Fonte
http://www.joaomanha.com/030922.htm
José Antonio Camacho já não sabe o que mais fazer para acabar com a "mala suerte" do Benfica, tendo chegado à conclusão de que a sequência de maus resultados com que a época se iniciou (apenas uma vitória em sete jogos oficiais), falhando todos os objectivos importantes que tinham sido traçados com tanta antecedência, não se deve a incapacidades da equipa mas apenas a um elemento de fatalidade para lá do seu controlo.
Como bom espanhol nem precisa de dizer que em "brujas" não acredita. Pero que las hay...
Numa direcção com poucos recursos técnicos, completamente à mercê da esperteza e "savoir faire" dos adversários, não estranha que a justificação para uma tal regularidade negativa já esteja atribuída aos acasos e aos poderes ocultos. Talvez haja quem pense na conveniência de um enterro de patas de coelho, na doação de uns carrinhos de supermercado cheios de mercearias, no exorcismo da maldição da capela da Luz ou até, desespero dos desesperos, na necessidade de contratar uma das santinhas ao serviço de adversários.
Por mais incrível e inexplicável contradição, quem vem beneficiando da azarina benfiquista, é o putativo presidente Luís Vieira que prossegue de derrota em derrota até à vitória eleitoral, à boa maneira dos generais sul-americanos.
O trajecto dele é o mais estranho da história do dirigismo benfiquista, não só por ter chegado à presidência sem se sujeitar a sufrágio, mas sobretudo por parecer que conquista mais espaço sempre que a equipa averba nova derrota e acentua o divórcio da massa associativa, presentemente em fuga das bancadas por relutância em identificar-se com um clube decadente, como se tinha verificado nos últimos tempos do pontificado de Manuel Damásio.
O último testemunho vivo do slogan "quanto pior melhor" de Vieira foi a declaração televisiva de Manuel Vilarinho ao vangloriar-se, com ar prazenteiro e sincero, da responsabilidade de dois anos de ausência das provas europeias: o Benfica esteve fora da Europa por causa da má direcção dos últimos anos... a dele e de Vieira!
Quão maior se revela o azar da equipa de Camacho, mais Vieira capitaliza tranquilidade e distância: cada derrota agrava a demora do regresso do Benfica a um nível de campeão e credita-lhe mais tempo de manobra para executar o seu plano secreto - tão secreto, de resto, que nem ele dá sinais de conhecê-lo.
Neste quadro desportivo desfavorável, a apetência pelo poder decresce, como mais uma vez demonstrou o doutor Seara, que fugiu das eleições a sete pés apesar de alegados apoios de peso. A oposição interna mostra reservas, para não dizer medo, em agudizar o confronto, em provocar a divisão, em desestabilizar o clube. Porque se ajudar a piorar a situação, só favorece o "take over" de Vieira.
Que grande "mala suerte"!