Fonte
A Bola
título desta Análise reproduz o título de um artigo de Miguel Sousa Tavares, há mais ou menos 9 meses, a 19 de Outubro de 2002.
Miguel Sousa Tavares escrevia, nesse mesmo espaço, que a Câmara Municipal do Porto autorizara o Futebol Clube do Porto a exercer um direito constitucionalmente garantido: «O de construir em terrenos que lhe pertencem e sem um tostão de dinheiros públicos!...»
Um semana antes, a 12 de Outubro, perguntava, a terminar o seu texto, o seguinte: «Será que Porto e Lisboa não fazem parte do mesmo país? Será que há uma opinião válida a norte e outra a sul do meridiano de Rio Maior?
Sei que o assunto é chato e constrangedor e a insistência ainda é pior. Sei que todos, mesmo os bem intencionados, já interiorizaram a inevitabilidade desse disparate do Euro-2004 e das suas consequências para o País. Mas também acho que não há nada pior que a falta de memória como estratégia e o título de cidadania para enfrentar as questões desagradáveis.»
Por isso mesmo, como estou de acordo com Miguel Sousa Tavares sobre a falta de memória, aqui venho lembrar com simpatia, e com a tal consideração com que ele sempre me trata no que diz e no que escreve, aqueles que foram os seus textos sobre esta matéria.
Como é sabido foi publicado há dias um relatório da Inspecção Geral de Finanças afirmando que em apoios públicos ao Futebol Clube do Porto, a propósito do Plano de Pormenor das Antas, ou ao novo estádio do Futebol Clube do Porto, foram concedidos 10 milhões de contos, ou seja 50 milhões de euros. Ora, ninguém deve ter dúvidas, daqueles que conhecem os escritos de Miguel Sousa Tavares, que ele entende que se deve respeitar uma entidade como a Inspecção Geral de Finanças e que as pessoas devem acatar com a devida consideração os trabalhos que desenvolvem estas entidades inspectivas. Mas a verdade é que a Inspecção Geral de Finanças veio dizer isto, e Miguel Sousa Tavares sempre escreveu e sempre disse que nada havia de apoios financeiros públicos da parte dos recursos pagos com os impostos de todos nós. Chegou a dizer, a propósito dos acordos feitos pela Câmara de Lisboa com o Benfica e com o Sporting, que dar a área de construção ou dar um terreno para uma bomba de gasolina era também apoiar. Isto quando eu respondia que a Câmara não tinha dado apoios em dinheiro.
Por isso mesmo, agora que o relatório da Inspecção Geral de Finanças diz que a autarquia «não reunia as condições mínimas para avançar» com o processo de reparcelamento; agora que o relatório diz que sem plano aprovado que permitisse uma acção de expropriação dos terrenos, «a Câmara, para viabilizar a execução atempada do plano em tudo o que estava relacionado com o funcionamento do novo estádio a tempo do Euro-2004, dispunha de uma margem de manobra negocial praticamente nula, contrariamente aos proprietários que, tendo consciência dessa dependência, puderam impor acordos em condições desfavoráveis ao Município», o que diz Miguel Sousa Tavares?
Para além da divulgação deste relatório da Inspecção Geral de Finanças soube-se agora que também o centro de estágio do Futebol Clube do Porto terá sido pago pela Câmara Municipal de Gaia, com um montante na ordem dos 15 milhões de euros, ou seja, três milhões de contos. O que dirá Miguel Sousa Tavares a isto?
É que, ao que se sabe, os centros de estágio do Sporting e do Benfica — que ainda não está construído — não tiveram comparticipação de nenhum município.
Portanto, ao todo, para o Futebol Clube do Porto são 13 milhões de contos num ano ou dois.
E aponto isto com alguma simpatia e sem querer forçar polémicas com Miguel Sousa Tavares. Mas perante tudo o que ele escreveu, tudo o que ele tem dito e diz dos outros, todo aquele estilo desagradável que ele usa na maneira como fala, é só para recordar...
Sem usar qualificativos, sem desenvolver juízos, só perguntar em termos de coerência, que é que se oferece dizer?
E aquela história do terreno que foi parar por engano no lote cedido pela autarquia ao Futebol Clube do Porto? Por engano, repito, um terreno com uns bons metros quadrados de área de construção...
Se fosse em Lisboa!...
Foi Miguel Sousa Tavares quem perguntou, como disse, a 12 de Outubro de 2002: será que Porto e Lisboa não fazem parte do mesmo país? Será que há uma opinião válida a norte e outra a sul do meridiano de Rio Maior?
P.Santana Lopes em A Bola