Coluna

Nome completo
Mário Esteves Coluna
Posição
médio
Número
6
Data de nascimento
6 Agosto 1935
Data de morte
25 Fevereiro 2014 (78 anos)
País
Portugal
Naturalidade
Lourenço Marques, Moçambique
Periodo na equipa principal

1954-1970

No arco-íris do futebol nacional, naquela primeira metade da década de 50, o verde era a tonalidade dominante. Vivia-se o tempo hegemónico dos Cinco Violinos (Jesus Correia, Travaços, Peyroteo, Vasques e Albano), que garantiram para o Sporting o primeiro tetracampeonato da história. No Benfica, com saudade, recordava-se o titulo de 49/50 e a vitória na Taça Latina, o primeiro grande feito do futebol lusitano.

Nessa altura, em Lourenço Marque, no bairro do Alto Mahé, onde também cresceram Matateu, Vicente e Hilário, um adolescente começava a emergir nas lides de cariz desportivo. Mário Esteves Coluna, assim crismado foi. Filho de um português da Beira Baixa, aventureiro por terras africanas, que com uma negra de nome Lúcia casaria na capital da antiga África Oriental Portuguesa. O jovem Mário era um predestinado para a cultura física. Decerto, a destreza provinha-lhe da experiência acumulada a subir árvores, ainda petiz, na procura saborosa de mangas ou de caju. “Um dia cais, partes uma perna e vais parar ao hospital”, asseverava José Maria Esteves Coluna, o progenitor, que havia fundado e defendido as redes do Desportivo de Lourenço Marques, filial do Benfica.

Certo é que umas luvas de lutador, pertença de um amigo, fizeram as delicias do jovem Mário. Ainda na puberdade, experimentou o boxe, em combates pouco ortodoxos, sem regras coerentes, circunstância que bem poderá ter concorrido para o espírito combativo, matriz de toda uma vida. Por influência da trapeira, esse encanto dos pobres imberbes, foi Coluna jogar para a equipa João Albasini, albergue de muitos futebolistas de origem laurentina. Basquetebol praticou também, ainda que não tivesse passado da equipa de reservas do Desportivo. Mas foi no atletismo que Mário Coluna obteve, por essa altura, um notável registo. Para assombro de todos, estabeleceu recorde moçambicano de salto em altura, nuns muito estimáveis 1,825 metros, meio centímetro acima, pasme-se!, da marca com que Espírito Santo, outra grande figura do universo benfiquista, tinha destronado Pascoal de Almeida, na lista dos recordistas nacionais.

Ainda que a sua obsessão fosse profissionalizar-se como mecânico do automóveis, atentamente ouviu o conselhos de Severiano Correia, que nele encontrou talento suficiente para bonita carreira fazer no futebol.  É nessa altura que troca o Ferroviário pelo Desportivo, num apelo benfiquista que cedo, bem cedo, lhe havia provocado o imaginário.

Aos 17 anos, começou a jogar na equipa de honra da filial do Benfica. Todos os meses embolsava 500 escudos que, às escondidas dos pai, gastava em prazeres diversos. Nessa altura, o FC Porto ofereceu-lhe 90 contos, por um contrato de três temporadas. Reagiu o Sporting, sabedor da recusa de ingressar no grémio das Antas, adiantando a proposta de uma centena de contos, por contrato de três temporadas. A mesma oferta fez o Benfica. Respondeu com o coração, aquiesceu, de águia ao peito ficaria. Pouco tempo antes, já pontificava no Desportivo, coqueluche era, não jogou na África do Sul, que a tanto apartheid obrigava, mas vingou a derrota da sua equipa (2-1), em Lourenço Marques, num arrebatador 7-0, dia em que todos os golos marcou, como quem serve fria e até cruel vingança. Mandela, se é que soube, terá estrugido palmas. “Aterrei em Lisboa, após uma viagem que durou 34 horas. Dei a volta ao Mundo!”. Mas valeu a pena o esforço. De Moçambique, com destino ao Benfica, haviam já chegado, mas de barco, dias antes, Costa Pereira e Naldo. Era um tridente das paragens coloniais, resolutamente apostado, naquela época de 54/55, em devolver o Benfica à ribalta do futebol nacional.



Para além dos seus dois companheiros, Mário Coluna passou a trabalhar, no dia-a-dia, com Jacinto, Artur Santos, José Águas, Fernando Caiado, Francisco Calado, Ângelo, Palmeiro e Arsénio, entre outros. Ficou no Lar do Jogador, criação recente da direcção encarnada. “Mal cheguei, logo me quis ir embora. Vinha como craque, mas Otto Glória não contava comigo, não era titular. Para além disso, quiseram enganar-me no contrato. Meu pai sugeriu-me que voltasse, fiz as malas e só não regressei porque o mordomo do lar tinha ordem para me barrar a saída”.

