Nuno Gomes: «Benfica não é inferior ao FC Porto»

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www.record.pt
Nuno Gomes prepara-se para chegar aos 200 jogos entre a elite do futebol português. Uma bonita marca que, assim quis o destino, se é que ele existe, terá como o palco a Luz, na próxima semana. No último clássico naquele estádio, que já faz vibrar benfiquistas e portistas face à possibilidade de a distância entre os dois ser encurtada, Nuno Gomes está confiante mas recusa, como é habitual no seu discurso, uma euforia que, por vezes, conduz à desilusão. Feliz por atingir este número, Nuno Gomes recusa, por entre sorrisos e também com sentido de humor, a ideia de que está a ficar velho. "O João (Pinto) acaba de completar 350 jogos! Ainda tenho muito para dar ao futebol. Mais a sério, acho que chegar aos 200 jogos representa, antes de mais, experiência e maturidade. Mas é também, não me custa a reconhecer, uma marca considerável e que me deixa extremamente orgulhoso." E nada melhor do que enfrentar o FC Porto no dia em que chega às duas centenas de desafios na SuperLiga. "Se participar num clássico é sempre motivo de alegria para qualquer jogador que dizer quando, nesse mesmo jogo, chego aos 200 jogos?! Será para mim, não o nego, uma motivação extra." Quando chegou aos 100 encontros, com o Sporting, em Alvalade, Nuno Gomes ficou em branco na vitória categórica dos encarnados, uma tendência que pretende agora alterar. "Atingir os 200 jogos e festejar esse momento como um golo seria ainda melhor. Mas não é isso que me preocupa. O importante é que esse dia seja vivido com uma vitória do Benfica. Isso sim, isso é que me preocupa." Nuno Gomes reflecte, no seu discurso, a imagem da equipa dentro do campo: moralizada, confiante. "A equipa está bem e o facto de ter a possibilidade de diminuir a diferença de pontos para o FC Porto funciona como factor moralizante. Sinto que o Benfica está confiante e há, de facto, um optimismo enorme." Não obstante estas afirmações, o ponta-de-lança do Benfica recusa a ideia de que tudo poderá ficar mais fácil em caso de vitória dos encarnados. É moderado e tem os pés bem assentes na terra quando fala do próximo compromisso. "Temos um objectivo bem definido – manter o segundo lugar. Isso que fique claro. É muito difícil chegar ao primeiro lugar, até porque não dependemos de nós. Temos de encarar o resto do campeonato da forma que fizemos até agora, a pensar em ganhar o jogo seguinte, em garantir o acesso à Liga dos Campeões." Nuno Gomes fala de uma forma realista e sensata mesmo sem perder de vista a possibilidade de ganhar ao FC Porto, que considera mais regular mas não superior aos encarnados. "Estar mais forte é sempre relativo. Mas acho que não somos inferiores ao FC Porto, a quem reconheço, naturalmente, uma maior regularidade na prova. Temos de ser realistas: não é fácil o FC Porto escorregar tantas vezes quantas são necessárias para chegarmos ao primeiro lugar e ao título." Um título, algo que continua a faltar numa carreira que teve início já lá vão nove anos. "É verdade que continua a faltar e só espero que surja o mais rapidamente possível. Mesmo assim, a despeito dessa mágoa de nunca ter conquistado o título, acho que tenho tido uma carreira positiva e da qual me posso orgulhar. É nestas alturas que me lembro, também, de todos os jogadores que foram meus companheiros, no Boavista e no Benfica." História de golos e de momentos felizes Nuno Gomes nem sequer hesita quando lhe pedimos para eleger, assim repentinamente, os melhores jogos de um percurso de sete anos no futebol português – esteve durante duas épocas na Fiorentina. "Não me esqueço de um jogo com o Varzim (4-0, a 21 de Dezembro de 1997), em que marquei quatro golos e de um outro, com Leça (7-1, a 17 de Maio de 1998) em que consegui marcar cinco. Recordo também a vitória em Alvalade, com o Sporting (4-1, a 21 de Fevereiro de 1998). Esse foram, para mim, os jogos que recordo com mais prazer." Mais difícil é recuar até ao primeiro encontro na I Divisão, apesar de se recordar do que sentiu. "Não me lembro muito bem desse jogo com o Estrela da Amadora; sei que joguei durante 90 minutos mas não me lembro de nada mais; mas sei que estava muito nervoso quando entrei em campo. O nervoso normal neste tipo de situações, quando temos apenas 17 anos e somos lançados para dentro do campo. Nesse aspecto os meus companheiros no Boavista, que recordo sempre com muita estima, foram excepcionais no apoio que me deram e na força que me tentaram incutir." Ao longo destes anos, Nuno Gomes ficou marcado por três pessoas a nível profissional. "O Manuel José foi o treinador que apostou em mim, que me lançou com apenas 17 anos. E isso não posso esquecer. Depois, o Manuel Damásio e o Toni, que me abriram as portas do Benfica, também com Manuel José como treinador." São boas as memórias de Nuno Gomes. Têm algo de positivo. Hoje, tantos depois de ser aquele menino que jogava à bola com o pai no Parque da Cidade, em Amarante, tantos anos depois de ter ganho a alcunha de "Gomes" por via dos muitos golos que marcava em torneios na sua cidade, Nuno Gomes chega, aos 26 anos, a um número bem redondo e que é motivo de orgulho para qualquer profissional. Se não fosse o futebol, seria, muito provavelmente, jornalista na área do desporto. Mas um dia, quando assumiu ser ponta-de-lança face à insistência de Manuel José, seu treinador no Boavista, terá começado uma nova etapa de uma carreira feliz.