ainda hoje é considerada como um dos maiores "giant killings" da história da competição. Para se ter uma noção do feito, nessa mesma temporada, o Manchester City sagrou-se campeão de futebol de Inglaterra...

Não obstante, o Millwall cairia na meia-final, perdendo para o Sunderland FC, clube que conquistaria a Taça, vencendo na final o Preston Norht End (ver: https://en.wikipedia.org/wiki/1936%E2%80%9337_FA_Cup).



Ted Smith num treino coletivo do Millwall FC. Fonte: Getty images



Quis o destino que na temporada seguinte, em 1937-1938, o Manchester City, agora campeão de Inglaterra em título, defrontasse de novo o Millwall. E, apesar de avisados pelo escândalo da temporada anterior, os citizens voltaram a sentir enormes dificuldades perante os leões.

Numa eliminatória épica, no dia 8 de janeiro 1938, o Millwall conseguiu empatar (2-2) o primeiro jogo, disputado no "The Den". Só no jogo de desempate, disputado no estádio Maine Road, então a casa dos citizens, o City conseguiu triunfar por 3-1, e com isso obter a sua desforra (ver: https://en.wikipedia.org/wiki/1937%E2%80%9338_FA_Cup).



O programa do jogo de 8-01-1938


Em 1939, à semelhança de muitos outros futebolistas (Jimmy Hagan, do Sheffield United, por exemplo...), Ted Smith foi forçado a interromper bruscamente a sua carreira de futebolista, com o deflagrar da II Guerra Mundial. Esse hiato de seis anos, dos 25 até aos 31 anos, roubou-lhe aqueles que provavelmente teriam sido os seus melhores anos enquanto futebolista.

Mas, como muitas vezes o destino devolve algo do que tira, seria nesses anos que Ted Smith teve encontros que definiriam o resto da sua vida. Mas, lá iremos...

No final de 1945, com o fim da guerra, Ted Smith regressaria à atividade de futebolista, cumprindo mais três temporadas no Millwall. Em fevereiro de 1948, Ted Smith fez o seu último jogo pelo Millwall, em Bury, cumprindo um total de 161 jogos pelos leões.

Era chegado um outro tempo. O passo seguinte seria em Portugal, no Sport Lisboa e Benfica.

Nos próximos 3 textos falaremos mais extensamente de Ted Smith, enquanto homem e treinador de futebol.




RedVC

#1314
-342-
Um gigante da velha Albion (parte II – o regresso do campeão)


Estádio Nacional, dia 12 de junho de 1949. O Sport Lisboa e Benfica conquista a sua 7ª Taça de Portugal em futebol!


A equipa principal do Sport Lisboa e Benfica, que conquistou a Taça de Portugal em 1948-1949. De pé podemos identificar Ted Smith ladeado por Cândido Tavares (esquerda) e o dirigente Francisco Retorta (direita). Na extrema esquerda identificam-se o massagista Hugo Correia e o velho treinador Lipo Herczka. Os homens-chave do futebol benfiquista.


Liderada pelo inglês Ted Smith, a equipa benfiquista consolava os benfiquistas com uma vitória depois da perda do campeonato nacional. Nessa final, vencemos o Atlético CP (2-1; ver: https://serbenfiquista.com/jogo/futebol/seniores/19471948/taca-de-portugal/1949-06-12/sl-benfica-2-x-1-atletico-cp). Foi a primeira conquista nacional de Ted Smith enquanto treinador do futebol do Benfica.

De 1948 a 1952, em três temporadas e meia, Ted Smith exerceu uma liderança sabedora e resoluta, tornando-se o primeiro inglês a orientar o futebol do Sport Lisboa e Benfica. Até então, o nosso Clube tinha contratado somente treinadores do leste europeu: primeiro um boémio/checo (Arthur John) e depois dois húngaros (Herczka e Biri).

Ao optar por um treinador vindo do ultra prestigiado futebol inglês, anunciavam-se mudanças efetivas. Cinco décadas depois dos tempos da fundação do Clube, em que os estrondosos embates com os ingleses do Carcavelos FC, foram importantes para fortalecer a Mística e a unidade do Clube, o Benfica abria portas a um footballer da velha Albion.

