«Tudo deve girar em torno do colectivo» Roger

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www.slbenfica.pt
Após um ano de ausência, que diz tê-lo amadurecido como homem e como jogador, Roger reencontrou um Benfica mais forte e ambicioso, que o acolheu de braços abertos para contar com seu talento no encalço do êxito. Descontraído, alegre e imbuído de um forte querer, ele aí está para nos falar de si e do seu Clube . "União", "vontade" e "confiança" são lemas do seu discurso. P. Têm sido notadas, positivamente, algumas diferenças entre o Roger que deixou o Clube em 2001 e o número 8 que agora temos. Fala-se de um Roger renovado... R. «Todos aprendemos muitas coisas com os erros e com o passar do tempo. Uma pessoa que não sabe reconhecer as suas falhas ou que não tem vontade de aprender não pode fazer progressos. Para se crescer, humana e profissionalmente, há que tentar mudar o que não está bem. Eu estou um ano mais velho e mais maduro, porque aprendi com os erros que cometi. Acima de tudo, tenho muita vontade de trabalhar». P. Tem consciência de que o talento que possui faz de si um jogador diferente? R. «Tenho consciência disso, mas tenho, igualmente, consciência de que esse facto depende directamente do trabalho que se desenvolve. Não adianta eu pensar que tenho talento para decidir uma ou outra partida. Tenho é de estar bem preparado, fisica e mentalmente, para que as minhas qualidades possam sobressair. Tenho de lutar para estar bem, porque o sucesso não cai do céu». P. A primeira época que cumpre ao serviço do Benfica fica marcada pela dificuldade em impor-se no conjunto de Toni. É um jogador de recurso, tendo cumprido apenas 2 jogos completos, num total de 18 em que toma parte. Sentiu, de algum modo, defraudadas as expectativas que trazia? R. «Não foi bem isso. Acredito que a falta de entusiasmo então existente no seio do grupo - eu incluído - determinou o insucesso. Quando cheguei, encontrei um grupo totalmente heterogéneo. Havia falta de união e de força para trabalhar em grupo. Mas isso é passado. As coisas mudaram. Reforço: temos de crescer e saber aprender com os erros. Pela minha parte, posso garantir que o que então sucedeu não voltará a repetir-se. Até porque o panorama é outro: o grupo actual é totalmente diferente e busca um objectivo comum, alicerçado num forte espírito de união. Isso é fundamental!». P. Regressar ao Benfica após um ano de ausência. Como foi? R. «Encontrei um grupo melhor e a forma como fui acolhido agradou-me bastante. É muito importante sentir que as pessoas nos tratam bem. Tudo isto faz com que o trabalho dê frutos. Desejo que este panorama se estenda até ao final da temporada. O campeonato é longo e é natural que surjam períodos menos bons. Mas o importante é permanecermos todos unidos na hora em que as coisas possam correr menos bem. Se o grupo conseguir manter este pensamento, aumentam as hipóteses de sucesso!». P. O retorno ao Brasil ajudou-o a restabelecer a confiança que chegou a parecer perdida... R. «É verdade. Foi muito importante para mim esse período, na medida em que me permitiu reconquistar a autoconfiança que tinha perdido aqui. No momento do regresso ao Brasil, vi-me perdido em reflexões: será que não consigo? Será que perdi as qualidades que tinha? Será que perdi o poder de jogar futebol do jeito que sabia? A permanência no Brasil durante algum tempo foi, de facto, importante para recuperar a confiança e poder voltar com ânimo para o Benfica». P. O Benfica tem um plantel recheado de excelentes jogadores. Como se vê no meio desta "crise" de abundância? R. «Não penso que seja um problema. É, isso sim, uma solução. Quando se tem grandes jogadores dentro de um plantel, significa que existem muitas soluções para contornar os obstáculos que surgem durante a competição. É lógico que não facilita a tarefa do treinador na altura de escolher o "onze", mas, se for necessário, ele tem opções válidas para mudar o estilo da equipa no decorrer da época». P. Dois jogos, duas vitórias, cinco golos marcados, nenhum sofrido. O Benfica iniciou, sem dúvida, da melhor forma a sua participação na SuperLiga. Como está a viver este momento? R. «Estou muito feliz. É sempre bom começar da melhor forma, principalmente numa prova de pontos corridos. Liderar e deixar uma boa impressão desde cedo é mostrar aos adversários que estamos fortes e que não somos mais aquela equipa que se deixava surpreender com facilidade no Estádio da Luz. Temos de fazer tudo para manter esta força e assegurar cada vez mais uma posição favorável. Não podemos perder pontos prematura nem inesperadamente para querermos recuperá-los depois. Mas também não podemos esperar concluir o campeonato sem derrotas ou empates. O importante é tudo fazermos para ajudar o Benfica». P. No seu