Fonte
Record
BASQUETEBOL PODE SER A PRIMEIRA MODALIDADE A TERMINAR NA ERA VILARINHO
Benfica: O princípio do fim
O basquetebol poderá ser a primeira modalidade a terminar durante o mandato exercido por Manuel Vilarinho. À falta de meios financeiros (a principal causa) junta-se uma total ausência de qualquer estratégia para o sector, situação agravada pelo enorme buraco financeiro "cavado" pelo futebol, pelo pagamento ao fisco dos impostos e pela construção do novo Estádio da Luz para o Euro-2004.
O clube está tão estrangulado financeiramente que ainda não "libertou" os 650 mil euros (cerca de 130 mil contos) previstos da quotização (dez por cento) dos associados. As várias secções vegetam, os salários em atraso proliferam e os dirigentes não sabem como poderão equacionar o presente, quanto mais o futuro. Devido aos seus maiores gastos, o basquetebol e o hóquei em patins são as modalidades que correm maiores riscos de serem suspensas, já que qualquer extinção só poderá ocorrer com o voto dos associados em AG marcada para o efeito. O próprio Manuel Vilarinho recusa-se a adoptar o termo acabar ou extinguir. Mas a realidade é mais forte do que a terminologia usada.
No rol de 12 modalidades existentes no grémio da Luz, algumas até dão lucro, como é o caso da natação – que "reverteu" para os cofres do clube 75 mil euros (cerca de 15 mil contos). A ginástica e bilhar serão auto-suficientes (pelo menos não dão prejuízo) e outras têm gastos perfeitamente razoáveis e são suportáveis. Restam o basquetebol e hóquei em patins, os casos mais problemáticos.
Basquetebol: CI criou ilusões, mas faltam as soluções
Há anos que se fala na constituição de uma SAD que possa gerir o basquetebol profissional do Benfica. Esta época formou-se uma Comissão Instaladora, criou-se a "ilusão" da sustentabilidade através de patrocínios próprios mas, num ápice, tudo se gorou. A SAD passou a ser uma miragem após vários avanços e recuos, depois de diversas questiúnculas pessoais que culminaram nas saídas de duas figuras históricas da modalidade: o técnico Mário Gomes e o "manager" Pedro Miguel, antigo jogador e capitão das águias.
As pessoas desgastaram-se, as relações esfriaram e o problema do basquetebol continuou por resolver. A falta de suporte financeira da secção fez com que a Direcção do clube alimentasse uma atmosfera de ambiguidade, a qual pode descambar no fim de uma das modalidades que deu mais títulos ao clube.
Dizem que dos fracos não reza a história. Uma constatação que só pode aplicar-se aos dirigentes, já que os jogadores que formam o actual plantel têm revelado um estoicismo incrível. Se eles quiserem, o básquete do Benfica acaba, pois há casos de cinco meses de salários em atraso.
Hóquei em patins: Lutar contra ruptura financeira
Dizem que para a actual Direcção o hóquei em patins é a segunda modalidade do clube. Pelo menos em orçamento isso é uma realidade – 700 mil euros (cerca de 140 mil contos). E não foi por mero caso que o responsável da secção, Augusto Carones, ontem esteve reunido com Manuel Vilarinho durante quase três horas.
"Tempo é dinheiro", diz um velho chavão, mas deste longo encontro não saiu qualquer solução para o futuro do hóquei em patins do Benfica. Em tom de desabafo, Augusto Carones referiu: "Temos de lutar contra a ruptura financeira, que é latente. Vamos tentar arranjar alguns 'sponsors', até porque não há qualquer decisão definitiva sobre o futuro da modalidade."
Carones revelou que Vilarinho não falou da extinção da modalidade. "Nem o podia fazer", frisou, enérgico. Quanto ao tão desejado reforço da equipa por parte do treinador Carlos Dantas, essa é uma questão que pode esperar. "Agora não temos qualquer possibilidade de contratar um jogador", acentuou Augusto Carones, o qual concluiu: "Lamento o facto da actual crise estar a estrangular financeiramente as modalidades. Isto não é justo."
Andebol: Ordenados em atraso
A secção de andebol do Benfica tem, neste momento, dois meses de ordenados em atraso em relação a treinadores e jogadores da equipa principal, bem como um mês respeitante aos vencimentos dos técnicos que trabalham na formação (estes últimos suportados pela Direcção do clube).
"Em princípio estará tudo liquidado ainda durante esta semana", garantiu a Record Filipe Gomes, seccionista dos encarnados. O nosso jornal sabe, ainda, que o presidente da Câmara Municipal de Sintra, Fernando Seara, está empenhado na resolução do problema. É este, afinal, o espelho das dificuldades diárias da equipa, que milita na Divisão de Elite.
Voleibol: 'Militância' benfiquista
O voleibol encarnado "sobrevive" de forma semi-autónoma (receitas próprias mais verbas de quotização). "Pese embora o apoio de todas as direcções do clube, nos últimos anos temos vivido na asfixia, procurando a sobrevivência semana a semana. Merecíamos um prémio de militância benquista", afirma Sousa Seco, responsável do departamento.
A principal contrariedade da equipa de seniores (Divisão A1) é a falta de instalações próprias: este ano, o plantel tem-se desdobrado entre três pavilhões diferentes na zona de Lisboa. Mas, garante Sousa Seco, "para irmos ao 'tapete' não basta um 'KO'. Tem que ser um 'assassinato' completo."
Râguebi: SAD avança no próximo ano
Campeão nacional em 2000 e campeão ibérico em 2001, o râguebi atravessa uma fase de mudanças. Para garantir a modalidade os directores da secção adiantaram 2500 euros cada, concretizando a fusão com os Pescadores da Costa da Caparica, que funciona como equipa satélite e "concessiona" as suas instalações.
Na próxima jornada do campeonato, o Benfica estreia um patrocinador e, em breve, deverá apresentar outro. O caminho a seguir é o da independência, estando prevista a criação de uma SAD, em 2003, segundo o técnico Francisco Mesquita. Porém, aqui, tudo é mais "fácil": os jogadores não ganham porque são amadores.
Atletismo: Angariação de sócios e rifas
Domingos Correia, presidente da secção encarnada, a braços com uma verba que "não é suficiente", revelou que a equipa, reforçada este ano com alguns atletas de peso, deverá "sobreviver muito à custa de iniciativas para angariação de fundos."
"Até agora ainda não recebemos nada", confessou o dirigente, que, de modo a contornar o problema, decidiu que os atletas "irão competir por objectivos, e os prémios assegurados por venda de rifas e angariação de sócios."
A treinar a "custo zero" no Estádio Universitário, e sem ginásio para manutenção, Domingos Correia mantém-se, por enquanto "calmo e confiante."
Bilhar: Patrocínio congelado
Apesar da secção de bilhar ser autónoma relativamente a orçamentos afectados pela casa mãe, Jorge Martinho, um dos responsáveis, confessou a Record que a secção está a ser "seriamente afectada pelo não descongelamento, por parte da Direcção, do patrocínio (37 mil euros) já na posse do departamento financeiro há muito tempo."
Patrocinador da equipa (enquanto director da empresa Ambicider), o presidente da secção, Sobral da Costa, tem, segundo o responsável, "custeado as deslocações dos jogadores no decorrer do Nacional. Já falámos com o Sr. Vilarinho que afirmou ir resolver a situação, mas está-se nas tintas."