Ted Smith, literalmente um gigante inglês, deixou marcas no nosso futebol, trazendo algumas alterações de hábitos, e de opções técnico-táticas! Acima de tudo deu-nos a primeira vitória numa competição europeia, derrotando campeões de alguns dos países com o futebol mais competitivo da Europa (mediterrânica). Também a nível nacional, o Benfica regressou aos títulos e por isso enriqueceu o palmarés.

O retorno dado pelos benfiquistas foi amplo, apaixonado e generoso. O Clube proporcionaria ainda ao gigante inglês, um tempo inesquecível, repleto de experiências desportivas e culturais únicas e gloriosas!

Neste e no próximo texto, falaremos de algumas dessas vitórias e experiências, e de circunstâncias curiosas que caracterizaram a vida desportiva de Ted Smith, enquanto treinador.


Um encontro na Base das Lages


Tal como referimos no texto anterior, em setembro de 1939, Ted Smith interrompeu bruscamente a sua carreira de futebolista ao ser mobilizado para servir o seu país na 2ª Guerra Mundial.

Foi então destacado para a Base das Lajes, Santa Maria, Açores, talvez em finais 1943 ou já no início de 1944, pouco depois da assinatura dos acordos entre o estado português e os estados inglês e americano.


https://www.youtube.com/watch?v=68ZtYLmC0C0
A história da base das Lages na perspetiva americana


Sucede que nesse tempo, na estrutura do comando português das referidas instalações militares, estava o engenheiro João Tamagnini Barbosa, cuja patente militar da altura me é desconhecida. Tamagnini Barbosa era também um excelso Benfiquista, e haveria de tornar-se amigo do militar inglês cujo passado desportivo certamente o terá impressionado. Poucos anos depois, a memória dessa convivência haveria de determinar o convite e a vinda de Ted Smith para o futebol benfiquista.

João Tamagnini Barbosa foi o 18º presidente do Sport Lisboa e Benfica. Exerceu o cargo de 25 de janeiro de 1947 até 15 de dezembro de 1948, data em que faleceu, tornando-se o único presidente a falecer no exercício das funções.

Ou seja, foi João Tamagnini Barbosa quem convidou Ted Smith para o cargo de treinador principal do futebol do Benfica embora trabalhassem juntos no Clube, apenas uns 2-3 meses...



O Brigadeiro João Tamagnini Barbosa, presidente do Sport Lisboa e Benfica em 1947 e 1948


Quando ascendeu à presidência, João Tamagnini Barbosa, tinha pela frente a árdua tarefa de pacificar o Clube, então mergulhado em divisões internas, muito por causa da escolha do local da construção do futuro estádio e parque desportivo.

O clube precisava de regressar aos títulos, uma vez que os dois últimos campeonatos tinham sido perdidos para o Belenenses e para o Sporting. Bem para trás tinham ficado os anos bem-sucedidos sob o comando do húngaro János Biri.

Dessa forma, uma das tarefas fundamentais de Tamagnini Barbosa e Francisco Retorta, o principal dirigente benfiquista para o futebol; passava por uma escolha certeira de um novo treinador principal.

Para a temporada de 1947-1948, foi contratado Lipo Herczka, que regressava a um Clube que conhecia bem, e onde tinha sido bicampeão nacional na década de 30.

Infelizmente, apesar da igualdade pontual, a diferença de golos deu o título ao SCP dos "5 violinos", orientado por Cândido de Oliveira, tendo como treinador de campo o inglês Robert Kelly.

Para 1948-1949, Tamagnini Barbosa e Francisco Retorta montaram uma estrutura similar à dos rivais, contratando um treinador principal, que, com maior vitalidade, coordenasse todo o futebol do clube, e que desse um novo ímpeto de modernização ao futebol do Clube.

Percebe-se assim que Tamagnini Barbosa se tenha lembrado do seu jovem amigo inglês dos tempos açoreanos. Alguém a quem reconhecia virtudes e conhecimentos necessários para a tarefa. A adaptação de Ted Smith foi bem pensada, tendo um intérprete em regime permanente, função que suponho possa ter sido acumulada pelo treinador-adjunto Cândido Tavares, e mantendo-se Lipo Herczka, mas agora como treinador de campo.

