Fonte
A Bola
Vilarinho admite o fim
As «várias interferências» de terceiros e as «muitas barreiras» erguidas por membros da Direcção do Benfica levaram a que o vice-presidente José Santos abandonasse o pelouro das modalidades, ontem, ao final da tarde. A pasta passa, assim, para as mãos do presidente Manuel Vilarinho, que admitiu já suspender o basquetebol e o hóquei em patins, «se as condições económicas e financeiras do clube assim o exigirem», como explicou, ontem, depois da reunião de Direcção. «Não vejo outra alternativa porque não sou mágico», insistiu Vilarinho, referindo-se à falta de dinheiro para sustentar estas modalidades. Mas o cenário é verdadeiramente negro e a crise pode mesmo chegar ao voleibol e andebol, desportos com uma despesa mínima mas que mesmo assim voltam a estar em causa.
O facto de não querer ficar ligado à extinção de modalidades emblemáticas do Benfica, como o hóquei em patins ou o basquetebol, pode ter sido decisivo para que o vice-presidente José Santos renunciasse, ontem, ao pelouro das modalidades desportivas. A pasta fica agora nas mãos do presidente Manuel Vilarinho, que ontem admitiu já a suspensão do basquetebol e do hóquei em patins, actividades que dependem financeiramente do clube e que apresentam orçamentos tidos como incomportáveis.
A agitação chegou à Luz logo pela tarde. Manuel Vilarinho reuniu-se com José Santos e com Augusto Carones, director da secção de hóquei em patins. Durante duas horas e meia foi passada a pente fino a situação da modalidade nos últimos dois/três anos e chegou-se à conclusão previ- sível: ou o hóquei em patins garantia forma de ser auto-suficiente ou seria extinto. Vilarinho ainda se mostrou sensibilizado para o peso que a modalidade tem no clube mas advertiu, desde logo, que seria impossível para o Benfica continuar a financiar a modalidade, abrindo as portas à extinção, nunca a breve trecho, mas no final da temporada. Esta posição por parte do presidente deixou Augusto Carones apreensivo. «O panorama é negro. O presidente garantiu que tudo fará para não deixar morrer algumas modalidades mas face ao actual momento do Benfica tudo pode acontecer. É claro que um ou mais patrocínios salvariam a situação do hóquei em patins mas a economia em Portugal atravessa um mau momento e as empresas estão cada vez menos dispostas a investir num clube».
Horas mais tarde, Vilarinho voltou a encontrar José Santos, na reunião de Direcção do clube, e viu confirmada a renúncia do vice-presidente ao pelouro das modalidades. Demonstrando que a decisão fora premeditada, José Santos leu, em voz alta, um documento apresentando as principais razões do seu afastamento de uma área que ocupava há mais de dois anos. Em causa estão divergências com Manuel Vilarinho e, principalmente, o facto de o vice-presidente não querer ficar ligado ao fim de modalidades como o hóquei ou o basquetebol. E este é um cenário irreversível, a menos que apareçam patrocinadores com dinheiro para financiar estas modalidades, tidas como demasiado caras pelo presidente.
O caso do basquetebol surge como o mais grave e a modalidade deve mesmo ser encerrada dentro de dias. Existia a possibilidade de a Comissão Instaladora para a SAD tomar conta do assunto mas Vilarinho não acredita que os elementos que compõem esta estrutura consigam arranjar dinheiro suficiente por forma a não precisarem de qualquer verba da Direcção, algo que sucede, por exemplo, com o futsal. E é isto que Vilarinho pretende: que todas as modalidades consigam ser auto-suficientes. As que não o conseguirem estão em risco. Assim, voleibol, andebol ou râguebi, por exemplo, voltam a ter a corda ao pescoço porque, apesar de terem patrocínios, continuam a necessitar dos dinheiros do Benfica, algo a que o presidente quer pôr fim.
No final da reunião de Direcção, José Santos lembrou que quis «construir um projecto» mas que «houve várias interferências» e ergueram-se «muitas barreiras» ao seu trabalho, decidindo, também por isso, afastar-se. Por outro lado, o vice-presidente mostrou-se tranquilo porque Manuel Vilarinho lhe havia garantido que «tinha uma solução para as modalidades».
«Eu tenho a solução?», responderia, minutos depois, o presidente, mostrando-se surpreendido. Mas lá foi admitindo que «às vezes é necessário extinguir», mas que tem poderes «apenas para suspender», algo que será uma realidade «se as condições económicas do clube assim o exigirem».
Estas questões vão ficar agora todas em banho-maria até ao próximo domingo, já que o presidente do Benfica estará ausente por uns dias.