Parceria Adidas

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Paulo Santos não tem dúvidas. E a Adidas internacional também não. O Benfica está ao nível do Real Madrid, do Milan ou do Bayern em termos de aposta para a multinacional alemã. Um contrato sem igual para um clube mítico. E nos próximos 10 anos o céu é a meta. Porque o merchandising do clube da Luz vai ser gerido como o dos maiores. O Benfica faz parte do «top-5» da Adidas em termos mundiais. E é a marca germânica quem dita as regras. Acabou-se a brincadeira. A notícia caiu como uma bomba no futebol nacional. O Benfica assinou um contrato de 10 anos com a Adidas com receitas garantidas a rondar os 45 milhões de euros. A BOLA quis saber o porquê da marca alemã ter apostado tão forte num clube grande, é certo, mas que nada ganha há oito anos. A explicação é simples. Mesmo longe dos títulos o clube da Luz já era uma das grandes apostas da multinacional alemã. Hoje ainda mais, devido à envolvência da Adidas na gestão de tudo o que tem a ver com o merchandising, licensing e pontos de venda da marca Benfica. Fica a explicação de um novo modelo de negócio que promete fazer história. — Como surgiu a ideia do contrato de dez anos entre o Benfica e a Adidas? — A ideia original de potenciar a marca Benfica é, naturalmente, do Sport Lisboa e Benfica e fundamentalmente de Luís Filipe Vieira. Isto no sentido de entregar a exploração da marca Benfica aos especialistas. Com base neste conceito o Benfica desenvolveu um modelo de negócio que implicava a cedência, em termos de acções, de uma percentagem considerável de uma empresa que na altura ainda não existia e que hoje existe, que se chama Benfica Comercial. Esse modelo de negócio que nos foi apresentado, depois de analisado, demonstrou ser um modelo que não encaixava nos objectivos que nós tínhamos. Assim sendo entendemos propor ao Benfica um outro modelo de negócio, que basicamente passaria por uma cedência num prazo limitado no tempo, de todos os direitos de merchandising, licensing e da gestão dos pontos de venda do Benfica, tudo a ser realizado por nós. Foi este modelo que nós propusemos ao Benfica, foi este modelo que o Benfica aceitou e naturalmente depois de uma série de conversações e discussões construtivas, de ideias de ambas as partes, e aqui gostava de realçar a capacidade empresarial e o instinto negocial de Luís Filipe Vieira, chegámos então a um entendimento formal de como haveríamos de construir esta parceria estratégica. Isto, naturalmente, em consonância com a vertente normal e conhecida das marcas desportivas quando se associam a equipas de futebol. Ou seja, aquilo a que nós chamamos o patrocínio técnico. Nesta parceria estão consignadas estas duas vertentes, sendo que a vertente que mais chama a atenção é a tal vertente inovadora e inédita. — Porquê um contrato tão inovador e tão sem paralelo no mercado nacional e internacional? — Seguramente não existe paralelo no mercado nacional. E este contrato é inédito fundamentalmente pela sua duração e inovador porque tem um modelo de negócio e um conceito empresarial completamente diferente do que é habitual. Pergunta-me porquê? Nós entendemos que o futebol já não é somente um desporto, é uma indústria-espectáculo. Obviamente é um negócio, na vertente positiva da palavra, e nós entendemos que podemos, também nós Adidas, potenciar o nosso negócio e a nossa penetração no mercado com este modelo. Benfica como Real Madrid e Milan — A Adidas está intimamente ligada a clubes como Bayern, Real Madrid e Milan. O que significa o Benfica para a actual estrutura de negócio da marca? — Esta é a sexta temporada consecutiva que estamos com o Benfica. De há dois anos a esta parte que, por decisão da Adidas internacional, o Benfica faz parte do que nós em termos internos e corporativos chamamos de A symbol. Ou seja, um dos clubes prioritários para a Adidas, juntamente com os clubes que falamos anteriormente. Real