Só que a bonança não tardou. E que bem ficou no Benfica! O brasileiro Otto apercebendo-se da incoexistência de Águas e Coluna, dois avançados-centro, transformou o moçambicano em centrocampista. Aposta ganha. De Otto, visionário. De Coluna, diletante. Do Benfica, revigorado.

Em Lisboa, o futuro Monstro Sagrado estreou-se frente ao FC Porto, na festa de Rogério e Feliciano. Mas foi com o Vitória de Setúbal, no pontapé de saída do Nacional de 54/55, que Mário Coluna, no palco do Jamor, marcou dois golos, no seu primeiro jogo oficial, para um robusto triunfo com chapa 5. “Deixou impressão lisonjeira. Habilidade, bons toques de bola, remate forte e fácil, e espírito de sacrifício. Um senão, somente: sua inevitável ingenuidade, leva-o a denunciar o passe provocando a intercepção ou o desarme”. Assim radiografou Vítor Santos o inaugural de 525 jogos com traje vermelho. “Nunca mais me esquecerei dessa época. Foi a minha primeira temporada pelo Benfica e ganhei tudo o que disputei (Campeonato e Taça de Portugal), sem esquecer que tive a honra de ser um dos jogadores que estrearam o Estádio da Luz”. E para a posteridade ficaria o registo de 17 golos apontados, o melhor em 16 anos quase sempre preenchidos por delicias garridas.

Mário Coluna deixou uma marca indelével no Benfica. Não fosse Eusébio, a quem carinhosamente trata por “afilhado”, por carinho e de facto, e talvez estivéssemos na presença do mais carismático jogador da centenária história encarnada. Capitão foi, naturalmente, de 63 a 70. Naquele jeito inconfundível de líder. Com voz baixa, mas ar severo. Granjeou respeito. Fez unanimidade.

Cinco finais europeias disputou. Nas duas primeiras, o Didi de Portugal, como era conhecido por terras de Vera Cruz, venceu e marcou golos, repositório afinal do seu dom de finalizador. E aquela terceira final, de má memória, frente ao Inter, tocado de forma vil por Trapattoni? Amputada ficou a equipa do seu maestro, interditas eram à época as substituições. Nesse dia, com estoicismo, aguentou até ao derradeiro e pesaroso silvo do árbitro, pouco mais fazendo que figura de corpo presente. Assim são os bravos, os campeões.



No Mundial de Inglaterra, capitaneou a turma das quinas. Eusébio esteve galvanizante, José Augusto, Torres e Simões deslumbraram. Ao lado de Jaime Graça, futuro reforço benfiquista, Mário Coluna pautou a intermediária, organizou o jogo. Com imponência. A ele se ficou a dever grossa fatia do sucesso das cores nacionais.

Dez vezes lhe foi colocada a faixa de campeão nacional, sempre ao serviço do seu Benfica. E mais sete Taças de Portugal ergueu. E internacional foi, ininterruptamente, durante 35 partidas, entre Dezembro de 1957 e Junho de 1965m fixando um recorde, só recentemente superado por Pauleta. E mais, muitas mais honrarias, com destaque para a presença na selecção dos Resto do Mundo, em Espanha, no Chamartin, ao lado de Rivera, Hamrin, Mazzola, Corso e Burgnich, na homenagem ao grande Ricardo Zamora. Helenio Herrera, o treinador, deu-lhe a braçadeira de capitão. Durante hora e meia capitaneou o mundo do futebol. Sempre humilde, imagem de marca jamais contestada.



A meio da época de 69/70, temporada fatídica para o Benfica, Otto Glória foi substituído por José Augusto no comando técnico da equipa principal. Para o antigo extremo, a hora era de renovação, de nada valendo que o magistral técnico Stefan Kovacs, nesse mesmo ano, tivesse dito que “o Benfica sem Coluna não é igual”. Ferido, despediu-se, não sem antes deixar um remoque a José Augusto, assim se traduz esse “acabei no Benfica quando era o melhor da defesa; sempre fui um jogador invejado”. O tempo passou e a ferida cicatrizou, o Benfica ganhou.

A 8 de Dezembro de 1970, o Monstro Sagrado recebeu os favores da plateia vermelha na festa do adeus. Com Cruijff, Djazic, Luís Suarez, Bobby Moore, Seeler, Hurst. Justo tributo ao grande capitão. À malvas mandou convites do FC Porto e do Belenenses, que em Portugal a paixão era rubra. Rumaria a França para jogar no Lyon. Terminou a carreira, um ano mais tarde, no modesto Estrela de Portalegre, na qualidade de jogador-treinador.