E, apesar do inglês ser um desconhecido, e de ainda não ter currículo como treinador, a vontade do presidente impôs-se.



Um loiro inglês para treinar o Benfica... Fonte: Hemeroteca Lx


Para os benfiquistas, apesar da falta de currículo, havia a noção de que o novo treinador vinha da pátria do futebol, do país com o futebol mais prestigiado e com a organização mais desenvolvida desse tempo, quer nas vertentes desportiva quer empresarial. Aliás, em Portugal estava bem demonstrada a tremenda força do futebol inglês, pois em maio de 1947, a seleção inglesa veio a Portugal esmagar a portuguesa por 10-0... Não foi por acaso que, nesse final da década de 40, e num tempo ainda não existiam competições europeias oficiais, o Benfica disputou alguns jogos amigáveis com clubes britânicos (Charlton, Rangers e Arsenal).

Ted Smith aceitou o repto do presidente benfiquista e, em outubro de 1948, mudou-se para Lisboa, mostrando-se favoravelmente impressionado nos seus primeiros contactos com o Clube.



Ted Smith ambientando-se ao novo Clube, jogadores e jornalistas. Fonte: Hemeroteca Lx


Ao gigante inglês foi atribuído um amplo raio de ação, acompanhando também de perto, as atividades das equipas das reservas e de juniores. Esta última categoria beneficiava ainda da existência de uma "Escola de Jogadores", que recentemente tinha sido instituída.



Ted Smith acompanhando categorias de reserva e juniores.


Ted Smith trouxe algumas inovações táticas (modelo 3x2x5), a adoção de marcações cerradas e de um exaustivo estudo dos adversários. Foi uma temporada de contratações pouco sonantes, apostando-se mais na progressão e no aproveitamento dos recursos humanos existentes.

Apesar de algumas melhorias relativamente a um passado recente, essa primeira temporada de Ted Smith não seria fácil, persistindo uma desvantagem competitiva para com o SCP, ainda liderado por Cândido de Oliveira, voltou a conquistar o título, mas desta vez com 5 pontos de avanço.

Apesar da perda do campeonato, Mário Madeira, o novo presidente, manteve a confiança em Ted Smith. E, com a saída de Lipo Herczka para o União de Montemor (onde haveria de falecer pouco tempo depois) a dupla Ted Smith e Cândido Tavares manteve-se ao leme da equipa. A aposta haveria de frutificar.


Enfim, campeão!



Ted Smith (de pé, à esquerda) com o plantel do Sport Lisboa e Benfica, campeão nacional de futebol em 1949-1950.


A temporada de 1949-1950 seria a segunda e a mais bem-sucedida de Ted Smith. Seria, aliás, uma das mais bem-sucedidas da História do Benfica. O plantel contava com cerca de uma dezena de novos recrutas, mas na verdade os que mais impacto tiveram vieram das camadas jovens (Bastos e Artur Santos). As melhorias competitivas foram ainda mais vincadas, e permitiram conquistar o campeonato nacional com 6 pontos de avanço sobre o SCP.

Curiosamente, não foi possível conquistar a dobradinha, porque a FPF tinha decidido que nesse ano não se realizaria a Taça de Portugal, tradicionalmente disputada no final da temporada. Ao que se diz, esta decisão absurda ter-se-á devido à ilusão da FPF de que a seleção nacional poderia vir a participar no Mundial de 1950, no Brasil!

É que, apesar de ter sido eliminada na qualificação frente à Espanha, com a desistência de numerosos países em participar no evento, terá havido vontade da organização brasileira em convidar a FPF.... Acabou por haver (ou por ser imposto pela FIFA...) algum bom senso, e desvaneceu-se a ilusão, mas também acabou por não se disputar essa edição da Taça de Portugal. Antes como agora, a FPF tem quase sempre dirigentes que são bons ilusionistas.



