Taça de Ouro da Imprensa - 1964

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No já longínquo ano de 1964, disputou-se aquela que seria uma primeira edição de uma supertaça.
A Casa da Imprensa, representante da imprensa nacional, entendendo que o futebol nacional só teria a lucrar com a diversificação do seu calendário, repartindo-se em vários torneios, decidiu organizar uma prova em que o campeão nacional e o vencedor da taça de Portugal se encontrariam para disputar a Taça de Ouro da imprensa. Desta forma, Benfica, campeão, e Sporting disputariam o troféu, de 3 kg de peso, um de ouro e dois de mármore, no Domingo de Páscoa, 29 de Março de 1964.
Numa época em que faria a dobradinha, que seria consumada num célebre 6-2 ao FC Porto na final do Jamor, um forte Benfica entrava em campo no Estádio do Restelo para defrontar um dos melhores sportingues da história. Os leões vinham de facto de uma das suas mais retumbantes vitórias de sempre, um triunfo caseiro sobre o Manchester United de Matt Busby por cinco bolas sem resposta, alcançada 11 dias antes, e que os catapultaria para as meias finais de uma prova que venceriam.
Ambos os colossos portugueses se apresentavam em campo na máxima força e, a expectativa era elevada, na bancada, o Presidente da República Portuguesa, almirante Américo Thomaz, era espectador atento. Seria ele a entregar o troféu.
O Benfica, astutamente escolhendo jogar a favor do vento, por sinal bem forte, entrou de forma demolidora na partida. Logo aos 9 minutos, Torres desfaz-se da bola, passando-a para José Augusto que tira vários adversários do caminho numa sucessão desconcertante de dribles e, de forma nada egoísta, dá de bandeja para Eusébio. Este só tem que dar um toque, fazendo-a beijar as redes.
Volvidos 3 minutos, ainda o público Benfiquista festejava, Costa Pereira coloca a bola nos pés de Eusébio. Este domina-a, finta Alfredo e Alexandre Baptista e faz um chapéu a Carvalho. Estava consumado o dois a zero.
Mais 3 minutos passam e Eusébio mais uma vez aparece na cara de Carvalho. Este abalroa-o  mas o sr. Fernando Costa não viu, ou não quis ver. A imagem abaixo apresentada ilustra-o bem.
 

Mesmo assim os Benfiquistas não baixavam os braços e, aos 18 minutos Torres aproveita um mau atraso de Alfredo a Carvalho, acabando por estender o pé colocando a bola por entre as pernas do guarda-redes leonino. 3-0. Pelo país fora os Benfiquistas esfregavam as mãos… e com razão. As amêndoas do Benfica estavam a ser servidas aos sportinguistas em embalagem de luxo.
O Benfica continuava a pressionar e, aos 37 minutos Eusébio escapa-se a Hilário, centra para o flanco esquerdo do ataque Benfiquista e Torres remata de ângulo apertadíssimo. Carvalho faz-se à bola mas apenas a consegue empurrar para a baliza. Estava feito o resultado com que se atingiria o intervalo.
Na 2ª parte, mesmo a jogar contra o vento, o Benfica continuava a dominar. Costa Pereira, que ainda não tinha feito uma única defesa, aos 55 minutos chuta para a frente. Torres dá de cabeça para Eusébio, que arranca de forma irresistível, dribla três defesas contrários, que no entanto se mantiveram no seu encalce, até que desfere um remate incrível, concretizando um golo fabuloso. Mais um.
Durante os festejos deste 5º golo, reza a lenda que o capitão Mário Coluna, diz aos colegas para não humilharem mais o Sporting, 5-0 chegava. E chegou.
Nos últimos 35 minutos, O Benfica limitou-se a controlar os acontecimentos e o sporting terminaria o jogo com tão só um remate à baliza, um inconsequente tiro à meia volta de Lourenço.
No final, o presidente eleito do Benfica, Adolfo Vieira da Brito, ainda não em funções, abraça efusivamente Coluna. O troféu é entregue pelo Presidente da República ao capitão Benfiquista que a ergue bem alto, perante o olhar atento do presidente da AFL, com um sorriso nos lábios. “É nossa” exclamou… e era. O Benfica acabava de conquitar aquele que ainda hoje é um dos mais valiosos troféus do novel museu Cosme Damião, não só pelo peso em Ouro, como por ser uma primeira tentativa da organização de uma Supertaça.
Nessa tarde o Benfica ganhou duas vezes, venceu a partida e o troféu em disputa e deu uma lição de desportivismo. À Benfica!

 



Estádio do Restelo, 29 de Março de 1964

Sport Lisboa e Benfica - 5
Costa Pereira, Cruz, Germano e Cavém, Neto, Coluna, Augusto Silva, José Augusto, Simões, Eusébio e Torres.

Sporting Clube de Portugal – 0
Carvalho, Saturnino, Alexandre Baptista, Hilário, Fernando Mendes, Alfredo, Figueiredo, Pérides, Mascarenhas, Géo e Morais.

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