Domingos Soares de Oliveira em entrevista - resultados Benfica SAD 2019/20

Fonte
slbenfica.pt

A Sport Lisboa e Benfica – Futebol, SAD atingiu, no exercício 2019/20 – uma época atípica –, o segundo melhor resultado de sempre da Sociedade, com 41,7 milhões de euros de lucro.

 

Divulgado o Relatório e Contas à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), Domingos Soares de Oliveira, CEO do SL Benfica, destacou, em entrevista à BTV, o crescimento das receitas, com um valor próximo dos 294 milhões de euros – que engloba parte da venda de João Félix –, num exercício "muito afetado", confessa, pela pandemia de COVID-19.

 

 

Quais são os principais destaques destas contas?

A informação é positiva ao nível dos principais indicadores, ainda que seja um exercício que foi muito afetado pelo tema COVID-19 e pelo facto de termos tido uma paragem das nossas atividades durante vários meses. O resultado da Sociedade é próximo dos 42 milhões de euros, o segundo melhor de sempre da Benfica SAD. O segundo aspeto importante a evidenciar é o crescimento das receitas com um valor próximo dos 294 milhões de euros, naturalmente também muito influenciado pela componente de vendas de atletas, em particular do João Félix. Estes são os dois indicadores mais positivos… Mas há um terceiro, que é a confirmação de uma tendência que já observamos há vários anos, que é uma redução do passivo e do endividamento. O ponto menos positivo destas contas é que, seja em termos de direitos televisivos, seja em termos de prémios da UEFA, merchandising, patrocínios, ou em termos de bilhética, há uma redução de praticamente todas estes rubricas. Por um lado, influenciado – no caso das competições europeias – pela nossa performance desportiva menos boa, comparativamente ao que tivemos em 2018/19; e, por outro lado, o facto de termos tido aqui paragem de competição durante praticamente quatro meses. Por exemplo, nas contas de 2019/20, só pudemos reconhecer aqueles 14 jogos da Liga NOS, aqueles 14 jogos que foram jogados até 30 de julho. Os restantes três jogos já não entram nas contas deste exercício…

 

 

 

No passado, a Benfica Estádio e a Benfica TV eram empresas detidas pela Benfica SAD, passando para a esfera da Benfica SGPS. Qual é o impacto desta passagem nas contas?

É uma questão muito interessante porque o perímetro que temos hoje de análise da Benfica SAD é diferente. Há um ano, tudo, todos os ativos – o ativo Benfica Estádio e o ativo Benfica TV – constavam nas contas da Benfica SAD, e este ano, basicamente, o que temos nas contas da Benfica SAD é o valor que a SGPS ainda deve à Benfica SAD pelo facto de termos passado estas duas empresas para o lado da SGPS, que é, no fundo, passar para o lado do Clube, porque a SGPS foi detida a 100 por cento. Os números não podem ser exatamente comparados, como se fez em todos os exercícios anteriores. Este é um exercício de passagem… Daqui para a frente será mais fácil comparar coisas comparáveis. Mas é também importante dizer que as contas da Benfica SAD incorporam tudo aquilo que são os custos da Benfica Estádio e, portanto, aquilo que se vai ver nas contas deste ano é um crescimento daquilo que se chama os FSE (Fornecimento e Serviços Externos), que consolidam tudo aquilo que eram custos da Benfica Estádio. Essencialmente, estas são as diferenças do ponto de vista dos resultados.

 

 

Voltamos ao tema João Félix… Com os quatro meses de paragem das competições, pode dizer-se que a venda de João Félix foi o maior impacto nestas contas?

Sim, porque nós temos normalmente dois tipos de proveitos, de receitas, digamos assim… Temos as receitas que não têm a ver com a parte de atletas e depois as receitas com transação de atletas. Na parte sem transação de atletas, temos um decréscimo – não muito significativo, mas é um decréscimo – por todas as razões que já invoquei. Do ponto de vista das receitas com atletas, temos um crescimento significativo cuja esmagadora maioria tem a ver com o negócio que fizemos do João Félix. Não é o impacto, naturalmente, da transação toda, não é um impacto de 120 milhões de euros nas contas, mas é um impacto que, sem ele, não tínhamos conseguido ter o crescimento que tivemos.

 

 

 

Já se consegue perceber o real impacto da pandemia?

Por força da pandemia, tivemos aqui dois impactos: um que nunca conseguiremos medir, que é o do lado desportivo, ou seja, o que é que teria acontecido com o Benfica se não tivéssemos tido a pandemia. Como é que a equipa se conseguiu adaptar relativamente ao facto de jogarmos sem público? No fundo, perdeu-se algo que é a essência do futebol… Relativamente à componente muito mais económico-financeira, temos basicamente impacto em todas as vertentes – menos bilhética, como eu disse, porque não fizemos jogos com bilhética. Apontamos, nestas contas, para que o impacto total da COVID-19 no exercício 2019/20 seja ligeiramente superior a 12 milhões de euros. Sem COVID-19, teríamos tido receitas provavelmente – só da SAD – a ultrapassar os 300 milhões de euros.

