Sven-Goran Eriksson é o homem que em 1977, tinha 29 anos, chegou a um clube da III Divisão sueca e decidiu contratar um psicólogo para ajudar a ultrapassar o bloqueio mental da equipa nos momentos decisivos. É o homem que marcou uma era no futebol português no início dos anos 80 e voltou no final da década para aquele que chama um «futebol mais sujo, mais corrupto». É o homem que conta histórias sem fim de futebol, (tantas cruzadas com Portugal) no mesmo tom frio em que fala das mulheres que traiu, do dinheiro que ganhou e perdeu, de corrupção e de doping, dos muitos escândalos e negócios escuros em que se envolveu. É o homem que se expõe assim numa biografia de 350 páginas de relatos crus, sem rodeios e sem floreados. E que, a começar e depois a acabar, tenta explicar por que motivo, depois de já ter estado lá em cima, não consegue parar, apesar de a sua carreira se ter tornado há muito irrelevante. Aos 65 anos, Eriksson escreveu um livro, entre um cargo de diretor de um clube no Dubai e uma nova aventura, que ainda dura, na China.
«Sven, a minha história», é uma narrativa de vida na primeira pessoa. Desde que nasceu, em 1948, filho de uma mãe solteira que o criou sozinha durante dois anos até o pai adolescente ganhar coragem para dizer à família que eles existiam. Passando pela infância no centro da Suécia, onde Eriksson justifica aquele que é um dos principais traços da sua personalidade: «Em Varmland não falamos muito de nós próprios. Somos educados, mas raramente revelamos as nossas verdadeiras emoções. Um traço de caráter que me ajudou na minha vida profissional.»
Eriksson relata uma adolescência despreocupada, num meio de classe média baixa. De um jovem que não fazia grandes planos de vida, a não ser dizer um dia, já com uns copos a mais, que «iria ser famoso». Um rapaz que começou por trabalhar numa companhia de seguros, antes de decidir que queria estudar desporto na universidade. E que sempre teve, diz ele, «sucesso com as raparigas».
Um sistema novo conhecido como 4x4x2
Eriksson teve a primeira oportunidade como treinador no Degerfors pela mão de Tord Grip, que viria mais tarde a ser o seu número dois, ora como ajdunto ora como scout, em muitos dos clubes e seleções que treinou. No livro relata a luta para implantar no Degerfors «um sistema novo conhecido como 4x4x2», no qual lhe agradava a ideia de «tudo ser assente em organização e lógica coletiva»: «Era uma revolução contra o individualismo.»
Subiu com o Degerfors à II Divisão e deu nas vistas. Em janeiro de 1979 já estava no IFK Gotemburgo. Quis conhecer mais sobre o futebol inglês, pátria do 4x4x2, e visitou Bobby Robson no Ipswich. Conta como se espantou quando Robson lhe disse para se sentar ao lado dele no banco no jogo seguinte.
Prosseguiu em Gotemburgo a sua batalha pela organização tática. «Pressionar e cobrir eram termos gregos para os jogadores. O facto de eu usar bola em 95 por cento do treino talvez fosse uma surpresa positiva para eles, mas devem ter ficado chocados com a forma como os exercícios eram rigorosos. »
Alguns quiseram fazer dessa batalha tática uma batalha ideológica. Num clube com raízes políticas fortes na esquerda, houve quem visse paralelismos entre a organização baseada no coletivismo de Eriksson e a social-democracia sueca de Olof Palme. Mas Eriksson não se compromete: «Não havia ideologia política por trás da minha filosofia de futebol. Queria construir a melhor equipa possível. Se jogássemos como equipa – um por todos e todos por um – conseguíamos melhores resultados. Não era mais complicado que isso.»
Eriksson começou noutro tempo e noutro futebol. Mais esta consideração tática, não isenta de ironia: «Durante a época de 1980 fiz a grande descoberta de que o futebol também podia ser jogado no meio-campo. Antes olhava para o meio-campo como uma peça na engrenagem defensiva.»