De novo, a irregularidade


A temporada de 1950-1951, a terceira de Ted Smith, seria marcada por uma enorme irregularidade competitiva, pagando-se o preço do desgaste físico provocado pela longa digressão por terras de África (que mencionaremos no próximo texto).

O campeonato seria no novamente perdido para o SCP, e de tal forma foi desastroso que o Benfica ficou no 3º lugar, a 15 pontos do SCP. Pagou-se caro a inexperiência...

Nessa temporada, com exceção da extraordinária contratação de José Águas, uma descoberta sensacional feita durante a digressão por África; os restantes novos recrutas teriam pouco impacto na equipa principal.

No final da temporada, e uma vez mais, vencemos a Taça de Portugal, no caso a 8ª da nossa História. Derrotamos a equipa da Académica de Coimbra (5-1) numa final onde se assistiu a mais uma tarde de gala de Rogério Pipi, autor de 4 golos (ver: https://serbenfiquista.com/jogo/futebol/seniores/19501951/taca-de-portugal/1951-06-10/sl-benfica-x-academica). Facto curioso, é que nos estudantes militavam entre outros, o nosso antigo avançado Rui Gil, e Melo, o pai do "nosso" António Melo!



Ted Smith com a equipa principal do Sport Lisboa e Benfica, que conquistou a Taça de Portugal em 1950-1951.



Uma temporada bizarra

A quarta e última temporada de Ted Smith foi no mínimo bizarra, e nunca ficou bem esclarecida. Sem grandes contratações, o Benfica até arrancou bem no campeonato, liderando a prova em acesa disputa com o FCP. No entanto, a 2 de dezembro, o Benfica deslocou-se a Guimarães, perdeu o jogo(1-2) e com isso cedeu a liderança aos portistas.

Na semana seguinte, alegando razões pessoais, Ted Smith abandonou a equipa, partindo de forma abrupta para Inglaterra. A direção Benfiquista optou por convidar Cândido Tavares a ascender ao comando da equipa de futebol. Antigo guarda redes do Clube, e colaborador de grande dedicação, Cândido Tavares aceitou o desafio.



Cândido Tavares, alguns anos mais tarde a orientar um treino de uma seleção portuguesa.


Curiosamente, na mesma altura, também o treinador do FCP decidiu abandonar os azuis e brancos. No meio de toda esta bizarria, o SCP que até tinha começado mal o campeonato ia recuperando na tabela e passou a disputar o título.

E para que a bizarria atingisse níveis ainda superiores, no final de fevereiro de 1952, Ted Smith regressou a Portugal e apresentando-se a Francisco Retorta, mostrou disponibilidade para retomar o seu cargo. Como nessa semana o Benfica tinha perdido por 0-2 nas Salésias frente ao Belenenses, e porque a equipa não evidenciava grande fiabilidade, ou por outras razões desconhecidas, o inglês foi autorizado a regressar ao leme da equipa. O que esta história não daria em espalhafato mediático nos dias de hoje...

Infelizmente, nada melhorou... Na jornada seguinte defrontamos o SCP e perdemos por 2-3, com várias expulsões e com um dos golos leoninos obtido em claro fora de jogo. Logo de seguida fomos empatar à Amoreira, perante o Estoril Praia, e com isso selou-se a entrega do título. Terminamos em 2º lugar a 1 ponto do SCP. Perdeu-se um título que esteve na nossa mão.

Felizmente, no fecho da temporada, uma vez mais vencemos a Taça de Portugal, a 9ª da nossa História. Numa partida épica derrotamos o SCP por 5-4 (ver: https://serbenfiquista.com/jogo/futebol/seniores/19511952/taca-de-portugal/1952-06-15/sl-benfica-5-x-4-sporting). Foi talvez a mais sensacional final de sempre e uma nova tarde de glória de Rogério Pipi, autor de três golos. O seu último, e decisivo golo, foi obtido a alguns segundos do apito final.



A equipa principal do Sport Lisboa e Benfica que conquistou a 9ª Taça de Portugal, em 1951-1952. O treinador Cândido Tavares, está em pé, à direita.


