A decisão anunciada esta terça-feira pelo Sporting de cortar relações institucionais com o Benfica é recorrente na história centenária dos dois clubes, cuja rivalidade tem sido o mote para tensões e conflitos que têm marcado o relacionamento entre ambos. Não é preciso recuar muito tempo para encontrar um exemplo dessa relação de conflitualidade, basta reportar-nos à recente época de 2011/12, durante a qual os dois clubes entraram em rota de colisão.
'Gaiola' da Luz
O dérbi marcado para o dia 28 de novembro na Luz, da 20.ª jornada do campeonato, começou a ser jogado fora das quatro linhas antes do próprio jogo, quando o Benfica anunciou a intenção de colocar os adeptos do Sporting numa zona de segurança coberta por uma extensa rede envolvente, que ficou conhecida como 'gaiola'. A direção do Sporting apresentou um protesto veemente por tal decisão dos responsáveis do rival, alegando que a dita 'gaiola' constituía uma provocação e que só iria atiçar os ânimos dos adeptos 'leoninos' e criar um clima de tensão suscetível de gerar desacatos ou situações de violência. Em protesto, os diretores do Sporting decidiram assistir ao jogo junto dos seus adeptos, na dita zona de segurança, em vez de o fazer na tribuna, mas no final daquele encontro alguns adeptos 'leoninos' deitaram fogo às cadeiras e provocaram um incêndio que destruiu uma zona assinalável da bancada.
Sporting responsabiliza rival
Após a partida, que o Benfica venceu por 1-0, o vice-presidente do Sporting, Paulo Pereira Cristóvão, responsabilizou os dirigentes do rival pelos atos de vandalismo praticados por alguns dos adeptos 'leoninos'. "Ver um presidente de um grande clube como o Sporting a rever-se nas declarações daquele dirigente [Paulo Pereira Cristóvão], mostra que vamos caminhar muito mal no futebol. Se for assim, o Sport Lisboa e Benfica vai rever a sua relação em termos de futuro com o Sporting", afirmou então o presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, que acusou aquele dirigente sportinguista de "incitação à violência". A reação do Sporting não se fez esperar e surgiu através de um comunicado assinado pelo presidente Godinho Lopes: "O Sporting Clube de Portugal reitera que, face às condições encontradas, a decisão da direção de se juntar aos adeptos, e de sentir diretamente as condições que lhes eram facultadas, foi a mais acertada, e as palavras proferidas pelo vice-presidente Paulo Pereira Cristóvão expressam bem a nossa indignação." Na mesma mensagem, o presidente do Sporting, ausente do jogo por motivos de saúde, lamentou "as condições proporcionadas aos seus adeptos no Estádio da Luz", onde foram colocados "cinco pontos de acesso para a revista de todos os adeptos" com "uma vontade expressa de provocar uma entrada tardia, gerando tensões completamente evitáveis".
Relações 'normalizadas' em 2013
Curiosamente, na época seguinte, mais precisamente a 18 de abril de 2013, o sucessor de Godinho Lopes e atual presidente do Sporting, Bruno de Carvalho, que decidiu hoje cortar relações institucionais com o Benfica, veio a público anunciar que as relações institucionais entre os dois clubes se mantinham normais. "Não havia nenhum corte de relações institucionais entre Sporting e Benfica. Havia questões pessoais. Já não estão as pessoas [no Sporting], ponto final", afirmou Bruno de Carvalho, em declarações à agência Lusa, a três dias do jogo entre as duas equipas, para a 26.ª jornada da I Liga. Para Bruno de Carvalho, não havia "nenhum motivo para que não continue a existir algo que já existia, que são relações institucionais normais", tal como "não houve nenhuma mudança, nem nenhuma inflexão", apesar de o mandato do anterior presidente do Sporting, Godinho Lopes, ter ficado marcado pela tensão entre os dois clubes. "Não reatei algo que não estava decorrer. Disse sempre durante a campanha eleitoral que o que queria eram relações institucionais normais com todos os clubes, não havendo nenhuma relação de subserviência relativamente a ninguém", reafirmou, então, Bruno de Carvalho, que chegou a jantar com Luís Filipe Vieira antes do dérbi entre Benfica e Sporting.