Fonte
A Bola
Um projecto sério, com boa base e futuro». É isto que Camacho exige ao Benfica, e foi isto que o seu representante, Pedro De Felipe, disse ontem a António Simões, numa reunião em Madrid. O objectivo do Benfica: estabelecer um primeiro contacto formal; a resposta de De Felipe. «Apresentem garantias de um bom trabalho. O resto não será problema».
O director-geral da SAD do Benfica, António Simões, foi ontem a Madrid mas nem sequer viu Camacho; foi recebido por Pedro De Felipe, um antigo grande jogador do Real Madrid, hoje empresário e representante do ex-seleccionador espanhol. Foi de Felipe quem esperou António Simões no aeroporto de Baraja, da capital, conduzindo-o à sua residência, em La Moraleja, um dos mais chiques bairros residenciais De Madrid.
De Felipe confirmou a A BOLA ter dito a Simões que Camacho «não é treinador para apagar fogos. Se lhe for apresentado um projecto sério, garantia de um trabalho continuado e que ele considere com futuro, então nada mais deverá ser problema. Nem os termos do contrato, nem o dinheiro».
«Será um encanto»
O próprio Camacho, já muito ao fim da noite, aceitou confirmar tudo isso ao nosso jornal. «Nas condições que me parecem correctas, com um projecto que me pareça sólido, será um encanto para mim ir para o Benfica. Sempre tenho dito nos últimos tempos que é meu maior desejo ir, agora, trabalhar para o estrangeiro», sublinhou Camacho.
Este foi o primeiro contacto formal estabelecido pelo Benfica nesta sua procura de treinador para suceder a Jesualdo Ferreira. Para o representante de Camacho, um técnico que segundo o vice-presidente encarnado Tinoco de Faria, «encaixa no perfil definido pela SAD», a bola está agora do lado benfiquista. Ao regressar a Lisboa, António Simões não adiantou qualquer detalhe sobre a sua deslocação, afirmando apenas ter «muito respeito pelos sócios do Benfica».
Bateu com a porta do Real Madrid!
O treinador que o Benfica decidiu contactar formalmente chegou invulgarmente a seleccionador de Espanha, posição cimeira na sua profissão, sem ter conquistado qualquer troféu.
Na verdade, o currículo de José Antonio Camacho como jogador é significativamente mais brilhante do que o de treinador.
Os seus êxitos como treinador ainda não tiveram a relevância esperada. Depois de levar o Rayo Vallecano à Primeira Divisão na sua primeira temporada como treinador, ingressou no Espanhol de Barcelona na seguinte, alcançando o mesmo objectivo e, depois, ao quarto lugar e à Taça UEFA. Seguiu-se uma fugaz passagem pelo Sevilha, realidade que, no entanto, não lhe matou o sonho de treinar o Real Madrid.
Aí, revelou então um forte traço do seu carácter: a verticalidade. Só mesmo um homem frontal e absolutamente direito bate com a porta do Real apenas porque não cumpriram com a palavra dada. Abandonou, pois, o Real 22 dias depois de assumir o cargo sem ter comandado a equipa merengue em qualquer jogo. Surpreendente. Tinha concretizado o seu sonho mas não hesitou em abdicar pelas divergências com os responsáveis do clube.
A selecção
Regressaria pouco depois ao Espanhol (classificando-o na segunda metade da tabela) e após a polémica saída de Javier Clemente da selecção, os dirigentes da Federação espanhola optaram por escolher um treinador de ética inatacável. Foi Camacho a qualificar a Espanha para o Europeu de 2000 e o Mundial deste ano (registando nas fases finais seis vitórias e dois empates).
Camacho nunca deixou de ser frontal, apesar das constantes pressões exercidas sobre a selecção e quem a comanda. E foi também sempre muito claro: «Diz-se que somos candidatos e nunca ganhamos nada. Os jogadores por mim convocados têm de convencer-se de que temos de jogar para ganhar o título», disse assim que assumiu o cargo de seleccionador. Não ganhou. Mas manteve o prestígio.