Fonte
www.record.pt
A segunda operação a Pedro Mantorras num período de dez meses pode ter ressuscitado uma questão mal resolvida entre a administração da SAD e o departamento médico do Benfica. Luís Filipe Vieira exigiu um relatório detalhado sobre o acompanhamento efectuado ao africano e o próprio jogador teceu comentários que podem ser considerados como críticas implícitas ao departamento dirigido por Bernardo Vasconcelos, à saída do hospital onde foi operado.
Depois de nos últimos dias de Maio deste ano ter estado em cima da mesa a demissão de Bernardo Vasconcelos – essa possibilidade foi equacionada dias antes do clínico receber uma carta a prescindir dos seus serviços no âmbito da celebração de contratos anuais – não está afastado um cenário definitivo nesta fase.
Os dirigentes encarnados estão insatisfeitos com o trabalho desenvolvido pelo responsável médico e a situação de Mantorras é o principal motivo de desconfiança. Por um lado, porque o avançado angolano é um jogador especial para o presidente da SAD. Por outro, porque a recuperação física do jogador teve, de facto, altos e baixos.
Como o próprio jogador afirmou ontem, os seus problemas físicos remontam a Dezembro do ano passado. No "derby" com o Sporting (2-2), na Luz, Mantorras sentiu dores. Foi poupado durante a pausa natalícia por acusar desgaste. Mas em Fevereiro a operação tornou-se mesmo inevitável. O tempo previsto de paragem era de seis semanas mas 36 dias depois já o ex-Alverca estava a jogar.
No final da época voltou a sentir problemas e foi a Angola, em digressão, a meio de Maio. Aí, apesar das reservas benfiquistas, actuou em dois encontros. Descansou no defeso e voltou preparado para a pré-época. Mas para a primeira jornada foi logo dado como indisponível para "fazer trabalho de musculação", disseram os responsáveis benfiquistas. Mais tarde conquistou a titularidade, apenas dias antes de ser operado novamente, no início desta semana.
Vieira quer apurar responsabilidades para tantos avanços e recuos e Bernardo Vasconcelos pode ser o "bode expiatório". Mas não foi o médico que operou o jogador (foi António Martins nas duas vezes), nem é a ele que compete escolher quem joga.
Também não passam pelo clínico, que representa o clube há 22 anos, as decisões sobre as digressões a efectuar. E a disponibilidade e vontade de Mantorras em actuar, mesmo sem estar a cem por cento, podem ainda ter complicado o processo.
Sem comentários
Das declarações de Mantorras podem ser retiradas críticas implícitas ao departamento médico - "jogava com um só pé" - e ao treinador na altura da primeira operação - "fui forçado a jogar". Bernardo Vasconcelos e Jesualdo Ferreira, os visados, não quiseram comentar a situação.
"Não comento, é assunto do foro interno do Benfica", disse apenas o ex-técnico do clube a Record. O chefe do departamento clínico também foi reservado. "Não vou fazer comentários mas amanhã (hoje) estarei na sala de imprensa".
Angolanos assumem parte da culpa
O secretário-geral da Federação Angolana de Futebol assumiu uma falha durante o processo Pedro Mantorras. "Quando ele veio em Setembro participar no particular com a Nigéria não precisava de vir porque o médico da selecção angolana estava em Lisboa na altura e podia tê-lo observado lá. Foi uma falha nossa", reconheceu Délcio Costa. "Já falámos, inclusivamente, com a SAD a esse propósito", concluiu.
Data: Sexta-Feira, 20 de Dezembro de 2002 02:57:00