O novo paradigma do Benfica, na dívida e no campo

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Clube da Luz emite novo empréstimo obrigacionista para reestruturar dívida bancária e foca-se nos talentos da academia do Seixal.

 

O Benfica vai lançar na próxima segunda-feira um novo empréstimo obrigacionista de 45 milhões de euros, que poderá ir até aos 55 milhões. Esta emissão de obrigações não servirá para reforçar a equipa de futebol, mas sim para reestruturar uma parte da dívida bancária da sociedade anónima desportiva (SAD), nomeadamente o reembolso de uma parte dos empréstimos concedidos pelo Novo Banco.

 

A SAD “encarnada” pagará juros de 4,75% aos investidores (que podem subscrever as obrigações até 9 de Julho) e conta poupar “vários milhões” com esta operação, já que pelos actuais empréstimos concedidos pelo Novo Banco o clube está a pagar spreads de 5%, acrescidos da Euribor a um mês (num caso) e a três meses (noutro caso).

 

“As poupanças vão ser significativas, de vários milhões”, explicou uma fonte do conselho de administração, salientando que os encargos da SAD do Benfica com juros oscilam entre os 15 e os 20 milhões de euros anuais, numa altura em que as taxas médias de juro andavam perto dos 7%. O objectivo é aproximar essa média dos 3 a 4%.

 

O lançamento deste empréstimo obrigacionista surge após meses de “negociações duras” com o Novo Banco. “Temos trabalhado com o Novo Banco e há seis meses que temos construído soluções. Temos feito ajustes de taxas”, explicou a mesma fonte da SAD “encarnada”, argumentando que não houve qualquer perdão de dívida: “Queremos ser um parceiro credível”.

 

O facto de o Benfica lançar obrigações para reembolsar empréstimos bancários representa uma mudança. “Precisamos de diversificar as fontes de financiamento. Andámos muito tempo dependentes dos bancos”, explicou esta fonte do conselho de administração, sublinhando que em todos os empréstimos obrigacionistas a procura tem sido elevada.

 

O mesmo aconteceu com as SAD do FC Porto e do Sporting, que emitiram em Maio empréstimos obrigacionistas de 40 milhões e 30 milhões, respectivamente. Os portistas pagam uma taxa de juro de 5% e os “leões” de 6,5%.

 

O Benfica tem nesta altura 212 milhões de euros em empréstimos bancários, 45 milhões em empréstimos obrigacionistas e 50 milhões em emissões de papel comercial.

 

Nenhuma parcela deste empréstimo obrigacionista servirá para reforçar a equipa de futebol, nem a saída de Jorge Jesus para o Sporting alterou os planos feitos. “Não há nenhuma intenção ou necessidade de estar a dotar a sociedade com meios adicionais de investimento”, além dos que estão programados para este defeso, disse esta fonte do conselho de administração da SAD do Benfica, sublinhando que há uma “mudança de paradigma que tem a ver com o trabalho que foi feito em casa”: “Criámos uma academia que está a produzir os melhores talentos de Portugal. Isto significa que este talento vai emergir e temos de abrir espaço para ele. Até agora não houve espaço.”

 

“A fornada que aí vem é forte. Temos de ter condições para potenciar ao máximo estes miúdos”, acrescentou a mesma fonte. Luís Filipe Vieira, aliás, já tinha anunciado que cinco jovens da formação vão fazer parte do plantel principal. Um plantel que ainda está dependente das incertezas do mercado de transferências, até porque o modelo de negócio do Benfica assenta em ter as transferências de jogadores como uma receita recorrente – uma espécie de quarto elemento, além das tradicionais receitas de televisão, comerciais e de bilheteira.

 

Entre os rendimentos tradicionais, as receitas de TV são as mais significativas (atingiram os 25 milhões de euros no 3.º trimestre de 2014/15, representando 52% do total de receitas). A este propósito, o Benfica é defensor da venda centralizada de direitos televisivos, apesar de não ter a expectativa de, com esse modelo, “maximizar” as suas receitas. “Num modelo de centralização, os clubes grandes são os que mais perdem e os pequenos os que mais ganham”, disse a mesma fonte, salientando a “responsabilidade de os clubes grandes” ajudarem a que a indústria do futebol seja “sã” e “sustentável”.

 

 “Acreditamos que a centralização de direitos televisivos é o modelo mais adequado para um desenvolvimento sustentável e surpreende-nos que Portugal seja o último país da Europa civilizada em que a centralização não existe”, disse esta fonte do conselho de administração da SAD do Benfica.

 

“Os clubes devem poder discutir de forma aberta os modelos de centralização”, explicou, notando as dificuldades de os clubes se libertarem dos contratos com a Olivedesportos e PPTV, as empresas de Joaquim Oliveira que detêm a maioria esmagadora dos direitos televisivos dos clubes portugueses.