Cidadão exemplar, atento ao mundo, não resistiu ao apelo de Moçambique. Deputado foi da FRELIMO. Presidente da Federação de Futebol é ainda…

 

Épocas no Benfica: 15 (54/70)

Jogos: 525
Golos: 126

Títulos: 10CN, 7 TP, 2 TCE

 

Texto: Memorial Benfica, 100 Glórias
Copiado de Ednilson

 

 


Equipa Principal Jogos Minutos Cartões (A./V.) Golos
  1954/1955 32 2880 0 / 0 17  
Campeonato Nacional 26 2340 0 / 0 14
Taça de Portugal 6 540 0 / 0 3
Amigáveis 5 0
  1955/1956 29 2610 0 / 0 12  
Campeonato Nacional 26 2340 0 / 0 11
Taça de Portugal 1 90 0 / 0 0
Taça Latina 2 180 0 / 0 1
Amigáveis 12 1
  1956/1957 29 2610 0 / 0 7  
Campeonato Nacional 20 1800 0 / 0 5
Taça de Portugal 7 630 0 / 0 2
Taça Latina 2 180 0 / 0 0
Amigáveis 0 0
  1957/1958 35 3150 0 / 0 9  
Campeonato Nacional 24 2160 0 / 0 6
Taça de Portugal 9 810 0 / 0 3
Taça dos Campeões Europeus 2 180 0 / 0 0
Amigáveis 18 2
  1958/1959 34 3060 0 / 0 13  
Campeonato Nacional 25 2250 0 / 0 8
Taça de Portugal 9 810 0 / 0 5
Amigáveis 8 1
  1959/1960 35 3146 0 / 1 16  
Campeonato Nacional 23 2066 0 / 1 10
AF Lisboa Taça de Honra 1ª Divisão 2 180 0 / 0 0
Taça de Portugal 10 900 0 / 0 6
Amigáveis 2 0
  1960/1961 37 3150 0 / 0 8  
Campeonato Nacional 24 2160 0 / 0 4
AF Lisboa Taça de Honra 1ª Divisão 2 0 0 / 0 0
Taça de Portugal 2 180 0 / 0 2
Taça dos Campeões Europeus 9 810 0 / 0 2
Amigáveis 3 0
  1961/1962 42 3780 0 / 0 9  
Campeonato Nacional 24 2160 0 / 0 6
AF Lisboa Taça de Honra 1ª Divisão 2 180 0 / 0 0
Taça de Portugal 6 540 0 / 0 0
Taça dos Campeões Europeus 7 630 0 / 0 2
Taça Intercontinental 3 270 0 / 0 1
Amigáveis 11 3
  1962/1963 41 3690 0 / 0 7  
Campeonato Nacional 26 2340 0 / 0 2
AF Lisboa Taça de Honra 1ª Divisão 1 90 0 / 0 2
Taça de Portugal 5 450 0 / 0 0
Taça dos Campeões Europeus 7 630 0 / 0 3
Taça Intercontinental 2 180 0 / 0 0
Amigáveis 13 1
  1963/1964 34 3060 0 / 0 5  
Campeonato Nacional 23 2070 0 / 0 3
Taça de Portugal 8 720 0 / 0 2
Taça dos Campeões Europeus 3 270 0 / 0 0
Amigáveis 10 1
  1964/1965 44 3780 0 / 0 12  
Campeonato Nacional 23 2070 0 / 0 8
AF Lisboa Taça de Honra 1ª Divisão 2 0 0 / 0 0
Taça de Portugal 10 900 0 / 0 2
Taça dos Campeões Europeus 9 810 0 / 0 2
Amigáveis 6 0
  1965/1966 31 2790 0 / 0 4  
Campeonato Nacional 22 1980 0 / 0 3
Taça de Portugal 4 360 0 / 0 0
Taça dos Campeões Europeus 5 450 0 / 0 1
Amigáveis 8 0
  1966/1967 23 2070 0 / 0 2  
Campeonato Nacional 19 1710 0 / 0 2
Taça de Portugal 2 180 0 / 0 0
Taça das Cidades com Feira 2 180 0 / 0 0
Amigáveis 7 0
  1967/1968 35 2970 0 / 0 4  
Campeonato Nacional 20 1800 0 / 0 3
AF Lisboa Taça de Honra 1ª Divisão 2 0 0 / 0 1
Taça de Portugal 5 450 0 / 0 0
Taça dos Campeões Europeus 8 720 0 / 0 0
Amigáveis 10 0
  1968/1969 36 3060 0 / 0 4  
Campeonato Nacional 24 2007 0 / 0 3
Taça de Portugal 8 693 0 / 0 0
Taça dos Campeões Europeus 4 360 0 / 0 1
Amigáveis 8 0
  1969/1970 19 1710 0 / 0 1  
Campeonato Nacional 15 1350 0 / 0 1
Taça dos Campeões Europeus 4 360 0 / 0 0
Amigáveis 3 0
Total Jogos Amigáveis 124 9
Total Jogos Oficiais 536 47516 0 / 1 130
Na equipa principal

Primeiro jogo

Último jogo


Por administrador a Sábado, 6 Janeiro 2024