Madrid, Milan, Bayern, River Plate, a selecção da Argentina, a selecção francesa, a selecção alemã e a selecção espanhola, todos eles são símbolos A. Este conceito já existia nos acordos anteriores, naturalmente devido a razões históricas, pois o Benfica é um clube mítico em todo o Mundo. Tem uma penetração mundial, não só pela sua história, mas também porque está muito associado aos portugueses, que estão espalhados pelos quatro cantos do Mundo. Por tudo isto, o Benfica é um clube de expressão mundial. Naturalmente, com este reforço contratual, mais dez temporadas desportivas e com uma envolvência que antes não acontecia, para a Adidas o Benfica se vai manter no top-5 dos clubes Adidas. — O que é que se pode saber concretamente deste contrato? Quais são as áreas de que o Benfica abdicou da gestão? Quais são, no fundo, as áreas de negócio que passam definitivamente para as mãos da Adidas? — O que lhe poderei dizer é que na vertente patrocínio técnico continuaremos, como até aqui, a patrocinar todas as modalidades e todas as categorias do clube. Neste momento falamos de 15 modalidades. Nesta nova vertente, no novo modelo de negócio nós passaremos a ter uma gestão directa e activa nos actuais e futuros pontos de venda do Benfica. Em termos de marca Benfica, leia-se merchandising e licensing, iremos deter direitos exclusivos sobre qualquer tipo de produto que encaixe no universo de produtos Adidas, embora exista também uma obrigação de qualquer produto que tenha a marca Benfica, independentemente de ser ou não pertencente ao universo Adidas, passe por uma análise conjunta Benfica-Adidas, no sentido de se licenciar produtos que sejam, de facto, mais valias para a marca Benfica. Trata-se de uma marca com muito potencial, diria mesmo que a marca mais forte do nosso mercado, e por isso tem de ter alguns privilégios e tem de ser protegida. Vertente financeira... e não só — E em termos de números, podemos falar de coisas concretas, ou confirma apenas que o que se falou na Comunicação Social ronda a verdade? — Sobre essa matéria é verdade que os meios de Comunicação Social falaram em diferentes verbas e com limites inferiores e superiores bastante afastados, mas é verdade que se andou muito próximo dos valores reais. Mas como dissemos na conferência de Imprensa, quer por uma questão contratual que está prevista, quer por uma questão de acordo de cavalheiros que existe entre nós e o Benfica, nós não iremos revelar concretamente esses valores. É um contrato pesado, importante, e que seguramente coloca o Benfica ao nível dos grandes clubes europeus em termos de contrapartidas financeiras. Embora nós entendamos que para o Benfica a vertente financeira não seja a única, ou não seja a mais importante, a extrair deste negócio. Para o Benfica é importante ter especialistas neste mercado, até em sinergias com cruzadas com outras empresas do universo Benfica ou mesmo com o próprio clube. Tudo isto pode ajudar o Benfica a seguir o caminho do futuro, que no fundo passa a ser o presente, pois hoje em dia os ciclos são muito curtos e muito rápidos. — Não se fala então apenas de cifrões. Considera que com este contrato o Benfica pode emergir para uma imagem tão moderna e apetecível como clubes universais, à imagem do Real Madrid e do Milan? — Seguramente, seguramente. Aliás, eu penso que o Benfica poderá com esta parceria com a Adidas tornar-se, mais uma vez, num clube único em Portugal. Afinal, será o primeiro clube português a ter uma filosofia de gestão, de comunicação, de imagem europeia. E falamos de uma política ao nível de clubes como Bayern e Real Madrid. — Voltando aos cifrões. Este será um contrato paralelo em termos de duração. Mas e em termos financeiros, há algum clube português com um contrato que se aproxime destes números? — Seguramente que não. — Este contrato deve, certamente, ter originado a reacção de alguns clubes portugueses... — O Benfica é, neste momento, o único