Filipe Vieira consegue Camacho

Fonte
www.abola.pt
José António Camacho vai continuar a ser o treinador do Benfica. A notícia, anunciada em primeira mão pelo site oficial do clube, é certo, foi no entanto testemunhada por A BOLA às portas do Grande Hotel La Toja, na pequena ilha turística nos arredores de Vigo, Galiza, onde ao princípio da noite surgiram Luís Filipe Vieira e Camacho, prontos para festejar num jantar. Camacho estará em Lisboa já amanhã de manhã para começar a ultimar os pormenores da preparação para a próxima época. Camacho acertou os termos da renovação do seu contrato com o Benfica e colocou-se assim um ponto final no tabú que alimentou a actualidade desportiva nos últimos tempos. Com as águas galegas como pano de fundo, o técnico espanhol concordou com Luís Filipe Vieira em manter-se ao serviço do clube da águia, para já, por mais uma época, com outra de opção. Sem confirmação oficial, é provável que a continuidade de Camacho estivesse praticamente decidida de véspera, porque tudo indica, agora, que Filipe Vieira tenha viajado para a Galiza logo na sexta-feira à noite, convencendo no entanto tudo e todos de que estaria perto de Lisboa com o técnico espanhol. O seu modo secreto de fugir a qualquer tipo de pressão. Quando recebeu a visita do presidente da SAD encarnada, no mais luxuoso hotel da belíssima Ilha de La Toja, onde termina hoje o seu período de férias, Camacho decidiu-se assim pela continuidade, numa opção que vai de encontro aos anseios dos benfiquistas. E, obviamente, de Luís Filipe Vieira, com o qual parece indesmentível que o espanhol revela grande identificação. «Nunca esteve em causa» Camacho não quis falar aos poucos jornalistas presentes (A BOLA foi o único representante da imprensa escrita). Ao site do Benfica, o treinador espanhol apenas disse: «Isto é consequência natural da sintonia que sempre foi boa entre mim e o presidente da SAD. Será um projecto consistente para o Benfica. Vamos começar com força com este projecto. Estou muito encantado com este desfecho que nunca chegou a estar em causa». Camacho procurou uma manhã tranquila, deslocando-se a Redondela, uma localidade próxima de Vigo, para participar num jogo de velhas glórias do Real Madrid, que realizava um jogo frente a uma equipa local. Um problema do joelho, do qual está em recuperação, impediu-o de dar uns toques na bola. Regressou depois ao hotel, onde Luís Filipe Vieira e o assessor Vítor Moura Miguel o aguardavam, para prosseguir então a feliz negociação até ao acordo final que o presidente da SAD encarnada confirmou já quase noite a A BOLA. Jantar feliz A seguir, deixaram ambos o hotel da reunião decisiva para um jantar, que reuniu ainda a esposa de Camacho, e um casal amigo intímo do treinador espanhol, que sempre os acompanhou. «Fundamentalmente, o que está aqui em causa é a continuidade do trabalho que estamos a fazer. É a continuidade do projecto do Benfica», disse Filipe Vieira, a A BOLA. O presidente da SAD fez questão de deixar ainda uma mensagem aos adeptos: «Os benfiquistas devem sentir, neste momento, que estamos unidos e vamos continuar este projecto. Todos nós estamos empenhados em engrandecer a instituição, recuperá-la e consolidá-la», afirmou com um tom de voz mais forte. As questões em torno do acordo que acabava de firmar com Camacho levavam Luís Filipe Vieira a assegurar que «ninguém fez exigências nem cedências». «O que há é coincidirmos nos princípios e valores em defesa da instituição Sport Lisboa e Benfica. Camacho está completamente identificado comigo e eu estou completamente identificado com ele. Agora vamos definir situações, mas acho que já conseguimos chegar a um bom entendimento para aquilo que pretendemos. Nós, a instituição, e Camacho, um homem que quer conversar e conhece as situações», continuou. A necessidade de reforçar o plantel foi também desvalorizada pelo dirigente benfiquista: «Esqueçam isso dos reforços. Especula-se muito e como as pessoas estão habituadas a especular no Benfica, apenas digo que fui rindo com aquilo que ia tendo a oportunidade de ler e ouvir. Certo é que não vou ceder a pressões de ninguém, contrariamente ao que alguns pensavam. Sou convicto nas ideias que defendo em relação ao Benfica», atirou. Grande projecto Esta declaração conduziu Luís Filipe Vieira a uma intervenção que, no mínimo, dá que pensar ao universo benfiquista... «Não vou esconder que o Benfica, hoje, tem um grande projecto, do qual não quero desviar-me. Mas no dia que entenderem que eu não estou a servir os interesses da instituição, o meu presidente que o diga e abandono imediatamente. Não tenho problema nenhum nisso!». Na mesma linha... «O mais difícil no Benfica é mudar as mentalidades. Revolta-me, por exemplo, ver alguns benfiquistas fazerem certas afirmações nos jornais. As pessoas ainda não entenderam que acabou a feira das vaidades. Há dois anos, quando vim para o Benfica, o meu presidente disse-me que não havia dinheiro para investir. Agora, fico revoltado quando vejo que as pessoas não têm o bom senso de olhar para o lado para verem o que foi feito nos últimos dois anos. É uma falta de respeito e nem digo isto por mim, mas por todos os que foram eleitos. Não tenho que estar aqui a dizer o que dei ao Benfica, porque só eu sei o que realmente dei, mas se existe um estádio novo, se existe esta equipa, se pagamos impostos e se existe contrato com a Adidas, eu sei o quanto contribui e fui influente». A terminar, já com Camacho perto do local onde jantaram, após um breve passeio a pé, Filipe Vieira deixou mais uma questão no ar: «Revolta-me quando vejo algumas pessoas fazerem determinados comentários... Até numa carta de demissão (n. d. r. não revelou de quem...) em que só faltou chamar ladrão a alguém. Quem fala assim não tem família, mas são benfiquistas aos quais, por uma questão de ética, não respondo. No entanto, no dia em que tiver que responder a essas pessoas, algumas verdades vão sair cá para fora. E se calhar, nesse dia, alguns acabam definitivamente no Benfica».