Fonte
www.abola.pt
Quero ser dos melhores treinadores do mundo
Aos 26 anos Nuno Sabido percebeu que já não conseguiria ser um Miguel Indurain português e resolveu terminar a carreira de ciclista para se dedicar aos estudos. O objectivo era o de desenvolver conhecimentos teóricos e científicos que pudessem torná-lo num dos melhores técnicos do Mundo. Seis anos depois enfrenta o desafio de liderar a nova equipa do Benfica, muito provavelmente recheada de estrelas. Nuno aceita o desafio com um sorriso, consciente de que vai ser alvo de muitas críticas, invejas e mesquinhices. Só que o «José Mourinho do ciclismo» diz-se pronto para tudo. E ele é o primeiro a pedir para que a fasquia seja colocada bem alta.
– Como e quando foi abordado para fazer parte do projecto do Benfica?
– Logo desde que o Natalino [Natalino Lopes, responsável pelo projecto da nova equipa do Benfica] entrou nisto, não sei bem precisar a data, mas terá sido lá por Março.
– E de onde é que conhecia Natalino Lopes?
– A nossa relação nasceu de uma forma muito especial. A princípio eu e o meu irmão eramos clientes da loja dele, de bicicletas. E quando o Hugo era júnior, um dia, o Natalino ofereceu-lhe uma bicicleta como forma de patrocínio. Depois foi-lhe fornecendo material variado, de calçado, roupa, enfim, o que quer que precisassemos. Só que entretanto o Hugo começou a ser financiado por outras marcas e teve de abdicar das coisas do Natalino mas a nossa relação manteve-se sempre sólida, apesar de falarmos menos
– Como reagiu quando lhe foi feita a proposta para treinar o Benfica?
– Muito bem. Desde que deixei de correr que tenho um objectivo na vida, algo que digo várias vezes a mim mesmo: quero ser dos melhores treinadores do Mundo. A minha ideia é procurar sempre a perfeição. E vou continuar sempre a lutar por isso. E este projecto do Benfica pode ser, para mim, o local onde é possível concretizar essas ideias. Também por isso sinto-me muito orgulhoso de ter sido escolhido, entre tantos directores desportivos, para comandar esta formação.
— Aceita que o acusem de não ter experiência para um projecto desta dimensão?
— Aceito perfeitamente. Há muitos anos que participo como observador nas várias provas do calendário nacional, contudo não tenho tido um papel principal. Faço apenas um trabalho de rectaguarda com alguns ciclistas que, depois, trabalham com os seus directores desportivos .O sucesso deles acaba por ter um cunho meu. Mas aceito que haja pessoas ligadas à modalidade que não me conhecem. Não sou de me colocar à frente das câmaras ou de andar a rodear os carros das equipas para me mostrar. Acredito que muita gente não saiba qual é o meu real valor.
— Tem consciência de que este cargo pode gerar muitas invejas.
— Claro que sim. Da mesma forma que eu quando não era director desportivo ambicionava trabalhar em alguns projectos, vejo com naturalidade que alguns técnicos invejem a minha posição.
— Está pronto para trabalhar com essa pressão?
— Gosto muito de trabalhar quando a pressão é maior. Se for por aí que outros técnicos me querem derrotar, então só vou sair a ganhar.
— Não tem medo do fantasma do passado recente, nebuloso, do ciclismo do Benfica?
— Medo nenhum. Os nomes Natalino Lopes e Nuno Sabido são credíveis. Por outro lado, ao contrário da outra equipa, este projecto tem autonomia do Benfica clube. Da instituição apenas retiramos o nome.
— Sente que há gente que não quer que o Benfica avance?
— Claro que há. Isso é algo que faz parte da cultura dos portugueses. Vai nascer uma coisa grandiosa de que muita gente gostaria de ter feito parte. Como não fizeram, agora torcem e conspiram para que as coisas não resultem. Isso é normal por cá.