clube português a que estamos associados. Mas eu diria que, pessoalmente, estou convencido que terá havido algum eco, ou alguma reacção noutros clubes. Quando mais não seja pelo impacto noticioso que teve, por toda a cobertura mediática que na passada semana foi dada a este assunto. — Há a hipótese de a Adidas se associar a algum outro clube português pensando num contrato deste estilo, ou o Benfica é o único clube português com quem interessa estabelecer este modelo de negócio? — Nunca digas desta água não beberei. Mas naturalmente que, por uma análise de marcado, o Benfica é o clube que tem a maior massa associativa, portanto tem a maior base de consumidores, sendo por isso um clube ímpar. O que não invalida que da parte da Adidas não exista algum outro tipo de parceria a realizar. Se me é permitido fazer um outro tipo de paralelismo, nós há três anos que temos contrato com o João Vieira Pinto e dois anos depois, mantendo o João, fizemos contrato com o Rui Costa. Uma coisa não invalida a outra. — A imagem dos jogadores do Benfica está à disposição da Adidas para todas as iniciativas empresariais que a marca decidir empreender? Passa também a Adidas a gerir a imagem dos jogadores... — Perfeitamente. Não em termos de exclusividade, mas naturalmente que a Adidas tem essa contrapartida. O poder utilizar toda e qualquer imagem associada ao Sport Lisboa e Benfica. De onde se retira que a imagem dos jogadores, treinadores, órgãos sociais poderá ser utilizada. Obviamente tudo isto depois de se apresentadas as razões, de se apresentar um plano estratégico, e claro sempre tudo realizado com o Benfica. Porque esse é o nosso conceito de parceria. Ambas as partes têm de ter conhecimento do passo a dar, do porquê e do quando. Só assim para nós faz sentido uma parceria. Um risco calculado — Há oito anos que o Benfica está sem ganhar. Qual é o impacto desportivo do Benfica no grande negócio que é este contrato? — Com os dados de mercado que nós possuímos, hoje o Benfica vende mais que todos os outros clubes portugueses juntos. Imagine o que acontecerá quando o Benfica ganhar. — Mas terá algum papel a desempenhar na política desportiva? — Mais uma vez nunca digas desta água não beberei. Mas atenção. Neste momento a nossa parceria com o Benfica é aquela que foi apresentada na conferência de Imprensa. É uma relação transparente, a Adidas é uma empresa que está cotada em Bolsa, no Dax em Frankfurt, portanto qualquer transacção é uma transacção auditada, e assim neste momento o que existe é esta parceria. O que já nos dará muito trabalho e terá de implicar toda a dedicação de toda a gente que está liga a este processo. — Mas os valores que se falaram estão também relacionados com o sucesso desportivo do Benfica no futuro... — Naturalmente que há aqui uma questão, e não vale a pena escondê-la, que passa pelo risco. Este é um mercado de risco, trata-se de uma matéria aleatória. É evidente que eu como adepto se for a um estádio e a minha equipa jogar bem e ganhar, eu tenho uma motivação superior para quando sair do estádio ir comprar uma camisola. Se a minha equipa em vez de jogar bem e ganhar, jogar mal e perder, provavelmente quando saio do estádio não me sinto tão motivado. Daí que acabe por existir uma relação directa dos resultados desportivos com os resultados financeiros. É uma matéria aleatória, a tal bola que entra ou a tal bola que bate na trave, agora o que nós Adidas podemos garantir, quer aos adeptos do Benfica quer aos consumidores em geral, é que tudo iremos fazer, tudo iremos planear para minimizar-mos esse risco. Se me pergunta se o Benfica ganhar a Champions League, se existe algum tipo de retorno financeiro, naturalmente que essa é uma matéria que está equacionada. Todos nós no nosso emprego acabamos por ter prémios de produtividade e de resultados, por isso obviamente esta é uma matéria que está prevista. Também porque todos desejamos o melhor para o futuro do Benfica