Fonte
www.abola.pt
Era para ficar quatro ou cinco dias e estou cá há dez anos. É o destino. Recordo-me que nessa altura, quando saí da Jugoslávia, tinha tudo praticamente acordado com o Estrela Vermelha, mas depois de um mês em Barcelos acabei por assinar contrato com o Gil Vicente e comecei tudo do zero. Era um risco muito grande, mas hoje sinto-me feliz por ter abraçado essa aventura». Foi com esta frase que abriu o baú das recordações, mas foi apenas o começo. Muitas são a histórias fantásticas contadas na primeira pessoa. Tudo começa numa tarde em Barcelos, uma cidade de que fala com um enorme carinho.
— O Gil Vicente é um clube que gosto muito, conheci lá pessoas muito boas. O primeiro ano é normalmente o mais complicado e as gentes daquela cidade ajudaram-me muito.
— Não esquece o que viveu...
— Aquele clube e aquela terra ficarão para sempre no meu coração. Foi muito especial ter sido tão bem recebido. Talvez aquele fosse o momento mais difícil da minha vida, porque não era fácil sair da Jugoslávia sem conhecer praticamente nada de Portugal e decidir ficar aqui. Só posso ter boas recordações de toda aquela gente que ajudou a tornar tudo mais fácil.
Adeus, vou partir
— Esperava dar o salto tão rapidamente?
— Sempre acreditei em mim. Foi por isso que na hora de assinar contrato de dois anos com o Gil Vicente fizemos uma cláusula que me permitia sair passado uma época para um clube maior. As coisas poderiam correr mal, é verdade, mas acabou por dar tudo certo. Tive de dizer adeus porque iria partir.
— Viveu no F. C. Porto momentos maravilhosos. Sei que não consegue falar de todos, diga-me um golo que o tenha marcado?
— Muita gente fala daquele golo ao Hertha de Berlim. Foi dos melhores da minha vida. Não marco muitos golos, mas quando marco são normalmente muito bonitos e, por vezes, muito importantes, o que lhes dá ainda maior beleza. Mas tive muitos outros momentos inesquecíveis como a conquista do penta pelo F. C. Porto, o primeiro título e as grandes vitórias que conseguimos na Europa e mesmo em grandes jogos em Portugal...
— Foram mais de sete anos de grande felicidade ou a saída do F. C. Porto fá-lo pensar de outra forma?
— Sem dúvida que foram. Foi aí que me realizei como jogador. Chegar a um clube grande e ser praticamente sempre titular não é fácil, até porque a concorrência era grande. Tenho muito orgulho do meu passado e quando sair do Benfica quero sentir o mesmo: dizer que fui feliz, que ganhei títulos e que nunca deixei de me sentir realizado.
— Momentos maus. Também os viveu?
— Claro que sim. Talvez o pior tenha acontecido em Felgueiras. Foi a única lesão grave que tive durante estes 10 anos. Foi numa altura que estava a jogar muito bem, tinha chegado em grande forma do Campeonato da Europa, mas parti o maxilar e fui obrigado a parar mais de um mês. A pior coisa que pode existir é uma lesão a meio da época.
— Falou-se em agressão de Rafael Duarte...
— A equipa precisava de mim e a verdade é que estávamos em primeiro lugar e, no mês de Janeiro, comigo de fora, empatámos três ou quatro jogos importantes e acabámos por perder o título nessa época. Não acredito que fosse uma agressão, só não tive sorte. Foi impressionante como aquilo aconteceu. Difícil de suportar, mas já passou.
— Trabalhou com vários treinadores. Quais o que o marcaram mais?
— Quero começar por Vítor Oliveira, que foi meu treinador no Gil Vicente. É um homem que me marcou muito, pois fiz grandes jogos com ele. Está ligado a momentos que foram importantes para a minha carreira.
— Mas há muitos outros...
— Tive sorte de trabalhar com treinadores de grande nível, como Bobby Robson, um homem fantástico. António Oliveira e Fernando Santos também foram importantes para mim. Tive uma relação muito boa com todos eles. E isso repetiu-se no Benfica com Toni e Jesualdo Ferreira. Tento ser o melhor profissional possível e julgo que todos eles reconhecem isso.
Seria magnífico conquistar o título
— Zahovic continua a adivinhar o que você vai fazer?
— Jogámos juntos durante muito tempo. É um excelente jogador e sabemos o que um e outro é capaz de fazer.
— Esse entendimento pode ajudar na caminhada para o título?
— A maioria dos jogadores conhece-se bem e isso faz-me acreditar que temos condições para sermos campeões. No ano passado chegou muita gente nova, mas desta vez isso já não aconteceu.
— Parece muito confiante na conquista do seu sexto título...
— Seria magnífico, mas temos de trabalhar muito para lá chegarmos. Sabemos o valor que temos, mas ninguém deve esperar facilidades. Os outros também têm essa aspiração e para os contrariarmos temos de entrar sempre a cem por cento e provarmos que somos mesmo mais fortes.