primeiro ano de Benfica, marcou apenas dois golos. Este ano, em 8 jogos apenas (oficiais e particulares) já contabiliza cinco. Não sendo um avançado de raiz, os números são optimistas... R. «É, mas num dos jogos alinhei na posição de avançado e noutro a médio centro... É verdade que os números são bons. Mas não dou especial valor a esse facto. Volto a frisar que o mais importante são os resultados da equipa». P. Sente-se que existe um balneário forte... R. «É verdade. Todo o mundo se respeita e todo o mundo busca o mesmo objectivo. Dentro e fora do campo a união existe. Isto faz de nós um grupo forte. É importante que este espírito prevaleça, nas horas boas e nas ruins». P. Jesualdo Ferreira já afirmou publicamente que os interesses do colectivo estarão sempre acima dos interesses individuais. Comentário. R. «Apoio. O Benfica tem futebolistas de grande talento e somos nós, jogadores, que devemos começar por colocar esse talento em prol do grupo e de um trabalho que se quer de longo prazo. Não podemos, individualmente, ter a vaidade de decidir um jogo para aparecermos nas capas dos jornais. Tudo deve girar em torno dos interesses do colectivo. Não adianta ter-se onze excelentes jogadores se o pensamento de cada um não se dilui num pensamento só. No Benfica, temos de ter consciência de que somos um grupo bom mas que as qualidades individuais devem sempre manifestar-se em benefício da equipa». P. Como comenta uma questão exaustivamente tratada na comunicação social: a coabitação com Zahovic? R. «O Zahovic é um grande jogador. Podemos ambos jogar juntos, como de facto tem vindo a acontecer. É lógico que tenho jogado fora da minha posição natural - isso todo o mundo sabe - mas não adianta ter grandes jogadores se estes não aceitam modelar-se em função dos interesses do grupo. Jesualdo pediu-me para ocupar outra posição - uma posição nova para mim - mas eu tenho tido a preocupação e a vontade de colocar os interesses da equipa acima dos meus. Fiz cinco golos nos dois jogos em que alinhei na minha posição. Mas, neste momento, o treinador acha que é na direita que eu devo ajudar a equipa e isso é o que vale! O mais importante para mim é o Benfica ganhar, mostrar um bom futebol e, é claro, sempre que possível, com a minha contribuição». P. Uma estrutura estável. Uma equipa forte. Uma boa dose de confiança. É este o panorama que parece ganhar consistência no Benfica actual. Sente isso? R. «Sinto. o grupo é estável, a confiança existe, o pensamento é positivo mas, volto a dizer, é natural que venha a haver um período menos bom, com uma ou outra derrota... É nessa altura que o pensamento positivo deve permanecer, de forma a que o grupo não se deixe abalar ou dividir». P. Benfica: um clube de reconhecido prestígio internacional, há dois anos consecutivos ausente das provas europeias. À luz das suas ambições, que avaliação faz desta realidade? R. «É, de facto, um fenómeno inédito para o Benfica. Mas tem uma explicação: hoje o futebol está muito nivelado e as equipas outrora pequenas surpreendem cada vez mais. O Benfica tem de se preparar, com muita humildade, para fazer face a esta realidade. Temos grandes jogadores e, com humildade, aí sim, a mais valia técnica acaba sempre por sobrepor-se. Todos nós devemos esforçar-nos por dar o máximo, nos treinos e em competição. Cumprindo este preceito, acredito que, com a equipa que temos, estão reunidas as condições para alcançarmos o título nacional e devolvermos o Benfica à Liga dos Campeões». P. A sua visão do futebol português? R. «O futebol português está ainda um nível abaixo do praticado nalguns países. Por exemplo, no futebol espanhol é fácil ver jogar bonito, assistir a um futebol ofensivo. Aqui, se presenciarmos um jogo entre duas equipas que lutam pelo título - dou o exemplo do último Boavista-Porto - deparamo-nos com mais de cem faltas, o espectáculo é substituído por um jogo truncado, com muita pancada... Acho que o futebol português vive ainda muito à base da marcação e da correria. Se se preocupassem um pouco mais em jogar, em "botar" a bola no chão e em contratar jogadores de melhor qualidade, o futebol português poderia evoluir muito». P. Como viveu o êxito do Brasil no Campeonato do Mundo? R. «Fiquei muito feliz, principalmente porque se tratou de um grupo que saiu desacreditado do Brasil, com um treinador que não tinha apoio moral. Mas a união fez a força, com jogadores de alta categoria a trabalharem em função de um objectivo comum. Quando isto acontece na selecção brasileira, não há quem a possa travar, é quase imbatível». P. Regressar à selecção do seu país: uma meta realista? R. «Sim, embora isso só possa vir a ser possível mediante um trabalho bem feito aqui no Clube. É nesse sentido que vou trabalhar. Gostaria de ter uma nova chance».