Ederson - entrevista - "Total confiança no Penta"

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 Ex-guarda-redes das águias é hoje um fervoroso adepto do Clube e acérrimo defensor da qualidade de uma casa que "forma grandes homens e grandes jogadores". Numa entrevista imperdível ao Alta Fidelidade, da BTV, o brasileiro abre o livro

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“Estou a torcer muito por todos vocês, deem o vosso melhor. Vamos a isso e rumo ao 37” – a forte mensagem de incentivo ao plantel do Benfica tem a assinatura de um adepto muito especial: Ederson, guarda-redes que festejou o Tri e o Tetra como dono das redes das águias, aposta todas as fichas na conquista do Pentacampeonato.

 

Descomplexado, humilde e ambicioso, Ederson foi Ederson numa grande entrevista ao Alta Fidelidade, da BTV, que principiou com uma breve marcha-atrás no tempo, até maio de 2017, antes de se transferir para o Manchester City, que já lidera destacado a Premier League inglesa.

 

O que é que sente ao ver o cachecol do Tetra?

Vem à memória a temporada passada, o título que conquistámos e que entrou para a história do Benfica. Passaram muitos jogadores de alto nível no Benfica, muitos jogadores consagrados que não conseguiram fazer aquilo que nós conseguimos. Sinto-me muito feliz por ter feito parte desta história, foi um sonho realizado.

Isto aqui [cachecol] vou guardar para o resto da minha vida. Tenho muitas lembranças do 36 guardadas na minha casa.

 

Saudades de Portugal?

Sim, muitas.

 

Do quê em especial?

Da cidade, do Benfica, dos adeptos. Passei dois anos na equipa sénior e foram maravilhosos, com muitos títulos. Os adeptos acolheram-me e trataram-me muito bem. Recebo mensagens de benfiquistas até hoje. Estou muito grato e muito feliz. Agora a realidade é outra.

 

É diferente?

O clima aqui na cidade é muito diferente, mas também tenho muito carinho dos adeptos do City. Tratam-me muito bem, são muito educados e dão-me muita força. Estou muito feliz aqui e espero continuar a fazer um bom trabalho.

 

As pessoas em Manchester sabem que se transferiu do Benfica, de um grande clube de Portugal?

Sim, todos sabem.

 

É disso que sente falta? As coisas lá eram mais acolhedoras?

Sim, em Portugal o pessoal era mais caloroso, aqui são muito reservados, são muito respeitadores, não interferem nos passeios que fazemos, pouca gente pede para tirar fotos. Em Portugal os adeptos são diferentes.

 

Gosta mais do calor?

Eu sou um rapaz muito tranquilo, mas depende do dia e do humor com que estamos. Mas trato sempre bem, nunca menosprezo os fãs. Tento sempre tratar bem e parar para tirar fotos ou para dar um autógrafo. Um atleta também tem de saber gerir estas situações.

 

Como era o miúdo que chegou ao Benfica? Mudou muito?

Sim, mudou bastante. Eu era muito tímido - e ainda sou -, muito reservado, mas ali tive de ver o mundo de outra maneira. Saí muito jovem de casa, tive de amadurecer, tive de tomar decisões sozinho e isso acabou por me ajudar muito, por me fazer crescer mais e olhar o mundo de outra forma. Ganhei muita experiência. De lá para cá mudei muito e tudo isso fez-me muito bem.

 

No Benfica aprende-se futebol, mas também se aprende a ser homem?

Com certeza. Além de tudo, temos de ter respeito. Sabemos a história do Clube e passamos a respeitar os ídolos que tem. O Clube também respeita os ídolos, os atletas, então no Benfica também se educa e isso é o mais importante. Um jogador precisa de ser educado para ter rendimento. O Benfica, para além de formar grandes jogadores, forma grandes homens.

 

Aprendeu a ser homem também no Benfica?

Evoluí muito. O Benfica fez-me ver o mundo de várias formas, abriu a minha mente. Eu era um miúdo de 16 anos, mas com mentalidade de 20/23 anos já.

 

Desse miúdo já se dizia “vai ser um grande guarda-redes”?

Bom, dizia-se pouco, porque também era um jogador de 16 anos e dizer isso era muita responsabilidade, mas nunca me deslumbrei com elogios e nunca deixei as críticas abalaram-me. Sempre trabalhei da mesma forma, focado. Pensando dessa forma fui evoluindo muito, trabalhando dia a dia, esforçando-me ao máximo. Isso ajudou-me muito, evoluí bastante, aprendi muitas coisas.

 

A posição de guarda-redes é diferente de todas as outras?

Sim, são 90 minutos de muita concentração, qualquer descuido ou erro pode ser fatal. Um guarda-redes tem de estar sempre concentrado e tomar decisões.

 

Curiosidades sobre si... A sua paixão pelas tatuagens continua?

