Carlos Morais - entrevista - “2018? Ganhar tudo o que há para ganhar no basquetebol nacional!”

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 Com o ano a terminar, o base/extremo faz o balanço de 2017, revelando já os objetivos para 2018 em entrevista ao Site Oficial. É uma longa viagem à descoberta do internacional angolano que confessa ter "pena" de não estar no Benfica há mais tempo.


Carlos Morais veste há duas temporadas de águia ao peito. O base/extremo da equipa Campeã Nacional de basquetebol ganhou tudo o que havia para ganhar a nível interno, mas quer mais. Numa longa viagem, através de uma conversa informal, o internacional angolano revela ao Site Oficial um pouco mais sobre si, as suas raízes, a sua forma de estar na vida, não esquecendo a quadra que se vive e os desejos para 2018.

Falou-se um pouco de tudo: de Angola, Portugal, sonhos, metas… e até de futebol! É que Carlos Morais também acredita no Penta!

 

Já com o ano de 2017 a acabar, que balanço faz dos resultados e das exibições da equipa de basquetebol do Benfica na primeira metade da temporada?

De um modo geral está a ser muito positivo, apesar de não termos conseguido os resultados esperados na Europa. Já ganhámos a Supertaça e, na competição mais importante, que é o nosso Campeonato, estamos muito bem, perdemos apenas um jogo, mas temos um recorde de 12-1. Estamos num bom caminho, temos estado a fazer um bom trabalho, temos um treinador novo que trouxe uma energia diferente…

 

Na época passada trabalhou com Carlos Lisboa, agora trabalha com José Ricardo...

São treinadores diferentes, ambos com qualidade, mas são diferentes. Cada um com a sua filosofia e a energia do treinador José Ricardo também é diferente. Até agora está a correr muito bem. Estamos já adaptados à sua forma de estar, de exigir e as coisas têm tudo para continuar a correr bem.

 

E a nossa Liga? Em crescimento?

Em termos competitivos a Liga está diferente do ano passado. As equipas apresentaram-se mais fortes já nesta primeira fase. Nota-se, por exemplo, uma equipa do Vitória de Guimarães mais forte, uma equipa que este ano aspira à conquista do título. Temos a Oliveirense, também com um treinador novo, que é um treinador muito conhecido pelos portugueses, também com muita qualidade e acho que é também um dos candidatos, o FC Porto, o SL Benfica… o Illiabum também é uma equipa interessante.

 

Está mais competitiva, portanto, e daí mais público nas bancadas?

Acho que a Liga está mais forte este ano e, ao que tudo indica, vai continuar a crescer. O Basquetebol português tem estado a dar passos muito bons, tem estado a crescer e, falando dos adeptos do Benfica, sempre estiveram connosco, muitas vezes mesmo não vindo ao pavilhão. Nas redes sociais e mesmo na rua, ouvimos as pessoas a apoiar-nos e a criticar-nos, o que também acaba por ser bom. Agora, gostaria que esses mesmos adeptos pudessem aparecer ainda mais vezes aqui no Pavilhão, que é muito importante para nós, sobretudo nos jogos mais difíceis, olhar para a bancada e sentirmos que estão cá e que, no fundo, acabam por ser o sexto jogador dentro de campo.

 

"O BASQUETEBOL PORTUGUÊS ESTÁ A CRESCER, A LIGA ESTÁ MAIS FORTE"

 

Falou da Oliveirense, próximo adversário do Benfica, no último jogo do ano. Como perspetiva esse desafio?

Vai ser um jogo difícil, já o foi há duas semanas, quando jogámos na primeira volta. É uma equipa que está muito bem organizada, com grandes aspirações, mas nós também temos a nossa qualidade e temos vindo a provar isso ao longo desta primeira volta. Estamos fortes e creio que vai ser um bom jogo de basquetebol. Que no dia 29, às 19h00, possamos ser nós a estar felizes com a conquista de mais uma vitória.

 

Esta é a sua segunda temporada no Benfica. Está satisfeito com o seu percurso até agora? Foi fácil encaixar-se neste plantel? As expectativas que tinha em relação ao Clube foram correspondidas? Como tem sido o Carlos Morais neste Benfica?

Não diria que foi fácil, porque joguei fora do meu habitat natural e é sempre difícil, porque encontramos coisas diferentes. Temos de nos habituar, mas eu sou uma pessoa muito competitiva, estou sempre a competir em tudo o que faço, quero sempre fazer o melhor possível. Não gosto de perder e para mim foi um desafio muito interessante, ajudou-me e ajuda-me a crescer não só como desportista, mas como pessoa. A primeira época correu bem, tive altos e baixos, mas isso é normal. De um modo geral correu bem e adaptei-me com alguma rapidez aos colegas, à forma de jogar, ao próprio Benfica em si e este ano é tentar fazer melhor em termos individuais e em termos coletivos é tentar manter o mesmo recorde que tivemos o ano passado, ganharmos todas as competições em que participamos. O Benfica é isto mesmo, um clube habituado a ganhar.

