Petit: «Está na altura de voltarmos às competições europeias»

Fonte
www.record.pt
– Qual foi a sensação de entrar no Estádio do Bessa com a camisola de um clube que não o Boavista? – É sempre agradável regressar a uma casa onde cresci como jogador. Não correu da melhor maneira ao Benfica, mas foi especial, naturalmente, porque tive a ocasião de voltar a um local onde deixei muitos amigos e isso significa muito para mim. Foi a primeira vez que defrontei o Boavista na minha carreira. Passei grande parte da minha vida desportiva no Boavista, à excepção dos cinco anos em que estive a rodar. Agora regressei com uma camisola diferente, ao serviço de um grande clube como é o Benfica. Foi um bocadinho estranho para mim, mas como sou um profissional, tive de defender a minha equipa e não pensar em mais nada. – Teve a oportunidade de rever muitos amigos que lá deixou? – Não tive grande contacto com os adeptos do Boavista, que me habituei a conhecer ao longo dos anos, mas encontrei algumas pessoas do clube e antigos colegas, e aconteceram as brincadeiras normais nestas ocasiões. Quando entrei em campo, o Boavista era apenas mais um adversário do Benfica. Nada mais. – Foi o tipo de jogo que esperava? – Era mais ou menos o que estava à espera. Não fizemos um grande jogo, e já sabíamos que seria um encontro de muita luta. Esperávamos um Boavista igual àquele que defrontou o Paris Saint-Germain e foi esse que encontrámos. O nosso treinador já nos tinha avisado. Não foi agradável, porque teve muitas faltas e muitas interrupções, e não conseguimos impor o nosso futebol, devido à forma de jogar do Boavista. Não conseguimos fazer tudo o que sabemos, que é jogar bem e criar oportunidades de golo. Vínhamos de três vitórias, mas sabíamos que não seria nada fácil jogar no Bessa, mesmo com as coisas a correrem menos bem ao Boavista e não estando bem classificado. No entanto, nota-se que está a melhorar e certamente conseguirá os seus objectivos. – Que análise faz às primeiras semanas de trabalho do novo treinador? – Está a impor um futebol muito bonito, com métodos de trabalho diferentes daqueles a que estávamos habituados. Os jogadores têm vindo a assimilar bem e estão a aprender de dia para dia, para que as coisas possam sair da melhor maneira no futuro, como todos queremos. – São muito diferentes os métodos de trabalho de Camacho do que aqueles a que estava habituado? – Fundamentalmente, os métodos de trabalho são muito modernos, com treinos bastante inovadores, que têm deixado os jogadores contentes e motivados. Ele veio encontrar um grupo que o recebeu muito bem, e acho que ajudou muito ter um balneário unido. Se a isto juntarmos o facto de ter muita experiência e um currículo invejável, uma vez que já trabalhou com grandes jogadores, em grandes equipas e selecções, acho que estão criadas as condições para ter sucesso no Benfica. – O que é que mudou no Benfica com Camacho? – Acima de tudo, sinto que estamos preparados para jogar aos domingos e às quartas-feiras. Os grandes jogadores fazem dois a três jogos por semana, se for necessário. Por isso, nós temos obrigação de estar sempre a um bom nível, como acho que começa a acontecer. Como temos apenas um jogo por semana, temos mais tempo para pensar no adversário e elaborar o plano para colocar em prática nos jogos do fim-de-semana. Seria muito bom jogar na Liga dos Campeões à quarta-feira e depois no campeonato ao domingo. Infelizmente não é ainda possível. Como a única prova em que estamos é o campeonato, é para esse que temos de nos virar, e não pensar em mais nada. – Acha que esta paragem competitiva será benéfica para o Benfica? – Tenho a certeza que sim. O novo treinador chegou há apenas três semanas e vai agora ter mais alguns dias para nos conhecer melhor e nós a ele, sem que haja jogos pelo meio. Tenho a certeza que vamos entrar muito fortes no novo ano. Queremos entrar em 2003 com o pé direito para começar desde logo a conquistar vitórias. – E quanto ao título, acha que ainda é possível? – Não está fácil. Sabemos que está complicado chegar ao FC Porto. Estamos em segundo lugar e temos de o manter, ficando depois à espera que o FC Porto escorregue. E mesmo que isso aconteça, será complicado, porque a diferença pontual é acentuada. – Significa isso que o Benfica desistiu de lutar pelo título? – Não, pelo contrário. Temos de continuar a acreditar que é possível chegar ao primeiro lugar. Só que, para isso, não dependemos apenas de nós. Temos de continuar a ganhar os nossos jogos e esperar que o FC Porto perca alguns pontos. Temos perfeita consciência disso. Neste momento, acho que é fundamental segurar o segundo lugar e controlar os que estão classificados atrás de nós. E depois olhar para