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Num daqueles jogos de futebol que não deixam saudades a ninguém, o Benfica saiu do Bessa com um ponto no bornal e José Antonio Camacho ultrapassou mais um obstáculo de peso, continuando invicto à frente do clube da Luz. Embora seja uma frase feita, a moral desta partida é inequívoca: se tivesse de haver um vencedor, esse só poderia ser o Boavista.
Porque dominou a partida, porque rematou quinze vezes contra apenas quatro do adversário, porque dispôs das melhores ocasiões de golo e, “last but not least”, porque “obrigou” Moreira a assinar a melhor exibição desde que tomou conta das redes encarnadas, arvorando-se ontem em verdadeiro salvador da Pátria benfiquista.
Embora pareça impossível num jogo de “top”, Boavista e Benfica fizeram, em 90 minutos 68 faltas, um número que explica a pobreza do espectáculo, sistematicamente interrompido pelo “priii, priii” do árbitro. Mas também houve dois outros factores que contribuíram para a falta de emoção: o primeiro, foi a escassa inspiração dos jogadores, incapazes de se soltarem das marcações apertadas exigidas pelos técnicos; o segundo teve a ver com o estado do terreno e sugere uma reflexão.
Os estádios que estão em obras (como é o caso do Bessa) ou em demolição (Luz e Alvalade) têm os relvados em mau estado, o que também não ajuda à arte...
Ontem, o Boavista jogou à Boavista, o que significa que se bateu até “à morte”, de forma organizada e consequente, embora, como já se disse, sem grandes rasgos individuais. O Benfica ganhou um ponto no Bessa, sobretudo porque, à falta da excelência demonstrada, por exemplo, em casa do Sporting, optou por responder aos do Bessa jogando... à Boavista.
O exemplo mais elucidativo desta tese esteve na substituição de Zahovic por Peixe, aos 77 minutos e traduz a opção de Camacho de apostar no músculo para segurar um ponto precioso. A luta nos bancos foi curiosa e se o treinador espanhol cedo queimou uma substituição por lesão de Ricardo Rocha, foi depois lesto a tirar Miguel da equipa, lançando Fehér e convidando os seus jogadores a um tipo de jogo mais físico e directo.
Por seu turno, Pacheco não teve dúvidas em reforçar a defesa para contrariar a dupla luso-magiar do Benfica, guardando para a parte final do encontro o assalto à área encarnada. Entre os 77 e os 84 minutos fez entrar Bosingwa, Duda e Cafú, refrescou o ataque e só a capacidade de sofrimento que foi possível descobrir neste Benfica de Camacho lhe terá frustado as intenções.
Com a SuperLiga a ir fazer agora uma cura de bolo-rei, broas e filhoses, Boavista e Benfica deixam indicações animadoras aos seus adeptos porque, se bem que o futebol que ontem produziram tenha estado longe do “primeiro Mundo”, parece-lhes devolvida a atitude competitiva mais certa, que andou escondida de uns e outros durante bastante tempo.
Quando a prova se reatar, os reforços prometidos podem ajudar os conjuntos, o Benfica nas alas (e as fragilidades são deveras evidentes) e o Boavista na coordenação de jogo.
Em resumo, um encontro que se sabia ir ser disputado sob a batuta de dois técnicos que exigem tudo aos jogadores, acabou por redundar num embate entre “homens de barba rija”, que optaram por um “registo forte e feio” para defesa das suas cores.
António Costa fartou-se de apitar, cometeu alguns erros (para um lado e outro) e pareceu ter agido com acerto nos lances mais complicados.