 

Pela grandeza do clube, a camisola do Benfica pesa mais do que as outras que envergou?

Sou uma pessoa algo fria em relação a certas emoções. Ao longo deste tempo pude notar que existe uma grande responsabilidade quando se representa o Benfica, porque é um clube que está habituado a grandes palcos, que quando entra em campo as expectativas são sempre muito elevadas, quer no Basquetebol, quer em qualquer outra modalidade. E o momento em que eu senti essa força de Benfica foi quando jogámos a final do Campeonato Nacional, onde eu senti que os adeptos estavam connosco e, às vezes, quando as coisas não corriam bem quase parecia que eles – se pudessem - queriam entrar em campo e dar aquela ajuda extra que nós precisávamos. Foi o momento mais alto que pude sentir durante o tempo que estou cá na relação entre os jogadores e os adeptos.

 

Como é que é o Carlos Morais fora da quadra?

Sou uma pessoa fria quando estou a jogar, mas também me emociono, como é óbvio, mas tento que as emoções não transpareçam. Sou caracterizado assim pelas pessoas que me conhecem desde que era miúdo. Vibro muito, mas se houver um jogo em que estejamos a perder por dois pontos ou um e temos dez segundos no placard, sou uma pessoa que não fica com medo do resultado: se tiver de lançar, eu vou lançar. Mas fora do campo sou uma pessoa normal. Faço tudo o que uma pessoa normal faz.

“VIR PARA O BENFICA AJUDOU-ME A CRESCER COMO PESSOA E COMO DESPORTISTA. GOSTAVA DE TER VINDO HÁ MAIS TEMPO…”

 

O que é que gosta de fazer?

Gosto muito de música…

 

E de dançar?

Sim, sim. Como bom angolano que sou gosto muito de dançar. Não sou um grande dançarino, mas gosto de dançar. Sou uma pessoa que faz de tudo um pouco. Vou ao cinema, gosto de estar com os amigos, saio, vou jantar. Sou uma pessoa tranquila e de fácil trato.

 

Como começou no basquetebol?

Venho de uma família de desportistas. O meu pai jogou basquetebol há muitos anos, a minha mãe jogou andebol, ou seja, a minha família quase toda foi sempre desportista, fez sempre algum desporto. Eu comecei por influência do meu pai, sempre cresci rodeado com bolas de basquetebol em casa, cresci com conversas à volta do basquetebol, então, um dia surgiu a ideia de ir para um clube e pedir para treinar com um amigo meu que eu seguia para todo o lado. Chegámos lá, pedimos para treinar, eles aceitaram e eu fiquei lá… Foi assim que começou.

 

Sente-se reconhecido como basquetebolista?

Antes de jogar pelo Benfica eu já era muito reconhecido, principalmente pelos PALOP. Ao jogar pelo Benfica acabei por conquistar um público diferente ao que estava habituado. Hoje em dia sou uma pessoa mais reconhecida.

 

E gosta?

Sim, é bom. Aqui é mais calmo do que em Angola, mas desde que cheguei que já sou reconhecido na rua. Quando vou fazer compras ou passear, as pessoas já me reconhecem e de facto é bom.

 

Algum miúdo já o abordou na rua e disse “um dia quero ser como tu?”

Sim, sim. Por acaso costumo receber muitas mensagens nas redes sociais de rapazes portugueses que jogam e dizem que gostavam de ser como eu e de seguir as minhas pegadas.

 

Sente também uma responsabilidade por ser um exemplo?

Fico muito feliz, mas também vejo que é uma responsabilidade acrescida que tenho. A minha conduta tem de se pautar por fazer coisas boas porque eu sei que há pessoas a verem, sobretudo os mais jovens, que querem ser como eu. Tento sempre dar bons exemplos, ter uma conduta exemplar e no fim de tudo é bom saber que aquilo que fazemos inspira outras pessoas. Isso emociona-me porque chego à conclusão que o trabalho que tenho vindo a desenvolver faz diferença.

 

Entrevistas: gosta de dar? Sente-se à vontade a falar para os meios de comunicação social? Sempre foi assim?

Sim. Eu sou uma pessoa muito natural, não me preparo muito para as coisas que faço. Por exemplo, para jogar, não tenho uma preparação especial. Também tenho os meus “truques”, mas sou uma pessoa muito simples. E quando vou dar uma entrevista é igual.

 

Se estivesse no papel de jornalista, que pergunta ou que perguntas gostaria de fazer ao Carlos Morais, basquetebolista do Benfica?

Hum… se calhar perguntava se estou feliz em estar no Benfica.

 

… Está feliz por estar no Benfica?

Sim, estou muito feliz. Acho que foi uma aposta acertada, foi um desafio grande, mas foi uma boa aposta. Tenho pena de não ter tido este contato com o Benfica antes, gostava de estar cá há mais tempo. O Benfica é um grande Clube, estou muito feliz por estar aqui e creio que ainda posso dar muito da minha qualidade ao Benfica.

