Sábado, contra o Santos, o jovem guarda-redes do Benfica poderá, enfim, jogar pela primeira vez profissionalmente no país natal, onde foi pouco aproveitado nas camadas jovens do São Paulo
Idimar Zuchi Júnior está longe de ser um nome conhecido em Portugal, mas é uma personagem de grande relevância na carreira de Ederson. Juninho, como era chamado no meio do futebol, foi o responsável por encurtar a passagem do atual camisola 1 do Benfica pelas camadas jovens do São Paulo.
Antes de ser descoberto pelos encarnados, o guardião teve de lidar com ser a reserva de Juninho entre 2008 e 2009 (equipas sub-15 e sub-17, respetivamente). Sem espaço, Ederson, que na época carregava a alcunha "gordo", aceitou aventurar-se no futebol português e deixou o Brasil sem ter feito sequer um jogo como profissional. Uma barreira que enfim poderá ser quebrada neste sábado, no particular frente ao Santos, na Vila Belmiro, em homenagem ao antigo lateral Léo.
"Ederson pouco jogava, mas era muito bom guarda-redes. Quando ele saiu, aliás, pensei comigo: "Por que vão abrir mão de um guardião tão talentoso?" Às vezes, o futebol é ingrato mesmo, muitos bons jogadores não têm chance de aparecer. Fico feliz que ele tenha dado certo em Portugal", destaca Juninho a O JOGO.
"Ele certamente viverá uma mistura de sentimentos ao jogar no Brasil pela primeira vez. Um pouco de mágoa, já que não deu certo aqui, e vontade de mostrar o potencial que tem para aqueles que não acreditaram", completa o "carrasco" do agora guardião das águias.
Ederson foi-se embora, mas Juninho ficou. Permaneceu como destaque na baliza até aos sub-20, foi convocado para defender as seleções inferiores do Brasil, chegou a receber uma sondagem do Leverkusen e teve uma rápida passagem pela equipa principal do São Paulo, onde treinou ao lado do ídolo do clube Rogério Ceni. A dura transição para os profissionais, no entanto, foi o pontapé inicial para o precoce fim de carreira.
"Com Rogério como titular absoluto na equipa há anos [1992 a 2015], os jovens guarda-redes da casa completavam 19 ou 20 anos e logo eram dispensados. Explicaram-me que dificilmente teria chance de jogar e fui libertado", revela.
Juninho, entre 2011 e 2014, rodou por clubes de menor expressão no país: Avaí, Juventude, Grémio Maringá, Jaboticabal, Oeste e, por fim, Inter de Bebedouro, onde decidiu abandonar o futebol. Tinha 22 anos. Com mais um, Ederson contrasta: discute títulos em Portugal, atua na Liga dos Campeões e está na calha para a baliza da seleção do Brasil.
"Sofri com a rodagem, o salário era pequeno e houve vezes em que nem sequer me pagavam o ordenado. Não dava para tirar do próprio bolso para jogar. Foi então que percebi que era hora de fazer uma pausa, não quis destruir de vez tudo o que tinha conquistado", conta o ex-guardião.
A retirada das competições não tardou a trazer consequências psicológicas a quem, hoje com 24 anos, travou Ederson no São Paulo. "Foi a fase mais complicada da minha vida, fiquei muito mal e tive um princípio de depressão. Procurei um psicólogo e também me apoiei na força dos familiares para dar a volta por cima", explica.
"Felizmente estou melhor e já penso em voltar a jogar profissionalmente. Demorei um pouco para tomar esta decisão porque achava que ainda não estava bem comigo mesmo. Tenho feito alguns contactos, conversado com agentes, treinado... Quero um clube", reforça.
Enquanto busca nova oportunidade no mundo da bola, Juninho tem participado em jogos amadores e trabalhado com um primo numa oficina de carros em Taquaritinga, interior de São Paulo.
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