Nessa final épica a equipa foi orientada uma vez mais pelo discreto e competente Cândido Tavares. É que Ted Smith já tinha novamente regressado a Inglaterra... Ou seja Ted Smith voltou em março e partiu em abril.... Quaisquer que tenham sido as suas razões, certo é que essa temporada foi uma das mais bizarras da nossa História.

No próximo texto, falaremos brevemente de alguma das mais extraordinárias experiências que Ted Smith viveu ao serviço do Glorioso.

No quarto e último texto desta série, falaremos das circunstâncias do regresso de Ted Smith a Portugal, já na década de 70.





Baron_Davis


RedVC

#1316
Citação de: Baron_Davis em 15 de Dezembro de 2022, 15:09


Extraordinária fotografia.

Tenho ideia que foi tirada em Londres, em 1962, quando o Benfica jogou e eliminou o Tottenham.

Como falarei num dos textos a publicar, nessa altura o Benfica estava hospedado em Londres, no Park Lane Hotel. E foi no exterior desse hotel que José Águas teve em reencontro emotivo com Ted Smith, seu antigo treinador e o homem que deu o aval ou deu a sugestão de o contratarem ao Lusitano do Lobito.

Obrigado pela partilha.


adenda:


https://www.gettyimages.pt/detail/fotografia-de-notícias/portuguese-footballer-fernando-cruz-portuguese-fotografia-de-notícias/1412865244?adppopup=true


Benfica Players Take A Stroll, 1962
Portuguese footballer Fernando Cruz, Portuguese footballer Jose Aguas (1930-2000), Portuguese footballer Mario Coluna (1935-2014), Portuguese footballer Eusebio (1942-2014), Portuguese footballer Antonio Simoes, and Portuguese footballer Santana (1936-1989) walk through an unspecified park in London, England, 5th April 1962. The Portuguese champions are in London to play the second leg of their European Cup semi final against Tottenham Hotspur; Spurs won the second leg 2-1 but Benfica won the tie 4-3 on aggregate. (Photo by Evening Standard/Hulton Archive/Getty Images)




A Getty troca José Augusto por Fernando Cruz  :crazy2:


Baron_Davis


RedVC

-343-
Um gigante da velha Albion (parte III – de Lisboa para o mundo)

Estádio Nacional, dia 18 de junho de 1950, o Sport Lisboa e Benfica sagra-se campeão latino de futebol!

Liderada pelo inglês Ted Smith, a equipa campeã de Portugal conquistava a sua primeira glória europeia!



Uma montagem que homenageia os campeões latinos e o seu treinador, o inglês Ted Smith.


Depois de eliminar a Lazio, o campeão italiano (3-0) e após uma finalíssima contra os Girondinos de Bordeús, que se prolongou por dois prolongamentos e mais de duas horas, o Benfica venceu com um golo de Julinho.

Entre os jogadores extenuados e um público exultante, Ted Smith terá tido muita dificuldade em dominar as suas emoções. Infelizmente nunca vi alguma fotografia, ou filme, que o mostre nesse dia no palco do Jamor.

Antes do início da competição, Ted Smith mostrava-se convicto das possibilidades do Benfica vencer.


Declarações de Ted Smith antes do início da Taça Latina de 1949-1950.


A conquista desta competição europeia, a primeira da História do Benfica ou de qualquer clube português, teve as suas circunstâncias, mas teve também um indiscutível mérito. E mais do que qualquer outra conquista, foi a Taça Latina que fez com que o nome de Ted Smith tenha ficado, para sempre, escrito a ouro na História do Sport Lisboa e Benfica.



Uma página gloriosa do nosso Clube.



A vitória mais amarga


O Estádio Nacional, naquele tempo, era o mais bonito e funcional campo de futebol do nosso país. Foi aliás palco frequente dos jogos de futebol em que o Benfica enfrentou adversários europeus e sul-americanos que vieram em digressão a Portugal. Foi também esse o caso do Torino, que naquela trágica homenagem ao capitão Francisco Ferreira, acabaria por ser vitimado pelo funesto desastre de Superga.