Claro, ainda não fiz mais nenhuma porque ainda não tive tempo. Aqui, é muito corrido, dois jogos por semana, acabamos por ter poucas folgas. Se fosse fazer mais uma, depois para treinar era um pouco desconfortável. Quando tiver uns quatro, cinco dias de folga farei.

 

Há alguma que é especial e que reflete o Benfica?

Sim, eu tenho o 35 tatuado na parte detrás da perna, um desenho da Taça e do 35. Falta fazer o 36.

 

Mudou muito o Ederson do Benfica para este do Mancherster City?

Continuo a mesma pessoa, com a mesma humildade, o mesmo foco no trabalho. O que muda é o nível de competição, porque em Inglaterra é muito mais competitivo.

 

O que é que pensa antes de entrar em campo?

Que me vou divertir, sem medo de errar, sempre procurando o mais certo.

 

Diverte-se em todos os jogos?

Com certeza, mas com essa responsabilidade.

 

Já lhe disseram que está ao nível do melhor guarda-redes do mundo?

Na minha opinião ainda falta um pouco mais. Há muitos bons guarda-redes hoje no futebol, alguns que estão um passo à minha frente, mas não trabalho a pensar nisso; trabalho a pensar em dar o melhor possível. Primeiro penso no grupo, depois penso em mim.

 

O presidente Luís Filipe Vieira foi importante na sua vida e na sua carreira?

Sim, foi uma pessoa importante no meu retorno para o Benfica. O presidente apostou muito em mim. Ele até queria que eu continuasse mais tempo, mas acabei por falar com ele sobre as circunstâncias e o momento e os meus objetivos pessoais. Ele compreendeu. Eu saí e entrei pela porta da frente e deixei muitos amigos lá.

 

Segue o Benfica?

Sim, sempre que possível eu assisto.

 

Acredita num Benfica Penta?

Com certeza. Nada é fácil. Assim como há dois anos tivemos um mau começo de Campeonato, mas soubemos dar a volta a isso, acho que nesta temporada também vamos conseguir. Tenho total confiança que podemos dar a volta a tudo isto.

 

O que é que o Benfica tem que os outros clubes não têm?

Os adeptos, claro. O Benfica tem uma história muito grande, muito bonita e tem uns adeptos fantásticos. Isso é muito importante. Os adeptos também vão ajudar a equipa a reerguer-se esta temporada. E eu também vou ajudar torcendo.

 

E sofre?

Claro, a ver de fora sofro muito mais. É muito pior.

 

O futebol começou como brincadeira de criança?

Sim, comecei a jogar à bola na rua. Eu, o meu irmão e os meus primos ficávamos a brincar na rua, fazíamos um risco na parede, dizíamos que era a baliza e eu ficava lá.

 

Recorda-se muitas vezes disso?

Sim, recordo-me. Foi o começo. É ótimo.

 

Os últimos anos foram muito intensos?

Sim, os últimos três, quatro anos foram muitos intensos.

 

O que é que guardou de materiais do Benfica?

As camisolas dos títulos assinadas por todos os meus companheiros. Tenho bolas de todas as finais que ganhámos, tenho as botas, as luvas e tenho presentes que eu ganhei dos fãs.

 

O próximo desafio é ser campeão aqui em Inglaterra?

Sim, a equipa está bem, está a trabalhar bem. Se continuarmos com este foco, podemos conquistar muitas coisas boas no futuro.

 

Como foi a adaptação, rápida?

Sim, foi rápida.
 

Foi contratado para desempenhar e não falhar.

Sim, numa contratação desse género é preciso chegar e dar resposta logo.

 

Quem é que consegue cumprir objetivos assim? O seu amigo Nélson Semedo?

Consegue.

 

Fala com o Nélson regularmente?

Sim, falo sempre com ele.

 

Como é a sua relação com Bernardo Silva?

Ele é um passarinho, faço dele o que quero no balneário [risos]. A verdade é que um miúdo cinco estrelas, educado, estamos sempre a brincar, faz parte do nosso grupo. Estamos sempre juntos e o pessoal gosta muito dele.

 

Tem futuro aquele miúdo?

Ah, tem, aquele pezinho esquerdo é diferenciado.

 

Uma mensagem para o balneário do Benfica...

Queria desejar muito boa sorte aos meus ex-companheiros, aos meus amigos, dizer que estou a torcer muito por todos vocês, que deem o vosso melhor. Vamos a isso e rumo ao 37!

 

E uma mensagem aos adeptos...

Agradecer o carinho que eles têm por mim. Recebo sempre muitas mensagens de Benfiquistas e quando eu vejo fico muito feliz. Aqui fica mais um adepto que juntamente com vocês vai torcer pela nossa equipa para chegar ao Penta.

 

 

Texto: Márcia Dores


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