 

 

Como tem evoluído o passivo e o endividamento da Benfica SAD?

Temos mantido uma tendência de decréscimo. Temos tido, nos últimos sete anos, resultados positivos, que nos têm permitido melhorar aquilo que é a nossa estrutura nos capitais próprios. Em paralelo, temos conseguido manter o crescimento do ativo, em que o valor cresceu de forma ligeira: 0,7 por cento. O nosso passivo atual na SAD é 325 milhões de euros e a redução que verificamos em relação ao exercício anterior é superior a 10 por cento, ou seja, quase 40 milhões de euros. São exatamente 38 milhões de euros, se os números não me atraiçoam. Do ponto de vista do passivo, mais uma vez, houve uma queda acentuada. Do ponto de vista do endividamento, hoje em dia, o Benfica vive muito do que são os empréstimos obrigacionistas. Quando fechámos o exercício, tínhamos um valor em obrigacionistas vivos ligeiramente abaixo dos 60 milhões de euros. O nosso endividamento total na SAD, pela primeira vez, é de 98 milhões de euros, e esse é um aspeto a realçar. Se formos pelo endividamento líquido, do ponto de vista de caixa, o valor é ainda menor. Importa referir que, em junho, lançámos um empréstimo obrigacionista de sucesso. Do ponto de vista líquido, o endividamento vai aumentar para o exercício 2020/21, mas é natural e consequência de uma atitude prudente por parte da administração da SAD em ir buscar recursos numa altura em que antecipávamos maior dificuldade na manutenção de receitas.

 

 

O Benfica continua a cumprir os critérios do fair play financeiro?

Sim. Em todos eles, e não temos tido nenhuma incidência junto da UEFA e no processo de licenciamento junto da Liga Portugal e da Federação Portuguesa de Futebol. Normalmente, há um indicador crítico que é o total de custos salariais versus o total de receitas, e esse valor manteve-se perto dos 60 por cento. A UEFA impõe-nos que esteja abaixo dos 70 por cento, e no último exercício a percentagem era de 62 por cento.

 

 

 

Também já falou no empréstimo obrigacionista, que vai ter influência nas próximas contas. O que espera para a época 2020/21?

Estamos a observar alguns fenómenos… Diria que há uma boa notícia do ponto de vista do merchandising, que é algo que influencia mais do lado do Clube do que do lado da SAD, mas é interessante porque no mês de julho, com muito menos lojas abertas, tivemos números muito baixos em comparação com o mesmo período do ano passado, cerca de 15 por cento [de faturação]; no mês de agosto, já tivemos qualquer coisa como 30 por cento; nos primeiros dias do mês de setembro já estamos com receitas totais acima dos 50 por cento em relação ao que foi o ano passado. O que estamos a sentir é a retoma em vários indicadores. Temos uma estabilidade boa nos patrocínios, e outro aspeto positivo é a estabilidade existente no contrato de direitos televisivos. Ainda agora, há dois dias, estivemos com o nosso parceiro NOS e, digamos, apoiamo-nos mutuamente no sentido de haver um crescimento destas receitas. Do ponto de vista da UEFA, este jogo com o PAOK será a uma mão, quando no passado a eliminatória era a duas mãos, mas a parte positiva é que ficámos com os direitos para Portugal para poder fazer essa venda. Apesar de a UEFA ter uma redução das suas receitas, o impacto para os clubes que participam nas competições europeias é dilatado ao longo de cinco anos. Ou seja, os clubes vão conseguir fazer uma gestão adequada e absorver esse impacto.

 

 

(...)

Do ponto de vista do mercado de transferências, a expectativa que tivemos ontem na assembleia geral da ECA é de que o mercado vai ter uma redução de cerca de 20 a 30 por cento. Se essa redução vem pela desvalorização dos passes ou se vem pelo impacto que tem nas contas de alguns clubes que estarão menos ativos no mercado, neste momento ainda não sabemos. No fundo, a parte positiva é que se no passado o mercado representou 100, neste exercício 2020/21 o mercado vai representar 70 a 80 por cento. As notícias são boas, acho que vamos ter um bom exercício. As pessoas questionam-se um bocadinho como é que o Benfica está a fazer um investimento diferente. O próprio Presidente, com a sua cultura empreendedora, já afirmou que é nestes momentos que se tem de aproveitar para fazer determinados investimentos. Nós temos essa capacidade, o facto de termos lançado o empréstimo obrigacionista foi muito importante. A mensagem que tenho hoje para os benfiquistas é de confiança relativamente ao exercício de 2020/21.

 

Texto: Filipa Fernandes Garcia, João Sanches e Marco Rebelo

 

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