Ana Oliveira, diretora do Atletismo do Benfica, fez a antevisão da Taça dos Clubes Campeões Europeus que se realiza em Birmingham (Inglaterra) no fim de semana de 26 e 27 de maio.
Numa prova onde a equipa masculina já fez história, a ambição é grande. Disso mesmo dá conta Ana Oliveira, em entrevista ao Jornal O Benfica.
O Benfica foi 2.º classificado na Taça dos Clubes Campeões Europeus em 2014 e 3.º há dois anos. Um lugar no pódio em 2018 é um objetivo?
Neste novo projeto, desde a nossa segunda participação, todo o investimento que temos feito na equipa para esta prova tem sido sempre com esse objetivo, não só de estar no pódio, mas de lutar pelo primeiro lugar. Recordo que esta equipa, na sua essência e no seu fundamento, tem vindo a ser construída a partir da Taça dos Clubes Campeões Europeus de Juniores. A aposta na Formação do Clube tem sido sempre forte, e a equipa atual apresenta uma média de idades de 25 anos. É uma equipa com poucas alterações que desde 2012-2013 participa nesta competição.
Pode-se dizer que a equipa se vai apresentar em Birmingham na máxima força?
É quase impossível pensarmos que qualquer equipa tem essa sorte e esse privilégio. Esta participação é conquistada em julho da época anterior, aquando da renovação do título nacional. Esse feito deve ser valorizado e reconhecido por todos os que acompanham o trajeto desta equipa. É um projeto que começa em julho do ano anterior, depois até novembro fazemos os acertos. Desse mês até maio muita coisa acontece, mas isso é transversal para todas as equipas. Avaliamos a nossa e as equipas adversárias na base de dois parâmetros: um passa pelos recordes pessoais de cada atleta que está inscrito e outro são os recordes da época (season best). Infelizmente, nem sempre tudo acontece como queremos.
Quais foram os principais contratempos?
Por questões administrativas perdemos a possibilidade de competir com o Marcos Chuva. No mundial tivemos a lesão de Tsanko Arnaudov, tivemos a cirurgia do Francisco Belo, situações que atrasaram a preparação dos atletas. Nos últimos dois dias tivemos duas baixas. No meio-fundo, o Emanuel Rolim teve, na semana passada, uma lesão num treino específico. Outro contratempo foi a lesão de um jovem que tem vindo a crescer nos últimos tempos, o Rafael Jorge.
"Aposta na Formação tem sido forte, a média de idades da equipa é de 25 anos"
Qual é a expectativa para o Benfica em termos de resultados finais?
Considerando os recordes pessoais e as melhores marcas da época, posso dizer que temos a melhor equipa em termos globais e homogéneos. Penso que, pelo espírito de equipa, pelo calendário competitivo e pelo crescente de forma nesta fase da época, vamos estar na luta pelo pódio e pelo título europeu. O título seria um ponto alto deste projeto e até merecido.
Que impacto é que teve na equipa o facto de a prova não se ter realizado no ano passado?
Esta competição tem o mesmo impacto que qualquer Champions em qualquer modalidade. Fica sempre na dúvida o que teria acontecido. O ano passado, por ser na Turquia, muito próximo da guerra na Síria, havia algum receio. É evidente que teve custos emocionais, logísticos e financeiros. Será que em 2017 podíamos ter ganhado a prova? Era mais uma oportunidade. No ano passado seguiu-se o Campeonato Nacional e podíamos não ter sido campeões nacionais. Felizmente ganhámos o título e vamos representar o Benfica e Portugal nesta Champions.
É grande a expectativa em relação à prova de Pedro Pichardo no triplo salto?
O Pedro está muito motivado. Já sente o clube, e competir nesta prova é uma novidade para ele. Não está muito habituado na pista coberta e inicia a competição ao mais alto nível mais cedo do que os calendários portugueses. O Pedro vem de uma prova recente em Doha onde fez a melhor marca do mundo do ano (17,95 metros). É um atleta jovem, de 24 anos, que persegue a melhor marca mundial (18,29 metros). Está em forma e quer contribuir com o máximo de pontos para o clube. Ele quer ganhar e com uma boa marca.