cima. – Independentemente da luta pelo título, acha que o Benfica está no bom caminho, em termos globais, e não estamos a falar apenas no aspecto competitivo? – O que eu acho é que estão reunidas todas as condições para o Benfica voltar a ser o que era. É um clube muito grande, que precisa de estar no lugar em que já esteve e que bem merece. Tem um grande plantel, embora faltem alguns jogadores, como já disse o nosso treinador e, se os que estão agora no clube ficarem no próximo ano, como aconteceu da época passada para esta, então, teremos certamente um Benfica ainda mais forte. Neste momento estão reunidas todas as condições, quer no balneário quer na Direcção, quer ao nível da equipa técnica, para que consigamos realizar um bom final de época. Temos vencido e estou certo de que é esse o caminho. – A Liga dos Campeões é um objectivo que está no vosso horizonte? – Claro que sim. Participar na Liga dos Campeões seria o melhor que nos poderia acontecer neste momento. São os melhores palcos da Europa, nos quais qualquer jogador gosta de entrar. O Benfica já perdeu muito tempo fora das competições europeias. Agora precisa de voltar a ser o que era há uns anos. Temos agora uma excelente oportunidade de participar na Liga dos Campeões e obviamente tudo vamos fazer para aproveitá-la. – Diz-se que o meio-campo é o sector mais forte do Benfica. Concorda? – Gosto mais de dizer que o Benfica é um conjunto muito forte. Agora, o meio-campo é o coração de uma equipa. No nosso caso, trata-se de um misto de experiência e de juventude. Alguns dos melhores médios portugueses começam agora a aparecer, como são os casos do Ednilson ou do Tiago; estou certo de que vão mostrar ainda mais toda a sua classe, como têm vindo a fazer até aqui. Depois há também o Peixe, o Andersson e o Andrade, que já mostraram o seu valor no futebol português. Todos os dias aprendemos mais por termos bons jogadores, que cumprem o que lhes é pedido e assimilam as ideias do treinador com uma grande facilidade. "Aos poucos a forma está a regressar" A lesão sofrida no maxilar foi o ponto mais negativo na aventura benfiquista de Petit. Apesar dos sacrifícios, começou a recuperar a forma, até apanhar um novo susto, uma lesão muscular que o colocou em dúvida para o jogo do último fim-de-semana, frente ao Boavista: “Aos poucos a minha melhor forma física está a regressar. Quando estava agora a melhorar, voltou a aparecer uma lesão muscular e tive de jogar em sacrifício com o Boavista. Não é nada de preocupante. Tenho agora alguns dias para recuperar. Vou descansar para regressar bem quando voltarem os jogos no início do novo ano. O importante é que as lesões não voltem. Se o conseguir, posso voltar ao nível a que habituei os portugueses a ver-me”. "Scolari vai exigir respeito e disciplina" Participou na campanha portuguesa e depois na fase final do Campeonato do Mundo, disputado na Coreia e no Japão. Agora, pronto para continuar ao serviço da Selecção Nacional, Petit vê com bons olhos a contratação do treinador Luiz Felipe Scolari: “É um treinador com grande prestígio a nível internacional. É exigente e com métodos de trabalho muito próprios. Temos de pensar que ele vai exigir respeito e muita disciplina, para que a selecção nacional possa chegar a 2004 e participar na competição para ir o mais longe possível”. O desafio é grande, mas o médio diz que as condições são as melhores: “Sabemos que é um treinador muito conceituado e vem para ajudar a nossa selecção. Para além disso, vamos jogar em casa e teremos o nosso público do lado da selecção. Com um seleccionador como este, habituado a ganhar, os jogadores terão de dar tudo para conseguir vitórias. Como não temos de disputar jogos de apuramento, há tempo para conhecer as novas ideias do novo seleccionador e também para ele conhecer as nossas características e a nossa forma de jogar. "Clube primeiro mas a selecção é um objectivo" Jogando regularmente com a camisola do Benfica, Petit sabe que reúne boas condições para continuar a representar a Selecção Nacional. Depois de dizer que está mais preocupado com a vida do clube, explica que participar em competições ao serviço do país é igualmente uma meta: “É sempre um objectivo a atingir por todos os jogadores. Fiz parte dos planos na campanha de apuramento para o mundial e, depois, durante a prova. Agora tenho por objectivo continuar a ser chamado. No entanto, sei que há cada vez mais jogadores com valor para o meu lugar e, por isso, será cada vez mais difícil. Não vou deixar de trabalhar nos limites ao serviço do meu clube, porque isso está em primeiro lugar, mas a selecçáo nacional também é um dos meus objectivos. Tenho de continuar a trabalhar bem como até aqui para merecer a confiança”.