Nesse dia 3 de maio de 1949, o Torino também era orientado por um treinador inglês, que certamente terá trocado palavras de apreço e de experiências com o nosso Ted Smith. A vitória (4-3) obtida sobre a grande equipa do Torino, foi muito prestigiante para ao Benfica e para Ted Smith, mas infelizmente, a tragédia do dia seguinte, obliterou o feito desportivo. Tornou-se uma data quase maldita.



Os treinadores Leslie Lieveslly (Torino AC) e Ted Smith (treinador do SL Benfica), com o árbitro Pearce. Fonte: Hemeroteca Lx



Pelas colónias, prestigiando o Benfiquismo


Logo depois da conquista da Taça Latina, entre o final de Julho e o princípio de setembro, o Benfica fez uma longa e cansativa digressão por terras de África (Moçambique, África do Sil, Angola e Congo Belga). Alberto Miguéns deu-nos alguns extraordinários reportes dessa aventura única que podem ser lidos aqui:

https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2016/09/sob-o-signo-das-primeiras-vezes-iv.html

https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2016/12/o-meu-brinquedo-de-natal.html



Fonte: blogue EDB


Como bom súbdito inglês, certamente que Ted Smith terá apreciado as riquíssimas experiências sociais e culturais proporcionadas por tão longa digressão por algumas colónias ultramarinas portuguesas. Comunidades e geografias que iriam mudar muito nas décadas seguintes...



Ted Smith em algumas das etapas de gloriosa digressão Benfiquista por terras de África, em julho-setembro 1950.


A digressão foi também uma extraordinária jornada de propagação do Benfiquismo, tal o brilho desportivo e social de que se revestiu. Ainda hoje existem muitos fiéis e dedicados benfiquistas entre os povos angolanos e moçambicanos. Abriu ainda mais espaço para se explorar o filão de jogadores africanos, que tão fundamentais foram para as gloriosas conquistas da década de 50 e 60.

Seria em Lobito, por sinal uma das paragens que traria uma rara derrota à nossa equipa, que seria descoberto José Águas. Decisivo na nossa derrota, ao nos marcar dois golos com a camisola do Lusitano do Lobito, José Águas despertou desde logo um enorme interesse a Rogério Pipi e a Ted Smith.

Águas foi convidado para o banquete oferecido nessa noite à comitiva Benfiquista, e ali mesmo terá sido abordado por Rogério Pipi, que nos deixou as suas recordações sobre esse momento.



Recordações de Rogério. Nota: a imagem é relativa a um jantar em Luanda, serve para fins ilustrativos. Fonte: https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2015/09/rogerio-responde-e-bem.html



Uma imagem de sofrimento de José Águas já no nosso Estádio do Campo Grande, saindo do terreno apoiado na equipa médica, e com Ted Smith a acompanhar. Fonte: Helena Águas.


Apesar do desgaste acumulado que viria a ter preço elevado na temporada de 1950-1951, a comitiva Benfiquista trouxe o sentimento de dever cumprido. Uma experiência inolvidável, prestigiante e formativa.



A comitiva Benfiquista no regresso a Portugal continental. Ted Smith é o penúltimo, de pé, à direita.


Na pérola do Atlântico


Tradicionalmente um dos destinos favoritos dos britânicos, a ilha da Madeira foi outro dos destinos fora de Portugal continental em que Ted Smith teve o privilégio de integrar uma comitiva benfiquista.




Detalhes desta digressão podem ser lidos aqui: https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2011/12/glorioso-na-madeira-esta-se-bem.html
E citando o autor, Alberto Miguéns: "Uma grande jornada que fez do Benfica, definitivamente, o clube mais popular na Madeira, cimentando em 1949, a simpatia que expandira em 1922 e 1936."


Neste texto escolhemos apenas algumas das mais extraordinárias experiências sociais, desportivas e culturais que Ted Smith viveu ao serviço do Sport Lisboa e Benfica. Experiências que demonstraram a grandeza que o Clube já gozava nessa altura, e que contribuíram para a multiplicar muito.

A grandeza constrói-se dentro e fora de campo. Felizes dos profissionais que trabalham num Clube destes. Feliz do Clube que tem profissionais destes. Eterno, Benfica!

No próximo texto finalizaremos a evocação de Ted Smith, falando dos seus anos finais.