O polaco Lewandowski, que foi campeão europeu de pista coberta em 2017 e vice-campeão mundial em 2018 nos 1500 metros, será reforço para a prova. É uma forte mais-valia?
O Lewandowski é uma mais-valia principalmente porque à partida vai fazer duas provas, é um dos melhores da Europa nos 1500 e 800 metros. Pode ainda fazer, caso seja necessário, uma estafeta. É um trabalho que estamos a fazer de inclusão do Lewandowski na equipa há mais de um ano. Não é a nossa filosofia comprar atletas para aquela prova específica. Ele já está a interagir no nosso projeto. Temos mais dois estrangeiros na equipa que vivem em Portugal, mas só podemos utilizar um.
"Pichardo está em forma e quer contribuir com o máximo de pontos"
Como vê a utilização dos atletas estrangeiros nesta prova?
Desde o início que tínhamos como objetivo ser campeões da Europa só com atletas lusos. O melhor registo deste projeto do Benfica foi um 2.º lugar em 2014 só com portugueses. Desde esse momento pensámos que podíamos continuar com essa ideia e essa filosofia. Na verdade, é impossível, porque todas as equipas que disputam esta Primeira Liga recorrem às regras, aos regulamentos, que dão essa possibilidade de utilizar dois estrangeiros.
Tsanko Arnaudov regressou, após lesão, no Meeting de Lisboa. Foi uma boa notícia para a prova?
Sim, é um atleta que nas nossas contas projetamos sempre com vitórias. É um dos melhores da Europa e do mundo. O lançamento do peso tem sido sempre uma das competições mais fortes desta taça. O Tsanko vai um pouco mais atrasado na sua recuperação, mas, se estiver a lançar acima dos 20,00-20,30 metros, pode dar-nos a pontuação máxima, que neste ano são os dez pontos. É uma das nossas esperanças para a vitória.
Qual considera ser o nível geral das equipas concorrentes? E quais as mais fortes?
O Benfica, o Enke (Turquia) e o Playas de Castellón (Espanha) são teoricamente as três equipas mais fortes deste campeonato, mas são 20 disciplinas com um total de 200 pontos em disputa. Uma ou duas falhas de uma destas equipas pode relançar para a luta pelo pódio qualquer uma das restantes equipas.
Heptacampeão nacional já é uma referência na Europa
Em julho de 2017, em Leiria, a equipa masculina do Benfica sagrou-se pela sétima vez consecutiva campeã nacional de Clubes ao Ar Livre. Esta conquista permitiu garantir lugar na Taça dos Clubes Campeões Europeus deste ano, que vai ter lugar em Birmingham (Inglaterra), a 26 e 27 de maio.
A participação nesta prova não é de todo novidade para o Benfica, que, pela oitava vez consecutiva, se prepara para disputar o título europeu na Champions. Isto só é possível porque o Clube, apesar de algumas saídas de atletas menos corretas e inesperadas, é heptacampeão nacional.
O Benfica tem fortes aspirações na competição. Há dois anos, na última edição (em 2017 ela foi suspensa por motivos de segurança em Mersin, Turquia), terminou no 3.º posto. Em 2014, o clube da Luz foi 2.º classificado. Nos últimos cinco anos terminou sempre no top cinco.
OS ATLETAS CONVOCADOS
O Benfica é já uma referência na Europa, e a comprovar isso mesmo está o facto de ser considerado, ano após ano, pelas outras equipas como um forte candidato ao título europeu. Entre os atletas que vão competir na prova é muito esperada a prestação de Pedro Pichardo, que recentemente bateu o recorde nacional do triplo salto (17,95 metros no Meeting de Doha).
Marcin Lewandowski representará o Benfica nos 1500 e 800 metros. O atleta polaco foi campeão europeu de pista coberta em 2017 e vice-campeão mundial em 2018 nos 1500 m.
Participarão na competição mais equipas de nove países: Bélgica, Dinamarca, Espanha, Grã-Bretanha, Eslovénia, Eslováquia, Turquia, Irlanda e Lituânia.
Entrevista e texto: José Pedro Verças
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