Benfica, a primeira passagem
Na última época em Gotemburgo, 1981/82, Eriksson ganhou tudo: campeonato, Taça e Taça UEFA. E então apareceu o Benfica. Ele diz que aceitou de imediato e relata a chegada a Lisboa, com centenas de pessoas no aeroporto. «Pensei que estavam ali à espera de um primeiro-ministro ou outro alto-dignitário, mas estavam à minha espera.» Depois, conta como foi conduzido direto à sala de troféus da Luz: «Estava a abarrotar de taças. Nunca tinha visto nada tão impressionante. Foi quando percebi o que esperavam de mim no Benfica. Calculo que tenha sido essa a razão por que me mostraram aquela sala.»
Depois, recorda como Fernando Martins teve dificuldades em impor o seu nome num «clube muito conservador» como o Benfica, e como foi ganhar para a Luz «quatro ou cinco vezes mais» do que ganhava na Suécia. Conta como ficou «chocado» quando chegou ao treino e percebeu que a equipa tinha 45 jogadores. Fala de um clube que tinha «estagnado» e que precisava de uma «revolução», e explica como escolheu Toni para adjunto porque sentiu logo empatia com o antigo jogador.
As recordações misturam a paixão da família por Portugal e os grandes jogos europeus. A final da Taça UEFA perdida para o Anderlecht em 1983 - «a minha primeira grande derrota» - e a eliminação com o Liverpool na Taça dos Campeões na época seguinte, quando começou a pensar se «teria chegado ao limite com o Benfica».
A paixão italiana
E então apareceu a Roma. Eriksson assume que tinha há muito uma paixão pelo futebol italiano, então «a maior Liga do mundo». E não desperdiçou a oportunidade de treinar o campeão italiano, apesar de se ter «sentido mal por trair Fernando Martins, os jogadores e os adeptos» do Benfica.
Foram 17 anos de futebol italiano, interrompidos pelo regresso à Luz entre 1989 e 1992. A Roma é um relato de tempos difíceis, uma primeira época de pesadelo, num tempo em que os treinadores estrangeiros nem podiam sentar-se no banco na Serie A. O período italiano é também um relato na primeira pessoa do mundo obscuro do calcio. Conta Eriksson que perguntou ao filho do dono da Roma se o clube tinha mesmo subornado, como se insinuava, o árbitro Michel Vautrout na meia-final da Taça dos Campeões de 1984. «O Riccardo acenou devagar. Infelizmente era verdade.»
Anos mais tarde, na Fiorentina, outra história. Uma conversa com o diretor desportivo viola, Nardino Previdi: «Foi falar comigo sobre o jogo que íamos ter. Será um jogo duro, disse. Talvez um empate seja suficiente. Sim, disse. Um empate seria suficiente, mas uma vitória seria melhor. Previdi olhou para mim. Depois disse: ‘Se ficarmos satisfeitos com o empate, talvez se possa arranjar.’ De repente percebi onde ele queria chegar e abanei a cabeça. ‘Não, não, não.’»
Foi na Fiorentina que encontrou aquele que diz ser o melhor jogador que já treinou. «Nunca tinha treinado, e possivelmente não voltarei a treinar, um talento como Roberto Baggio.» E foi lá que teve como adversário Diego Maradona. Um Nápoles-Fiorentina desse tempo pelos olhos de Eriksson: «O Maradona fez de nós o que quis. A certa altura o nosso lateral-esquerdo, Stefano Carobbi, correu para o banco e disse: ‘Que raio quer que eu faça com o Maradona?’ ‘Não sei’, gritei. ‘Dá-lhe um pontapé na perna’.»
Benfica, a segunda vez
A Fiorentina era pequena de mais para ambição de Eriksson e por isso, quando voltou a aparecer o Benfica, com a Taça dos Campeões como meta, ele voltou. Para um futebol diferente, diz. «Durante os cinco anos que tinha estado fora de Portugal, o futebol lá tinha-se tornado mais sujo, mais corrupto. Havia muitos escândalos e havia sempre conversas sobre árbitros. O Porto tinha-se tornado muito mais poderoso.»
O segundo período no Benfica inclui um relato detalhado da visita às Antas no famoso campeonato de 1991 decidido por César Brito, «um jogador periférico de que ninguém voltaria a ouvir falar». «Quando chegámos ao balneário, estava trancado. Pedi aos seguranças para o abrirem, mas eles ignoraram-me por completo. Pinto da Costa, o presidente do FC Porto e o homem mais poderoso do futebol português na altura, apareceu, a dizer que de acordo com as regras, o balneário dos visitantes só tinha que estar disponível uma hora antes do jogo. ‘Respeito muito o senhor Eriksson como pessoa’, disse. ‘Mas guerra é guerra.’»