“É BOM SABER QUE AQUILO QUE FAZEMOS INSPIRA OUTRAS PESSOAS. TENTO SER UM EXEMPLO”

 

Falando agora da época festiva que é o Natal. Gosta desta quadra? Sempre apreciou?

Nunca fui aquele tipo de miúdo que esperava que o Pai Natal entrasse pela chaminé e deixasse os presentes. Sempre tive os pés muito assentes no chão em relação a isso, muito realista. Sabia que a chaminé era muito pequena para o Pai Natal passar [risos], mas gosto de passar em família.

 

Conte-nos um bocadinho como é, ou como era, o seu Natal em família, na sua terra. Que tradições é que cumprem?

Em Angola nós juntamo-nos todos, comemos sempre muito, há sempre muita comida, há sempre muitas brincadeiras, dançamos... Depois, à meia-noite abrimos sempre os presentes, se bem que as crianças nunca querem esperar até à meia-noite. No dia 25 voltamos a estar em família e no dia 26 regressa tudo ao normal.

 

Qual é o prato ou o petisco que não consegue dispensar nesta altura do ano?

Não há assim uma comida especifica que eu prefira. Eu como de tudo. A única coisa que eu não como são frutos do mar porque sou alérgico.

 

Algum doce tradicional?

Sim, doce de coco, doce de ginguba, bolo de banana... Não sei é tradicional cá, mas eu gosto muito.

 

Quando era pequeno, como vivia o Natal? A contar as horas para abrir os presentes?

Sim, era um dia especial em que nós não dormíamos porque abríamos os presentes à meia-noite. Depois de receber os presentes, eu e os meus amigos, íamos todos para o corredor ver o que cada um tinha recebido e víamos qual era o melhor presente.

 

Qual foi o melhor presente que recebeu?

Não sei dizer. Modéstia à parte, na altura eu recebia muita coisa que gostava. Depois, quando me tornei independente e ganhei o meu primeiro salário aos 17 anos, os melhores presentes eu oferecia a mim próprio.

 

E qual foi o melhor presente que ofereceu a si próprio?

Um carro. Na altura foi um BMW.

 

Qual é o presente que gostava de ter dado e não conseguiu?

Congelei a minha matricula na escola, no 4.º ano de Gestão, e os meus pais nunca me “perdoaram”. Foi muito difícil chegar ao 4.º ano por causa da minha atividade profissional a jogar em Angola e a jogar pela seleção; são muitas viagens, são muitos estágios e quase nunca tinha tempo para nada. Aguentei quatro anos e quando cheguei ao 4.º não consegui e congelei a matricula. Os meus pais ficaram chateados, tristes comigo na altura. Se calhar era este o presente que eu gostava de ter oferecido e não ofereci.

 

Mas a si ou aos seus pais?

A eles. Porque foram eles que muitas vezes se sacrificaram para que eu pudesse ir à escola, para que pudesse ter o básico…

 

Pensa em terminar? É um objetivo?

Penso em terminar, claro. Só falta um ano.

 

Porquê gestão?

Porque gosto e acho que sou um bom gestor. Estou sempre a planear coisas... Nunca perdi o foco e sempre aprendi a gerir as minhas coisas.

 

Como é que se imagina daqui por 10 anos? Treinador de basquetebol?

Não, não! Gosto muito de basquetebol, gosto muito de jogar basquetebol… Tenho algumas ideias em mente, mas nada ainda muito concreto. Mas, com certeza, não seria treinador.
 

“ACREDITO NO PENTA. ESTÁ TUDO EM ABERTO E HÁ AINDA MUITO CAMPEONATO PELA FRENTE”


Como gostava de ser recordado?

Como um bom jogador, como alguém que os mais jovens gostassem de seguir.

 

Para além do basquetebol, gosta mais de alguma modalidade, acompanha?

Não, gosto de desporto, mas, acima de tudo, gosto de basquetebol. Vejo futebol de vez em quando, mas não é o meu desporto.

 

Tem visto o futebol do nosso Benfica?

Sim, gosto de ver, gosto de ir ao estádio. Por acaso, antes de vir para o Benfica, tinha ido algumas vezes ver jogos de futebol portugueses e angolanos, mas quando cheguei aqui comecei a ir mais, porque a energia que vem dos adeptos passa para as outras pessoas que vão pela primeira vez e mesmo para os jogadores. É uma energia muito boa e eu quando dei conta queria ir mais e mais e hoje em dia sempre que posso vou ver.

Tem gostado de ver a equipa? Acredita no Penta?

Claro! Estamos a três pontos da liderança e ainda há muito Campeonato pela frente. Está tudo em aberto.

 

Que mensagem quer deixar aos nossos adeptos?

Tudo de bom! Quero aproveitar para desejar um feliz Ano Novo. Que em 2018 os nossos adeptos possam estar connosco ainda mais vezes para que no final sejamos todos Campeões.
 

Um desejo desportivo para 2018…

Queremos ganhar tudo o que há para ganhar!

 

 

Texto: Sónia Antunes e Márcia Dores

 

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