Panchito: o Maradona do hóquei que tem o Benfica no coração

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Panchito: o Maradona do hóquei que tem o Benfica no coração

Junto ao portão da sua quinta, La Gloriosa, em homenagem ao Benfica

Brilhou no clube da Luz entre 2000 e 2003, apesar de muitas vezes ter tido salários em atraso. A paixão pelos encarnados é tanta que tem uma quinta com o nome La Gloriosa

Já lá vão praticamente 15 anos desde que Francisco Velázquez deixou os rinques portugueses e o Benfica. O argentino, agora com 43 anos, era por muitos considerado o "Maradona do hóquei", tal era a sua técnica e a forma como jogou durante três anos (2000 a 2003) no antigo pavilhão do Estádio da Luz.

Sete anos depois de terminar a carreira, Panchito fala ao DN sobre a sua vida atual na Argentina, longe do hóquei, e sobre o amor por Portugal, mas sobretudo pelo Benfica. Esse sentimento fica claro mal explica que o nome da sua quinta, onde se "trabalha a uva, para consumo fresco e para passa", chama-se La Gloriosa em homenagem "ao Benfica, o glorioso". "Achei que era uma forma de agradecer ao meu clube [Benfica]. O nome da quinta é por isso mesmo", explicou.

"Fica a uns 20 quilómetros da minha terra, San Juan, e tem também, ao pé do rio, um campo de futebol e piscina. As pessoas vão lá passar o dia, cozinham, as crianças brincam, não tem nada que ver com competição", acrescentou.

Além de La Gloriosa, Panchito está ligado ao imobiliário, "arranjando as terras que as pessoas compram para depois fazer casas". E o hóquei? "São momentos que passam. Sigo sempre o hóquei, mas não estou ligado a nenhuma instituição", frisou.

O ex-jogador não esquece os tempos que passou no Benfica, apesar das dificuldades financeiras no seu primeiro ano, com Vale e Azevedo como presidente. "Foi um momento muito importante da minha vida e uma situação especial. O Benfica não passava por um bom momento. Vale e Azevedo era o presidente. Éramos uma equipa muito humilde. O Carlos Dantas era o treinador, fazia às vezes de preparador físico e médico o Carlos mexia com tudo. Dávamos tudo e passavam-se seis ou oito meses sem recebermos. Não era o Benfica atual. Mas vestir aquela camisola é diferente de todas as outras. Amei. Comprei o meu primeiro apartamento aí e há muitas coisas que ainda continuam a mexer com o meu coração", afirmou.

Sobre Carlos Dantas faz uma comparação curiosa. "É como o Alex Ferguson no Manchester United. O Benfica merece-o e ele merece o Benfica", acrescentou, indicando que, no horizonte, está a ideia de fazer algo em Portugal com o ex-treinador, "um projeto relacionado com o hóquei e o desporto".

Mas afinal quais são as grandes memórias que guarda da altura em que foi jogador do Benfica? A resposta sai pronta: o regresso de uma lesão e um golo frente ao FC Porto. "Passados quatro ou cinco meses de estar aí fui operado pelo Dr. António Martins, que curou o meu joelho. Quando voltei ao pavilhão, aquele sítio lindo que arrepiava a pele e intimidava os adversários, as pessoas começaram a bater palmas e foi a conexão mais importante que tive. Aí pensei que estava em casa e não queria sair mais. Foi muito importante", disse, recordando ainda o "inferno da Luz que na altura era impressionante".

Outra memória é de uma vitória por 7-4 frente ao FC Porto, em que "ficou gente de fora do pavilhão". Panchito fintou toda a equipa dos dragões antes de fazer uma "picadinha" ao guarda-redes dos dragões. "Foi o golo mais bonito da minha carreira e tem um valor diferente por ser contra o FC Porto. Não é fácil. Lembro-me como se fosse ontem e foi nesse golo que beijei a camisola pela primeira vez e começou a paixão", referiu.

Panchito nunca foi campeão nacional pelos encarnados, algo que não assume como uma tristeza e justifica com o facto de a equipa começar bem os campeonatos, mas em março começava a notar-se a idade de alguns dos jogadores. E "também o joelho" do argentino começava a ceder. "Não foi uma equipa para ganhar títulos. Mas adorávamos o clube. Éramos cobiçados, mas ficávamos, mesmo sem receber. Institucionalmente não era um bom momento para o Benfica. O clube não era verdadeiramente profissional", revelou.

De melhor do mundo a patrão

Levar uma equipa às costas e ser patrão de uma quinta tem semelhanças? Sim e não. "Se tomas uma má decisão no jogo, podes perder, mas agora um erro pode significar que as pessoas não comem e não levam comida para casa."

Francisco Velázquez faz questão de elogiar o papel dos colegas na sua ascensão. "Para ser o Panchito foi preciso ter os companheiros que eu tive. O Messi e o Ronaldo precisam dos seus colegas. É muito importante e quero aproveitar para agradecer aos meus ex-colegas", referiu.

Voltando à atividade atual, lembra que "no início não foi fácil". "Mas agora sinto-me cómodo e maduro para este lugar", atirou, defendendo que "quem é profissional de um desporto devia preparar-se para o mercado do trabalho, porque não vai ser profissional para sempre". "É diferente depois para trazer dinheiro para casa e dar de comer aos filhos. Os jogadores deviam fazer um curso para preparar a vida depois de abandonarem o desporto", disse.

Panchito tem um filho de 14 anos e uma filha de 12 que "adoram Portugal". Ela ginasta e ele hoquista. Um dos sonhos de Panchito é ver o filho "com a camisola encarnada pelo menos uma vez". E por falar em saudades de Portugal, lembra as douradas grelhadas: "Uma vez comi seis", lembrou entre risos.