«Quando o balneário foi finalmente aberto», continua o livro, «descobrimos que tinha sido pulverizado com um químico qualquer que tornava impossível respirar. Os nossos jogadores tiveram que se equipar no átrio, cá fora. Perguntei a um funcionário do Porto se podíamos pelo menos ter acesso ao relvado, mas as ordens de Da Costa eram que a equipa visitante só podia subir ao relvado meia hora antes do pontapé de saía. Quando subimos para o campo, o relvado estava tão molhado que dificilmente conseguíamos fazer um passe, e as linhas tinham sido redesenhadas para tornar o campo mais pequeno. O nosso banco tinha sido colocado quase em linha com a área de penálti, e preso de forma que era impossível movê-lo.»
Veio a terceira época no Benfica, que «foi um pesadelo». Eriksson diz que foi Gaspar Ramos quem o convenceu a ficar mais essa temporada, o que «foi um erro». Conta como conheceu nessa altura Pini Zahavi, até hoje um dos empresários com mais peso no futebol mundial e com quem manteve relações desde então, e lhe comprou Yuran e Kulkov. «Tínhamos dois jovens médios, Rui Costa e Paulo Sousa, que se estreavam na primeira equipa, mas éramos fracos na frente e não sei como consegui montar uma defesa. Os reforços russos nunca se adaptaram.» Yuran «gostava da boa vida, mas não estava habituado ao dinheiro; não confiava no banco e guardava o dinheiro no colchão».
«Il perdente di successo»
Eriksson queria voltar a Itália apesar de, diz, poder ter ido para o Bayern Munique. Apareceu a Sampdoria e não olhou para trás. Foram cinco anos no clube de Génova, duas Taças ganhas e uma meia-final da Taça das Taças. Onde eliminou o FC Porto, nos quartos de final. «Perdemos a primeira mão em casa, 1-0. Na segunda mão fui ter com Pinto da Costa e lembrei-o do jogo pelo Benfica uns anos antes. Ele limitou-se a rir. Desta vez fui o último a rir.»
Foi na Sampdoria que começou a ganhar a alcunha que o perseguiu desde então. «Il perdente di successo», o perdedor com glamour. Seguiu-se a Lazio e, apesar de ter ganho duas Taças de Itália e a Supertaça no clube romano, só contrariou de facto aquela imagem ao fim de quatro anos, quando conquistou finalmente o «scudetto». Uma vitória no meio da nebulosa que era o futebol italiano. A Lazio lutou pelo título com a Juventus e Eriksson relata o episódio famoso em que o árbitro Massimo De Santis invalidou um golo do Parma à Juventus na penúltima jornada. De Santis viria a ser suspenso anos mais tarde, envolvido no Calciocaos, em 2006.
Inglaterra, o emprego impossível
E depois a vida de Eriksson mudou. Apareceu a seleção de Inglaterra, disse adeus ao futebol de clubes a alto nível e entrou num mundo novo. Era 2001. Foram cinco anos num cargo «impossível», como o definiu o antigo primeiro-ministro Tony Blair numa conversa de aeroporto com Eriksson.
Os anos ingleses são um relato de futebol, mas também da sucessão de casos e de escândalos em que se viu envolvido.
Antes de mais, as dificuldades em construir a equipa. «Em miúdos, os jogadores mais fracos ou iam para a baliza ou para o lado esquerdo. Talvez em Inglaterra funcionasse como em Torsby, porque havia poucos bons jogadores para essas posições. Foram o tendão de Aquiles durante todo o meu tempo como selecionador da Inglaterra.»
O livro tem, claro, o relato dos dois Mundiais e um Europeu, em todos eliminado nos quartos de final. Sempre frente a Scolari, duas vezes frente a Portugal.
Mundial 2002, Ronaldinho «a mentir»
2002, a queda frente ao Brasil, decidida num livre de Ronaldinho. «Ele queria marcar naquele livre ou foi sorte?», atormenta-se Eriksson. «Anos mais fiz-lhe a pergunta em português. ‘Sven, sabes que foi um remate.’ ‘Estás a mentir’; disse-lhe.»
