Sokota: «Ninguém imagina o que passei»

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– Depois de mais uma viagem à Suíça, onde foi novamente examinado, como é que se sente? – Estou melhor. Nos últimos tempos, as evoluções passaram a ser mais visíveis, porque já faço mais trabalho de campo. O tendão está cada vez mais forte e, acima de tudo, tenho a ideia de que o pior já passou. – Nos momentos mais difíceis, quando estava na Croácia e, depois, em Lisboa, qual era a sua motivação para se levantar de manhã e ir treinar, a maior parte das vezes sozinho? – A motivação nunca desapareceu porque conheço o meu valor e sei que posso dar muito ao Benfica e ao futebol. Acho que foi isso que me motivou... o saber que tenho muito para dar. Foi esta ideia que me ajudou a ultrapassar os dias, incentivando-me sempre a fazer cada vez mais e mais. Todos temos dias maus... no princípio, eu tive muitos. Ninguém imagina o que passei. – Pensava que o processo de recuperação ia ser diferente? – Ao princípio, pensava-se que seria uma operação para provocar dois meses de recuperação. Depois foram seis, agora sete, por isso, tudo o que passei foi muito difícil. Mas o que importa é que acredito em mim. Apareceram muitas pessoas a perguntar "como estás?" ou "quando é que voltas a jogar?" e eu, mesmo depois de todo este tempo, sinto-me na obrigação de lhes responder, de fazer o melhor e regressar, para retribuir a todas as pessoas a confiança que depositaram em mim. – No pouco tempo que jogou, chegou a sentir o apoio dos sócios e adeptos benfiquistas? – Sempre. É verdade que joguei muito pouco, se calhar nem fiz dez jogos, mas as pessoas gostavam muito de mim e vou dar o meu melhor para lhes dizer que ainda estou aqui, que ainda posso fazer alguma coisa. – Nos dias que se seguiram à operação, chegou a afirmar ter medo de nunca mais jogar futebol. Hoje, esse receio ainda lhe passa pela cabeça? – Isso já passou. Ao longo de todo este ano surgiram muitas situações que acabaram por me dar alguma experiência do que é estar lesionado. Sei como estive, sei como estou e, neste momento, sinto-me completamente diferente. Já esqueci essa ideia de nunca mais poder voltar a jogar futebol, também porque penso de uma forma positiva, que julgo ser muito importante para encarar todas as dificuldades. Se não for assim nunca conseguimos aquilo que desejamos. – Esse pensamento positivo é voltar a jogar ainda antes do final deste ano? – Sim, claro. E todos aqueles que estão à minha volta pensam da mesma forma. Espero que sim. Ainda há pouco tempo iniciei um ritmo de treino diferente, tenho trabalhado de uma forma cada vez mais forte, sinto-me melhor fisicamente e os meus músculos "estão de volta". Só penso em voltar a jogar, sabendo que esta última fase de recuperação ainda é importante e devo continuar cauteloso. – Acha que a operação devia ter sido feita mais cedo? Depois dos primeiros indícios da lesão, passou meses no ginásio e em viagens a vários países para ser observado por especialistas. Poderia, eventualmente, ter poupado algum tempo... – Essa é uma questão à qual eu não sei responder. Sei apenas que o departamento médico do Benfica fez tudo aquilo que estava dentro das possibilidades. Toda a gente sabe que, normalmente, a operação é encarada como um último recurso... esta lesão é muito rara e ninguém podia prever o que ia acontecer. Tenho a certeza de que todos fizeram o máximo e, se não avançaram logo para a operação, é porque tinham as suas razões. Agora, se deveria ser mais cedo ou mais tarde... é difícil de dizer. – Deve estar ansioso por treinar e jogar com esta equipa que o Benfica hoje tem. Nuno Gomes, Fehér, Mantorras, Simão, juntamente com Sokota, seria uma grande linha avançada. Com muitas opções... – É inquestionável que são grandes jogadores, todos sabem disso. Quanto a mim, já o disse antes, não tenho medo de me juntar a eles e lutar por um lugar. A concorrência será muito grande, mas estarei sempre à procura da minha posição. Contudo, antes de qualquer outra coisa, o mais importante é eu estar bem e, depois, com calma, poderei chegar ao meu lugar. – Qual é a sensação de estar no balneário e observar, de lado, os colegas a calçarem chuteiras, a assentarem caneleiras e a entrarem para dentro do campo e jogar? – Ninguém pode imaginar o que passei... e mesmo eu, por vezes, não o consigo explicar. É muito difícil. Quem não passa por uma experiência destas nunca sabe como é. – Houve uma imagem boa da sua recuperação: falo daquela reportagem da Sport TV, com o Simão, em que ele aparecia em primeiro plano, sempre a evoluir, e o Sokota era o pano de fundo, a pedalar numa bicicleta imóvel. Como se nunca saísse do mesmo sítio... – Prefiro esquecer... mas essa é uma boa imagem daquilo que passei. Não gosto sequer de me lembrar. Já estou fora disso. «Se não estiver a jogar não estarei feliz» – O que faz em Lisboa? Actualmente acaba por cruzar-se com todos os elementos do plantel, mas teve dias em que trabalhava sozinho, tendo apenas a sua esposa à sua espera. Que actividades desenvolvia para disfarçar a inevitável distância em relação à equipa? – Era um pouco difícil para mim e também para a minha mulher. Mas fazia aquilo que continuo a fazer hoje. Normalmente, como gostamos muito de passear, vamos conhecer sítios diferentes. Tentamos fazer coisas que sirvam de distracção, como pescar e outras actividades boas para relaxar. Também passo muito tempo a ler. Mas o que é importante é que gostamos muito de Lisboa e espero ficar por lá muito tempo, é claro, não neste estado, mas a jogar. Se não estiver a jogar não me sentirei feliz. «Nem gosto de comentar com os meus colegas» – Como é que os seus companheiros reagiam ao facto de se encontrar num "mundo" completamente à parte, muitas vezes longe do convívio com eles, o que é pouco habitual numa equipa de futebol? – Tive sempre muito apoio, todos falavam e continuam a falar comigo, com a preocupação constante de saberem como estou e de me darem incentivo. – Na temporada passada, o plantel do Benfica foi afectado por muitas lesões mas, é claro, nenhuma com a gravidade da sua... – Pois foi. Havia o meu caso e, perto do final da época, surgiram outros que acabaram até por condicionar os resultados da equipa no campeonato. Em termos de grupo, foi uma fase menos boa. Tinha consciência disso. Quanto a mim, não falava muito acerca do que estava a passar. Nem com os meus companheiros de equipa gosto de comentar aquilo que passei. «Temos uma equipa que é um espectáculo» – Daquilo que tem visto da actual equipa do Benfica, o que acha ser possível conseguir para o clube este ano? – Temos uma equipa que é um espectáculo. É um grupo muito bom, com grandes jogadores para todas as posições, o que é uma vantagem enorme. No último ano não existiam tantas opções como agora. O único problema, agora, é ter que escolher entre tanta qualidade e deixar alguém de fora. É uma questão a resolver pelo "mister" Jesualdo. – Duas vitórias em dois jogos. Os adeptos estão muito empolgados e só pensam no título... – Só tem que ser assim. Depois destes anos todos sem ganhar, é natural que estejam muito ansiosos. Mas podem estar descansados que esta equipa tem condições para os satisfazer