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www.abola.pt
Não dá mais para disfarçar. Mantorras começa a pagar a factura do esforço descomunal a que tem sido sujeito desde o início da época e neste momento é difícil esconder o desgaste. Foram 15 jornadas de protagonismo absoluto na equipa encarnada, aos quais haverá que juntar a participação no Mundial de Sub-20, na Argentina, de onde partiu, praticamente sem férias, rumo à pré-época na Suíça. Recuando um pouco no tempo, haveria que acrescentar ainda a participação na fase final de qualificação, que decorreu na Etiópia e que lhe custou, na altura, regressar a Portugal com menos dois quilos.
É pedir muito, convenhamos, a um jovem de 19 anos que ainda há dois anos se treinava atrás de uma baliza em Alverca, enquanto os colegas preparavam o jogo seguinte e que, independentemente das suspeições levantadas à volta da sua idade, era um rapaz franzino e em fase de aprendizagem.
O trabalho específico desenvolvido pelo preparador físico Mariano Barreto operou um verdadeiro milagre na morfologia de Mantorras, que surgiu do nada para ofuscar Caju e Andersson, que já despertavam o interesse dos grandes, e transformar-se num dos mais badalados futebolistas do futebol português.
Ainda hoje, dirigentes do futebol angolano interrogam-se sobre a facilidade com que se deixou sair do país um diamante deste quilate, em especial os responsáveis do seu ex-clube, Progresso de Sambizanga, que venderam o seu passe por um preço irrisório, longe de imaginar esta explosão repentina do miúdo.
Determinante, mas não milagroso
Para os que vaticinavam, com uma convicção militante, o falhanço de Mantorras na Luz, rotulando-o de jogador talhado para equipas de contra-ataque, a resposta foi dada, praticamente, desde a primeira aparição com a camisola do Benfica. A força física descomunal, as arrancadas e dribles, que se transformaram em imagem de marca, depressa o transformaram no ídolo de milhões de benfiquistas e granjearam até a admiração de adeptos de outros clubes.
Por paradoxal que pareça, na ingenuidade de Mantorras assenta um dos seus principais trunfos. O jovem angolano é imune a nomes e origens dos adversários que o defrontam, não conhece limites, treinando-se com a alegria de um jogo oficial, da mesma forma que esse pensamento ingénuo o põe a coberto dos ciúmes e aversões que ensombram, não raras vezes, a ascensão das jovens estrelas