Euro 2004, os penáltis e a relva
Depois 2004. Eriksson aproveita aliás para contar no livro que teve um papel na vitória de Portugal para a organização da prova. Amigo de Lennart Johansson, promoveu uma reunião com o presidente da UEFA e Gilberto Madaíl e garantiu ao compatriota que Portugal estaria à altura do desafio.
2004 para Eriksson terminou na eliminação com Portugal, com Ricardo e os penáltis. Daquele jogo, o golo de Rui Costa visto por Sven. «Iria Rui Costa, que tinha começado a carreira 14 anos antes no Benfica quando eu era treinador, terminar a sua carreira internacional eliminando-me do Europeu?» Antes, o golo de Sol Campbell que não valeu e custou a carreira ao árbitro Urs Meier. Eriksson conta que, perante a campanha de que Meier foi alvo em Inglaterra, ligou ao juiz a pedir-lhe desculpa em nome da seleção. E depois os penáltis, claro, e a falha de Beckham. Eriksson tinha pedido para arranjarem a relva na marca de penálti na Luz na véspera. «Não arranjaram.»
Mundial 2006, o fim
2006, de novo Portugal, os penáltis depois da expulsão de Rooney. «Nunca vi o lance na televisão. Não sei se Rooney foi bem ou mal expulso. Só sabia o que queria dizer quanto às nossas hipóteses no jogo.» A Inglaterra tinha treinado penáltis, uma e outra vez, garante Eriksson. «Mas no treino não era como no jogo a sério. Eu sabia disso.»
A Inglaterra caiu e foi o fim da linha para Eriksson. Ele voltou para a Suécia e remoeu vezes sem conta o que tinha corrido mal. «Devia ter trazido um treinador para preparar mentalmente os jogadores para os penáltis. Por que não o fiz?» Também responde às críticas dos media: «Em cinco anos e meio só perdi três jogos no tempo regulamentar.» Mas sabe que as estatísticas, no fim, pouco interessam. «A margem entre falhanço e sucesso é fina como uma lâmina. No fim só os resultados contam. Sabia-o melhor que ninguém.»
Ferguson e Mourinho
De Inglaterra, Eriksson recorda ainda as batalhas com Ferguson, sempre relutante em ceder jogadores à seleção. Sobre todas a guerra por Rooney, quando o avançado partiu o pé num jogo com o Chelsea a dois meses do Mundial 2006. Ferguson proibiu Eriksson de entrar no balneário no fim do jogo e disse que não podia levar Rooney ao Mundial.
Eriksson relata uma reunião tensa em que o médico da seleção explicou que o jogador podia recuperar, na cara de um furioso Ferguson. Pelo contrário, conta Sven, Mourinho nunca levantou este tipo de problemas. «Gostava de Mourinho. Para fora, ele era vaidoso, mas era um tipo simpático. Ao contrário do Ferguson, nunca me deu problemas com os jogadores dele.»
Do sheik falso a Pyongyang
Eriksson já estava fora da seleção inglesa antes do Mundial. A gota de água tinha sido o escândalo do sheik, quando se deixou apanhar numa armadilha do tablóide «News of the World», a admitir treinar o Aston Villa.
Eriksson tenta explicar como se deixou envolver naquilo. O contacto foi de Athole Still, um empresário com quem trabalhava há muito e que até terá obtido autorização da FA para a viagem. E Eriksson foi. O livro está cheio de histórias em que Eriksson se deixou ir, que ele justifica num misto de boa vontade e ingenuidade. Como anos mais tarde, quando embarcou num obscuro projeto para fazer do Notts County um clube de topo. Era uma aldrabice e Eriksson conta que mais tarde até colaborou com a BBC para um documentário que desmontava a história.
É dessa altura o relato de uma visita surreal à Coreia do Norte. Os responsáveis do Notts County disseram a Eriksson que a presença dele seria útil nessa viagem, que pretendia avançar com «um grande negócio» relacionado com «recursos minerais». E Eriksson foi.
