Estreia do extremo-esquerdo português pelo Bordéus, no Vélodrome de Marselha, faz hoje 25 anos
Um carrossel de emoções, eis a vida de Chalana. Chumbado nos treinos da CUF, no mesmo dia em que Carlos Manuel é aceite, vai pregar para outra freguesia mesmo ali ao lado. Bastam-lhe seis jogos no Barreirense para ser contratado pelo Benfica. Na Luz, joga 12 anos e ganha 12 títulos.
Estreia-se de vermelho aos 17 anos de idade, lançado pelo inglês Mortimore, ao intervalo, no lugar do capitão Toni, vs. Farense (3-0). Oito meses depois, dá--se a primeira internacionalização, na Luz (coincidências), com a Dinamarca. O Euro-84 corre-lhe às mil maravilhas e é contratado pelo Bordéus, a troco de 220 mil contos - a quantia suficiente para o presidente Fernando Martins finalizar as obras do Terceiro Anel. Em Bordéus, a sua velocidade de ponta não é tida nem achada durante meses e meses. Uma lesão impede-o de se estrear em Julho, como o esperado. Só a 23 de Fevereiro de 1985 é que os adeptos têm a honra de o aplaudir ao vivo e a cores. Faz hoje 25 anos.
No Vélodrome, o líder Bordéus visita o 15.o classificado Marselha para a 26.a jornada da liga. A novidade é Chalana. Na conferência de imprensa, o treinador Aimé Jacquet (mais tarde, em 1998, campeão mundial pela França) dá o mote. "Mesdames et messieurs, Chalana está finalmente de volta e vai jogar. Preparem-se." Atenção, muita atenção, com 26 anos de idade, o extremo português é o mais novo do 11 de Jacquet.
Campeão em título, e com um avanço de três pontos sobre o Nantes, o Bordéus sente-se favorito à conquista do título, que chegará em Maio. Até lá, conta com a contribuição de Chalana. No total, dez jogos e um golo (ao Rouen, 2-0).
A melhor memória de Chalana (e de Jacquet) é num jogo europeu, com o Dnipro, na URSS, a 20 de Março de 1985. O 1-1 arrasta a eliminatória para prolongamento e, depois, penáltis. Nesse desempate, o último remate pertence-lhe: se marcar, o Bordéus avança; se falhar, vamos para a segunda série.
Chalana avança para a bola, muda a direcção do corpo e atira com o pé direito. But, é golo. Aimé Jacquet ainda hoje está espantado com a súbita troca de pés. "Os génios são assim, nunca pensei que ele fosse marcar com o pé direito." Na altura, Chalana é (re)conhecido como Ari Vatanen. "Lá eu não era o Chalanix, nem o Cyrano de Bergerac [pelo seu nariz]. Era o Vatanen [Ari Vatanen, finlandês, campeão de ralis em 1981, ao volante de um Ford Escort]. Num treino na neve, eu corria mais e driblava melhor que todos os outros." Como na URSS.
Números
220
O Bordéus paga 220 mil contos ao Benfica pelo passe de Chalana no Verão de 1984
18
Em três épocas no Bordéus, o extremo só faz 18 jogos (10 vitórias, 5 empates, 3 derrotas)
1
O seu único golo aparece a 19 de Abril de 1985, em casa, com o Rouen (2-0)
1
O título de campeão francês em 84-85 é o único da sua carreira no Bordéus
Aimé Jacquet. "Mesdames et messieurs, Chalana vai jogar"
Fonte
ionline