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O segredo da metamorfose do Benfica da primeira para a segunda parte do jogo com o V. Setúbal residiu em grande parte na palestra de José Antonio Camacho. Apesar de o golo de Simão nos minutos finais do primeiro tempo ter atenuado a desvantagem no marcador, o técnico benfiquista chegou aos balneários bastante desagradado com a exibição da sua equipa e foi muito duro com os jogadores.
Directo e frontal como é seu hábito, Camacho disse claramente aos jogadores que a asneira já estava feita – referindo-se aos dois golos sofridos –, pelo que não valia a pena lamentar os erros cometidos, e só restavam duas opções: ou entravam na segunda parte para jogar bom futebol ou, então, nem sequer valia a pena voltarem ao relvado do Bonfim, sendo, nesse caso, preferível viajar de pronto para a Luz.
Os jogadores assimilaram a mensagem e, de imediato, fizeram uma promessa ao treinador: a de jogar o futebol que podem e sabem durante os segundos 45 minutos de forma a dar a volta ao marcador. E não perderam tempo a cumprir essa promessa, pois ainda antes dos 20 minutos da etapa complementar já se encontravam em vantagem (3-2) com o autogolo de Carlos e o tento de Tiago, o seu décimo na prova.
No final do encontro, questionado sobre o teor da conversa ao intervalo, José Antonio Camacho não abriu o jogo. “Disse-lhes apenas que iríamos ganhar o jogo”, referiu, vendo essa versão suavizada da palestra confirmada por Simão — ”O mister não nos disse nada de especial ao intervalo. Também não era preciso porque nós sabemos perfeitamente o que temos de fazer em campo.”
Ultrapassado o obstáculo Bonfim, José Antonio Camacho está agora empenhado em vencer outra barreira. O treinador espanhol está descontente com a falta de mentalidade vencedora demonstrada pelos jogadores, os quais teimam em não conseguir manter os níveis de concentração e a atitude competitiva ao longo de todo o jogo.
Depois de, frente à U. Leiria e Nacional, terem efectuado uns bons 45 minutos iniciais e baixado de rendimento na segunda parte, em Setúbal sucedeu o inverso. Ora, Camacho quer acabar com esses “tempos mortos” e ver a equipa jogar bem de início ao fim. Isto já frente ao FC Porto.
Espanhóis frisam papel do treinador
A goleada no Bonfim teve ecos na Imprensa espanhola que continua a seguir com atenção a carreira do ex-seleccionador nacional. “O técnico do V.Setúbal apresentou a sua demissão depois da humilhante derrota com o Benfica, que fez uma exibição espectacular”, lia-se na “Marca”. Já o “El Mundo Deportivo” considerou que “Simão e Camacho não esquecerão tão cedo o jogo”, frisando que “os adeptos benfiquistas gritaram o nome do técnico”.