Dessa viagem relata uma conversa com aquele que pensa ser o presidente da Federação da Coreia do Norte, que tinha acabado de se apurar para o Mundial 2010. «Pediu-me para os ajudar a conseguir um sorteio favorável para o Mundial. ‘O que quer dizer?’, perguntei. «Dado que eu conhecia gente na FIFA, não poderia ajudar a assegurar que a Coreia do Norte tinha um grupo fácil?» Eriksson respondeu que era impossível e lá voltou para Inglaterra, não sem ter ficado retido no aeroporto em Pyongyang porque, aparentemente, o tal negócio que os seus sócios britânicos tinham ido fazer não correu assim tão bem.
Em 2010 acabou por voltar a cruzar-se com a Coreia do Norte (e com Portugal, e com o Brasil), quando levou a Costa do Marfim à fase final: «Aparentemente, o plano deles para combinar o sorteio tinha-se virado contra eles.»
Não ao Benfica
Depois de Inglaterra esteve mais de um ano parado. Ainda foi para o Manchester City, de onde o milionário tailandês que tinha comprado o clube o despediu. Contra a vontade, relata Eriksson, dos adeptos e dos jogadores, que chegaram a ameaçar fazer greve. Mas foi por estar preso num jogo do City que não viajou para a Suécia a tempo de se despedir da mãe antes da sua morte. A mãe a quem ligou todos os dias da sua vida.
O City foi o fim de Eriksson no futebol de topo. Em 2008 recusou voltar ao Benfica, depois de um encontro com Rui Costa e Luís Filipe Vieira. Arrependeu-se, como se arrependeu de muitas outras escolhas que fez.
Seguiu-se a seleção do México, o Notts County, quatro meses na Costa do Marfim, o Leicester, depois foi diretor-técnico num clube tailandês e noutro do Dubai. Em junho de 2013 voltou ao banco, para treinar o Guanzhou RF.
É aí que acaba de escrever o livro. A olhar para trás. Confessa que, relendo o que está escrito, se sente deprimido. «Para onde foram os anos?» Hoje Eriksson está sozinho. A mãe dos seus filhos separou-se dele há muito, quando soube do seu primeiro caso, em Itália. As muitas namoradas passaram. Os dois filhos têm as suas vidas. O mais velho formou-se em desporto e chegou a trabalhar com Sven nos últimos anos.
Perdeu muito do crescimento dos filhos. Um dos momentos mais duros do livro é quando relata como a filha lhe pediu que não fosse à sua formatura, porque não queria que a cerimónia se transformasse num circo de «paparazzi» ingleses. «O preço que paguei pelo meu sucesso foi alto, mas nunca me perguntei se valia a pena.»
Também está sem dinheiro, diz. Dinheiro é um assunto recorrente no livro. Porque Eriksson sabe que tem fama de ser ganancioso, passa o livro a dizer que não, que nunca ligou ao dinheiro. «Não sei o preço de um pacote de leite, mas também não sabia quando era jovem na Suécia.» O livro está no entanto cheio de pormenores sobre o dinheiro que foi ganhando, mas também sobre o que perdeu.
Perdeu muito, diz, com Samir Khan, o seu antigo conselheiro financeiro que acusa de ter gasto quase toda a sua fortuna sem ele saber, qualquer coisa como 10 milhões de libras. Na versão de Eriksson, Khan explorou precisamente o seu desapego ao dinheiro. Está em tribunal contra ele.
Tem mais dois casos em tribunal. Um deles contra Nancy Dell’Olio, antiga namorada com quem viveu anos, de Itália a Inglaterra, por um diferendo sobre partilhas. E o terceiro contra os donos do «Mirror», que Eriksson acusa de ter colocado os seus telefones sob escuta, conseguindo assim divulgar, entre outras coisas, o seu caso com a sueca Ulrika Johnsson, o primeiro grande escândalo de saias de Eriksson em Inglaterra.
Eriksson diz que não tem assim tanto dinheiro e por isso precisa de trabalhar. Acaba de pôr a sua propriedade na Suécia à venda. Mas o motivo por que não para é mais profundo. No início do livro, Sven conta como se encontrou em Itália com Nils Liedholm, lenda do futebol sueco e do calcio, e este, já reformado, acabou a conversa a implorar-lhe que lhe arranjasse um clube para treinar, «nem que fosse uma equipa de juniores». «Se Liedholm, a lenda, não se sentia satisfeito, é possível alguma vez um treinador de futebol ficar satisfeito? Agora sei a resposta.»